Texto: Bernardo Ferreira
O Cruzeiro fecha a seção Jogos na Memória, que relembrou dez jogos marcantes – cinco para o bem, cinco para o mal – dos 12 maiores clubes do Brasil. Já haviam passado por aqui Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Confira a seguir os depoimentos de quem esteve nos Jogos na Memória do clube celeste. E deixe seu recado nos comentários: quais jogos orgulham e envergonham a torcida cruzeirense?
OS ORGULHOS
1º lugar: Cruzeiro 3 x 2 River Plate, em 1976
Depoimento de Raul Plassmann (atualmente comentarista):
“O que incomodava era o toque de recolher na época. E o jogo foi pouco antes disso. Às 23h, todos tinham que estar em casa, e entravam tanques e carros do exército na rua. Até hoje não sei por que o jogo foi lá. O clima era pesado. O corredor que levava do vestiário ao campo era muito longo… e sabíamos que ali tinham acontecido prisões. Devia ter gente enterrada. A morte do Roberto Batata também contribuía (para o clima pesado). E já tinhamos jogado algumas Libertadores, sem conseguir vencer. Isso gerava mais tensão. Mas aquele time era experiente e capaz fisicamente, embora fosse menos capacitado tecnicamente, porque já não tínhamos o Tostão e o Dirceu Lopes. O jogo dava pinta de que ia para a prorrogação, quando houve a cobrança de falta. O Piazza queria que a bola fosse tocada para ele, e o Nelinho queria chutar. E ele não chutava para fora. Era gol, trave ou defesa do goleiro. O Joãozinho veio por trás e bateu. Perguntei a ele por que fez isso, e ele respondeu: “Vi Piazza discutindo com Nelinho, e o golzão aberto. Era só levantar a bola”. Ele chegou ao vestiário falando ‘eu sou demais!’ para o Zezé Moreira. ‘Você é um irresponsável’, o Zezé respondeu. ‘Mas, seu Zezé, eu fiz o gol’. ‘Não interessa, nunca mais faça isso’. Levou uma bronca… Os argentinos sempre provocaram muito, com a certeza de que os brasileiros eram bananas e perderiam a cabeça. Passavam a mão na bunda, cuspiam… Mas se deram mal, porque no nosso time só tinha macaco velho. Éramos malandos, conhecíamos isso. Esse jogo paralelo também foi vencido pelo Cruzeiro. O Ronaldo foi expulso de campo e levou seis minutos até sair. Ele ia saindo, até que voltava e perguntava: ‘Mas por quê, seu juiz?’. Depois saía de novo, mas voltava: ‘Não acha que foi injusto?’. O tumulto acabou irritando mais o River Plate. O Merlo era quem mais gritava em campo: ‘Vamos, covardes!’. E eu respondia e falava com os jogadores… até que, em certo momento, passamos a rir dele. Tínhamos muito mais time do que o River. Metemos 4 a 1 no Mineirão, fácil. Levaram um banho, deu até dó. Poderíamos estar jogando até hoje, que não perderíamos.”
2º lugar: Cruzeiro 2 x 1 São Paulo, em 2000
Depoimento de André (atualmente assistente do Inter B):
“Foi um jogo de bastante nervosismo, porque um gol, para qualquer um dos lados, geraria um desequilíbrio muito grande. O São Paulo marcou primeiro e deixou o Cruzeiro numa ansiedade muito grande, porque nem o 1 a 1 servia. Foi um desespero geral, com o time deixando às vezes três jogadores no sistema defensivo, e o resto partindo para o ataque, de forma até desordenada. Mas resolveu, graças àquele gol de falta no fim. Treinamos durante a semana de um jeito, e o Geovanni bateu de outro. O Muller chegou até ele e falou: ‘Dá uma porrada em direção ao gol, que a bola entra’. O que havíamos treinado era que o Leandro Donizete colaria na barreira para evitar que o segundo e o terceiro homens saltassem. O Geovanni estava batendo muito bem e rente à barreira, com força. Só que o Leandro Donizete foi para a barreira e brigou com o pessoal. Levou uma cotovelada e deu um empurrão com tudo. Aquilo deu uma desestabilizada na barreira. Com isso, a bola passou no meio e enganou o Rogério Ceni. O futebol tem dessas coisas: você treina, treina e treina alguma coisa, e na hora faz diferente e dá certo. É porque na hora da final há pressão e vontade de as coisas darem certo. O árbitro autorizou a saída de bola com nosso time praticamente inteiro comemorando com a torcida. Havia uns quatro na defesa. O São Paulo atacou com o Carlos Miguel pela linha de fundo. Eu dei uma olhada para a marcação e vi que não tinha ninguem, só o Cléber chegando. Quando o Carlos Miguel cruzou, pensei: vou me jogar. Consegui a defesa mais no desespero do que qualquer outra coisa. Depois, o Cléber deu um chutão para tirar a bola e quase levou meu braço junto. Havia uma expectativa muito grande nessa final, porque em 1998 o time havia chegado a duas finais (Copa do Brasil e Brasileiro) e perdido. Aquilo aflorou em quem ainda estava no clube, e alguns até passaram essa experiência para a gente. O São Paulo era um time de mais qualidade técnica, mais maduro e consistente. Chegou pronto àquela final. O Cruzeiro já tinha jogadores veteranos e uma molecada surgindo. Era uma equipe em formação, com um técnico novo. O Marco Aurélio nos ajudou muito. Para um time em formação, ajuda muito quando a parte tática é bem aceita. Chegamos à final com resultados enxutos, no nosso limite técnico. Foi uma grande copa, com todos indo além dos limites. Ganhar o título foi algo extraordinário”
3º lugar: Cruzeiro 3 x 0 Santos, em 2003
Depoimento de Alex (atualmente no Fenerbahçe-TUR):
“A única equipe que poderia fazer frente ao Cruzeiro era o Santos. Sabíamos que era a decisão do campeonato e encaramos o jogo assim. Havia outros bons times, mas o nosso era superior. E o resultado provou que o Cruzeiro era melhor, tanto que já havia vencido na Vila e voltou a vencer. Durante o ano inteiro, a imprensa viu o Santos como o melhor time e achou que em algum momento ele se recuperaria e ganharia o campeonato. Diziam que o Cruzeiro vivia apenas um bom momento. Mas esse bom momento durou um ano.Vanderlei (Luxemburgo) trabalhou muito bem isso antes da partida. Tínhamos que vencer o adversário e as suspeitas de que o Cruzeiro não seria campeão brasileiro. Antes do jogo, soubemos do desfalque do Diego. Não mudou o nosso planejamento, mas foi uma surpresa agradável, porque é um grande jogador e era quem armava tudo no meio-campo. Mas, se ele jogasse, também ganharíamos, porque vivíamos um momento especial. O Santos era o time do momento, era campeão brasileiro, mas era um time de meninos. O Cruzeiro era um um time mais vivido, formado por jogadores que vinham de dificuldades diferentes. As exceções eram o Deivid, que vinha de um bom momento no Corinthians, e o Maurinho, que estava bem no Santos. Mas eu havia tido uma briga na Justiça com o Parma. Outros estavam desacreditados. Diziam que o Aristizábal não tinha condições de jogar num time grande. Foi uma aposta do Vanderlei. Ele é um treinador meticuloso, estuda muito o adversário e sabe explorar a situação que o adversário tem a oferecer. Por mais forte que um time seja, ele também tem pontos fracos. No caso desse jogo, exploramos a nossa velocidade, porque a dupla de área do Santos (Alex e André Luiz) era boa, mas pesada. Os laterais do Santos avançavam, então exploramos jogadas com o Leandro e o Maurinho, para que os zagueiros saíssem na cobertura – e normalmente saíam atrasados. O primeiro gol do Ari saiu assim, numa bola nas costas do zagueiro. Nossos dois laterais eram a nossa vantagem no Mineirão. Usávamos muito os dois depois de abrir o placar, e aí dificilmente o adversário nos segurava. Depois que levou 1 a 0, o Santos teria que sair. E o Léo tinha preocupação em atacar e não marcava muito atrás. Com a velocidade dos laterais e a movimentação do Ari na frente, complicamos para eles e definimos o resultado”
4º lugar: Cruzeiro 5 x 0 Atlético-MG, em 2008
Depoimento de Jadílson:
“Uma goleada sempre fica marcada, principalmente numa final. O Cruzeiro desenvolveu um bom trabalho e envolveu o Atlético, sem dar espaço. Foi uma atuação que chegou perto da perfeição e que vai ser lembrada por muito tempo. É difícil falar por que o placar foi tão elástico, já que cada partida tem a sua história. Às vezes as coisas dão certo, e às vezes não. No jogo da primeira fase (empate por 0 a 0), o Adilson teve de fazer mudanças por causa de lesões (saíram Guilherme e Charles ainda no primeiro tempo). Já na primeira partida da final, a equipe jogou bem e fez os gols que havia perdido no jogo da primeira fase. Estavam todos inspirados. Já conhecíamos os pontos fortes e fracos do Atlético. Sabíamos que eles vinham tendo dificuldade na defesa, sempre trocando a dupla de zaga, que não estava se encaixando. O objetivo era atuar pelas pontas e cruzar para a área. Jogamos mais pela esquerda porque o Atlético sempre mudava o lateral-direito. Conseguimos impor ritmo forte. Sabíamos que a vitória por 5 a 0 nos dava uma vantagem grande, mas não achávamos que já o título estava garantido. Era difícil o Atlético reveter a vantagem, mas não impossível. Por isso entramos com tudo na segunda partida também e ganhamos (1 a 0).”
5º lugar: Palmeiras 1 x 2 Cruzeiro, em 1996
Depoimento de Marcelo Ramos (atualmente no Ipatinga):
“Se perguntasse para dez pessoas qual seria o campeão, as dez apontariam o Palmeiras. Era um grande time, com uns oito jogadores de seleção, e atuava em casa com a vantagem do empate. Mas o nosso time também era tecnicamente bom, embora prevalecesse a garra. O gol de empate no Mineirão deu mais força para o Cruzeiro. Com uma derrota no primeiro jogo, talvez tivéssemos entregado o título. Mas conseguimos o empate e até criamos outras chances, deixando o Palmeiras acuado. Saímos confiantes de campo. O Levir Culpi valorizava o Palmeiras, mas também enchia muito a nossa bola. Lembrava que havíamos passado por Vasco, Corinthians e Flamengo. No Palestra, precisando vencer, tomamos gol com cinco minutos. Pensei: ‘Vai ser bastante difícil, vamos tentar levar para os pênaltis.’ E tivemos poucas chances no primeiro tempo. O Palmeiras pressionou, chutava de dentro da área, e o Dida pegava. Até que cobramos errado um escanteio, a bola bateu no Amaral e sobrou para o Roberto Gaúcho. Esse gol deu confiança. No mínimo iríamos para os pênaltis, e tínhamos o Dida, que ainda por cima estava bem na partida. Ele é muito tranquilo, passa confiança. Algumas bolas eram gol certo, e ele pegava. No fim do jogo, toquei a bola para o Roberto Gaúcho e corri para a área. Mas o Palestra não é como o Maracanã e o Morumbi, então logo em seguida a bola já estava voltando para a área. Ele cruzava muito bem, entre o goleiro e o zagueiro. Marquei muitos gols assim naquele ano. Mas ele não fez um cruzamento como de costume. É o tipo do lance em que o atacante dá as costas, porque a bola está nas mãos do goleiro. Mas eu vinha correndo de frente. Não esperava a falha do Velloso. Quando vi a bola indo ao chão, me joguei. Tenho a imagem do lance na cabeça. Até hoje me lembram desse gol aqui em Ipatinga, mesmo 13 anos depois. Quando voltamos para Belo Horizonte, havia uma multidão. Foi uma festa maior até do que na Libertadores de 1997, que terminou tarde e nem teve desfile em carro de Bombeiros. Foram dois anos maravilhosos na minha carreira”
AS VERGONHAS
1º lugar: Borussia Dortmund 2 x 0 Cruzeiro, em 1997
Depoimento de Cleison (atualmente assistente do Fortaleza):
“O Cruzeiro investiu muito na preparação e, como quase todos os times brasileiros, chegou ao Japão bem antes. Lógico que ficar dez dias (no Japão) longe da família é ruim, mas metade dos jogadores levou a esposa. O que atrapalhou mesmo foi o tempo em que ficamos em São Paulo antes de viajar ao Japão, umas duas semanas. Poderíamos ter ficado em Belo Horizonte, trabalhando junto com o torcedor e ganhando incentivo. Chegaríamos ao Japão com outro clima. Pareceu que estávamos fora, já no Japão, e que não disputaríamos o Mundial, porque havia um ambiente frio. E teve a questão dos quatro jogadores que foram contratados para esse jogo. Alguns que haviam sido campeões da Libertadores nem ficaram no banco contra o Borussia. E foi um jogo em que o Cruzeiro praticamente não criou chance de gol. O Borussia tinha um time muito forte e mereceu ganhar mesmo. Tinha vários jogadores da seleção alemã e um atacante (Chapuisat) da seleção suíça e um dos melhores da Europa. E tinha o (zagueiro) Júlio César, que teve uma partida muito fácil. Foi soberano, mas nada contra o Bebeto e o Donizete. O Borussia tinha um excelente time, mas o Cruzeiro poderia ter feito mais. Se era para perder daquele jeito, que fosse com o time campeão da Libertadores. Como capitão, eu tive que conversar muito com os jogadores que haviam disputado a Libertadores desde o começo. Os caras (Bebeto, Donizete, Gonçalves e Alberto) não têm culpa de terem sido contratados. Se você é chamado para o Mundial, não vai? É claro que vai. Mas a vaidade no futebol é muito grande. Os jogadores vinham falar comigo, chateados. Tive que conversar muito. Não vou dizer nomes, mas começamos a discutir premiação para o título, algo que sempre é feito antes da partida, e um dos contratados falou que deveríamos deixar para depois. O cara pegou o dinheiro (da contratação) na mão e não queria discutir premiação? Era um dinheiro importante para caramba para as famílias. Mais tarde, depois daquela final, conversei com o presidente, com quem fiz amizade, e ele disse que voltaria atrás se pudesse”
2º lugar: Cruzeiro 1 x 5 Remo, em 1994
Depoimento de Palhinha (atualmente comentarista):
“Eu havia trabalhado (como técnico) no Corinthians e estava retornando a Belo Horizonte. Conhecia bem o time do Cruzeiro, que estava numa situação ruim, e já havia até atuado com alguns jogadores, como Toninho Cerezo e Luizinho. Isso facilita bastante, pois eu já conhecia a capacidade de cada um. Era um time de muita qualidade, o que dá para ver pelos jogadores que tinha. Mas havia muitos desfalques, e no fim do ano o time oscilou bastante. Eu assumi o comando técnico nessa fase. O mais importante foi se manter na Primeira Divisão, pois havia a preocupação com o rebaixamento. Contra o Remo, deu pane na equipe, que não produziu um bom futebol e teve falhas no sistema defensivo fora do normal. Os jogadores corresponderam sempre que tive a possibilidade de escalar o melhor time. Lembro que nessa época eu trouxe o Belletti dos juniores para atuar no profissional”
3º lugar: Atlético-MG 4 x 0 Cruzeiro, em 2007
Depoimento de Geovanni (atualmente no Hull City-ING):
“Foi um clássico diferente de todos os outros que disputei. Nenhum torcedor, do Cruzeiro ou do Atlético, esperava aquele resultado. Foi atípico. Quatro vacilos nossos determinaram o resultado. Ficamos muito tristes com esse resultado, por ter perdido um clássico com um resultado expressivo, mas ganhamos o segundo jogo e ficamos a dois gols do título. Aquele time do Cruzeiro era bom tecnicamente, jogava bola, mas faltavam jogadores experientes. Só tinha Fábio, Ricardinho e eu. Isso faz falta, tanto que depois fizeram algumas contratações. Nunca mais vai acontecer um jogo em que tanta coisa dê errado. Teve expulsão, aquele quatro gol, que ninguém esperava… A bola saiu no meio-campo, eles apertaram, e o Vanderlei chutou direto. Faltou concentração ao Cruzeiro. Depois do jogo, o Paulo Autuori pediu demissão, mas não lembro de declarações dele (dizendo que sairia porque tinha vergonha na cara). Cada um reage de uma maneira diferente. No futebol acontecem essas coisas. Já ganhamos títulos com um gol no último minuto, na sorte.”
4º lugar: Cruzeiro 1 x 2 Ipatinga, em 2005
Depoimento de Marcelo Batatais (atualmente no São Caetano):
“A imprensa dizia que ia dar Cruzeiro na final. Sempre que time pequeno joga contra time grande, dá um algo mais e tenta fazer o melhor. Foi assim com o Ipatinga. Acho que o Cruzeiro não se abalou com o gol sofrido aos cinco minutos, porque é um time acostumado a chegar a decisões. Ganhou três títulos em 2003, o Mineiro em 2004 e tinha uma chance de conquistar o bi em 2005. O time vinha mantendo a regularidade no campeonato e fazendo grandes jogos, tanto que não havia perdido em casa. Perdeu no último jogo, quando não podia. Tinha um bom conjunto, entrosado, com jogadores rápidos e de alto nível técnico, além de um ótimo treinador. Mas não jogamos bem na final. Tenho autocrítica. E se você perguntar para cada jogador que defendeu o Cruzeiro naquela partida, ele vai dizer que não esteve bem. Não conseguimos pôr em prática nossas qualidades. O Ipatinga tinha um time de qualidade, com a maioria dos jogadores vindo da base do Cruzeiro, ou seja, acostumados à seleção (de base). E o técnico (Ney Franco) conhecia esses jogadores, tanto que os levou para o Ipatinga. E isso ajuda muito. Os jogadores fecharam com o Ney”
5º lugar: Cruzeiro 0 x 5 São Paulo, em 1997
Depoimento de Caio (atualmente gerente de futebol do Esportivo-RS):
“Foi um jogo atípico. O São Paulo ganhou por méritos, mas teve Dodô em uma noite muito inspirada. Ele fez a diferença. O Cruzeiro teve desfalques, mas nem dá para levar isso em conta. O jogo poderia ter sido parelho mesmo com esses desfalques, se não fosse o Dodô. Ele acertou tudo e não deu chance para que o Cruzeiro buscasse reação na partida. Jogaríamos uma semifinal de Libertadores dias depois, e isso mexe com qualquer jogador, pois gera ansiedade. Mas isso acontece antes. Durante a partida, cada um busca o melhor para o time, sem tirar o pé das jogadas. Estão em jogo os nomes de cada um e o do time. Uma goleada dessa fica marcada na carreira. Estão la na escalação da partida o meu nome, o do Dida… Então, não foi o jogo da Libertadores que determinou a goleada. O Cruzeiro começou a partida tomando a iniciativa, e o São Paulo segurou o nosso ímpeto. Não fizemos gol, e eles começaram a gostar do jogo. Depois, o Cruzeiro se abriu e acabou levando cinco gols. Com a goleada no placar, você até tenta diminuir a vantagem. Mas a noite não era do Cruzeiro, e sim do São Paulo. Atacamos, atacamos, e o gol não saiu. Poderíamos ficar a noite inteira jogando, e o gol não sairia”
O Cruzeiro fecha a seção Jogos na Memória, que relembrou dez jogos marcantes – cinco para o bem, cinco para o mal – dos 12 maiores clubes do Brasil. Já haviam passado por aqui Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Confira a seguir os depoimentos de quem esteve nos Jogos na Memória do clube celeste. E deixe seu recado nos comentários: quais jogos orgulham e envergonham a torcida cruzeirense?
