FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS
Fair Play & Amizade
Através
do meu amigo Eduardo Verdasca, entrei em contato com o neto do
massagista Mário Américo, que foi Tricampeão Mundial pela Seleção
Brasileira em 1958, 1962 e 1970, além de ter participado de sete Copas
do Mundo. A entrevista foi realizada no museu da Portuguesa, com um
jovem de 23 anos que mostrou muito conhecimento sobre a história do seu
avô. Confiram a matéria
Portuguesa : Lindolfo, Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho. Agachados: Julinho Botelho, Zé Amaro, Ipojucan, Osvaldinho, Ortega e o massagista Mário Américo
Fair Play & Amizade
terça-feira, 1 de março de 2011
O Craque disse e eu anotei - MARIO AMÉRICO NETO
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O que você tem a dizer deste pouco convívio que teve com o seu avô?
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Na verdade, eu pouco convivi com ele, pois nasci em 1987 e ele faleceu
em 90. Como fui criado por minha avó, desde pequeno fuçava as coisas que
ele trouxe das Copas, fotos, o que foi me trazendo uma paixão pelo
futebol e pela história dele. Mesmo as pessoas me influenciando a torcer
por outros times, depois de um certo tempo não teve jeito, acabei
gostando da Portuguesa, o time que ele mais amou.
FTT: Então ele foi para o Madureira, do qual participou de um grande time, que tinha os 3 patetas, com Jair, Lelé e Isaías.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Ele ficou sete anos lá. Depois alguns jogadores do Madureira começaram a
se destacar, acabaram indo para o Vasco, pedindo aos diretores pra
levar o Mário. Teve um dia que meu avô foi lá e praticamente o forçaram a
ser massagista do clube, que veio a ter o maior time da sua história,
que foi o do Expresso da Vitória.
Vasco
campeão 1949 - Em´pé: Mario Americo, Sampaio, Augusto, Barbosa, Wilson e
Laerte. Na fila do meio: Jorge, Alfredo II, o mdeico Amilcar Gifoni, , o
tecnico Flavio Costa, o auxiliar Otto Gloria, Danilo Alvin e Ely. Sentados :Nestor, Mancea, Ademir Menezes, Lima, Ipojucan , Heleno de Freitas, Chico e Mario.
FTT: Mário
Américo fez parte deste time do Expresso da Vitória, sendo Campeão
Carioca em 1945, 1947 e 1949/50. Vencendo também aquele famoso
Sulamericano vencido no Chile, empatando com o River Plate na final. Era
um timaço o Vasco. Foi também massagista da Seleção Carioca. Aí ele
teve a oportunidade de ser massagista da Seleção Brasileira, que foi
praticamente a grande carreira do seu avô.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Ele começou em 1949 pra ser auxiliar do Johnson, que era o massagista
da Seleção Brasileira. Mas o Johnson já estava em final de carreira. Em
1958 ele já foi massagista oficial da Seleção. O seu início foi no
Campeonato Sulamericano de 49 e dali parou somente em 74
FTT: Ele oficialmente foi em 1958, mas também fez parte em 50 e 54, ou seja, viu muita coisa boa.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Ele bateu muito naquele jogo do Brasil contra a Hungria... risos!
Uniforme usado por Mario Américo na Copa do Mundo de 1958.
FTT: No início da década de 50 foi chamado pra ser massagista da Portuguesa. Você sabe o motivo que o fez sair do Vasco?
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Tudo começou em um jogo do Vasco contra a Portuguesa. O Eli deu uma
pernada no Pinga, começando o quebra pau no campo. O presidente da
Portuguesa, que era o Doutor Marcos Augusto Izaías, entrou em campo e
começou a briga. O meu avô, sem saber de quem se tratava, deu um soco de
direita nele, com o presidente caindo no chão. Mas passou dali,
apaziguaram, só que alguns meses depois ficaram no mesmo hotel o Vasco e
a Portuguesa (não havia muitos hotéis naquela época), o Djalma Santos
levou o presidente para o quarto onde o meu avô estava. Ele disse que
este é quem tinha lhe dado o soco. O presidente falou que se tem uma
pessoa que tem que levar pra Portuguesa é ele, porque “é um homem de
verdade” e precisavam de pessoas assim. Dali começaram as conversas pra
ele trabalhar na Portuguesa.
