O Craque disse e eu anotei - YESO AMALFI
Em
2010 foi lançado o livro de Yeso Amalfi. Como fã do futebol do passado,
comprei esta obra. Nela pude ler a gloriosa história de Yeso, jogador
revelado pelo São Paulo de Leônidas da Silva, que jogou no Boca Juniors
ao lado de Heleno de Freitas, fez parte do time do Peñarol com os
futuros campeões de 1950, atuando também no Torino e com grande passagem
pelo futebol francês. Conheci o filho dele (Fabio Amalfi) que me
autorizou a entrevista. Confiram a matéria.
FUTEBOL
DE TODOS OS TEMPOS: O seu início foi na Várzea, jogando pelo Éden do
bairro da Liberdade. Depois você foi para o São Paulo.
YESO AMALFI:
Teve dois São Paulo’s. O da Floresta, onde jogava o Friedenreich. E o
São Paulo Futebol Clube pobre, do meu tio, próximo à Avenida São João. A
sede do Palestra-Itália era no Ponto Chic onde inventaram o Bauru.
Quando jogavam São Paulo e Palestra, saía briga. Era tudo lá na esquina
da Avenida Ipiranga com a São João, com os teatros, cinemas, ou seja,
São Paulo era concentrado ali, na Rua Barão de Itapetininga, Praça do
Patriarca e Largo São Bento. Antes de estrear nos Aspirantes do São
Paulo, eu era interno no colégio Mackenzie. Eles me aceitaram pra
disputar a Olimpíada Mackemedia (Mackenzie X Medicina), sendo que eu
sempre ganhava os jogos. Um diretor do São Paulo, me vendo jogar, me
levou pra lá, quando o estádio era o Canindé, que pertencia a um clube
alemão, no início dos anos 40.
FTT: No
São Paulo, em 1946, você atuou em algumas partidas do time do São Paulo
que foi Bicampeão Paulista invicto num grande ataque, formado por
Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Teixeirinha.
YESO:
E tinha a defesa, com Gijo, Piolim e Renganeschi, completando a linha
média com Bauer, Ruy e Noronha. Quando o Sastre voltou pra Argentina,
fui pro lugar dele. Mas, na ocasião em que eu estava jogando bem, o
Sastre veio aqui e me levou pra jogar no Boca Juniors em 1948, logo após
o torneio Quintela de Ouro, com Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Boca
e River Plate.
Jogadores
do São Paulo de 1945, quando o clube conquistou pela segunda vez o
Campeonato Paulista em sua história. Na primeira fileira, da esquerda
para a direita e de cima para baixo, estão Bauer, Renganeschi, Barrios,
Leônidas, Rui, Virgílio, Luizinho e André; na segunda fileira vemos
Gijo, Sastre, Noronha, Zarzur, Teixeirinha, Remo, Piolim e Fernando; na
terceira fileira estão Leopoldo, Savério, Hélio, Alfredo, Ministro,
Jacob, Américo e Yeso Amalfi; sozinho na última fileira está Armando
FTT: Voltando ao São Paulo, o que você lembra do Leônidas da Silva?
YESO:
O Leônidas era o grande ídolo do Rio de Janeiro, centroavante do
Flamengo, o clube mais popular da cidade e que tinha um timaço. Quando
ele chegou no São Paulo, em 1942, estava gordo, por isso era chamado de
Bonde (jogador em final de carreira). Depois entrou em forma, nunca deu
trabalho ao clube, jogador correto, ajudava a todos e um dos maiores
craques que vi jogar. Era muito amigo meu e me ajudou muito quando
comecei a jogar nos Profissionais. Outro que eu gostava era o Tim, o
melhor meia do Brasil. E tinha o Domingos da Guia, o grande zagueiro
brasileiro que vi jogar. O melhor time do Brasil, nesta época, era o
Vasco da Gama.
YESO AMALFI CONQUISTA OS ARGENTINOS
FTT: No Boca Juniors você jogou com o Heleno de Freitas.
YESO:
Ele era o melhor centroavante do Brasil e da América do Sul naquela
época (1948). Muito amigo meu, formado em Advocacia e jogava no Botafogo
do Rio. No Boca Juniors eu estava jogando muito bem, sendo que o time
precisava de um centroavante e o presidente me pediu pra buscá-lo. Na
estréia dele, contra o Banfield, ganhamos de 3 a 0 e ele marcou dois
gols.
