Andrade, Adílio e Zico formavam o meio-de-campo campeão mundial em 1981
Reunir os cinco jogadores quase três décadas depois suscitou comparações com equipes atuais. Afinal, é possível uma cena como essa daqui a 30 anos com um time campeão agora? Para Zico, o individualismo torna essa uma tarefa difícil.
- Havia muita amizade e muito contato entre todos nós que fizemos parte daquela geração do Flamengo. Nós gostávamos de estar juntos e havia muito diálogo. Por isso, até hoje é sempre uma festa quando nos encontramos. O futebol agora é diferente, pois os jogadores se isolam em seus quartos com celulares, laptops e ipods. Na Turquia, tinha vezes que os atletas só se encontravam nos treinos e nas refeições. Acho muito complicado imaginar que grupos hoje consigam a ligação que nós tínhamos.
Outra grande barreira apontada pelos ex-jogadores é a falta de identificação com o clube. Leandro, por exemplo, só atuou no Flamengo em toda a sua carreira. Adílio, que hoje é técnico dos juniores do Rubro-Negro, acha que esse processo de perda de ligação com o clube é irreversível.
As camisas da linha retrô têm nome e número na parte de trás, e a assinatura dos ex-jogadores na frente
- As portas estão abertas, e
estamos perdendo jogadores ainda juvenis, juniores, que nem chegam ao time principal. Não dá para segurar por muito tempo. A gente tenta passar na base os valores que temos, mostramos vídeos daquele time do Flamengo, tentamos obrigar os atletas a terem mais contato. Mas depois que eles vão para o profissional, perdemos o controle.
Rondinelli, que ficou conhecido como “Deus da Raça” pelo estilo aguerrido em campo, resume a história.
- União era a força daquela geração. Tinha muita qualidade, sem dúvida, e um líder nato como o Zico, que sempre tomava partido pelo grupo. Havia divergências de opinião, mas estávamos, acima de tudo, buscando o melhor para o grupo.
Contadores de histórias
Para reforçar o discurso, os ex-jogadores aproveitaram para relembrar histórias. Adílio foi o primeiro e não perdoou o “Deus da Raça”.
- Rondineli tinha muita vontade, muita raça, e era assim também quando comemorava os gols. E quando a gente se juntava após os gols, ele era sempre o último pulando por cima. Era cotovelo, perna, braço, e quem estava no bolo acabava levando um tapa, um chute, mesmo sem querer. Num certo jogo, nós combinamos e, depois do gol, na hora em que ele foi pular em cima do bolo, todos abriram e o Rondinelli foi parar no chão.
A história do bigode de Peu, raspado no avião de ida para Tóquio quando os companheiros contaram que no Japão não poderia desembarcar ninguém com bigode ou barba, também foi lembrada. Assim como o apelido de Uri Geller dado a Júlio César, que entortava os adversários da mesma forma que o verdadeiro, paranormal, fazia com talheres.
Houve até espaço para emoção. Rondinelli contou, com lágrimas nos olhos, a surpresa e alegria que teve ao descobrir que existem mais de 2.300 registros de homônimos do apelido dele registrados desde o fim da década de 80. E Júlio César acabou emocionando quem estava acompanhando o lançamento ao responder “o que Zico significa para ele”.
- Zico é tudo. Apesar de termos mais ou menos a mesma idade, ele é como um pai. Além do que vivemos nos gramados, ele abriu as portas para mim quando eu mais precisei, há 13 anos, para trabalhar como professor no Centro de Futebol. Estou aqui até hoje e espero ficar aqui para sempre.
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