OS ORGULHOS
1º lugar: Cruzeiro 3 x 2 River Plate, em 1976
Depoimento de Raul Plassmann (atualmente comentarista):
“O que incomodava era o toque de recolher na época. E o jogo foi pouco antes disso. Às 23h, todos tinham que estar em casa, e entravam tanques e carros do exército na rua. Até hoje não sei por que o jogo foi lá. O clima era pesado. O corredor que levava do vestiário ao campo era muito longo… e sabíamos que ali tinham acontecido prisões. Devia ter gente enterrada. A morte do Roberto Batata também contribuía (para o clima pesado). E já tinhamos jogado algumas Libertadores, sem conseguir vencer. Isso gerava mais tensão. Mas aquele time era experiente e capaz fisicamente, embora fosse menos capacitado tecnicamente, porque já não tínhamos o Tostão e o Dirceu Lopes. O jogo dava pinta de que ia para a prorrogação, quando houve a cobrança de falta. O Piazza queria que a bola fosse tocada para ele, e o Nelinho queria chutar. E ele não chutava para fora. Era gol, trave ou defesa do goleiro. O Joãozinho veio por trás e bateu. Perguntei a ele por que fez isso, e ele respondeu: “Vi Piazza discutindo com Nelinho, e o golzão aberto. Era só levantar a bola”. Ele chegou ao vestiário falando ‘eu sou demais!’ para o Zezé Moreira. ‘Você é um irresponsável’, o Zezé respondeu. ‘Mas, seu Zezé, eu fiz o gol’. ‘Não interessa, nunca mais faça isso’. Levou uma bronca… Os argentinos sempre provocaram muito, com a certeza de que os brasileiros eram bananas e perderiam a cabeça. Passavam a mão na bunda, cuspiam… Mas se deram mal, porque no nosso time só tinha macaco velho. Éramos malandos, conhecíamos isso. Esse jogo paralelo também foi vencido pelo Cruzeiro. O Ronaldo foi expulso de campo e levou seis minutos até sair. Ele ia saindo, até que voltava e perguntava: ‘Mas por quê, seu juiz?’. Depois saía de novo, mas voltava: ‘Não acha que foi injusto?’. O tumulto acabou irritando mais o River Plate. O Merlo era quem mais gritava em campo: ‘Vamos, covardes!’. E eu respondia e falava com os jogadores… até que, em certo momento, passamos a rir dele. Tínhamos muito mais time do que o River. Metemos 4 a 1 no Mineirão, fácil. Levaram um banho, deu até dó. Poderíamos estar jogando até hoje, que não perderíamos.”
2º lugar: Cruzeiro 2 x 1 São Paulo, em 2000
Depoimento de André (atualmente assistente do Inter B):
“Foi um jogo de bastante nervosismo, porque um gol, para qualquer um dos lados, geraria um desequilíbrio muito grande. O São Paulo marcou primeiro e deixou o Cruzeiro numa ansiedade muito grande, porque nem o 1 a 1 servia. Foi um desespero geral, com o time deixando às vezes três jogadores no sistema defensivo, e o resto partindo para o ataque, de forma até desordenada. Mas resolveu, graças àquele gol de falta no fim. Treinamos durante a semana de um jeito, e o Geovanni bateu de outro. O Muller chegou até ele e falou: ‘Dá uma porrada em direção ao gol, que a bola entra’. O que havíamos treinado era que o Leandro Donizete colaria na barreira para evitar que o segundo e o terceiro homens saltassem. O Geovanni estava batendo muito bem e rente à barreira, com força. Só que o Leandro Donizete foi para a barreira e brigou com o pessoal. Levou uma cotovelada e deu um empurrão com tudo. Aquilo deu uma desestabilizada na barreira. Com isso, a bola passou no meio e enganou o Rogério Ceni. O futebol tem dessas coisas: você treina, treina e treina alguma coisa, e na hora faz diferente e dá certo. É porque na hora da final há pressão e vontade de as coisas darem certo. O árbitro autorizou a saída de bola com nosso time praticamente inteiro comemorando com a torcida. Havia uns quatro na defesa. O São Paulo atacou com o Carlos Miguel pela linha de fundo. Eu dei uma olhada para a marcação e vi que não tinha ninguem, só o Cléber chegando. Quando o Carlos Miguel cruzou, pensei: vou me jogar. Consegui a defesa mais no desespero do que qualquer outra coisa. Depois, o Cléber deu um chutão para tirar a bola e quase levou meu braço junto. Havia uma expectativa muito grande nessa final, porque em 1998 o time havia chegado a duas finais (Copa do Brasil e Brasileiro) e perdido. Aquilo aflorou em quem ainda estava no clube, e alguns até passaram essa experiência para a gente. O São Paulo era um time de mais qualidade técnica, mais maduro e consistente. Chegou pronto àquela final. O Cruzeiro já tinha jogadores veteranos e uma molecada surgindo. Era uma equipe em formação, com um técnico novo. O Marco Aurélio nos ajudou muito. Para um time em formação, ajuda muito quando a parte tática é bem aceita. Chegamos à final com resultados enxutos, no nosso limite técnico. Foi uma grande copa, com todos indo além dos limites. Ganhar o título foi algo extraordinário”
3º lugar: Cruzeiro 3 x 0 Santos, em 2003
Depoimento de Alex (atualmente no Fenerbahçe-TUR):
“A única equipe que poderia fazer frente ao Cruzeiro era o Santos. Sabíamos que era a decisão do campeonato e encaramos o jogo assim. Havia outros bons times, mas o nosso era superior. E o resultado provou que o Cruzeiro era melhor, tanto que já havia vencido na Vila e voltou a vencer. Durante o ano inteiro, a imprensa viu o Santos como o melhor time e achou que em algum momento ele se recuperaria e ganharia o campeonato. Diziam que o Cruzeiro vivia apenas um bom momento. Mas esse bom momento durou um ano.Vanderlei (Luxemburgo) trabalhou muito bem isso antes da partida. Tínhamos que vencer o adversário e as suspeitas de que o Cruzeiro não seria campeão brasileiro. Antes do jogo, soubemos do desfalque do Diego. Não mudou o nosso planejamento, mas foi uma surpresa agradável, porque é um grande jogador e era quem armava tudo no meio-campo. Mas, se ele jogasse, também ganharíamos, porque vivíamos um momento especial. O Santos era o time do momento, era campeão brasileiro, mas era um time de meninos. O Cruzeiro era um um time mais vivido, formado por jogadores que vinham de dificuldades diferentes. As exceções eram o Deivid, que vinha de um bom momento no Corinthians, e o Maurinho, que estava bem no Santos. Mas eu havia tido uma briga na Justiça com o Parma. Outros estavam desacreditados. Diziam que o Aristizábal não tinha condições de jogar num time grande. Foi uma aposta do Vanderlei. Ele é um treinador meticuloso, estuda muito o adversário e sabe explorar a situação que o adversário tem a oferecer. Por mais forte que um time seja, ele também tem pontos fracos. No caso desse jogo, exploramos a nossa velocidade, porque a dupla de área do Santos (Alex e André Luiz) era boa, mas pesada. Os laterais do Santos avançavam, então exploramos jogadas com o Leandro e o Maurinho, para que os zagueiros saíssem na cobertura – e normalmente saíam atrasados. O primeiro gol do Ari saiu assim, numa bola nas costas do zagueiro. Nossos dois laterais eram a nossa vantagem no Mineirão. Usávamos muito os dois depois de abrir o placar, e aí dificilmente o adversário nos segurava. Depois que levou 1 a 0, o Santos teria que sair. E o Léo tinha preocupação em atacar e não marcava muito atrás. Com a velocidade dos laterais e a movimentação do Ari na frente, complicamos para eles e definimos o resultado”
4º lugar: Cruzeiro 5 x 0 Atlético-MG, em 2008
Depoimento de Jadílson:
“Uma goleada sempre fica marcada, principalmente numa final. O Cruzeiro desenvolveu um bom trabalho e envolveu o Atlético, sem dar espaço. Foi uma atuação que chegou perto da perfeição e que vai ser lembrada por muito tempo. É difícil falar por que o placar foi tão elástico, já que cada partida tem a sua história. Às vezes as coisas dão certo, e às vezes não. No jogo da primeira fase (empate por 0 a 0), o Adilson teve de fazer mudanças por causa de lesões (saíram Guilherme e Charles ainda no primeiro tempo). Já na primeira partida da final, a equipe jogou bem e fez os gols que havia perdido no jogo da primeira fase. Estavam todos inspirados. Já conhecíamos os pontos fortes e fracos do Atlético. Sabíamos que eles vinham tendo dificuldade na defesa, sempre trocando a dupla de zaga, que não estava se encaixando. O objetivo era atuar pelas pontas e cruzar para a área. Jogamos mais pela esquerda porque o Atlético sempre mudava o lateral-direito. Conseguimos impor ritmo forte. Sabíamos que a vitória por 5 a 0 nos dava uma vantagem grande, mas não achávamos que já o título estava garantido. Era difícil o Atlético reveter a vantagem, mas não impossível. Por isso entramos com tudo na segunda partida também e ganhamos (1 a 0).”
5º lugar: Palmeiras 1 x 2 Cruzeiro, em 1996
Depoimento de Marcelo Ramos (atualmente no Ipatinga):
“Se perguntasse para dez pessoas qual seria o campeão, as dez apontariam o Palmeiras. Era um grande time, com uns oito jogadores de seleção, e atuava em casa com a vantagem do empate. Mas o nosso time também era tecnicamente bom, embora prevalecesse a garra. O gol de empate no Mineirão deu mais força para o Cruzeiro. Com uma derrota no primeiro jogo, talvez tivéssemos entregado o título. Mas conseguimos o empate e até criamos outras chances, deixando o Palmeiras acuado. Saímos confiantes de campo. O Levir Culpi valorizava o Palmeiras, mas também enchia muito a nossa bola. Lembrava que havíamos passado por Vasco, Corinthians e Flamengo. No Palestra, precisando vencer, tomamos gol com cinco minutos. Pensei: ‘Vai ser bastante difícil, vamos tentar levar para os pênaltis.’ E tivemos poucas chances no primeiro tempo. O Palmeiras pressionou, chutava de dentro da área, e o Dida pegava. Até que cobramos errado um escanteio, a bola bateu no Amaral e sobrou para o Roberto Gaúcho. Esse gol deu confiança. No mínimo iríamos para os pênaltis, e tínhamos o Dida, que ainda por cima estava bem na partida. Ele é muito tranquilo, passa confiança. Algumas bolas eram gol certo, e ele pegava. No fim do jogo, toquei a bola para o Roberto Gaúcho e corri para a área. Mas o Palestra não é como o Maracanã e o Morumbi, então logo em seguida a bola já estava voltando para a área. Ele cruzava muito bem, entre o goleiro e o zagueiro. Marquei muitos gols assim naquele ano. Mas ele não fez um cruzamento como de costume. É o tipo do lance em que o atacante dá as costas, porque a bola está nas mãos do goleiro. Mas eu vinha correndo de frente. Não esperava a falha do Velloso. Quando vi a bola indo ao chão, me joguei. Tenho a imagem do lance na cabeça. Até hoje me lembram desse gol aqui em Ipatinga, mesmo 13 anos depois. Quando voltamos para Belo Horizonte, havia uma multidão. Foi uma festa maior até do que na Libertadores de 1997, que terminou tarde e nem teve desfile em carro de Bombeiros. Foram dois anos maravilhosos na minha carreira”
AS VERGONHAS
1º lugar: Borussia Dortmund 2 x 0 Cruzeiro, em 1997
Depoimento de Cleison (atualmente assistente do Fortaleza):
“O Cruzeiro investiu muito na preparação e, como quase todos os times brasileiros, chegou ao Japão bem antes. Lógico que ficar dez dias (no Japão) longe da família é ruim, mas metade dos jogadores levou a esposa. O que atrapalhou mesmo foi o tempo em que ficamos em São Paulo antes de viajar ao Japão, umas duas semanas. Poderíamos ter ficado em Belo Horizonte, trabalhando junto com o torcedor e ganhando incentivo. Chegaríamos ao Japão com outro clima. Pareceu que estávamos fora, já no Japão, e que não disputaríamos o Mundial, porque havia um ambiente frio. E teve a questão dos quatro jogadores que foram contratados para esse jogo. Alguns que haviam sido campeões da Libertadores nem ficaram no banco contra o Borussia. E foi um jogo em que o Cruzeiro praticamente não criou chance de gol. O Borussia tinha um time muito forte e mereceu ganhar mesmo. Tinha vários jogadores da seleção alemã e um atacante (Chapuisat) da seleção suíça e um dos melhores da Europa. E tinha o (zagueiro) Júlio César, que teve uma partida muito fácil. Foi soberano, mas nada contra o Bebeto e o Donizete. O Borussia tinha um excelente time, mas o Cruzeiro poderia ter feito mais. Se era para perder daquele jeito, que fosse com o time campeão da Libertadores. Como capitão, eu tive que conversar muito com os jogadores que haviam disputado a Libertadores desde o começo. Os caras (Bebeto, Donizete, Gonçalves e Alberto) não têm culpa de terem sido contratados. Se você é chamado para o Mundial, não vai? É claro que vai. Mas a vaidade no futebol é muito grande. Os jogadores vinham falar comigo, chateados. Tive que conversar muito. Não vou dizer nomes, mas começamos a discutir premiação para o título, algo que sempre é feito antes da partida, e um dos contratados falou que deveríamos deixar para depois. O cara pegou o dinheiro (da contratação) na mão e não queria discutir premiação? Era um dinheiro importante para caramba para as famílias. Mais tarde, depois daquela final, conversei com o presidente, com quem fiz amizade, e ele disse que voltaria atrás se pudesse”
2º lugar: Cruzeiro 1 x 5 Remo, em 1994
Depoimento de Palhinha (atualmente comentarista):
“Eu havia trabalhado (como técnico) no Corinthians e estava retornando a Belo Horizonte. Conhecia bem o time do Cruzeiro, que estava numa situação ruim, e já havia até atuado com alguns jogadores, como Toninho Cerezo e Luizinho. Isso facilita bastante, pois eu já conhecia a capacidade de cada um. Era um time de muita qualidade, o que dá para ver pelos jogadores que tinha. Mas havia muitos desfalques, e no fim do ano o time oscilou bastante. Eu assumi o comando técnico nessa fase. O mais importante foi se manter na Primeira Divisão, pois havia a preocupação com o rebaixamento. Contra o Remo, deu pane na equipe, que não produziu um bom futebol e teve falhas no sistema defensivo fora do normal. Os jogadores corresponderam sempre que tive a possibilidade de escalar o melhor time. Lembro que nessa época eu trouxe o Belletti dos juniores para atuar no profissional”
3º lugar: Atlético-MG 4 x 0 Cruzeiro, em 2007
Depoimento de Geovanni (atualmente no Hull City-ING):
“Foi um clássico diferente de todos os outros que disputei. Nenhum torcedor, do Cruzeiro ou do Atlético, esperava aquele resultado. Foi atípico. Quatro vacilos nossos determinaram o resultado. Ficamos muito tristes com esse resultado, por ter perdido um clássico com um resultado expressivo, mas ganhamos o segundo jogo e ficamos a dois gols do título. Aquele time do Cruzeiro era bom tecnicamente, jogava bola, mas faltavam jogadores experientes. Só tinha Fábio, Ricardinho e eu. Isso faz falta, tanto que depois fizeram algumas contratações. Nunca mais vai acontecer um jogo em que tanta coisa dê errado. Teve expulsão, aquele quatro gol, que ninguém esperava… A bola saiu no meio-campo, eles apertaram, e o Vanderlei chutou direto. Faltou concentração ao Cruzeiro. Depois do jogo, o Paulo Autuori pediu demissão, mas não lembro de declarações dele (dizendo que sairia porque tinha vergonha na cara). Cada um reage de uma maneira diferente. No futebol acontecem essas coisas. Já ganhamos títulos com um gol no último minuto, na sorte.”
4º lugar: Cruzeiro 1 x 2 Ipatinga, em 2005
Depoimento de Marcelo Batatais (atualmente no São Caetano):
“A imprensa dizia que ia dar Cruzeiro na final. Sempre que time pequeno joga contra time grande, dá um algo mais e tenta fazer o melhor. Foi assim com o Ipatinga. Acho que o Cruzeiro não se abalou com o gol sofrido aos cinco minutos, porque é um time acostumado a chegar a decisões. Ganhou três títulos em 2003, o Mineiro em 2004 e tinha uma chance de conquistar o bi em 2005. O time vinha mantendo a regularidade no campeonato e fazendo grandes jogos, tanto que não havia perdido em casa. Perdeu no último jogo, quando não podia. Tinha um bom conjunto, entrosado, com jogadores rápidos e de alto nível técnico, além de um ótimo treinador. Mas não jogamos bem na final. Tenho autocrítica. E se você perguntar para cada jogador que defendeu o Cruzeiro naquela partida, ele vai dizer que não esteve bem. Não conseguimos pôr em prática nossas qualidades. O Ipatinga tinha um time de qualidade, com a maioria dos jogadores vindo da base do Cruzeiro, ou seja, acostumados à seleção (de base). E o técnico (Ney Franco) conhecia esses jogadores, tanto que os levou para o Ipatinga. E isso ajuda muito. Os jogadores fecharam com o Ney”
5º lugar: Cruzeiro 0 x 5 São Paulo, em 1997
Depoimento de Caio (atualmente gerente de futebol do Esportivo-RS):
“Foi um jogo atípico. O São Paulo ganhou por méritos, mas teve Dodô em uma noite muito inspirada. Ele fez a diferença. O Cruzeiro teve desfalques, mas nem dá para levar isso em conta. O jogo poderia ter sido parelho mesmo com esses desfalques, se não fosse o Dodô. Ele acertou tudo e não deu chance para que o Cruzeiro buscasse reação na partida. Jogaríamos uma semifinal de Libertadores dias depois, e isso mexe com qualquer jogador, pois gera ansiedade. Mas isso acontece antes. Durante a partida, cada um busca o melhor para o time, sem tirar o pé das jogadas. Estão em jogo os nomes de cada um e o do time. Uma goleada dessa fica marcada na carreira. Estão la na escalação da partida o meu nome, o do Dida… Então, não foi o jogo da Libertadores que determinou a goleada. O Cruzeiro começou a partida tomando a iniciativa, e o São Paulo segurou o nosso ímpeto. Não fizemos gol, e eles começaram a gostar do jogo. Depois, o Cruzeiro se abriu e acabou levando cinco gols. Com a goleada no placar, você até tenta diminuir a vantagem. Mas a noite não era do Cruzeiro, e sim do São Paulo. Atacamos, atacamos, e o gol não saiu. Poderíamos ficar a noite inteira jogando, e o gol não sairia”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos botafoguenses
sex, 06/11/09
por bernardo ferreira |
categoria Botafogo, Jogos na Memória
A seção Jogos na Memória desta semana traz dez
momentos marcantes do Botafogo. Confira a seguir os depoimentos de quem
participou de cinco motivos de orgulho e de cinco motivos de vergonha.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Santos 1 x 1 Botafogo, em 1995
Depoimento de Sérgio Manoel (atualmente no Bragantino):
“Lembro das declarações do Jamelli no Maracanã, dizendo que em São Paulo eles virariam, assim como naquela vitória histórica sobre o Fluminense (na semifinal). Bastava o 1 a 0 para eles. A vitória por 2 a 1 no Maracanã nos deu condição de chegar armados ao Pacaembu. Marcamos o Santos no campo dele. Era importante não deixar o adversário crescer, porque o Giovanni estava desequilibrando e podia fazer a diferença em um lance. Por isso, a partida ficou truncada e mais faltosa. Numa decisão, vale usar qualquer artifício. Mais para o fim, entrou o fator emocional, com o Botafogo sentindo o título chegando e os dois times jogando no limite. Tínhamos a vantagem e precisávamos administrá-la, e aí bateu o nervosismo. Para o Santos, não tinha jeito: só bastava atacar. Foi uma decisão inesquecível. Jogamos no Pacaembu com todos contra, e o Santos tinha tanta chance de ser campeão quanto o Botafogo. Não seria demérito algum se perdêssemos aquela final. Com exceção do Gottardo, naquele time todos buscavam se firmar e ter um nome no futebol. O time se fechou em função disso. Havia grandes times na época: o Palmeiras tinha a Parmalat, o Cruzeiro vinha com uma base forte… Correr por fora foi importante. Quando os outros perceberam, estávamos fortes. O Autuori foi fundamental para dar confiança ao time. O fato de ele não ter um nome forte no Brasil fez com que ele ficasse no mesmo barco que nós. Ele tem um linguajar simples, é supereducado e conhecedor de futebol. Foi uma grata surpresa. Quando anunciaram que ele havia sido contratado, pensei: ‘Quem é esse cara?’. Era um time de entrega, sem estrelismo. Depois vieram à tona atritos com o Túlio, porque ele tinha dificuldade de ajudar na marcação, e a gente cobrava dele taticamente. Mas ele estava numa fase iluminada. O Botafogo tinha um meio-campo muito forte e que se entregava na marcação. O Donizete ainda voltava para ajudar. Depois não joguei em nenhum time parecido com aquele. Foi o melhor em que já atuei, disparado.”
