No dia 12 de
Fevereiro de 2011 fiz uma matéria muito legal sobre o Memorial da Portuguesa de
Desportos. Fiquei amigo do Sr. Vital e do Artur, que na ocasião me concederam a
entrevista. Algum tempo depois, Rodrigo de Camargo, filho do ex-jogador Enéas
de Camargo, esteve no museu para entregar os troféus do seu pai, pois
considerava que estaria em um bom lugar, preservando assim a história do seu
pai e da própria Portuguesa. Aproveitei o dia pra fazer uma matéria com ele que
gentilmente me deu todas as informações da carreira do grande jogador que foi o
Enéas.
FUTEBOL DE TODOS OS
TEMPOS: Rodrigo,
o seu pai (Enéas de Camargo) faleceu no dia 22 de Dezembro de 1988 por causa de
um acidente automobilístico. Quantos anos você tinha na ocasião e como foi o
seu convívio com ele?
RODRIGO DE CAMARGO: Meu pai faleceu no dia
27/12/1988 em virtude do acidente automobilístico ocorrido no dia 22/08/1988 e
eu tinha 8 anos de idade. O convívio foi muito bom.
FTT: O Enéas nasceu na cidade de São
Paulo no dia 18 de Março de 1954. Como ele desenvolveu o seu futebol de dribles
curtos em zigue-zague, tinha ídolos e se a várzea foi mesmo a sua primeira
escola ou o futebol de salão?
RODRIGO: O drible curto em zigue-zague
era nato, meu pai aperfeiçoou no futebol de salão. A várzea foi uma ótima
escola para meu pai e muitos jogadores de sua época , pois o jogador de
antigamente era muito mais malandro devido a escola varzeana. Na infância, meu pai era santista, pois tinha
como ídolo o Pelé, com aquele esquadrão do Santos.
FTT: Como aconteceu a contratação
dele pela Portuguesa de Desportos?
RODRIGO: O professor Nena se encantou com
o futebol do meu pai e o aprovou em uma peneira, onde iniciou uma grande
carreira, sendo artilheiro em todas as categorias até chegar ao Profissional.
FTT: No time principal estreou no ano
de 1971, mas começou a despontar de fato com a conquista do Campeonato Paulista
dois anos depois, dividido com o Santos. O que o Enéas comentava sobre esse
título?
RODRIGO: Foi a realização de um sonho,
pois ele foi campeão junto com o melhor jogador de futebol de todos os tempos e
seu ídolo de infância.
FTT: Foi a partir daí que o seu pai
começou a ser comparado ao Pelé?
RODRIGO: Os comentários se solidificaram
aí, mas dentro da Portuguesa essa comparação já acontecia.
FTT: Diziam alguns que ele era um
grande craque, mas que costumava cochilar em campo (termo usado para jogadores
que se desligavam da partida). Certa vez vi o Dicá dizer em uma entrevista que
o Enéas foi o melhor jogador com quem jogou. Como o seu pai lidava com tantas críticas
e tantos elogios?
RODRIGO: Meu pai aceitava as críticas e
tocava a vida dele normalmente. Na minha opinião foi um dos jogadores mais
injustiçados da década de 70.
FTT: No dia 31 de Março de 1974 joga
a sua primeira partida na Seleção Brasileira, num empate de 1 a 1 contra o
México, em um amistoso no Maracanã. Na ocasião ele entrou no lugar do Mirandinha.
Estava no grupo para a Copa do Mundo da Alemanha, mas acabou sendo cortado.
Você acha que isso se deu devido a Portuguesa não ter força na CBD?
RODRIGO: Pode ser também, mas acho que o
grupo estava fechado, principalmente os remanescentes da copa de 70.
|
Eneas recebe a Chuteira de Ouro como revelação do futebol brasileiro |
|
Rodrigo filho de Eneas segura a chuteira ganha pelo pai ao lado de Mauricio Sabará |
FTT: A derrota para o São Paulo nos
pênaltis na final do Campeonato Paulista de 1975 foi a maior tristeza do Enéas
no futebol? O que ele comentava sobre essa final?