Portuguesa : Lindolfo, Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho. Agachados: Julinho Botelho, Zé Amaro, Ipojucan, Osvaldinho, Ortega e o massagista Mário Américo
FTT: Na
Portuguesa ele participou de grandes títulos, da Fita Azul na Europa e
do Rio-São Paulo de 1955. Mesmo assim ele continuou sendo massagista da
Seleção Brasileira. Em 1958 tem uma história engraçada, quando o Brasil
acabou de ser Campeão do Mundo, ele se encontrou com o Rei da Suécia e
falou “olá, King”, como se fosse uma pessoa que conhecesse há muito
tempo. Era uma simplicidade que todos gostavam do Mário Américo, que era
também conhecido como Pombo Correio.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Exato. Na final da Suécia, os jogadores e a Comissão Técnica eram tão
humildes que meu avô conta no livro dele que o Garrincha, quando acabou a
Copa, quis saber dele “com quem jogaríamos agora”. O próprio Nílton
Santos, se não me engano, perguntou ao Rei se estava tudo bem. Era muita
humildade da parte dos jogadores.
FTT: Falando novamente da Copa de 1958, tem a história de ele ter levado a bola da final para o Brasil.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Quando o jogo estava nos minutos finais, o Doutor Paulo Machado de
Carvalho disse ao Mário que queria esta bola. O meu avô respondeu como
faria, sendo que o Paulo falou que tinha que arrumar um jeito. Quando a
partida acabou, com todo o mundo comemorando, ele foi em disparada ao
juiz, que colocou a bola debaixo dos braços, o meu avô deu aquele
soquinho básico pra ela cair, pegou a bola, saiu correndo, foi para o
vestiário e sumiu com ela. Depois teve um banquete da Seleção na Suécia,
eles pressionaram para que antes de voltarem ao Brasil, que devolvessem
a bola. Só que ele foi mais esperto, trocou a bola, deu uma réplica e
trouxe a verdadeira ao nosso país, que se encontra no museu da Federação
Paulista.
FTT: Então
a Seleção Brasileira trouxe o troféu e o Mário Américo trouxe a bola
... risos! Ele ainda foi campeão em 1962, fracassando na Inglaterra na
tentativa do Tri, sendo que em ambas o Mário teve uma participação muito
boa, principalmente nas famosas contusões do Pelé, no segundo jogo
contra a Tchecoslováquia (62), com ele tentando recuperá-lo, mas a
contusão era grave. Em 66, quando os portugueses marcaram muito forte o
Pelé. E em 70, no Tri, ele também estava lá.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Há cinco anos atrás conversei com a mãe do Pelé, dizendo que umas das
pessoas fundamentais para o seu filho e pra Copa de 70 foi o Mário
Américo, porque o Rei não queria ir mais, pois não teve sorte nas duas
últimas, mas o meu avô o convenceu que ele tinha que ir e se preparar.
Acabou indo e trouxe pra nós o Tricampeonato.
Mario Américoajudando a carregar Amarildo na Copa do Mundo de 1962.
FTT: Depois
de 1970 houve mais uma Copa, que foi a de 74, na Alemanha, sendo
justamente a última do Mário Américo. Depois disso o que ele fez no
futebol? Continuou a sua profissão como massagista?
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Ele tinha uma clínica de massagens no bairro do Imirim. Só que em 1976
candidatou-se como vereador em São Paulo, tendo 53 mil votos e foi
eleito na época. Tinha a clínica e a Câmera Municipal. Como curiosidade,
ele participou do primeiro comercial da Gelol.
Mario
Americo carregando sozinho Leivinha contundido na Copa de 1974. Sua
força era impressionante e chamava a atenção da imprensa de todo mundo.
FTT: Mário
Américo veio a falecer em 1990, deixando um legado pra nós. Em 70 tinha
o Nocaute Jack, que era auxiliar dele, tornando-se depois o massagista
oficial da Seleção. Falamos de grandes histórias do seu avô e você
chegou a fazer uma exposição dele alguns tempos atrás.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Em abril de 2010 consegui realizar
uma exposição do Mário Américo dentro de um evento na Bienal, chamado
Universo do Futebol. Conseguimos reunir 13 mil pessoas em quatro dias,
sendo que foi bem legal, porque muitas pessoas jovens não o conheciam,
para que saibam que o Brasil teve um massagista que foi a 7 Copas do
Mundo e conseguiu Ser Tricampeão. Uma experiência muito bacana.
Mario Américo Neto com o livro em homenagem ao avô, intitulado "O Massagista dos Reis".
FTT: Ele poderia até ter ido em mais uma duas Copas do Mundo.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Na verdade a CBD falou que ia fazer uma grande homenagem pra ele. O Mário falava que poderia ter continuado mais em duas ou três, mas ele mesmo quis parar, pois já achava que estava bom demais.
FTT: Em 2012, se seu avô estivesse vivo, completaria 100 anos. Você tem alguma idéia de fazer algo no seu centenário?
MÁRIO AMÉRICO NETTO:
Um grande sonho que tenho é poder relançar o livro dele. Depois desta
exposição, uma prioridade minha é poder relançá-lo com novas fotos,
inclusive histórias da minha avó, além de depoimentos dos jogadores da
épocaMauricio Sabará e Mario Américo Neto |
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.