2º lugar: Botafogo 1 x 0 Flamengo, em 1989
Depoimento de Maurício (atualmente corretor de imóveis):
“O Espinosa soube lidar com a emoção do grupo. Ele viu que não tinha um grande destaque na equipe, mas percebeu que todos tinham um objetivo. Cada um se dedicava ao máximo, transformando cada jogo em uma decisão. Nisso éramos diferentes dos outros times. Avançamos passo a passo no campeonato, com humildade. Eu corria pelo Josimar, que corria pelo Luisinho, que corria pelo Mauro Galvão, que corria pelo Vitor… E tínhamos amizade fora do clube. Se você via o Maurício , via também quatro famílias de jogadores. Vi que seríamos campeões no empate por 3 a 3 com o Flamengo, quando eles abriram 3 a 1, com a torcida já gritando ‘é campeão’. Ali foi a virada, a concretização da nossa força. A torcida passou a acreditar no Botafogo, passou a ter autoconfiança, dizia: ‘Não vai morrer na praia’. Não dávamos tanta importância ao jejum de 21 anos. Só depois é que vimos a importância daquele título. Eu passei mal na semana daquela final e não iria jogar. Mas pediram para que eu entrasse em campo e disseram que iriam jogar por mim. Eu corria atrás do Leonardo, não estava bem. Queria sair, mas o Espinosa pediu para eu continuar na partida. Todos dizem que aquele gol foi o mais importante da história do Botafogo. Eram 21 anos de jejum, fazia 21 graus, um gol aos 12 minutos, o número 14 cruza para o número 7… é muita coisa. O Flamengo na época falou para caramba, diziam que não tínhamos estrutura nem bagagem. Mexeram com a gente. Lembro de cada um em detalhes, pois todos fazem parte dessa conquista. O Carlos Alberto Santos, maestro; o Luisinho, guerreiro; o Galvão, que não fazia uma falta; o Paulinho Criciúma, artilheiro reverenciado; o Gustavo, que jogava em mais de uma posição; o Josimar, fantástico, jogador de seleção; o Mazolinha, que chorava para entrar ou pelo menos ficar no banco (risos). Faço parte de um grupo que fez renascer o Botafogo. Foi uma nova era.”
3º lugar: Botafogo 4 x 4 Juventus, em 1996
Depoimento de Wilson Gottardo (atualmente agente de jogadores):
“Existe uma empatia entre espanhóis e brasileiros. Na Europa existe uma situação parecida ao que acontece na América do Sul. Acho que aqui os outros países têm maior simpatia com o Brasil. Lá, espanhóis e portugueses são mais queridos do que os italianos. O fato de usarmos a camisa do La Coruña nos deu um gostinho diferente na vitória. Era como se fôssemos um próprio clube espanhol. Existe uma rivalidade muito grande entre espanhóis e italianos. E eles (italianos) acham que os brasileiros são mortos de fome. Isso nos motivou. Para nós, não mudou nada o caso do uniforme, mas com certeza esse episódio faria qualquer estilista ficar desempregado, porque nada combinava no uniforme (risos). Essa camisa eu guardei, o que é diferente, porque nunca fui de guardar. O time deles era superentrosado. Até os reservas tinham condições de ser titulares em outras equipes. Do nosso lado, tínhamos jogadores sem ritmo. Eu estava voltando de lesão. O que encontramos foi um time superior na parte física, com eles iniciando uma temporada e nós saindo de uma competição e viajando. Sempre ficamos atrás no placar, e depois de levarmos o gol do Amoruso (aos 12 minutos do segundo tempo da prorrogação) foi apenas mais uma superação. Foi um jogo muito atípico. O pênalti que o Souza converteu (o decisivo), chutando o chão, fez o goleiro deles ficar desacreditado. Ele deu um tapa no chão e foi como se dissesse: ‘Não tem jeito. Esse jogo vai a dez a dez, e eles vão levar’. Foi um gesto que marcou. As coisas deram certo para o Botafogo também. Houve muitas jogadas bonitas, gols bonitos. Nos pênaltis, falei: ‘Não confia em mim, minhas pernas endureceram’, porque vinha de uma lesão. Fiquei temeroso, mas foi um jogo muito emocionante. Tínhamos um time muito bom, com condição até de levar a Libertadores, se tivesse sido mantido.”
4º lugar: Botafogo 1 x 0 Vasco, em 1997
Depoimento de Aílton:
“Foi um bom jogo. Nosso time era muito bem armado. Taticamente, o Joel (Santana, técnico na época) é um dos melhores. O time sobressaiu muito por isso. O gol saiu de uma jogada que a gente não costumava fazer. O Marcelinho, que era volante, foi à linha de fundo, mandou na cabeça do Gonçalves, e ele fez. O nosso grupo era bom, pois contrataram atletas acostumados a vencer. Na final do campeonato, fechamos a série no segundo jogo, com o gol do Dimba (1 a 0 sobre o Vasco). Seria uma injustiça se não vencêssemos, porque ganhamos o primeiro e o segundo turno. Eu vi o golaço do Dimba até de uma posição melhor, porque tomei uma pancada por trás e saí machucado. Fiquei ali de fora, sofrendo. Foi um golaço mesmo, de quem sabe fazer, de quem tem habilidade. E ele tinha moral, tinha seu espaço no grupo. Os jogadores comentavam que o grupo estava parecido com o de 1995, e com isso eles sentiam firmeza de que iríamos conquistar o título”
5º lugar: São Paulo 2 x 3 Botafogo, em 1998
Depoimento de Jorge Luiz (atualmente auxiliar no Vasco):
“Aquele time de 1998 já vinha montado. Havia uma espinha dorsal, em que jogávamos eu, Wágner, Gonçalves, Pingo e Djair, e ainda foram contratados dois jogadores de qualidade, Túlio e Bebeto, que formavam a dupla de ataque. Era um time bem qualificado. Não havia favorito para a final do Rio-São Paulo, pois reunia duas grandes equipes, e qualquer uma tinha condições de ganhar. O Botafogo saiu na frente no Morumbi, o São Paulo virou, mas tivemos força para virar e levar a vantagem para o Maracanã. Tínhamos um time experiente, com jogadores rodados no futebol e acostumados a decisões, e que atuava em cima dos erros do adversário. Não havia um jogador rápido, então nosso forte era o toque de bola, cadenciado, para envolver o adversário. Havia três batedores de falta: eu, Sérgio Manoel e Bebeto. Nós nos entendíamos bem e sabíamos da capacidade de cada um. Decidíamos na hora quem iria bater, sem atritos, dependendo de quem estivesse se sentindo bem. Mas tínhamos uma brincadeira nos treinos, em que cada um batia um determinado número de faltas. Aquele que fizesse mais gols teria prioridade na partida, podendo escolher a primeira cobrança. Era uma brincadeira sadia, e os jogadores se respeitavam”
AS VERGONHAS
1º lugar: River Plate 4 x 2 Botafogo, em 2007
Depoimento de Luciano Almeida:
“Esperávamos fazer uma ótima competição. Pegamos um adversário difícil e de tradição, mas ficamos surpresos depois do primeiro jogo (vídeo acima). Vencemos e vimos que o River Plate já não era tão poderoso e que poderíamos jogar de igual para igual em qualquer lugar. Depois que fizemos o primeiro gol na Argentina, a confiança ficou maior ainda. Já imáginávamos muita coisa boa pela frente. Fizemos 2 a 1 e tivemos muitas chances para matar o jogo. Em 15 minutos vimos todo o trabalho e sacrifício irem por água abaixo. O Botafogo ficou muito marcado pela torcida como um time que chegava na hora H e não conseguia conquistas. Houve protestos na chegada ao Rio, o Cuca pediu demissão, e ainda tivemos mais uma semana com a torcida se manifestando e pedindo a saída de jogadores e dirigentes. Ficamos muito abatidos, pois podíamos ir longe. Era um time que mudava pouco a escalação, pois era raro perder um jogador por suspensão ou lesão. Até hoje o torcedor se lembra daquela base, com Max ou Júlio César no gol, Joílson na direita e eu na esquerda, com Juninho e Renato Silva na zaga; Leandro Guerreiro, Túlio, Lucio Flavio e Zé Roberto no meio; e Jorge Henrique e Dodô na frente. Cada um sabia o posicionamento do outro, e todos se entendiam muito bem, apesar de pouco tempo de trabalho, que havia se iniciado no início de 2007. Foi frustrante não ir longe. Não vejo apenas um motivo para sofrer aquela virada para o River. Não fomos competentes na defesa, no meio-campo e principalmente no ataque. Teve um lance em que o goleiro do River estava no meio-campo, e nós com um a mais. Deu branco na equipe. Acho que os adversários que eliminaram o Botafogo tiveram seus méritos, mas éramos superiores em boa parte das decisões. Posso citar o Carioca como exemplo: o Botafogo era melhor do que o Flamengo. O Montenegro (que chamou o time de covarde) ajudou bastante o Botafogo, mas em alguns momentos não ajudava. Era mais torcedor, agia mais com a razão do que com a emoção. Até entendo o seu desabafo naquele momento”
2º lugar: Botafogo 0 x 0 Juventude, em 1999
Depoimento de Zé Carlos (atualmente no Juventude):
“Foi uma frustração. Lembro que, quando estávamos chegando ao Maracanã, fiquei impressionado, porque nunca tinha visto tanta gente na minha vida. Foi um momento especial para mim, mas frustrante no fim. O Juventude mereceu, pois fez uma boa retranca no Rio. Conseguiu o resultado de forma justa no segundo jogo. No primeiro (em Caxias do Sul), foram dois gols mal anulados. Há coisas que só acontecem com o Botafogo… O gol não saiu e, mesmo que jogássemos 150 minutos, não iria sair. Nem dá para falarmos muita coisa. No Maracanã, quem diria que não iríamos vencer por um golzinho. Acho que erros de arbitragem ocorrem, mas o Botafogo deu mole no Maracanã. Desde o inicio estávamos atacando, pressionando. Talvez a ansiedade tenha nos atrapalhado. Hoje aqui no Juventude o pessoal até brinca, dizendo: “Você tinha que estar com a gente naquela época”, mas é tudo no bom humor.”
3º lugar: Fluminense 7 x 1 Botafogo, em 1994
Depoimento de Dé (atualmente no Kalba Club-EAU):
“O mesmo problema aconteceu duas vezes comigo no Botafogo. A outra foi em 2001, quando também perdemos por 7 a 1, para o Vasco. Em 1994, na época dos jogos finais, havia insatisfação pelo atraso de salário, que era muito grande. Eram quatro ou cinco meses. O descontentamento era grande a ponto de não quererem jogar. Haveria uma reunião, num jantar antes do jogo, para que a diretoria se comprometesse a pagar alguns meses. Mas ninguém da diretoria apareceu. Depois do jantar, a grande maioria dos jogadores se reuniu e avisou que não iria para o jogo. Não vou citar nomes. Eles tinham razão até certo ponto, mas não tiveram consideração comigo. Eu teria que recorrer a juniores, como acabou acontecendo na última rodada. Momentos antes de irmos para o Maracanã, convenci os jogadores a irem para a partida. Com alguns minutos de jogo, já perdíamos por 4 a 0. Dirigi o Botafogo algumas vezes, muitas como interino. Mas nessas duas (1994 e 2001) eu era o treinador oficial, com contrato e tudo. A primeira marcou mais, e foi uma lição que eu não aprendi. Alguns jogadores de 1994 confessaram depois que não estavam a fim de jogar. De oito anos no Botafogo, fiquei cinco anos e meio com salários atrasados. Hoje sou um dos que estão na fila para receber na Justiça. Quando o Emil Pinheiro saiu, deixou o Botafogo falido. Não tinha nem bola para treinar. Depois dessa goleada, afastamos jogadores, alguns com um certo nome. E lancei Beto, André Silva, Moisés, Alex. É só comparar a escalação contra o Fluminense e o jogo depois, e você vai ver uma reformulação de cinco ou seis nomes. Surgiu uma conversa de que a goleada teria tido participação financeira do Fluminense, mas isso é mentira. Os jogadores não levaram dinheiro. O que aconteceu foi que os jogadores não receberam salário e se vingaram. Puxaram o freio de mão, reclamaram publicamente de substituções… E eu tinha que administrar isso. Aconteceu a mesmíssima coisa em 2001. Na minha época de jogador isso não aconteceria, porque não havia mercenários. Tínhamos outro caráter, outra formação. Depois juntaram os cacos e formaram um time que foi campeão brasileiro (de 1995). E sei que tenho participação nisso.”
4º lugar: Botafogo 0 x 1 São Paulo, em 2002
Depoimento de Carlos Alberto Torres:
“Ali já não tinha mais como se livrar do rebaixamento. Mesmo que o Botafogo ganhasse, ia ser muito complicado, pois dependia de outros resultados. Mas o time entrou disposto, correndo muito. O São Paulo tinha um bom time e ganhou apenas por 1 a 0. Se nosso time tivesse esmorecido, de repente eles teriam ganho até de um placar mais elevado. No primeiro tempo, mandamos no jogo. Mesmo quando levamos o gol, ninguém parou em campo. O time não se entregou em momento algum. O pensamento era de ‘vamos ser rebaixados, mas mostrando vontade’. Não me lembro dessa história de atrasar para entrar em campo e saber dos resultados. Pode até ser uma coisa condenável, mas, dentro das condições que vivia o time, dá para entender. Eu entrei já em uma situação complicada no comando da equipe. Primeiro, a diretoria me fez um apelo para pegar o time. Lembro que foi uma seqüência de três jogos. Ganhamos o primeiro, no Maracanã, contra o Corinthians. Criou-se uma expectativa muito grande. Contra o Guarani, em Campinas, perdemos, e foi aí que complicou. Se tivéssemos ganhado lá, acho que sairíamos do rebaixamento”
5º lugar: Botafogo 0 x 1 América, em 2002
Depoimento de Almir (atualmente no Ulsan Hyundai-COR):
“O Botafogo estava bem no campeonato, até que perdemos num jogo decisivo no Maracanã, frustrando a torcida. Esse time tinha a base do de 2001, que havia terminado bem o ano. Estávamos confiantes por isso, e tínhamos como objetivo ganhar o Carioca de 2002. Depois desse jogo, o Max foi até para o Botafogo, porque fechou o gol. Estava num dia muito feliz e foi o melhor em campo. Geralmente, quando se enfrenta um time considerado pequeno, o jogador não entra da mesma forma que num clássico. Não entramos com a concentração que deveríamos ter entrado, pela importância que tinha o jogo. Foi nesse ano que o Botafogo caiu para a Segunda Divisão no Brasileiro, e acho que esse jogo foi um divisor de águas. Depois o Botafogo começou a entrar em crise e a torcida passou a pressionar. Houve muita troca de treinador durante o ano. Depois que o Abel Braga saiu, o Botafogo se perdeu. Não é que os que entraram não fossem bons, mas fica difícil para o treinador chegar e montar um projeto em pouco tempo. Também acho que faltou união entre os jogadores. Eu havia subido em 2001, era novo, mas observava muito isso.”
OS ORGULHOS:
1º lugar: Santos 1 x 1 Botafogo, em 1995
Depoimento de Sérgio Manoel (atualmente no Bragantino):
“Lembro das declarações do Jamelli no Maracanã, dizendo que em São Paulo eles virariam, assim como naquela vitória histórica sobre o Fluminense (na semifinal). Bastava o 1 a 0 para eles. A vitória por 2 a 1 no Maracanã nos deu condição de chegar armados ao Pacaembu. Marcamos o Santos no campo dele. Era importante não deixar o adversário crescer, porque o Giovanni estava desequilibrando e podia fazer a diferença em um lance. Por isso, a partida ficou truncada e mais faltosa. Numa decisão, vale usar qualquer artifício. Mais para o fim, entrou o fator emocional, com o Botafogo sentindo o título chegando e os dois times jogando no limite. Tínhamos a vantagem e precisávamos administrá-la, e aí bateu o nervosismo. Para o Santos, não tinha jeito: só bastava atacar. Foi uma decisão inesquecível. Jogamos no Pacaembu com todos contra, e o Santos tinha tanta chance de ser campeão quanto o Botafogo. Não seria demérito algum se perdêssemos aquela final. Com exceção do Gottardo, naquele time todos buscavam se firmar e ter um nome no futebol. O time se fechou em função disso. Havia grandes times na época: o Palmeiras tinha a Parmalat, o Cruzeiro vinha com uma base forte… Correr por fora foi importante. Quando os outros perceberam, estávamos fortes. O Autuori foi fundamental para dar confiança ao time. O fato de ele não ter um nome forte no Brasil fez com que ele ficasse no mesmo barco que nós. Ele tem um linguajar simples, é supereducado e conhecedor de futebol. Foi uma grata surpresa. Quando anunciaram que ele havia sido contratado, pensei: ‘Quem é esse cara?’. Era um time de entrega, sem estrelismo. Depois vieram à tona atritos com o Túlio, porque ele tinha dificuldade de ajudar na marcação, e a gente cobrava dele taticamente. Mas ele estava numa fase iluminada. O Botafogo tinha um meio-campo muito forte e que se entregava na marcação. O Donizete ainda voltava para ajudar. Depois não joguei em nenhum time parecido com aquele. Foi o melhor em que já atuei, disparado.”