RODRIGO: Foi um jogão, ele fez um belo
gol de cabeça na segunda partida levando o jogo para a prorrogação e, nas
cobranças de pênaltis, a equipe da Portuguesa não foi feliz.
FTT: Em 1976 é novamente convocado
para a Seleção Brasileira pra disputar a Copa do Atlântico, sendo campeão do
torneio, tendo Oswaldo Brandão como técnico. Marca o seu único gol com a camisa
canarinho no empate de 1 a 1 com o Paraguai. Participa também da vitória por 2
a 1 contra o Uruguai. No total, apenas três jogos pelo Brasil. Talvez essa
falta de ritmo tenha contribuído para que não se firmasse?
RODRIGO: A maior injustiça da copa de
1974 foi o corte do meu pai da lista de convocados. Tenho certeza absoluta que
se meu pai tivesse uma sequência maior na seleção, ele seria nome certo também
em 1978.
FTT: No começo dos anos 80 encerra o
seu ciclo na Portuguesa de Desportos. O que o Enéas dizia dos seus companheiros
de time e dos adversários. Houve algum marcador que tenha dado mais trabalho.
Havia algum clube que ele sentia mais dificuldades para enfrentar?
RODRIGO: Meu pai falava de grandes jogadores
como Leão, Amaral, Oscar e Marinho Peres. Zé Maria, Badeco, Rivelino, Ademir,
Wilsinho, Muricy e Serginho. Lembro também que falava muito bem do futebol do
Zico e que era um grande homem. Nunca comentou de um clube específico, mas
adorava jogar contra Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.
Em pé: Pescuma,
Zecão, Badeco, Isidoro, Calegari e Cardoso; Agachados: Xaxá,
Enéas, Cabinho, Basílio e Wilsinho.
FTT: É contratado pelo Bologna da
Itália. Como foi a adaptação no futebol italiano. Conseguiu exibir o mesmo
futebol que o consagrou na Portuguesa?
RODRIGO: Os treinos eram muito pesados,
pois o frio de Bologna era rigoroso e nevava muito. O que atrapalhou meu pai
foi o futebol muito duro e violento, onde as lesões se agravaram muito. Houve
um jogo épico entre a Juventus, que era a base da seleção italiana campeã de
copa de 82 e o Bologna, com o meu pai jogando muita bola e sofrendo muitas
faltas, inclusive sofreu o pênalti onde ocorreu o gol da vitória do Bologna em
Turim contra o campeão daquele ano.
FTT: Em 1981 retorna ao Brasil como
jogador da Sociedade Esportiva Palmeiras. Apostavam muito nele como parceiro do
Jorginho, fez boas partidas, mas não brilhou tanto assim. Como foi essa
passagem e relembre uma grande partida dele contra o Santos pelo Campeonato
Paulista de 1983, empatando um jogo em que o seu time perdia por 2 a 0,
marcando o primeiro gol aos 41 minutos do segundo tempo e com o Jorginho
anotando o segundo tento aos 46.
RODRIGO: As lesões foram o principal
problema, ou melhor, as infiltrações nos joelhos, isso atrapalhou muito sua
passagem pelo Palmeiras ainda mais que veio como um Salvador da Pátria na busca
de um título. Realmente foi um jogo inesquecível.
FTT: O Palmeiras não ganhava títulos
há certo tempo, fazendo com que seu pai fosse dispensado. Teve depois discretas
passagens pelo Ponta Grossa-PR (1984), Juventude-RS (1985) e Central de
Cotia-SP (1985/86). Conseguiu apresentar um bom futebol nesses dois clubes?
RODRIGO: Meu pai foi emprestado ao XV de
Piracicaba em 1984, pois não contou para a Diretoria qual jogador que jogou
água nos hóspedes da varanda de um Hotel em recife e foi responsabilizado pelo
ato, isso foi o que faltava para encerrar seu ciclo no Palmeiras. Ainda em 1984
jogou pelo Atlético Goainiense. Em 1985 atuou pelo Operário de Ponta Grossa
e Juventude de Caxias do Sul. Em 1986 na
Desportiva e Central Brasileira de Cotia. Teve passagens curtas e discretas e
não foi nem sombra do Enéas da década de 70.
|
Eneas com a camisa do Palmeiras |
FTT: No ano de 1986 conquista o seu
último título, sendo Campeão Capixaba pela Desportiva. Conseguiu ser ídolo no
Espírito Santo?