Yeso Amalfi um idolo brasileiro no Boca Juniors
Boyé, Negri, Heleno, Yeso Amalfi e Pin
YESO:
Eu vi estes craques em ação. O futebol argentino era o melhor daquela
época. A equipe do River Plate era formada por Carrizo, Vaghi e
Ferreira; Yacono, Nestor Rossi e Ramos; Muñoz, Moreno, Pedernera (Di
Stefano), Labruna e Loustau. Era um timaço. O time do Boca Juniors tinha
Vaca, Marante e De Sorzi; Carlos Sosa, Lazarti e Pescia; Boyé, Negri,
Heleno de Freitas, Eu e Gomes Sanches. O Heleno, com saudades do Rio de
Janeiro, quis voltar logo.
Yeso Amalfi com a camisa azul do Boca Juniors.
FTT: Depois do Boca, você foi jogar no Peñarol do Uruguai, em 1949.
YESO:
Fui campeão invicto com o Peñarol. Joguei depois alguns meses no
Palmeiras, em 1950, sendo campeão da Taça Cidade de São Paulo. Eu
assisti a Copa do Mundo no Brasil. Vinha do Peñarol, grande time da
época, base da Seleção Uruguaia que ganhou o título no Rio de Janeiro em
cima dos brasileiros, era o melhor jogador e por tudo isso merecia
estar na Seleção Brasileira. Tirando eu, o time do Peñarol era a Seleção
Uruguaia, com Máspoli, Obdulio Varela, Andrade, Migues, Vidal, Ghigghia
e Schiaffino. Na final, quando perdemos por 2 a 1, estava viajando de
navio no litoral de Pernambuco pra jogar no Olympique de Nice. Fui com
um cartaz violento pra França.
No Nice da França um grande momento de sua carreira
Yeso Amalfi está agachado ao centro segurando a bola. Campeão frances pelo Nice em 51.
FTT: No Nice você também participou da Copa Rio de 1951, vencida pelo Palmeiras.
YESO:
Este time havia subido pra Primeira Divisão e ganhamos o Campeonato
Francês. Na Copa Rio só joguei um jogo, que foi justamente contra o
Palmeiras, com craques como Jair Rosa Pinto, Oberdan Cattani, Waldemar
Fiúme, Lima, Rodrigues e Canhotinho. Perdemos a partida.
Na
França eu conheci Brigite Bardot, Sophia Loren e Gina Lolobrigida.
Adorava andar ao lado de mulheres bonitas. Eu era mulherengo, mas não
bebia. Frequentei muito o Festival de Cannes.Yeso Amalfi fez muito sucesso na França. Era convidado para festas e apresentações pois se tratava de figura importante e querida .
FTT: Após a Copa Rio você foi jogar no Torino da Itália, dois anos depois da tragédia de avião que matou todo aquele grande time.
YESO:
Esta equipe havia jogado uma partida amistosa na Inglaterra e, na
volta, o avião passou atrás de uma igreja, a ponta dele pegou na torre,
explodiu, morrendo todo o time do Torino, que era o melhor do mundo,
sendo que ganharam vários títulos seguidos na Itália. Eu também ganhei
um campeonato com eles.
Yeso Amalfi e Mauricio Sabará.
FTT: Em 1952 você teve uma rápida passagem por Mônaco, conhecendo inclusive a Grace Kelly. No mesmo ano foi contratado pelo Racing da França, onde viveu os melhores momentos da sua carreira.
FTT: Em 1952 você teve uma rápida passagem por Mônaco, conhecendo inclusive a Grace Kelly. No mesmo ano foi contratado pelo Racing da França, onde viveu os melhores momentos da sua carreira.
YESO:
Eu era um ídolo na França. Muitos queriam que me naturalizasse francês
pra jogar na Seleção do país, mas, por amor ao Brasil, nunca aceitei. O
Canhotinho também jogou comigo lá. Divulguei o futebol brasileiro, era
rápido, tocava bem a bola, marcava muitos gols, tinha técnica, enfim, os
franceses me idolatravam. Não era somente elogiado por torcedores, mas
também muitos artistas gostavam de mim.
Na
Europa a Hungria era a grande Seleção da época, principalmente depois
que os húngaros venceram os ingleses por 6 a 3 em Wembley. Certa vez
enfrentamos os alemães em Berlim, ganhamos por 2 a 1, mas percebemos que
já se tratavam de fortes candidatos pra Copa do Mundo de 1954, com
jogadores como Fritz Walter, Rahm, Turek e Posipal.
Anos
depois, o time que nos dava mais trabalho na França era o Reims, que
formava uma equipe com jogadores que se consagrariam anos depois no
Mundial da Suécia, como Piantoni, Just Fontaine e Kopa, que era o meu
grande rival.
Red
Star Campeão 1955/56 - Em pé a partir da esquerda estão: Bohée, Hugues,
Pasik, Lamy, Lapoire e Loubiére. Agachados: Just Fontaine, Yeso Amalfi,
Melbergue, Quenolle e Gondouin.
YESO: Isso mesmo. Também foram boas passagens. E depois voltei para o Brasil.