2º lugar: Botafogo 1 x 0 Flamengo, em 1989
Depoimento de Maurício (atualmente corretor de imóveis):
“O Espinosa soube lidar com a emoção do grupo. Ele viu que não tinha um grande destaque na equipe, mas percebeu que todos tinham um objetivo. Cada um se dedicava ao máximo, transformando cada jogo em uma decisão. Nisso éramos diferentes dos outros times. Avançamos passo a passo no campeonato, com humildade. Eu corria pelo Josimar, que corria pelo Luisinho, que corria pelo Mauro Galvão, que corria pelo Vitor… E tínhamos amizade fora do clube. Se você via o Maurício , via também quatro famílias de jogadores. Vi que seríamos campeões no empate por 3 a 3 com o Flamengo, quando eles abriram 3 a 1, com a torcida já gritando ‘é campeão’. Ali foi a virada, a concretização da nossa força. A torcida passou a acreditar no Botafogo, passou a ter autoconfiança, dizia: ‘Não vai morrer na praia’. Não dávamos tanta importância ao jejum de 21 anos. Só depois é que vimos a importância daquele título. Eu passei mal na semana daquela final e não iria jogar. Mas pediram para que eu entrasse em campo e disseram que iriam jogar por mim. Eu corria atrás do Leonardo, não estava bem. Queria sair, mas o Espinosa pediu para eu continuar na partida. Todos dizem que aquele gol foi o mais importante da história do Botafogo. Eram 21 anos de jejum, fazia 21 graus, um gol aos 12 minutos, o número 14 cruza para o número 7… é muita coisa. O Flamengo na época falou para caramba, diziam que não tínhamos estrutura nem bagagem. Mexeram com a gente. Lembro de cada um em detalhes, pois todos fazem parte dessa conquista. O Carlos Alberto Santos, maestro; o Luisinho, guerreiro; o Galvão, que não fazia uma falta; o Paulinho Criciúma, artilheiro reverenciado; o Gustavo, que jogava em mais de uma posição; o Josimar, fantástico, jogador de seleção; o Mazolinha, que chorava para entrar ou pelo menos ficar no banco (risos). Faço parte de um grupo que fez renascer o Botafogo. Foi uma nova era.”
3º lugar: Botafogo 4 x 4 Juventus, em 1996
Depoimento de Wilson Gottardo (atualmente agente de jogadores):
“Existe uma empatia entre espanhóis e brasileiros. Na Europa existe uma situação parecida ao que acontece na América do Sul. Acho que aqui os outros países têm maior simpatia com o Brasil. Lá, espanhóis e portugueses são mais queridos do que os italianos. O fato de usarmos a camisa do La Coruña nos deu um gostinho diferente na vitória. Era como se fôssemos um próprio clube espanhol. Existe uma rivalidade muito grande entre espanhóis e italianos. E eles (italianos) acham que os brasileiros são mortos de fome. Isso nos motivou. Para nós, não mudou nada o caso do uniforme, mas com certeza esse episódio faria qualquer estilista ficar desempregado, porque nada combinava no uniforme (risos). Essa camisa eu guardei, o que é diferente, porque nunca fui de guardar. O time deles era superentrosado. Até os reservas tinham condições de ser titulares em outras equipes. Do nosso lado, tínhamos jogadores sem ritmo. Eu estava voltando de lesão. O que encontramos foi um time superior na parte física, com eles iniciando uma temporada e nós saindo de uma competição e viajando. Sempre ficamos atrás no placar, e depois de levarmos o gol do Amoruso (aos 12 minutos do segundo tempo da prorrogação) foi apenas mais uma superação. Foi um jogo muito atípico. O pênalti que o Souza converteu (o decisivo), chutando o chão, fez o goleiro deles ficar desacreditado. Ele deu um tapa no chão e foi como se dissesse: ‘Não tem jeito. Esse jogo vai a dez a dez, e eles vão levar’. Foi um gesto que marcou. As coisas deram certo para o Botafogo também. Houve muitas jogadas bonitas, gols bonitos. Nos pênaltis, falei: ‘Não confia em mim, minhas pernas endureceram’, porque vinha de uma lesão. Fiquei temeroso, mas foi um jogo muito emocionante. Tínhamos um time muito bom, com condição até de levar a Libertadores, se tivesse sido mantido.”
4º lugar: Botafogo 1 x 0 Vasco, em 1997
Depoimento de Aílton:
“Foi um bom jogo. Nosso time era muito bem armado. Taticamente, o Joel (Santana, técnico na época) é um dos melhores. O time sobressaiu muito por isso. O gol saiu de uma jogada que a gente não costumava fazer. O Marcelinho, que era volante, foi à linha de fundo, mandou na cabeça do Gonçalves, e ele fez. O nosso grupo era bom, pois contrataram atletas acostumados a vencer. Na final do campeonato, fechamos a série no segundo jogo, com o gol do Dimba (1 a 0 sobre o Vasco). Seria uma injustiça se não vencêssemos, porque ganhamos o primeiro e o segundo turno. Eu vi o golaço do Dimba até de uma posição melhor, porque tomei uma pancada por trás e saí machucado. Fiquei ali de fora, sofrendo. Foi um golaço mesmo, de quem sabe fazer, de quem tem habilidade. E ele tinha moral, tinha seu espaço no grupo. Os jogadores comentavam que o grupo estava parecido com o de 1995, e com isso eles sentiam firmeza de que iríamos conquistar o título”
5º lugar: São Paulo 2 x 3 Botafogo, em 1998
Depoimento de Jorge Luiz (atualmente auxiliar no Vasco):
“Aquele time de 1998 já vinha montado. Havia uma espinha dorsal, em que jogávamos eu, Wágner, Gonçalves, Pingo e Djair, e ainda foram contratados dois jogadores de qualidade, Túlio e Bebeto, que formavam a dupla de ataque. Era um time bem qualificado. Não havia favorito para a final do Rio-São Paulo, pois reunia duas grandes equipes, e qualquer uma tinha condições de ganhar. O Botafogo saiu na frente no Morumbi, o São Paulo virou, mas tivemos força para virar e levar a vantagem para o Maracanã. Tínhamos um time experiente, com jogadores rodados no futebol e acostumados a decisões, e que atuava em cima dos erros do adversário. Não havia um jogador rápido, então nosso forte era o toque de bola, cadenciado, para envolver o adversário. Havia três batedores de falta: eu, Sérgio Manoel e Bebeto. Nós nos entendíamos bem e sabíamos da capacidade de cada um. Decidíamos na hora quem iria bater, sem atritos, dependendo de quem estivesse se sentindo bem. Mas tínhamos uma brincadeira nos treinos, em que cada um batia um determinado número de faltas. Aquele que fizesse mais gols teria prioridade na partida, podendo escolher a primeira cobrança. Era uma brincadeira sadia, e os jogadores se respeitavam”
AS VERGONHAS
1º lugar: River Plate 4 x 2 Botafogo, em 2007
Depoimento de Luciano Almeida:
“Esperávamos fazer uma ótima competição. Pegamos um adversário difícil e de tradição, mas ficamos surpresos depois do primeiro jogo (vídeo acima). Vencemos e vimos que o River Plate já não era tão poderoso e que poderíamos jogar de igual para igual em qualquer lugar. Depois que fizemos o primeiro gol na Argentina, a confiança ficou maior ainda. Já imáginávamos muita coisa boa pela frente. Fizemos 2 a 1 e tivemos muitas chances para matar o jogo. Em 15 minutos vimos todo o trabalho e sacrifício irem por água abaixo. O Botafogo ficou muito marcado pela torcida como um time que chegava na hora H e não conseguia conquistas. Houve protestos na chegada ao Rio, o Cuca pediu demissão, e ainda tivemos mais uma semana com a torcida se manifestando e pedindo a saída de jogadores e dirigentes. Ficamos muito abatidos, pois podíamos ir longe. Era um time que mudava pouco a escalação, pois era raro perder um jogador por suspensão ou lesão. Até hoje o torcedor se lembra daquela base, com Max ou Júlio César no gol, Joílson na direita e eu na esquerda, com Juninho e Renato Silva na zaga; Leandro Guerreiro, Túlio, Lucio Flavio e Zé Roberto no meio; e Jorge Henrique e Dodô na frente. Cada um sabia o posicionamento do outro, e todos se entendiam muito bem, apesar de pouco tempo de trabalho, que havia se iniciado no início de 2007. Foi frustrante não ir longe. Não vejo apenas um motivo para sofrer aquela virada para o River. Não fomos competentes na defesa, no meio-campo e principalmente no ataque. Teve um lance em que o goleiro do River estava no meio-campo, e nós com um a mais. Deu branco na equipe. Acho que os adversários que eliminaram o Botafogo tiveram seus méritos, mas éramos superiores em boa parte das decisões. Posso citar o Carioca como exemplo: o Botafogo era melhor do que o Flamengo. O Montenegro (que chamou o time de covarde) ajudou bastante o Botafogo, mas em alguns momentos não ajudava. Era mais torcedor, agia mais com a razão do que com a emoção. Até entendo o seu desabafo naquele momento”
2º lugar: Botafogo 0 x 0 Juventude, em 1999
Depoimento de Zé Carlos (atualmente no Juventude):
“Foi uma frustração. Lembro que, quando estávamos chegando ao Maracanã, fiquei impressionado, porque nunca tinha visto tanta gente na minha vida. Foi um momento especial para mim, mas frustrante no fim. O Juventude mereceu, pois fez uma boa retranca no Rio. Conseguiu o resultado de forma justa no segundo jogo. No primeiro (em Caxias do Sul), foram dois gols mal anulados. Há coisas que só acontecem com o Botafogo… O gol não saiu e, mesmo que jogássemos 150 minutos, não iria sair. Nem dá para falarmos muita coisa. No Maracanã, quem diria que não iríamos vencer por um golzinho. Acho que erros de arbitragem ocorrem, mas o Botafogo deu mole no Maracanã. Desde o inicio estávamos atacando, pressionando. Talvez a ansiedade tenha nos atrapalhado. Hoje aqui no Juventude o pessoal até brinca, dizendo: “Você tinha que estar com a gente naquela época”, mas é tudo no bom humor.”
3º lugar: Fluminense 7 x 1 Botafogo, em 1994
Depoimento de Dé (atualmente no Kalba Club-EAU):
“O mesmo problema aconteceu duas vezes comigo no Botafogo. A outra foi em 2001, quando também perdemos por 7 a 1, para o Vasco. Em 1994, na época dos jogos finais, havia insatisfação pelo atraso de salário, que era muito grande. Eram quatro ou cinco meses. O descontentamento era grande a ponto de não quererem jogar. Haveria uma reunião, num jantar antes do jogo, para que a diretoria se comprometesse a pagar alguns meses. Mas ninguém da diretoria apareceu. Depois do jantar, a grande maioria dos jogadores se reuniu e avisou que não iria para o jogo. Não vou citar nomes. Eles tinham razão até certo ponto, mas não tiveram consideração comigo. Eu teria que recorrer a juniores, como acabou acontecendo na última rodada. Momentos antes de irmos para o Maracanã, convenci os jogadores a irem para a partida. Com alguns minutos de jogo, já perdíamos por 4 a 0. Dirigi o Botafogo algumas vezes, muitas como interino. Mas nessas duas (1994 e 2001) eu era o treinador oficial, com contrato e tudo. A primeira marcou mais, e foi uma lição que eu não aprendi. Alguns jogadores de 1994 confessaram depois que não estavam a fim de jogar. De oito anos no Botafogo, fiquei cinco anos e meio com salários atrasados. Hoje sou um dos que estão na fila para receber na Justiça. Quando o Emil Pinheiro saiu, deixou o Botafogo falido. Não tinha nem bola para treinar. Depois dessa goleada, afastamos jogadores, alguns com um certo nome. E lancei Beto, André Silva, Moisés, Alex. É só comparar a escalação contra o Fluminense e o jogo depois, e você vai ver uma reformulação de cinco ou seis nomes. Surgiu uma conversa de que a goleada teria tido participação financeira do Fluminense, mas isso é mentira. Os jogadores não levaram dinheiro. O que aconteceu foi que os jogadores não receberam salário e se vingaram. Puxaram o freio de mão, reclamaram publicamente de substituções… E eu tinha que administrar isso. Aconteceu a mesmíssima coisa em 2001. Na minha época de jogador isso não aconteceria, porque não havia mercenários. Tínhamos outro caráter, outra formação. Depois juntaram os cacos e formaram um time que foi campeão brasileiro (de 1995). E sei que tenho participação nisso.”
4º lugar: Botafogo 0 x 1 São Paulo, em 2002
Depoimento de Carlos Alberto Torres:
“Ali já não tinha mais como se livrar do rebaixamento. Mesmo que o Botafogo ganhasse, ia ser muito complicado, pois dependia de outros resultados. Mas o time entrou disposto, correndo muito. O São Paulo tinha um bom time e ganhou apenas por 1 a 0. Se nosso time tivesse esmorecido, de repente eles teriam ganho até de um placar mais elevado. No primeiro tempo, mandamos no jogo. Mesmo quando levamos o gol, ninguém parou em campo. O time não se entregou em momento algum. O pensamento era de ‘vamos ser rebaixados, mas mostrando vontade’. Não me lembro dessa história de atrasar para entrar em campo e saber dos resultados. Pode até ser uma coisa condenável, mas, dentro das condições que vivia o time, dá para entender. Eu entrei já em uma situação complicada no comando da equipe. Primeiro, a diretoria me fez um apelo para pegar o time. Lembro que foi uma seqüência de três jogos. Ganhamos o primeiro, no Maracanã, contra o Corinthians. Criou-se uma expectativa muito grande. Contra o Guarani, em Campinas, perdemos, e foi aí que complicou. Se tivéssemos ganhado lá, acho que sairíamos do rebaixamento”
5º lugar: Botafogo 0 x 1 América, em 2002
Depoimento de Almir (atualmente no Ulsan Hyundai-COR):
“O Botafogo estava bem no campeonato, até que perdemos num jogo decisivo no Maracanã, frustrando a torcida. Esse time tinha a base do de 2001, que havia terminado bem o ano. Estávamos confiantes por isso, e tínhamos como objetivo ganhar o Carioca de 2002. Depois desse jogo, o Max foi até para o Botafogo, porque fechou o gol. Estava num dia muito feliz e foi o melhor em campo. Geralmente, quando se enfrenta um time considerado pequeno, o jogador não entra da mesma forma que num clássico. Não entramos com a concentração que deveríamos ter entrado, pela importância que tinha o jogo. Foi nesse ano que o Botafogo caiu para a Segunda Divisão no Brasileiro, e acho que esse jogo foi um divisor de águas. Depois o Botafogo começou a entrar em crise e a torcida passou a pressionar. Houve muita troca de treinador durante o ano. Depois que o Abel Braga saiu, o Botafogo se perdeu. Não é que os que entraram não fossem bons, mas fica difícil para o treinador chegar e montar um projeto em pouco tempo. Também acho que faltou união entre os jogadores. Eu havia subido em 2001, era novo, mas observava muito isso.”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos são-paulinos
sex, 23/10/09
por bernardo ferreira |
categoria Jogos na Memória, são paulo
Texto: Bernardo Ferreira
Confira a seguir os depoimentos de quem fez parte de dez jogos marcantes: cinco são motivos de orgulho para a torcida são-paulina, e outros cinco são vergonhosos.
Deixe seu recado nos comentários: faltou alguma partida? Quais são os jogos que orgulham e envergonham a torcida do Tricolor?
OS ORGULHOS
1º lugar: São Paulo 2 x 1 Barcelona, em 1992
Depoimento de Zetti:
“Havíamos jogado contra o Barcelona no meio do ano pelo Tereza Herrera e ganhado por 4 a 1, de virada. E esse foi o único jogo que o Telê conseguiu gravar do Barcelona. Não tínhamos mais informações. E eles praticamente não mudaram para o jogo de Tóquio. Acho que 60% do que aconteceu na Espanha aconteceu também no Japão. O Telê treinou muito para a final do Mundial, tínhamos bem definido o que cada um deveria fazer. O Barcelona tinha um toque de bola que chegava ao extremo, um meio-campo que corria muito e marcava bem, mas a jogada forte começava com o Koeman, o líbero. Ele pegava a bola do goleiro e chutava não para os atacantes, mas para a defesa tirar. Aí eles pressionavam a defesa, fazendo o abafa, dificultando a vida do adversário. O Telê pedia atenção para que ganhássemos essa segunda bola. O Barcelona fez 1 a 0 com uma bola perdida no meio-campo, em que o Stoichkov teve muita felicidade no chute de fora da área, contando também com o vento forte. A bola fez uma parábola. Mas senti o time tranquilo depois desse gol. O Muller, principalmente, fez a diferença. O Raí fez os gols, mas o nome do jogo foi o Muller. No segundo tempo, o time passou a acreditar. Era uma novidade disputar o Mundial, tudo era novo para nós. Era novidade para o São Paulo e para o Brasil, que não tinha um representante havia muito tempo. Assistimos ao Barcelona jogar no primeiro tempo, mas no segundo foi diferente. O Palhinha atuou mais adiantado, o Cafu – que foi um dos primeiros alas do Brasil – chegou mais à linha de fundo, e o Raí se movimentou muito. O gol de falta do Raí foi uma jogada muito ensaiada, mas a questão é que ele não fazia gol de falta. Foi marcar o primeiro lá em Tóquio. O Raí ficou vendo o Zubizarreta arrumar a barreira e, logo que terminou, rolou a bola por trás da barreira. O Zubizarreta não via a bola, não sabia o que estava acontecendo. Depois ainda ganhamos o Paulista. Não houve desgaste. Jogamos no sábado, ganhamos do Palmeiras por 4 a 2 e viajamos para o Japão em seguida. Tivemos uma semana para trabalhar para o Mundial. Na volta, acho que chegamos na terça-feira e jogamos no domingo (ganhando por 2 a 1). O time estava muito bem treinado e entrosado, com jogadores dispostos a conseguir os objetivos. Foi muito bacana ter feito parte dessa geração”
2º lugar: São Paulo 1 x 0 Newell’s Old Boys, em 1992
Depoimento de Palhinha:
“O São Paulo ficou muito grande a partir desse título, por todas as competições que disputou e conquistou. Até então todos viam a Libertadores como algo normal. Estava tudo bem mesmo se não vencesse. Depois, mudou tudo. A principal característica daquele time era a amizade. Até hoje nos falamos e nos encontramos. Sabíamos o que representava o São Paulo. O Raí era o principal jogador, mas todos os outros sabiam da sua função em campo. O Telê gostava que o time jogasse para frente e, antes de qualquer coisa, que jogasse bem. O Newell´s também tinha um time forte, com bons jogadores. Sofremos muita pressão na partida na Argentina e seguramos ao máximo, então acho que o 1 a 0 para eles acabou sendo lucro. Sabíamos que era possível inverter a vantagem no Morumbi, onde não cabia mais gente. Já na saída da concentração vimos a torcida, e deu agonia de chegar logo ao estádio e começar a partida. Foi um jogo bastante difícil, porque o Newell´s se fechou bem, e o gol demorou a sair. Disputa por pênaltis é sempre complicado, mas você nunca acha que vai perder depois de ter vencido nos 90 minutos. Depois do título, teve aquela invasão de campo, que foi uma coisa de louco. Mas valia tudo, porque foi um título que marcou época para o São Paulo e para o futebol brasileiro.”
3º lugar: São Paulo 1 x 0 Liverpool, em 2005
Depoimento de Cicinho (atualmente no Roma):
“Tínhamos assistido ao jogo Liverpool 3 x 0 Saprissa e ficamos muito preocupados. No jantar, o Rogério Ceni comentou que nosso time tinha jogadores baixos, como eu, Mineiro e Josué, e que teríamos essa desvantagem. A jogada aérea era um ponto forte do Liverpool. Eu particularmente não tive uma noite bem dormida, quase não preguei o olho, com frio na barriga. Comi quase uma caixa inteira de bombom. Entramos muito concentrados na partida e conseguimos o gol com o Mineiro, um jogador abençoado, com humildade e uma história de superação. O Aloísio saía muito da área, tanto para fazer bem a função do pivô como para uma jogada como essa. O time do São Paulo era muito técnico, com três zagueiros que facilitavam a vida dos laterais, dando liberdade. Depois levamos um verdadeiro sufoco. Sabíamos que seria uma partida difícil e que para muitos era impossível. A nossa vantagem era o toque, colocar a bola no chão e usar velocidade e jogadas individuais. Eles tinham mais estatura e eram mais pesados. Conseguimos usar bem essa estratégia no primeiro tempo, mas no segundo tínhamos a desvantagem da condição física, porque fazia muito frio. Usávamos até cachecol para proteger o pescoço, e eles estavam de manga curta. O Rogério Ceni fez uma partida espetacular, foi o melhor em campo.”