RODRIGO: Não foi ídolo, pois atuou menos
de 10 partidas pelo clube. Foi contratado na fase final do campeonato,
colaborou com gols e assistências na conquista desse título. Foi até matéria da
Placar daquele ano.
FTT: Diziam alguns que ele era um
grande craque, mas que costumava cochilar em campo (termo usado para jogadores
que se desligavam da partida). Certa vez vi o Dicá dizer em uma entrevista que
o Enéas foi o melhor jogador com quem jogou. Como o seu pai lidava com tantas críticas
e tantos elogios?
RODRIGO: Meu pai aceitava as críticas e
tocava a vida dele normalmente. Na minha opinião foi um dos jogadores mais
injustiçados da década de 70.
FTT: No dia 31 de Março de 1974 joga
a sua primeira partida na Seleção Brasileira, num empate de 1 a 1 contra o
México, em um amistoso no Maracanã. Na ocasião ele entrou no lugar do Mirandinha.
Estava no grupo para a Copa do Mundo da Alemanha, mas acabou sendo cortado.
Você acha que isso se deu devido a Portuguesa não ter força na CBD?
RODRIGO: Pode ser também, mas acho que o
grupo estava fechado, principalmente os remanescentes da copa de 70.
FTT: A derrota para o São Paulo nos
pênaltis na final do Campeonato Paulista de 1975 foi a maior tristeza do Enéas
no futebol? O que ele comentava sobre essa final?
RODRIGO: Foi um jogão, ele fez um belo
gol de cabeça na segunda partida levando o jogo para a prorrogação e, nas
cobranças de pênaltis, a equipe da Portuguesa não foi feliz.
FTT: Em 1976 é novamente convocado
para a Seleção Brasileira pra disputar a Copa do Atlântico, sendo campeão do
torneio, tendo Oswaldo Brandão como técnico. Marca o seu único gol com a camisa
canarinho no empate de 1 a 1 com o Paraguai. Participa também da vitória por 2
a 1 contra o Uruguai. No total, apenas três jogos pelo Brasil. Talvez essa
falta de ritmo tenha contribuído para que não se firmasse?
RODRIGO: A maior injustiça da copa de
1974 foi o corte do meu pai da lista de convocados. Tenho certeza absoluta que
se meu pai tivesse uma sequência maior na seleção, ele seria nome certo também
em 1978.
|
Eneas x Zé Carlos um duelo de classe no meio campo
|
FTT: No começo dos anos 80 encerra o
seu ciclo na Portuguesa de Desportos. O que o Enéas dizia dos seus companheiros
de time e dos adversários. Houve algum marcador que tenha dado mais trabalho.
Havia algum clube que ele sentia mais dificuldades para enfrentar?
RODRIGO: Meu pai falava de grandes jogadores
como Leão, Amaral, Oscar e Marinho Peres. Zé Maria, Badeco, Rivelino, Ademir,
Wilsinho, Muricy e Serginho. Lembro também que falava muito bem do futebol do
Zico e que era um grande homem. Nunca comentou de um clube específico, mas
adorava jogar contra Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.
FTT: Antes de falecer em 1988 tinha
interesse em se despedir do futebol jogando pela Portuguesa de Desportos?
RODRIGO: Não sei informar, mas tenho
certeza que ele ficaria muito feliz se isso tivesse ocorrido.
FTT: Qual foi o legado deixado por
Enéas de Camargo?
RODRIGO: Meu pai foi um jogador que tinha
um arranque fantástico, finalizava com as duas pernas como poucos e sempre no
contrapé do goleiro, tinha uma matada no peito, domínio e controle de bola
incríveis e ainda era um exímio cabeceador. Muricy Ramalho citou várias vezes
em entrevistas coletivas pelo Santos que craque para ele era o Enéas, que
decidia jogos em cinco minutos. Acho que o futebol do meu pai era impar, só não
foi tão valorizado por razões que a própria razão desconhece.
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.