4º lugar: São Paulo 3 x 2 Milan, em 1993
Depoimento de Muller:
“A dificuldade das finais de 1992 e 1993 foi a mesma, mas o jogo contra o Milan foi tecnicamente inferior. Foi truncado, muito disputado. O Milan tinha Baresi, Costacurta, Maldini e Tassotti, que já atuavam juntos há muito tempo e marcavam muito bem. Esperávamos uma partida mais técnica, porque o Milan tinha grandes jogadores. O São Paulo tinha na frente eu, Palhinha, Cafu e Leonardo – ou seja, sem um centroavante fixo. Era uma equipe de muita rotatividade, com aproximação entre os jogadores. O início da partida foi complicado, porque o Milan marcou bem nosso meio-campo e nosso ataque. Eles não esperavam o nosso gol, que saiu de uma linda jogada do André Luiz, que lançou uma bola para a direita. O Cafu pegou de primeira, e o Palhinha se antecipou à defesa. O André era praticamente um estreante, tinha subido naquele ano para os profissionais. Muita gente dizia que ia tremer, e ele teve uma atuação muito boa. No segundo tempo, já não estávamos tão tensos como no primeiro. Jogamos mais soltos, mais leves, mas sem perder a concentração. Nosso jogo encaixou, tivemos mais movimentação e fomos mais ousados. Sinceramente, eu não esperava prorrogação nem pênalti. Confiava muito no São Paulo e sabia que poderia vencer nos 90 minutos. Tive a felicidade de a bola bater no meu calcanhar e ir na direção certa. Quando olhei, a bola estava quase dentro. Na comemoração, fiz aquele desabafo para o Costacurta porque cinco minutos antes eu tinha dividido um lance com ele, e meu cotovelo bateu no rosto dele. Ele não gostou, o Baresi teve que apartar. Foi um desabafo, uma coisa de momento, em que os nervos sobressaem. Estava 3 a 2, já no fim da partida… Depois, os outros jogadores do São Paulo vieram falar comigo, disseram que eu era pé-quente. A minha carreira no São Paulo foi realmente marcada por títulos, pois ganhei a maioria das decisões que disputei”
5º lugar: Guarani 3 x 3 São Paulo, em 1987
Depoimento de Pita:
“No Paulistão não fomos tão bem porque tínhamos seis jogadores na seleção brasileira disputando a Copa, e o Darío Pereyra no Uruguai. No Brasileiro, a história foi diferente. O Pepe entrou no lugar do Cilinho, que havia pedido para sair, mas o estilo não mudou. Era um time muito unido, que falava muito, e com vários jogadores de seleção. Não dava para apontar um que não tivesse nível altíssimo. Tivemos um mata-mata difícil contra América e principalmente Fluminense. Às vezes é bom passar dificuldade antes de chegar à final. O Guarani tinha duas peças principais: o João Paulo, que baseava seu jogo na força e na velocidade pelas pontas, e pelo meio o Evair, que fazia muito gol e às vezes saía da área para distribuir as jogadas. No São Paulo, não adiantava marcar só o Careca, que era o artilheiro. Havia também eu, Silas, Muller, Sidnei… Os dois times jogavam para frente, mas o nosso era mais experiente. Na prorrogação, enquanto o Guarani chutava bola para arquibancada, o São Paulo tocava a bola com calma. Você sempre espera uma final difícil, com um ou dois gols. Quando o Guarani fez o primeiro na prorrogação, pensei: ‘Mataram o jogo’. Ninguém esperava que saíssem mais gols. Hoje acho que, se tivesse mais tempo, ainda teria um gol para cada lado. No fim, já estavam tocando o hino do Guarani e colocando ‘Guarani campeão’ no placar eletrônico, quando saiu o gol do Careca”
AS VERGONHAS
1º lugar: Guarani 1 x 0 São Paulo, em 1990
Depoimento de Pupo Gimenes:
“De 1989 para 1990 houve mudança de diretoria, e a nova assumiu o cargo com caixa zero. Havia dificuldades financeiras, tanto que o primeiro pagamento foi feito por conselheiros. O time era bom, mesmo que o clube não tenha conseguido manter alguns jogadores, porque muitos outros ainda tinham contrato em vigência. Então estavam lá Raí, Zé Teodoro, Nelsinho, Gilmar… O campeonato estava dividido em dois grupos, um com os mais fortes e outro com os mais fracos. No primeiro turno, quando eu era auxiliar do Carlos Alberto Silva, o São Paulo enfrentou os times do grupo dos mais fracos. E, não sei por que, o São Paulo não foi bem nesta fase. Acho que foi porque não tínhamos um homem de área, então deixamos a desejar nas finalizações. Precisávamos somar pontos no segundo turno, quando enfrentaríamos os mais fortes. O Carlos Alberto Silva já havia saído, e o presidente me chamou e disse que eu ficaria com o time. Sou um funcionário do clube, então aceitei a incumbência. Esse jogo contra o Guarani foi disputado e equilibrado. No fim o Nelsinho deu um rapa no ponta-direita do Guarani, e o Boschillia marcou pênalti. Na repescagem, foi contratado o Pablo Forlán como ténico. Eu continuei no clube, como técnico dos aspirantes. E havia jogadores muito bons subindo, como Antônio Carlos, Cafu e Elivélton. Mais tarde eles se juntaram à base que já existia nos profissionais e, sob o comando do Telê Santana, conquistaram vários títulos”
2º lugar: São Paulo 2 x 7 Portuguesa, em 1998
Depoimento de Carlos Miguel:
“O começo do jogo foi parelho. A Portuguesa fez 2 a 0 por méritos, e nós sentimos o golpe. A partir dali, deu tudo certo para eles, até um gol do meio-campo. Foi um jogo atípico. Não sei se aconteceria de novo se jogássemos logo depois. Depois de sofrer o segundo gol, o São Paulo ficou apático e não conseguia segurar a bola. A Portuguesa percebeu isso e passou a trocar passes, tirando proveito das nossas falhas de marcação. Com 4 a 0, eu torcia para o primeiro tempo terminar logo, pois o moral dos jogadores estava baixo. Ninguém tinha confiança para tentar uma jogada. O melhor era irmos logo para o vestiário e conversar sobre o que aconteceu. Além das cobranças pelos erros, falamos que devíamos fazer de conta que o jogo estava 0 a 0, impondo nossa maneira de jogar. E deu certo, pois criamos chances. Com a expulsão do Alexandre, ficou ainda mais difícil. E aí o que você faz? Sai para o jogo e corre o risco de levar mais gols? Acho que a tendência natural é você sair, mesmo querendo ficar na defesa. E os gols da Portuguesa foram naturais, em contra-ataques. O São Paulo vinha com moral bom no ano, então ninguém acreditou naquele resultado – nem nós, jogadores. A goleada mostrou que não éramos tudo aquilo que falavam de nós. Se éramos rotulados como o melhor time, ali ficou claro que não era bem assim. A derrota abriu nosso olho. E tivemos muitas mudanças no segundo semestre, por lesão ou suspensão, então ficamos sem repetir escalação.”
3º lugar: Corinthians 5 x 0 São Paulo, em 1996
Depoimento de Valdir:
“O São Paulo tinha um time muito bom, mas não dava para competir com o Palmeiras. Quando entrava em campo, todos já sabiam que ia ganhar. Era uma seleção, com uma base já montada. O São Paulo havia feito várias negociações e contratou jogadores que tinham ido bem em seus clubes e que já tinham nome: eu no Vasco, Sorlei no Fluminense, Sandoval no Guarani, o Almir vinha do futebol japonês… Foi um time que não chegou a criar uma característica própria, porque atuou pouco junto. Não chegou a ser um time brilhante, mas fez boas campanhas naquele ano. Foi bem no Campeonato Paulista (ficou em terceiro), ficou a um ponto de se classificar no Campeonato Brasileiro e ganhou a Copa dos Campeões Mundiais. O jogo contra o Corinthians é uma dessas situações que acontecem, foi um apagão geral. Depois o São Paulo fez uma negociação com o Cruzeiro (trocando cinco jogadores por Serginho e Belletti), mas acho que não foi por causa de algum resultado. O São Paulo sempre fez muitas negociações, tanto em quantidade quanto em valor. Não mexeu com o grupo, que via esse tipo de negociação como algo natural. Estamos acostumados a isso”
4º lugar: Vasco 7 x 1 São Paulo, em 2001
Depoimento de Adriano (atualmente presidente do Oeste):
“Eu vinha de uma semana com gripe e tive muita febre. Até me obrigaram a sair do apartamento e ficar internado no CT do São Paulo, tomando remédio, sopa e injeção todo dia, de domingo a domingo. Não treinei em nenhum desses dias, nem no rachão da véspera. Fui para o jogo contra o Vasco como titular porque o Nelsinho (Batista) tinha muita confiança em mim e porque eu vinha numa fase muito boa. E eu tive que sair logo no começo (após a expulsão de Ceni), acabou a graça cedo. Para mim, para o Nelsinho e para os outros jogadores, foi uma escolha natural me tirar para colocar o goleiro (Alencar). O Nelsinho deve ter pensado: ‘Ele já não é muito de marcar e não aguentaria os 90 minutos’. Mas a torcida não entendeu. Quando chegamos ao aeroporto em São Paulo, caíram de pau no Nelsinho, questionando a substituição. Ele explicou a minha situação, mas, no calor da revolta, nem tinha jeito. Já seria difícil perder o Rogério Ceni, que é um líder e uma referência para a equipe. Ainda perdemos o meio-campo, com a minha saída, e o Alencar entrou despreparado, falhando em dois ou três gols. Jogando no campo do Vasco, foi duro de aguentar. O time não tinha condições, foi massacrado os 90 minutos pelo Vasco, que ainda perdeu outras chances. No intervalo, o Nelsinho tentou reverter a situação e acabou abrindo o time. O França ficava sozinho na frente, não conseguia fazer nada. Aquele foi um jogo atípico, tanto que na sequência demonstramos força, fazendo 3 a 0 no Atlético-MG em Minas e nos classificando. O Alencar teve uma semana difícil. Procuramos dar suporte a ele, pedindo calma e dizendo que faz parte da vida de um profissional, mas é normal o jogador ficar muito abatido. Sente a cobrança da torcida e dorme mal a semana inteira.”
5º lugar: São Paulo 1 x 4 São Caetano, em 2007
Depoimento de Jadílson:
“Não acho que tenha atrapalhado o fato de o São Paulo jogar a Libertadores ao mesmo tempo. Estávamos concentrados para a partida contra o São Caetano, tanto que começamos bem, criamos várias oportunidades e fizemos 1 a 0. O São Caetano empatou no fim do primeiro tempo e virou no segundo. Depois que fez o segundo gol, o São Paulo não conseguiu mais jogar. Não mudamos a maneira de jogar por termos a vantagem do empate e entramos para ganhar. O São Caetano fez por merecer a vitória e conseguiu um resultado justo. Não dá para tirar os méritos do adversário, que tinha um bom toque de bola e muita rapidez no ataque. Tinha um bom conjunto também. Infelizmente as coisas não saíram como a gente esperava. É melhor passar a borracha e apagar esse jogo, porque foi triste sair do Campeonato Paulista como forte candidato ao título.”
Confira a seguir os depoimentos de quem fez parte de dez jogos marcantes: cinco são motivos de orgulho para a torcida são-paulina, e outros cinco são vergonhosos.
Deixe seu recado nos comentários: faltou alguma partida? Quais são os jogos que orgulham e envergonham a torcida do Tricolor?
OS ORGULHOS
1º lugar: São Paulo 2 x 1 Barcelona, em 1992
Depoimento de Zetti:
“Havíamos jogado contra o Barcelona no meio do ano pelo Tereza Herrera e ganhado por 4 a 1, de virada. E esse foi o único jogo que o Telê conseguiu gravar do Barcelona. Não tínhamos mais informações. E eles praticamente não mudaram para o jogo de Tóquio. Acho que 60% do que aconteceu na Espanha aconteceu também no Japão. O Telê treinou muito para a final do Mundial, tínhamos bem definido o que cada um deveria fazer. O Barcelona tinha um toque de bola que chegava ao extremo, um meio-campo que corria muito e marcava bem, mas a jogada forte começava com o Koeman, o líbero. Ele pegava a bola do goleiro e chutava não para os atacantes, mas para a defesa tirar. Aí eles pressionavam a defesa, fazendo o abafa, dificultando a vida do adversário. O Telê pedia atenção para que ganhássemos essa segunda bola. O Barcelona fez 1 a 0 com uma bola perdida no meio-campo, em que o Stoichkov teve muita felicidade no chute de fora da área, contando também com o vento forte. A bola fez uma parábola. Mas senti o time tranquilo depois desse gol. O Muller, principalmente, fez a diferença. O Raí fez os gols, mas o nome do jogo foi o Muller. No segundo tempo, o time passou a acreditar. Era uma novidade disputar o Mundial, tudo era novo para nós. Era novidade para o São Paulo e para o Brasil, que não tinha um representante havia muito tempo. Assistimos ao Barcelona jogar no primeiro tempo, mas no segundo foi diferente. O Palhinha atuou mais adiantado, o Cafu – que foi um dos primeiros alas do Brasil – chegou mais à linha de fundo, e o Raí se movimentou muito. O gol de falta do Raí foi uma jogada muito ensaiada, mas a questão é que ele não fazia gol de falta. Foi marcar o primeiro lá em Tóquio. O Raí ficou vendo o Zubizarreta arrumar a barreira e, logo que terminou, rolou a bola por trás da barreira. O Zubizarreta não via a bola, não sabia o que estava acontecendo. Depois ainda ganhamos o Paulista. Não houve desgaste. Jogamos no sábado, ganhamos do Palmeiras por 4 a 2 e viajamos para o Japão em seguida. Tivemos uma semana para trabalhar para o Mundial. Na volta, acho que chegamos na terça-feira e jogamos no domingo (ganhando por 2 a 1). O time estava muito bem treinado e entrosado, com jogadores dispostos a conseguir os objetivos. Foi muito bacana ter feito parte dessa geração”
2º lugar: São Paulo 1 x 0 Newell’s Old Boys, em 1992
Depoimento de Palhinha:
“O São Paulo ficou muito grande a partir desse título, por todas as competições que disputou e conquistou. Até então todos viam a Libertadores como algo normal. Estava tudo bem mesmo se não vencesse. Depois, mudou tudo. A principal característica daquele time era a amizade. Até hoje nos falamos e nos encontramos. Sabíamos o que representava o São Paulo. O Raí era o principal jogador, mas todos os outros sabiam da sua função em campo. O Telê gostava que o time jogasse para frente e, antes de qualquer coisa, que jogasse bem. O Newell´s também tinha um time forte, com bons jogadores. Sofremos muita pressão na partida na Argentina e seguramos ao máximo, então acho que o 1 a 0 para eles acabou sendo lucro. Sabíamos que era possível inverter a vantagem no Morumbi, onde não cabia mais gente. Já na saída da concentração vimos a torcida, e deu agonia de chegar logo ao estádio e começar a partida. Foi um jogo bastante difícil, porque o Newell´s se fechou bem, e o gol demorou a sair. Disputa por pênaltis é sempre complicado, mas você nunca acha que vai perder depois de ter vencido nos 90 minutos. Depois do título, teve aquela invasão de campo, que foi uma coisa de louco. Mas valia tudo, porque foi um título que marcou época para o São Paulo e para o futebol brasileiro.”
3º lugar: São Paulo 1 x 0 Liverpool, em 2005
Depoimento de Cicinho (atualmente no Roma):
“Tínhamos assistido ao jogo Liverpool 3 x 0 Saprissa e ficamos muito preocupados. No jantar, o Rogério Ceni comentou que nosso time tinha jogadores baixos, como eu, Mineiro e Josué, e que teríamos essa desvantagem. A jogada aérea era um ponto forte do Liverpool. Eu particularmente não tive uma noite bem dormida, quase não preguei o olho, com frio na barriga. Comi quase uma caixa inteira de bombom. Entramos muito concentrados na partida e conseguimos o gol com o Mineiro, um jogador abençoado, com humildade e uma história de superação. O Aloísio saía muito da área, tanto para fazer bem a função do pivô como para uma jogada como essa. O time do São Paulo era muito técnico, com três zagueiros que facilitavam a vida dos laterais, dando liberdade. Depois levamos um verdadeiro sufoco. Sabíamos que seria uma partida difícil e que para muitos era impossível. A nossa vantagem era o toque, colocar a bola no chão e usar velocidade e jogadas individuais. Eles tinham mais estatura e eram mais pesados. Conseguimos usar bem essa estratégia no primeiro tempo, mas no segundo tínhamos a desvantagem da condição física, porque fazia muito frio. Usávamos até cachecol para proteger o pescoço, e eles estavam de manga curta. O Rogério Ceni fez uma partida espetacular, foi o melhor em campo.”
4º lugar: São Paulo 3 x 2 Milan, em 1993
Depoimento de Muller:
“A dificuldade das finais de 1992 e 1993 foi a mesma, mas o jogo contra o Milan foi tecnicamente inferior. Foi truncado, muito disputado. O Milan tinha Baresi, Costacurta, Maldini e Tassotti, que já atuavam juntos há muito tempo e marcavam muito bem. Esperávamos uma partida mais técnica, porque o Milan tinha grandes jogadores. O São Paulo tinha na frente eu, Palhinha, Cafu e Leonardo – ou seja, sem um centroavante fixo. Era uma equipe de muita rotatividade, com aproximação entre os jogadores. O início da partida foi complicado, porque o Milan marcou bem nosso meio-campo e nosso ataque. Eles não esperavam o nosso gol, que saiu de uma linda jogada do André Luiz, que lançou uma bola para a direita. O Cafu pegou de primeira, e o Palhinha se antecipou à defesa. O André era praticamente um estreante, tinha subido naquele ano para os profissionais. Muita gente dizia que ia tremer, e ele teve uma atuação muito boa. No segundo tempo, já não estávamos tão tensos como no primeiro. Jogamos mais soltos, mais leves, mas sem perder a concentração. Nosso jogo encaixou, tivemos mais movimentação e fomos mais ousados. Sinceramente, eu não esperava prorrogação nem pênalti. Confiava muito no São Paulo e sabia que poderia vencer nos 90 minutos. Tive a felicidade de a bola bater no meu calcanhar e ir na direção certa. Quando olhei, a bola estava quase dentro. Na comemoração, fiz aquele desabafo para o Costacurta porque cinco minutos antes eu tinha dividido um lance com ele, e meu cotovelo bateu no rosto dele. Ele não gostou, o Baresi teve que apartar. Foi um desabafo, uma coisa de momento, em que os nervos sobressaem. Estava 3 a 2, já no fim da partida… Depois, os outros jogadores do São Paulo vieram falar comigo, disseram que eu era pé-quente. A minha carreira no São Paulo foi realmente marcada por títulos, pois ganhei a maioria das decisões que disputei”
5º lugar: Guarani 3 x 3 São Paulo, em 1987
Depoimento de Pita:
“No Paulistão não fomos tão bem porque tínhamos seis jogadores na seleção brasileira disputando a Copa, e o Darío Pereyra no Uruguai. No Brasileiro, a história foi diferente. O Pepe entrou no lugar do Cilinho, que havia pedido para sair, mas o estilo não mudou. Era um time muito unido, que falava muito, e com vários jogadores de seleção. Não dava para apontar um que não tivesse nível altíssimo. Tivemos um mata-mata difícil contra América e principalmente Fluminense. Às vezes é bom passar dificuldade antes de chegar à final. O Guarani tinha duas peças principais: o João Paulo, que baseava seu jogo na força e na velocidade pelas pontas, e pelo meio o Evair, que fazia muito gol e às vezes saía da área para distribuir as jogadas. No São Paulo, não adiantava marcar só o Careca, que era o artilheiro. Havia também eu, Silas, Muller, Sidnei… Os dois times jogavam para frente, mas o nosso era mais experiente. Na prorrogação, enquanto o Guarani chutava bola para arquibancada, o São Paulo tocava a bola com calma. Você sempre espera uma final difícil, com um ou dois gols. Quando o Guarani fez o primeiro na prorrogação, pensei: ‘Mataram o jogo’. Ninguém esperava que saíssem mais gols. Hoje acho que, se tivesse mais tempo, ainda teria um gol para cada lado. No fim, já estavam tocando o hino do Guarani e colocando ‘Guarani campeão’ no placar eletrônico, quando saiu o gol do Careca”
AS VERGONHAS
1º lugar: Guarani 1 x 0 São Paulo, em 1990
Depoimento de Pupo Gimenes:
“De 1989 para 1990 houve mudança de diretoria, e a nova assumiu o cargo com caixa zero. Havia dificuldades financeiras, tanto que o primeiro pagamento foi feito por conselheiros. O time era bom, mesmo que o clube não tenha conseguido manter alguns jogadores, porque muitos outros ainda tinham contrato em vigência. Então estavam lá Raí, Zé Teodoro, Nelsinho, Gilmar… O campeonato estava dividido em dois grupos, um com os mais fortes e outro com os mais fracos. No primeiro turno, quando eu era auxiliar do Carlos Alberto Silva, o São Paulo enfrentou os times do grupo dos mais fracos. E, não sei por que, o São Paulo não foi bem nesta fase. Acho que foi porque não tínhamos um homem de área, então deixamos a desejar nas finalizações. Precisávamos somar pontos no segundo turno, quando enfrentaríamos os mais fortes. O Carlos Alberto Silva já havia saído, e o presidente me chamou e disse que eu ficaria com o time. Sou um funcionário do clube, então aceitei a incumbência. Esse jogo contra o Guarani foi disputado e equilibrado. No fim o Nelsinho deu um rapa no ponta-direita do Guarani, e o Boschillia marcou pênalti. Na repescagem, foi contratado o Pablo Forlán como ténico. Eu continuei no clube, como técnico dos aspirantes. E havia jogadores muito bons subindo, como Antônio Carlos, Cafu e Elivélton. Mais tarde eles se juntaram à base que já existia nos profissionais e, sob o comando do Telê Santana, conquistaram vários títulos”
2º lugar: São Paulo 2 x 7 Portuguesa, em 1998
Depoimento de Carlos Miguel:
“O começo do jogo foi parelho. A Portuguesa fez 2 a 0 por méritos, e nós sentimos o golpe. A partir dali, deu tudo certo para eles, até um gol do meio-campo. Foi um jogo atípico. Não sei se aconteceria de novo se jogássemos logo depois. Depois de sofrer o segundo gol, o São Paulo ficou apático e não conseguia segurar a bola. A Portuguesa percebeu isso e passou a trocar passes, tirando proveito das nossas falhas de marcação. Com 4 a 0, eu torcia para o primeiro tempo terminar logo, pois o moral dos jogadores estava baixo. Ninguém tinha confiança para tentar uma jogada. O melhor era irmos logo para o vestiário e conversar sobre o que aconteceu. Além das cobranças pelos erros, falamos que devíamos fazer de conta que o jogo estava 0 a 0, impondo nossa maneira de jogar. E deu certo, pois criamos chances. Com a expulsão do Alexandre, ficou ainda mais difícil. E aí o que você faz? Sai para o jogo e corre o risco de levar mais gols? Acho que a tendência natural é você sair, mesmo querendo ficar na defesa. E os gols da Portuguesa foram naturais, em contra-ataques. O São Paulo vinha com moral bom no ano, então ninguém acreditou naquele resultado – nem nós, jogadores. A goleada mostrou que não éramos tudo aquilo que falavam de nós. Se éramos rotulados como o melhor time, ali ficou claro que não era bem assim. A derrota abriu nosso olho. E tivemos muitas mudanças no segundo semestre, por lesão ou suspensão, então ficamos sem repetir escalação.”
3º lugar: Corinthians 5 x 0 São Paulo, em 1996
Depoimento de Valdir:
“O São Paulo tinha um time muito bom, mas não dava para competir com o Palmeiras. Quando entrava em campo, todos já sabiam que ia ganhar. Era uma seleção, com uma base já montada. O São Paulo havia feito várias negociações e contratou jogadores que tinham ido bem em seus clubes e que já tinham nome: eu no Vasco, Sorlei no Fluminense, Sandoval no Guarani, o Almir vinha do futebol japonês… Foi um time que não chegou a criar uma característica própria, porque atuou pouco junto. Não chegou a ser um time brilhante, mas fez boas campanhas naquele ano. Foi bem no Campeonato Paulista (ficou em terceiro), ficou a um ponto de se classificar no Campeonato Brasileiro e ganhou a Copa dos Campeões Mundiais. O jogo contra o Corinthians é uma dessas situações que acontecem, foi um apagão geral. Depois o São Paulo fez uma negociação com o Cruzeiro (trocando cinco jogadores por Serginho e Belletti), mas acho que não foi por causa de algum resultado. O São Paulo sempre fez muitas negociações, tanto em quantidade quanto em valor. Não mexeu com o grupo, que via esse tipo de negociação como algo natural. Estamos acostumados a isso”
4º lugar: Vasco 7 x 1 São Paulo, em 2001
Depoimento de Adriano (atualmente presidente do Oeste):
“Eu vinha de uma semana com gripe e tive muita febre. Até me obrigaram a sair do apartamento e ficar internado no CT do São Paulo, tomando remédio, sopa e injeção todo dia, de domingo a domingo. Não treinei em nenhum desses dias, nem no rachão da véspera. Fui para o jogo contra o Vasco como titular porque o Nelsinho (Batista) tinha muita confiança em mim e porque eu vinha numa fase muito boa. E eu tive que sair logo no começo (após a expulsão de Ceni), acabou a graça cedo. Para mim, para o Nelsinho e para os outros jogadores, foi uma escolha natural me tirar para colocar o goleiro (Alencar). O Nelsinho deve ter pensado: ‘Ele já não é muito de marcar e não aguentaria os 90 minutos’. Mas a torcida não entendeu. Quando chegamos ao aeroporto em São Paulo, caíram de pau no Nelsinho, questionando a substituição. Ele explicou a minha situação, mas, no calor da revolta, nem tinha jeito. Já seria difícil perder o Rogério Ceni, que é um líder e uma referência para a equipe. Ainda perdemos o meio-campo, com a minha saída, e o Alencar entrou despreparado, falhando em dois ou três gols. Jogando no campo do Vasco, foi duro de aguentar. O time não tinha condições, foi massacrado os 90 minutos pelo Vasco, que ainda perdeu outras chances. No intervalo, o Nelsinho tentou reverter a situação e acabou abrindo o time. O França ficava sozinho na frente, não conseguia fazer nada. Aquele foi um jogo atípico, tanto que na sequência demonstramos força, fazendo 3 a 0 no Atlético-MG em Minas e nos classificando. O Alencar teve uma semana difícil. Procuramos dar suporte a ele, pedindo calma e dizendo que faz parte da vida de um profissional, mas é normal o jogador ficar muito abatido. Sente a cobrança da torcida e dorme mal a semana inteira.”
5º lugar: São Paulo 1 x 4 São Caetano, em 2007
Depoimento de Jadílson:
“Não acho que tenha atrapalhado o fato de o São Paulo jogar a Libertadores ao mesmo tempo. Estávamos concentrados para a partida contra o São Caetano, tanto que começamos bem, criamos várias oportunidades e fizemos 1 a 0. O São Caetano empatou no fim do primeiro tempo e virou no segundo. Depois que fez o segundo gol, o São Paulo não conseguiu mais jogar. Não mudamos a maneira de jogar por termos a vantagem do empate e entramos para ganhar. O São Caetano fez por merecer a vitória e conseguiu um resultado justo. Não dá para tirar os méritos do adversário, que tinha um bom toque de bola e muita rapidez no ataque. Tinha um bom conjunto também. Infelizmente as coisas não saíram como a gente esperava. É melhor passar a borracha e apagar esse jogo, porque foi triste sair do Campeonato Paulista como forte candidato ao título.”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos gremistas
sex, 09/10/09
por bernardo ferreira |
categoria Grêmio, Jogos na Memória
Texto: Bernardo Ferreira
O Grêmio é o protagonista dos Jogos na Memória desta semana. Relembre cinco partidas que orgulham os torcedores, e cinco que são motivo de vergonha, com depoimentos de quem estava lá: Carlos Miguel, Baltazar, Zinho, Valdir Espinosa, Sandro Goiano…
OS ORGULHOS
1º lugar: Náutico 0 x 1 Grêmio, em 2005
Depoimento de Sandro Goiano (atualmente no Sport):
“Tivemos altos e baixos no começo do campeonato, mas já a partir da metade da primeira fase o time se acertou. Foi um time montado dentro da competição pelo Mano Menezes. Tinha como características a força física e qualidade na bola aérea. Entramos em campo nos Aflitos para ganhar, mesmo que o empate fosse favorável. Tivemos chances no primeiro tempo, e o Náutico perdeu um pênalti, inexistente, batido pelo Bruno Carvalho. No vestiário, o Ricardinho estava com uma contratura e foi substituído pelo Lucas. O Galatto também pediu para sair, pois dizia que sentia dores na perna. Mas qual é o dia em que você treina ou joga e não sente dores? Pedimos a ele para ficar, senão seriam duas substituições queimadas. O próprio Marcelo Grohe, reserva, falou para ele ficar. Ele estava meio temeroso, pois tinha passado toda a Série B sem jogar. No segundo tempo, perdemos o Escalona, expulso. Depois, teve o lance da falta do Galatto no Miltinho. O Galatto ia ser driblado e catou tudo: Miltinho, bola… Foi o único pênalti do jogo, e ele não deu. Ele marcou o pênalti do Nunes porque não havia marcado antes. Estava perdido em campo. Aí passou um filme na cabeça de todo mundo. Depois de tanto trabalho… e aquele time era bom, unido. A adrenalina foi a mil. O Patrício e o Nunes foram expulsos, e já não sabíamos se iríamos abandonar o campo ou não. Fiquei na marca do pênalti e disse: ‘Não vai bater o pênalti, não’. E o Domingos deu um tapa na bola na mão do juiz e foi expulso.
Foi um ato de desespero mesmo. Falamos em abandonar o campo mais de uma vez, e o Beltrami insinuando que iria expulsar mais um, o que determinaria o fim do jogo. Mas, se ele quisesse, teria expulsado. Só que ele não queria acabar o jogo. Durante a confusão, o Marcel foi até a nossa torcida e gritou para invadir, porque dizia que o jogo seria paralisado, e o empate seria nosso. Só houve um guerreiro que pulou a grade e invadiu o campo, mas levou muita paulada da polícia. Falávamos para quem ia bater o pênalti (Ademar) que não merecia fazer o gol, porque não havia sido falta. Acho que ele estava temeroso, porque a torcida estava muito confiante. Aí brilhou a estrela do Galatto. Quando ele defendeu, uns três jogadores do Náutico desabaram no chão. No contra-ataque após o escanteio, brilhou a estrela do Anderson, que aproveitou que metade do time do Náutico olhava para a torcida. Depois que fizemos 1 a 0, o Beltrami passou a marcar falta em qualquer bola cruzada na nossa área. A torcida nos Aflitos estava muito chateada. Não tem como ir para casa acreditando que o time perdeu para um adversário com sete. Tenho os DVDs da partida e vou mostrá-los aos meus filhos e aos meus netos, pois, se eu contar a história, não vão acreditar.”
2º lugar: Grêmio 2 x 1 Hamburgo, em 1983
Depoimento de Valdir Espinosa:
“Eu fui à Alemanha com o preparador físico para ver um jogo do Hamburgo contra o Werder Bremen, dois ou três meses antes da final. E um comandante da Varig era gremista e nos conseguiu uma fita com um jogo do Hamburgo. Mostrei essa fita aos jogadores, durante a concentração em Gramado, no hall do hotel, junto com funcionários e imprensa. Ali eles foram apresentados ao Hamburgo. Como preparação para a final, pedi para escalarmos time misto nos jogos no interior pelo Gauchão, pois eram mais pegados e em gramados horríveis. Houve uma gritaria geral, e a imprensa criticou muito. Mas, depois de um jogo em São Borges, o presidente concordou comigo e decidiu que os titulares só atuariam no Olímpico. Para o interior, nem eu ia. Antes de irmos para Tóquio, uma equipe de TV japonesa foi ao Olímpico e passou uma semana entrevistando os jogadores, pois ninguém sabia o que eram Grêmio e Porto Alegre. Quando chegamos ao Japão, já sabíamos da expectativa que cercava a partida. Começamos nervosos no jogo, o que era normal em se tratando de um título mundial. Sabíamos que metade de Porto Alegre torcia a favor, e a outra metade torcia contra.
Com 20 minutos, entramos no jogo. E aí o Hamburgo mostrou que cometeria um erro decisivo. Como só conheciam o Paulo César Caju, fizeram marcação apenas em cima dele. Ele não jogou, mas o Mário Sérgio e o Renato ficaram livres. Foi aí que o Hamburgo começou a perder. O Renato fez 1 a 0, num lance em que mostrou ser imprevisível, um jogador que desequilibra. Quando o Hamburgo empatou, já no fim, pensei: ‘Será que a gente vai perder’. E eu já tinha avisado, depois de ver o jogo do Hamburgo na Alemanha, que precisávamos ter cuidado com a bola aérea. E levamos o gol assim, depois que eles já haviam criado algumas chances de perigo. Em um segundo, voltei ao Rio Grande do Sul e vi a minha família, a torcida do Grêmio e a torcida do Inter. Aí voltei ao Japão, e o jogo terminou. Numa situação dessa, o time que faz o gol entra em vantagem na prorrogação. Mas aí vieram dois jogadores fundamentais. O De León disse: ‘Ninguém mais vai cabecear na área. Ela é minha’. E o Renato emendou: ‘Segura atrás, que lá na frente eu decido’. Outros jogadores, que estavam de cabeça baixa, ganharam confiança. E eu me tranquilizei. O Renato fez 2 a 1, e ainda tivemos chances para marcar mais. Na volta, paramos em Los Angeles para um amistoso contra o América do México. Só retornamos a Porto Alegre uma semana depois da final. Achávamos que esse tempo esfriaria a torcida, que ninguém iria ao aeroporto. Foi uma grande surpresa. Mesmo que depois o Inter tenha conquistado o Mundial, o que importa é o primeiro. Todos sabem o nome do primeiro homem que foi à Lua. Depois disso, ninguém sabe. O primeiro Mundial é o que marca. O segundo a conquistar, eu não sei”
3º lugar: Grêmio 2 x 1 Peñarol, em 1983
Depoimento de Paulo Roberto (atualmente agente de jogadores):
“O Peñarol era o campeão da Libertadores de 1982, numa época em que o futebol uruguaio estava em alta. Tinha vários jogadores da seleção. Brasil, Argentina e Uruguai dominavam. E o Peñarol era o favorito ao título, pois o Grêmio chegava à final pela primeira vez. Só a gente acreditava. Eles diziam antes do primeiro jogo que iriam ser campeões, achavam que fariam três ou quatro no Grêmio em Montevidéu. Eles só conheciam o De León, que era da seleção uruguaia. Os discursos ficaram mais moderados depois do empate por 1 a 1. Nosso time era mais jovem, então apelamos para correria. Colocamos na cabeça que era uma oportunidade única e que tínhamos que nos igualar a eles na pegada, porque éramos superiores na técnica. O Grêmio era um time de muita qualidade, com o Renato, que desequilibrava. O jogo no Olímpico foi difícil. Saímos na frente, eles empataram, e conseguimos um gol no fim. Se o segundo jogo fosse em Montevidéu, dificilmente ganharíamos o título, porque haveria pressão de torcida, o juiz…”
4º lugar: Grêmio 5 x 0 Palmeiras, em 1995
Depoimento de Carlos Miguel (atualmente dono de um complexo de quadras esportivas):
“Os times sempre acabam se cruzando nessas competições. O Palmeiras era considerado melhor individualmente, mas não conseguia jogar contra o Grêmio. Nossa força de marcação neutralizava o Palmeiras. Sabíamos que iríamos sofrer se déssemos espaço. E isso irritava o time deles. Depois falaram que nosso time batia, mas não éramos desleais. No jogo, acho que ficaram nervosos depois da primeira expulsão e se abateram depois que fizemos 2 a 0. Sabíamos que nosso momento era aquele, que devíamos aproveitar a fragilidade do Palmeiras e fazer um bom saldo. O avanço dos laterais foi natural, tendo em vista a superioridade numérica. Já era uma arma nossa. Exploramos aquilo que era o nosso forte. A substituição do Palmeiras no intervalo (Amaral por Alex Alves) nos surpreendeu. Foi ela que nos ajudou de certa maneira. Não sei se eu faria a mesma substituição naquele momento. Eles ficaram com um ataque mais rápido, o que nos deixou mais atentos, mas perderam um jogador bom de marcação, que poderia segurar o nosso ímpeto. Continuamos pressionando, pois vimos a chance de atacar e marcar mais gols. Nossos três gols no segundo tempo foram em cruzamentos. Era difícil marcar o Jardel. Ele tinha uma força grande no pescoço e cabeceava forte, mesmo que estivesse preso na marcação. Sempre brincávamos que, com aquela cabeça, não poderia ser diferente. No vestiário, o clima era de alegria, pois sabíamos que o resultado era importante, mas tínhamos consciência de que nada estava garantido. O Felipão alertou muito nos treinos durante a semana, principalmente quanto a uma possível expulsão em São Paulo. Ficamos tão preocupados que ninguém fosse expulso no jogo no Palestra, que relaxamos demais e perdemos nossa maior característica, que era a marcação. Demos oportunidades a eles e levamos sufoco”
5º lugar: São Paulo 0 x 1 Grêmio, em 1981
Depoimento de Baltazar (atualmente agente de jogadores):
“Aquele time misturava uma boa dose de juventude com jogadores experientes, como Vantuir, De León, Leão, Tarciso… E contava com Ênio Andrade, um técnico muito competente e que sabia como disputar um Campeonato Brasileiro. Nosso meio-campo era muito forte e atuava fechado, permitindo explorar contra-ataques, graças à velocidade do Tarciso. Não era um time ofensivo, mas muito bem compactado. Havia pressão no Sul, porque o Grêmio não tinha título brasileiro, enquanto o Inter já possuía vários. Éramos motivo de chacota dos torcedores. Mas fizemos por merecer a conquista, ganhando do grande favorito, que tinha sete jogadores na seleção brasileira e um na uruguaia. Era o mais cotado pela imprensa e tinha tudo para ganhar. Fomos bem trabalhados física e psicologicamente para aquela final. Ganhamos por 2 a 1 no Olímpico, mas eles não diminuíram o otimismo. Achavam que poderiam ganhar por um gol de diferença, já que tinham essa vantagem. Fomos para São Paulo com humildade e muita determinação para a partida no Morumbi. Jogamos fechados, e o São Paulo quase não teve oportunidades. Eu mesmo tinha que marcar os zagueiros na saída de bola. O Grêmio fez um jogo muito bom taticamente, explorando contra-ataques. Num desses, saiu o gol da vitória, o mais bonito da minha carreira, até pela importância. Sempre pedi a Deus para fazer gol numa final, porque marca profissionalmente. Os gremistas sempre recordam esse gol. O Grêmio manteve a base e foi vice-campeão brasileiro em 1982 e campeão mundial em 1983. Pegou confiança a partir desse título brasileiro, sempre montando boas equipes”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Botafogo 3 x 1 Grêmio, em 1991
Depoimento de Maurício:
“Eu estava no Celta de Vigo e queria voltar ao Brasil. Eu havia tido uma passagem muito boa pelo Rio Grande do Sul (jogando pelo Inter), então acertei contrato de um ano com o Grêmio. Fizemos um excelente Brasileiro em 1990. Mas no ano seguinte o time não foi bem no campeonato e acabou rebaixado. Foi uma experiência profissional importante, pois aprendi muito e cresci. Eu me esforçava muito, treinava muito. O clube estava num período de transição, com mudança de diretoria, e isso às vezes traz benefícios, mas às vezes não. Havia coisas pendentes com os jogadores. Meu contrato estava terminando e me venderam para a Portuguesa para cobrir dívidas. Entramos com tudo contra o Botafogo, mas alguns jogadores ficaram abalados psicologicamente. Nessas horas, ao entrar em campo, o jogador precisa levantar a sua autoestima e mostrar que é um grande jogador apesar da fase ruim do time.”
2º lugar: Grêmio 2 x 5 Inter, em 1997
Depoimento de Sérgio Manoel (atualmente no Bragantino):
“Chegamos àquele clássico em igualdade, sem um favorito. Nem o fator campo desequilibrava. Mas havia o fator Fabiano. Ele fez dois gols e arrebentou com o jogo. Foi o responsável por desarrumar o time do Grêmio. Já sabíamos que ele merecia a nossa atenção, que devíamos neutralizá-lo para que ele não municiasse o Christian. Mas não teve jeito. Nunca participei de um clássico tão tenso (foram quatro expulsos no primeiro tempo). Levei pancada de jogadores do Inter e do meu próprio time. Entrei na confusão para apartar os jogadores, e sobrou para mim. É uma rivalidade maior do que qualquer outra no Brasil, não tem igual. Como o Inter já estava em vantagem no placar, se fechou para explorar a velocidade do Fabiano nos contra-ataques. O Grêmio precisava ir à frente e tentar empatar. Normalmente, quando você se lança ao ataque, já deixa espaços na defesa. Imagina, então, o quanto de espaço não havia com dois a menos. O jogo ficou franco. No vestiário, pensamos que perder por dois ou por quatro seria o mesmo. Em compensação, seria histórico se conseguíssemos virar. Fomos ao ataque e levamos mais gols. Essa goleada foi determinante para o resto do campeonato. O Grêmio vinha de um desmanche daquele time que havia conquistado tudo. Levando uma goleada do Inter, o crédito com a torcida foi lá embaixo. Passou a haver uma desconfiança grande”
3º lugar: Guarani 2 x 0 Grêmio, em 2004
Depoimento de Cláudio Duarte:
“Fui o quinto técnico do Grêmio. Quando cheguei, a direção já assumia que não daria para escapar do rebaixamento e me pediu para terminar com honra. Matematicamente ainda havia chance, mas era uma situação em que problemas apareciam e eram difíceis de serem controlados. E o Olímpico ainda estava interditado. Pedi para os jogadores fazerem um bom jogo pela instituição. Já não estavam lá os jogadores que haviam incomodado, os que tiveram problema de indisciplina com outros treinadores e com a direção. Era a meninada. Por isso, mostrei a responsabilidade de profissionais que eles tinham. Precisavam fazer o melhor por uma questão de conduta e para mostrar que tinham condição de permanecer no clube. O jogo mais duro foi o empate por 3 a 3 com o Atlético-PR, que determinou o rebaixamento. O clima ruim até foi amenizado pelo que aconteceu no jogo, com o time reagindo e conseguindo um empate inesperado com um candidato potencial ao título. Esse resultado mostrou que aquele Grêmio, sem os defeitos de conduta, poderia ter tido um rendimento melhor. A indisciplina foi fator determinante para o rebaixamento. Quando há clima de impunidade, os resultados aparecem em campo. A direção sabia dos problemas, mas não tinha como solucionar. Não podia mandar jogadores embora, porque devia salários e não tinha como repor as peças. Houve indisciplina em nível pessoal, profissional… em todos os níveis que você imaginar. Logo que assumi o cargo, perdemos por 3 a 2 para o Palmeiras, numa forma escancarada de nos criar problemas. O Michael Jackson nunca mais apitou depois daquele jogo. Para quem buscava recuperação, foi uma paulada. O time jogava bem, mas não conseguia traduzir em gols, seja porque faltava perna ou por irresponsabilidade do grupo dos perigosos”
4º lugar: Caxias 3 x 0 Grêmio, em 2000
Depoimento de Zinho (atualmente técnico do Miami FC):
“Naquele ano o Grêmio montou um dream team, ou achou que era isso. Contrataram dois argentinos (o Astrada e o Amato), eu, Paulo Nunes, Marinho… e já estavam lá Danrlei, Mauro Galvão, Tinga e Ronaldinho Gaúcho. Na comissão técnica havia o Leão e o Paulo Paixão. Na festa de apresentação, a Ivete Sangalo cantou no Olímpico e houve queima de fogos. Ou seja, havia uma expectativa grande. Mas o time deixou a desejar, saindo cedo da Sul-Minas. Com isso, o Leão caiu e deu lugar ao Antônio Lopes. Chegamos à final do Gaúcho, contra o Caxias do Tite, que estava aparecendo e tinha um time muito bem organizado. Matou o Grêmio no primeiro jogo da final, com jogadores mais acostumados ao campeonato estadual e que já se conheciam por mais tempo. O nosso time já estava muito modificado, sem os argentinos e o Paulo Nunes. O Caxias foi superior na final, montou uma estratégia melhor do que a do Lopes. O Tite fez um excelente trabalho, tanto que depois foi para o Grêmio. Havia sobre nós uma cobrança muito forte, uma desconfiança em cima do projeto que estava sendo montado. Mas mais tarde ficou comprovado que daria certo. Depois o Celso Roth chegou ao clube, e o time foi sendo lapidado. Aqueles que não renderam o esperado ficaram de lado. Ainda naquele ano chegamos à semifinal do Brasileiro, caindo diante do São Caetano. Foi um trabalho natural: montou-se o time em 2000 e colheu-se o resultado em 2001. Não adianta pegar bons jogadores aqui e ali e esperar um resultado imediato. Pode acontecer, mas não é o mais comum”
5º lugar: Grêmio 1 x 5 Atlético-PR, em 2002
Depoimento de Roger:
“Foi um jogo atípico, provavelmente em função do compromisso pela Libertadores (contra o River Plate, quatro dias depois). Não tenho dúvida de que existe uma influência. Não é deliberado, mas algo do ser humano. Não se consegue manter o foco em duas competições. Eu confesso que sempre tive um pouco de dificuldade nisso. O peso de cada competição dá o andamento do time em cada uma. É uma questão acima de ter mais vontade de jogar uma cometição e menos a outra. Se, na sua vida, você tem um compromisso muito importante e depois outro sem tanta urgência, você trata os dois de forma diferente. O próprio comportamento da torcida, indo em peso maior a uma partida, dita o ritmo do time. Não somos insensíveis a isso. O Grêmio vinha embalado de 2001. Ficaram muitos jogadores, mantendo o elenco forte. Era um time leve, com um 3-5-2 falso, em que eu atuava como terceiro zagueiro, mas, por ser de origem na lateral, chegava à frente como surpresa. O ataque não era fixo, rodava muito. Era um time de muita mobilidade, que preenchia os espaços, deixando sempre os jogadores próximos da bola. Os jogadores não tinham uma função fixa. Era bem típico do Tite, um técnico que conhece bem as questões de vestiário, de treinamentos”
O Grêmio é o protagonista dos Jogos na Memória desta semana. Relembre cinco partidas que orgulham os torcedores, e cinco que são motivo de vergonha, com depoimentos de quem estava lá: Carlos Miguel, Baltazar, Zinho, Valdir Espinosa, Sandro Goiano…
OS ORGULHOS
1º lugar: Náutico 0 x 1 Grêmio, em 2005
Depoimento de Sandro Goiano (atualmente no Sport):
“Tivemos altos e baixos no começo do campeonato, mas já a partir da metade da primeira fase o time se acertou. Foi um time montado dentro da competição pelo Mano Menezes. Tinha como características a força física e qualidade na bola aérea. Entramos em campo nos Aflitos para ganhar, mesmo que o empate fosse favorável. Tivemos chances no primeiro tempo, e o Náutico perdeu um pênalti, inexistente, batido pelo Bruno Carvalho. No vestiário, o Ricardinho estava com uma contratura e foi substituído pelo Lucas. O Galatto também pediu para sair, pois dizia que sentia dores na perna. Mas qual é o dia em que você treina ou joga e não sente dores? Pedimos a ele para ficar, senão seriam duas substituições queimadas. O próprio Marcelo Grohe, reserva, falou para ele ficar. Ele estava meio temeroso, pois tinha passado toda a Série B sem jogar. No segundo tempo, perdemos o Escalona, expulso. Depois, teve o lance da falta do Galatto no Miltinho. O Galatto ia ser driblado e catou tudo: Miltinho, bola… Foi o único pênalti do jogo, e ele não deu. Ele marcou o pênalti do Nunes porque não havia marcado antes. Estava perdido em campo. Aí passou um filme na cabeça de todo mundo. Depois de tanto trabalho… e aquele time era bom, unido. A adrenalina foi a mil. O Patrício e o Nunes foram expulsos, e já não sabíamos se iríamos abandonar o campo ou não. Fiquei na marca do pênalti e disse: ‘Não vai bater o pênalti, não’. E o Domingos deu um tapa na bola na mão do juiz e foi expulso.
Foi um ato de desespero mesmo. Falamos em abandonar o campo mais de uma vez, e o Beltrami insinuando que iria expulsar mais um, o que determinaria o fim do jogo. Mas, se ele quisesse, teria expulsado. Só que ele não queria acabar o jogo. Durante a confusão, o Marcel foi até a nossa torcida e gritou para invadir, porque dizia que o jogo seria paralisado, e o empate seria nosso. Só houve um guerreiro que pulou a grade e invadiu o campo, mas levou muita paulada da polícia. Falávamos para quem ia bater o pênalti (Ademar) que não merecia fazer o gol, porque não havia sido falta. Acho que ele estava temeroso, porque a torcida estava muito confiante. Aí brilhou a estrela do Galatto. Quando ele defendeu, uns três jogadores do Náutico desabaram no chão. No contra-ataque após o escanteio, brilhou a estrela do Anderson, que aproveitou que metade do time do Náutico olhava para a torcida. Depois que fizemos 1 a 0, o Beltrami passou a marcar falta em qualquer bola cruzada na nossa área. A torcida nos Aflitos estava muito chateada. Não tem como ir para casa acreditando que o time perdeu para um adversário com sete. Tenho os DVDs da partida e vou mostrá-los aos meus filhos e aos meus netos, pois, se eu contar a história, não vão acreditar.”
2º lugar: Grêmio 2 x 1 Hamburgo, em 1983
Depoimento de Valdir Espinosa:
“Eu fui à Alemanha com o preparador físico para ver um jogo do Hamburgo contra o Werder Bremen, dois ou três meses antes da final. E um comandante da Varig era gremista e nos conseguiu uma fita com um jogo do Hamburgo. Mostrei essa fita aos jogadores, durante a concentração em Gramado, no hall do hotel, junto com funcionários e imprensa. Ali eles foram apresentados ao Hamburgo. Como preparação para a final, pedi para escalarmos time misto nos jogos no interior pelo Gauchão, pois eram mais pegados e em gramados horríveis. Houve uma gritaria geral, e a imprensa criticou muito. Mas, depois de um jogo em São Borges, o presidente concordou comigo e decidiu que os titulares só atuariam no Olímpico. Para o interior, nem eu ia. Antes de irmos para Tóquio, uma equipe de TV japonesa foi ao Olímpico e passou uma semana entrevistando os jogadores, pois ninguém sabia o que eram Grêmio e Porto Alegre. Quando chegamos ao Japão, já sabíamos da expectativa que cercava a partida. Começamos nervosos no jogo, o que era normal em se tratando de um título mundial. Sabíamos que metade de Porto Alegre torcia a favor, e a outra metade torcia contra.
Com 20 minutos, entramos no jogo. E aí o Hamburgo mostrou que cometeria um erro decisivo. Como só conheciam o Paulo César Caju, fizeram marcação apenas em cima dele. Ele não jogou, mas o Mário Sérgio e o Renato ficaram livres. Foi aí que o Hamburgo começou a perder. O Renato fez 1 a 0, num lance em que mostrou ser imprevisível, um jogador que desequilibra. Quando o Hamburgo empatou, já no fim, pensei: ‘Será que a gente vai perder’. E eu já tinha avisado, depois de ver o jogo do Hamburgo na Alemanha, que precisávamos ter cuidado com a bola aérea. E levamos o gol assim, depois que eles já haviam criado algumas chances de perigo. Em um segundo, voltei ao Rio Grande do Sul e vi a minha família, a torcida do Grêmio e a torcida do Inter. Aí voltei ao Japão, e o jogo terminou. Numa situação dessa, o time que faz o gol entra em vantagem na prorrogação. Mas aí vieram dois jogadores fundamentais. O De León disse: ‘Ninguém mais vai cabecear na área. Ela é minha’. E o Renato emendou: ‘Segura atrás, que lá na frente eu decido’. Outros jogadores, que estavam de cabeça baixa, ganharam confiança. E eu me tranquilizei. O Renato fez 2 a 1, e ainda tivemos chances para marcar mais. Na volta, paramos em Los Angeles para um amistoso contra o América do México. Só retornamos a Porto Alegre uma semana depois da final. Achávamos que esse tempo esfriaria a torcida, que ninguém iria ao aeroporto. Foi uma grande surpresa. Mesmo que depois o Inter tenha conquistado o Mundial, o que importa é o primeiro. Todos sabem o nome do primeiro homem que foi à Lua. Depois disso, ninguém sabe. O primeiro Mundial é o que marca. O segundo a conquistar, eu não sei”
3º lugar: Grêmio 2 x 1 Peñarol, em 1983
Depoimento de Paulo Roberto (atualmente agente de jogadores):
“O Peñarol era o campeão da Libertadores de 1982, numa época em que o futebol uruguaio estava em alta. Tinha vários jogadores da seleção. Brasil, Argentina e Uruguai dominavam. E o Peñarol era o favorito ao título, pois o Grêmio chegava à final pela primeira vez. Só a gente acreditava. Eles diziam antes do primeiro jogo que iriam ser campeões, achavam que fariam três ou quatro no Grêmio em Montevidéu. Eles só conheciam o De León, que era da seleção uruguaia. Os discursos ficaram mais moderados depois do empate por 1 a 1. Nosso time era mais jovem, então apelamos para correria. Colocamos na cabeça que era uma oportunidade única e que tínhamos que nos igualar a eles na pegada, porque éramos superiores na técnica. O Grêmio era um time de muita qualidade, com o Renato, que desequilibrava. O jogo no Olímpico foi difícil. Saímos na frente, eles empataram, e conseguimos um gol no fim. Se o segundo jogo fosse em Montevidéu, dificilmente ganharíamos o título, porque haveria pressão de torcida, o juiz…”
4º lugar: Grêmio 5 x 0 Palmeiras, em 1995
Depoimento de Carlos Miguel (atualmente dono de um complexo de quadras esportivas):
“Os times sempre acabam se cruzando nessas competições. O Palmeiras era considerado melhor individualmente, mas não conseguia jogar contra o Grêmio. Nossa força de marcação neutralizava o Palmeiras. Sabíamos que iríamos sofrer se déssemos espaço. E isso irritava o time deles. Depois falaram que nosso time batia, mas não éramos desleais. No jogo, acho que ficaram nervosos depois da primeira expulsão e se abateram depois que fizemos 2 a 0. Sabíamos que nosso momento era aquele, que devíamos aproveitar a fragilidade do Palmeiras e fazer um bom saldo. O avanço dos laterais foi natural, tendo em vista a superioridade numérica. Já era uma arma nossa. Exploramos aquilo que era o nosso forte. A substituição do Palmeiras no intervalo (Amaral por Alex Alves) nos surpreendeu. Foi ela que nos ajudou de certa maneira. Não sei se eu faria a mesma substituição naquele momento. Eles ficaram com um ataque mais rápido, o que nos deixou mais atentos, mas perderam um jogador bom de marcação, que poderia segurar o nosso ímpeto. Continuamos pressionando, pois vimos a chance de atacar e marcar mais gols. Nossos três gols no segundo tempo foram em cruzamentos. Era difícil marcar o Jardel. Ele tinha uma força grande no pescoço e cabeceava forte, mesmo que estivesse preso na marcação. Sempre brincávamos que, com aquela cabeça, não poderia ser diferente. No vestiário, o clima era de alegria, pois sabíamos que o resultado era importante, mas tínhamos consciência de que nada estava garantido. O Felipão alertou muito nos treinos durante a semana, principalmente quanto a uma possível expulsão em São Paulo. Ficamos tão preocupados que ninguém fosse expulso no jogo no Palestra, que relaxamos demais e perdemos nossa maior característica, que era a marcação. Demos oportunidades a eles e levamos sufoco”
5º lugar: São Paulo 0 x 1 Grêmio, em 1981
Depoimento de Baltazar (atualmente agente de jogadores):
“Aquele time misturava uma boa dose de juventude com jogadores experientes, como Vantuir, De León, Leão, Tarciso… E contava com Ênio Andrade, um técnico muito competente e que sabia como disputar um Campeonato Brasileiro. Nosso meio-campo era muito forte e atuava fechado, permitindo explorar contra-ataques, graças à velocidade do Tarciso. Não era um time ofensivo, mas muito bem compactado. Havia pressão no Sul, porque o Grêmio não tinha título brasileiro, enquanto o Inter já possuía vários. Éramos motivo de chacota dos torcedores. Mas fizemos por merecer a conquista, ganhando do grande favorito, que tinha sete jogadores na seleção brasileira e um na uruguaia. Era o mais cotado pela imprensa e tinha tudo para ganhar. Fomos bem trabalhados física e psicologicamente para aquela final. Ganhamos por 2 a 1 no Olímpico, mas eles não diminuíram o otimismo. Achavam que poderiam ganhar por um gol de diferença, já que tinham essa vantagem. Fomos para São Paulo com humildade e muita determinação para a partida no Morumbi. Jogamos fechados, e o São Paulo quase não teve oportunidades. Eu mesmo tinha que marcar os zagueiros na saída de bola. O Grêmio fez um jogo muito bom taticamente, explorando contra-ataques. Num desses, saiu o gol da vitória, o mais bonito da minha carreira, até pela importância. Sempre pedi a Deus para fazer gol numa final, porque marca profissionalmente. Os gremistas sempre recordam esse gol. O Grêmio manteve a base e foi vice-campeão brasileiro em 1982 e campeão mundial em 1983. Pegou confiança a partir desse título brasileiro, sempre montando boas equipes”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Botafogo 3 x 1 Grêmio, em 1991
Depoimento de Maurício:
“Eu estava no Celta de Vigo e queria voltar ao Brasil. Eu havia tido uma passagem muito boa pelo Rio Grande do Sul (jogando pelo Inter), então acertei contrato de um ano com o Grêmio. Fizemos um excelente Brasileiro em 1990. Mas no ano seguinte o time não foi bem no campeonato e acabou rebaixado. Foi uma experiência profissional importante, pois aprendi muito e cresci. Eu me esforçava muito, treinava muito. O clube estava num período de transição, com mudança de diretoria, e isso às vezes traz benefícios, mas às vezes não. Havia coisas pendentes com os jogadores. Meu contrato estava terminando e me venderam para a Portuguesa para cobrir dívidas. Entramos com tudo contra o Botafogo, mas alguns jogadores ficaram abalados psicologicamente. Nessas horas, ao entrar em campo, o jogador precisa levantar a sua autoestima e mostrar que é um grande jogador apesar da fase ruim do time.”
2º lugar: Grêmio 2 x 5 Inter, em 1997
Depoimento de Sérgio Manoel (atualmente no Bragantino):
“Chegamos àquele clássico em igualdade, sem um favorito. Nem o fator campo desequilibrava. Mas havia o fator Fabiano. Ele fez dois gols e arrebentou com o jogo. Foi o responsável por desarrumar o time do Grêmio. Já sabíamos que ele merecia a nossa atenção, que devíamos neutralizá-lo para que ele não municiasse o Christian. Mas não teve jeito. Nunca participei de um clássico tão tenso (foram quatro expulsos no primeiro tempo). Levei pancada de jogadores do Inter e do meu próprio time. Entrei na confusão para apartar os jogadores, e sobrou para mim. É uma rivalidade maior do que qualquer outra no Brasil, não tem igual. Como o Inter já estava em vantagem no placar, se fechou para explorar a velocidade do Fabiano nos contra-ataques. O Grêmio precisava ir à frente e tentar empatar. Normalmente, quando você se lança ao ataque, já deixa espaços na defesa. Imagina, então, o quanto de espaço não havia com dois a menos. O jogo ficou franco. No vestiário, pensamos que perder por dois ou por quatro seria o mesmo. Em compensação, seria histórico se conseguíssemos virar. Fomos ao ataque e levamos mais gols. Essa goleada foi determinante para o resto do campeonato. O Grêmio vinha de um desmanche daquele time que havia conquistado tudo. Levando uma goleada do Inter, o crédito com a torcida foi lá embaixo. Passou a haver uma desconfiança grande”
3º lugar: Guarani 2 x 0 Grêmio, em 2004
Depoimento de Cláudio Duarte:
“Fui o quinto técnico do Grêmio. Quando cheguei, a direção já assumia que não daria para escapar do rebaixamento e me pediu para terminar com honra. Matematicamente ainda havia chance, mas era uma situação em que problemas apareciam e eram difíceis de serem controlados. E o Olímpico ainda estava interditado. Pedi para os jogadores fazerem um bom jogo pela instituição. Já não estavam lá os jogadores que haviam incomodado, os que tiveram problema de indisciplina com outros treinadores e com a direção. Era a meninada. Por isso, mostrei a responsabilidade de profissionais que eles tinham. Precisavam fazer o melhor por uma questão de conduta e para mostrar que tinham condição de permanecer no clube. O jogo mais duro foi o empate por 3 a 3 com o Atlético-PR, que determinou o rebaixamento. O clima ruim até foi amenizado pelo que aconteceu no jogo, com o time reagindo e conseguindo um empate inesperado com um candidato potencial ao título. Esse resultado mostrou que aquele Grêmio, sem os defeitos de conduta, poderia ter tido um rendimento melhor. A indisciplina foi fator determinante para o rebaixamento. Quando há clima de impunidade, os resultados aparecem em campo. A direção sabia dos problemas, mas não tinha como solucionar. Não podia mandar jogadores embora, porque devia salários e não tinha como repor as peças. Houve indisciplina em nível pessoal, profissional… em todos os níveis que você imaginar. Logo que assumi o cargo, perdemos por 3 a 2 para o Palmeiras, numa forma escancarada de nos criar problemas. O Michael Jackson nunca mais apitou depois daquele jogo. Para quem buscava recuperação, foi uma paulada. O time jogava bem, mas não conseguia traduzir em gols, seja porque faltava perna ou por irresponsabilidade do grupo dos perigosos”
4º lugar: Caxias 3 x 0 Grêmio, em 2000
Depoimento de Zinho (atualmente técnico do Miami FC):
“Naquele ano o Grêmio montou um dream team, ou achou que era isso. Contrataram dois argentinos (o Astrada e o Amato), eu, Paulo Nunes, Marinho… e já estavam lá Danrlei, Mauro Galvão, Tinga e Ronaldinho Gaúcho. Na comissão técnica havia o Leão e o Paulo Paixão. Na festa de apresentação, a Ivete Sangalo cantou no Olímpico e houve queima de fogos. Ou seja, havia uma expectativa grande. Mas o time deixou a desejar, saindo cedo da Sul-Minas. Com isso, o Leão caiu e deu lugar ao Antônio Lopes. Chegamos à final do Gaúcho, contra o Caxias do Tite, que estava aparecendo e tinha um time muito bem organizado. Matou o Grêmio no primeiro jogo da final, com jogadores mais acostumados ao campeonato estadual e que já se conheciam por mais tempo. O nosso time já estava muito modificado, sem os argentinos e o Paulo Nunes. O Caxias foi superior na final, montou uma estratégia melhor do que a do Lopes. O Tite fez um excelente trabalho, tanto que depois foi para o Grêmio. Havia sobre nós uma cobrança muito forte, uma desconfiança em cima do projeto que estava sendo montado. Mas mais tarde ficou comprovado que daria certo. Depois o Celso Roth chegou ao clube, e o time foi sendo lapidado. Aqueles que não renderam o esperado ficaram de lado. Ainda naquele ano chegamos à semifinal do Brasileiro, caindo diante do São Caetano. Foi um trabalho natural: montou-se o time em 2000 e colheu-se o resultado em 2001. Não adianta pegar bons jogadores aqui e ali e esperar um resultado imediato. Pode acontecer, mas não é o mais comum”
5º lugar: Grêmio 1 x 5 Atlético-PR, em 2002
Depoimento de Roger:
“Foi um jogo atípico, provavelmente em função do compromisso pela Libertadores (contra o River Plate, quatro dias depois). Não tenho dúvida de que existe uma influência. Não é deliberado, mas algo do ser humano. Não se consegue manter o foco em duas competições. Eu confesso que sempre tive um pouco de dificuldade nisso. O peso de cada competição dá o andamento do time em cada uma. É uma questão acima de ter mais vontade de jogar uma cometição e menos a outra. Se, na sua vida, você tem um compromisso muito importante e depois outro sem tanta urgência, você trata os dois de forma diferente. O próprio comportamento da torcida, indo em peso maior a uma partida, dita o ritmo do time. Não somos insensíveis a isso. O Grêmio vinha embalado de 2001. Ficaram muitos jogadores, mantendo o elenco forte. Era um time leve, com um 3-5-2 falso, em que eu atuava como terceiro zagueiro, mas, por ser de origem na lateral, chegava à frente como surpresa. O ataque não era fixo, rodava muito. Era um time de muita mobilidade, que preenchia os espaços, deixando sempre os jogadores próximos da bola. Os jogadores não tinham uma função fixa. Era bem típico do Tite, um técnico que conhece bem as questões de vestiário, de treinamentos”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos tricolores
sex, 25/09/09
por bernardo ferreira |
categoria Jogos na Memória, fluminense
Texto: Bernardo Ferreira
A seção desta semana tem os cinco motivos de orgulho e os cinco motivos de vergonha do Fluminense. Confira abaixo as listas com os depoimentos de quem participou dos episódios: Romerito, Renato Gaúcho, Paulo Victor, Marcão, Rogerinho…
E deixe o seu recado nos comentários: sentiu falta de algum jogo? Quais partidas são motivo de orgulho ou vergonha?
OS ORGULHOS:
1º lugar: Fluminense 3 x 2 Flamengo, em 1995
Depoimento de Aílton:
“Nunca esquentei com a autoria do gol. Depois colocaram o meu nome na súmula, mas o importante mesmo foram o título e a campanha. O gol de barriga do Renato tornou o jogo mais marcante, mais do que teria sido se a bola entrasse direto. A nossa campanha começou com uma derrota para o Madureira e com o Joel Santana reunindo o grupo e falando que só ficaria quem estivesse a fim de segurar na alça do caixão. Ele disse: ‘Vamos ser campeões. Quem quiser que continue comigo’. No octogonal final, ganhamos credibilidade com uma vitória de virada sobre o Vasco. Antes do jogo contra o Flamengo, o Renato foi muito feliz ao reunir os jogadores numa roda e falar da importância de ser campeão. Ele começou a chorar e emocionou o grupo. Ele disse para deixarmos o dinheiro de lado, pois estávamos com três meses de salários atrasados. Eu nunca tive nada contra o Flamengo, pelo contrário. Foi o clube que me projetou. Eu estava deixando o Japão e já tinha acertado tudo com o Vanderlei Luxemburgo. Mas o Kléber Leite não quis, pois não gostava do meu futebol. Então, o (lateral) Lira falou de mim para o Joel, e acertei com o Fluminense. Por isso sempre joguei com uma garra fora de série contra o Flamengo. Fomos superiores no primeiro tempo e continuamos massacrando nos primeiros 15 minutos do segundo. Esfriamos um pouco, principalmente depois das expulsões (de Marquinhos e Sorlei). Perdemos um pouco de força ofensiva, mas não a aplicação e a garra. Tanto que, no gol do Fabinho, teve dois jogadores do Fluminense dando carrinho. Nessa hora, pensei: já era. E o Lira ainda foi expulso por uma entrada dura. Parecia que a torcida do Flamengo estava dentro de campo. Eu colei no Djair e avisei que estaria na ponta direita e que era para me dar a bola. Quem me deu o passe foi o Ronald, e eu já estava quase dentro da área. Na hora, achei que fosse o Branco na marcação. Só depois, pela TV, vi que foi o Charles. Dei o primeiro corte, mas ele conseguiu fechar, então dei o segundo corte. O chute desviou na trava da chuteira do Jorge Luiz e foi na barriga do Renato. Sorte que ele estava gordinho. O Fluminense foi superior no jogo e não merecia o empate. Os jogadores foram irmãos, passaram por dificuldades, e isso foi fundamental para o sucesso. Falam que o Renato é marrento, mas não conhecem o coração dele. Ele deu dinheiro a companheiros, pagou muitas contas com o próprio cartão de crédito. Eu tinha voltado do Japão e estava com um dinheirinho, por isso também ajudei.”
2º lugar: Fluminense 3 x 1 Boca Juniors, em 2008
Depoimento de Renato Gaúcho:
“O Boca era um monstro e tinha o nosso respeito, mas eu confiava no meu grupo. Antes do jogo, trabalhei as partes técnica, tática e psicológica. Nosso time ganhava confiança a cada etapa superada. Achavam que não passaríamos da primeira fase, e depois que não eliminaríamos o São Paulo. A maior fragilidade do Boca era a sua autoconfiança. Achavam que atropelariam seus adversários a qualquer momento e tinham time para isso, mas faltou respeitar o Fluminense. Autoconfiança é algo bom, desde que você respeite o adversário. E eles não respeitaram. Eu falei isso para o meu grupo e adverti para que não entrasse de salto alto. Não fomos tão bem no primeiro tempo, mas também não demos muitas chances para eles. Sabíamos que tínhamos a vantagem do empate (0 a 0 ou 1 a 1), e o Boca jogava fora de casa da mesma maneira que jogava na Argentina. Uma hora eles teriam que buscar o gol e iriam se abrir. Fizeram 1 a 0, e o jogo ficou aberto. Tirei o Ygor e coloquei o Dodô, porque precisávamos do gol e tínhamos que arriscar. Quando eu fazia essa substituição, pedia para o outro cabeça de área não sair mais. Cada jogador sabia bem a sua função e as possíveis mudanças de esquema tático. Depois empatamos com o Washington e viramos com Conca e Dodô. No Fluminense, batia falta quem estava com a confiança em alta. Vai muito do momento. Perdemos o título por detalhes. Se eu tivesse feito aquela campanha na Europa, teriam renovado comigo por três anos. Foi uma Libertadores exemplar, e não me arrependo de nada. Faria tudo igual. O que não deveria ter sido feito? Onde erramos? Eu queria muito aquele título, mais do que ninguém. Não veio o título, vou fazer o quê? Dar tiro nos caras? Nossos melhores batedores perderam pênaltis. O título não foi conquistado, mas é como se tivesse sido.”
3º lugar: Corinthians 0 x 2 Fluminense, em 1984
Depoimento de Romerito:
“A euforia estava no lado do Corinthians, mas sabíamos que tínhamos mais time. O Corinthians tinha mais individualidades, mas o nosso conjunto era mais forte. Eu estava 100% certo de que ganharíamos. Tínhamos um goleiro muito bom e um time em que todos sabiam jogar futebol. A defesa era muito forte e sabia sair jogando. O meio-campo ia e voltava, criava jogadas e fazia gols. E o ataque era alto. Sabíamos das fragilidades do Corinthians. Lembro das instruções que o Parreira me passou, de marcar o Zenon. E, como ele não era forte na marcação, me deixava livre. O nosso primeiro gol saiu de uma jogada ensaiada a semana toda: um cruzamento meu, e a cabeçada de Assis. Esse gol no fim do primeiro tempo desarrumou de vez o Corinthians, que quase não criou jogadas de gol e foi envolvido. Nossa marcação foi um diferencial, tanto que o Sócrates, que atuava mais avançado, foi anulado pela zaga. Enquanto o Parreira esteve no Fluminense, o time se destacou pela pegada forte. Tomávamos a bola e saíamos em contra-ataque. Assim saiu o segundo gol, do Tato. O lado esquerdo se destacou nesse jogo, com o Tato, o Branco e comigo. No jogo no Maracanã (ver vídeo acima), fomos superiores e merecíamos ganhar de quatro, mas o (goleiro) Carlos teve uma ótima atuação”
4º lugar: Fluminense 1 x 0 Vasco, em 1976
Depoimento de Renato (atualmente trabalhando numa autarquia de Uberlândia):
“No começo do ano, o Horta quis dar uma mexida no time de 1975, que havia perdido para o Inter na semifinal do Brasileiro. Fez um troca-troca com o Flamengo, cedendo Roberto, Toninho Baiano e Zé Roberto, e pegando Rodrigues Neto, Doval e eu. Foi uma coisa louca, porque ninguém imaginava dois rivais trocando de jogadores de um ano para outro. Aquilo incendiou o campeonato. Num Fla-Flu amistoso no início do ano, perdemos por 4 a 1, o que levou alguns a questionarem o negócio feito pelo Fluminense. Mas depois viram que foi bom, porque nós três nos tornamos titulares. Tínhamos um time de muitos craques e um grande capitão, Carlos Alberto Torres, que controlava as vaidades. Por melhor que seja, um time precisa de um capitão forte, senão nem adianta ter um grande técnico. Caju, Pintinho e Rivellino tinham gênios fortes. Fazíamos muitas reuniões e conseguimos unir o grupo. O time embalou do meio para o fim do campeonato, porque alguns jogadores foram adquirindo forma física. O jogo-chave foi a vitória sobre o Vasco no terceiro turno (3 a 0), pois estávamos sem Pintinho, Caju e Rivellino. O Horta queria que ao menos um jogasse, porque estava com medo que perdêssemos e ficássemos fora do campeonato. E se desentendeu com o Arnaldo Santiago, que dizia que as lesões poderiam se agravar. Fluminense e Vasco tinham times muito bons. O Vasco tinha conjunto e o Roberto Dinamite, muito bom em bolas paradas e em lançamentos. Mas o Fluminense tinha grandes jogadores e era superior. Num jogo-extra, numa quarta-feira à noite, ganhamos com um gol no fim, em que o Doval cabeceou de costas e a bola passou entre as pernas do Zé Mário. Foi sorte que só os campeões têm, até porque não existe campeão azarado. Estávamos engasgados com o Vasco, pois no quadrangular estávamos vencendo por 2 a 0 e eles empataram”
5º lugar: Fluminense 1 x 0 Flamengo, em 1983
Depoimento de Paulo Victor (atualmente comentarista do PFC):
“Perdemos o campeonato em 1982, e começaram a contratar. O Cláudio Garcia acertou o time numa excursão ‘bye bye Brasil’. Havia expectativa em relação ao time, pois só eu e Delei éramos remanescentes da equipe anterior. Ninguém conhecia Assis, Washington, René, Jandir… Ficou aquela desconfiança. Conquistamos a Taça Guanabara de forma invicta, e eu só levei o primeiro gol em Volta Redonda (na quinta rodada). O Cláudio Garcia recebeu proposta do Flamengo e foi para lá. Foi uma coisa chata, porque ele estava no Fluminense, montou o time e nos conhecia. Quando o Flamengo ganhou a Taça Rio, pensamos: ‘Não podemos perder o título para o Cláudio’. O grupo se reuniu e falou que tinha que ganhar o título. Empatamos com o Bangu no primeiro jogo do triangular, mas estávamos tranquilos. Tínhamos certeza de que seríamos campeões. O jogo contra o Flamengo foi equilibrado, porque o time deles era muito bom. Eu já estava esperando o empate, quando o Assis fez o gol. Assistimos na arquibancada ao jogo entre Flamengo e Bangu. Sabíamos que não havia como o Bangu ganhar do Flamengo, que tinha muito mais time. Havia mais torcedores do Fluminense do que do Bangu no Maracanã. O título carioca consagrou aquele time e deu confiança, pois era um grupo novo.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Fluminense 2 x 3 ABC, em 1998
Depoimento de Marco Brito:
“Eu ia subir pela primeira vez para os profissionais em 1995, mas sofri uma lesão às vésperas de estrear. Voltei para os juniores e subi em 1998, meu último ano como júnior. Houve muita coisa errada. O elenco chegou a ter 63 jogadores. No coletivo, ficavam quatro times fora, fazendo um trabalho à parte. Como era muita gente, e a cada rodada chegavam jogadores novos, separavam o elenco por grupos. E os jogadores da casa foram deixados de lado. A diretoria alegou que queria nos preservar, mas tínhamos condições de ajudar. Na metade do campeonato, os pratas da casa já não faziam parte do grupo. No futebol não existe milagre. Se você planta coisas erradas, colhe coisas erradas. O jogo contra o ABC foi às 11h de domingo. Se fosse uma sequência de jogos nesse horário, o time se acostumaria. Mas você sente a diferença na primeira vez. Muda toda a logística: concentração, refeição, sono… Além disso, era uma situação nova para o clube, e fazia muito calor. Ficamos muito ansiosos. Quando subimos ao gramado, comentamos que havia muita gente na arquibancada e que não poderíamos vacilar. Quem veio de fora pode ter se surpreendido, mas eu não. Conheço a força da torcida e sei que ela é especial. Foi uma pena que depois as coisas tenham se complicado. Começamos a partida querendo resolver logo e confundimos velocidade com pressa. A torcida passou a cobrar, aí pesou o fator psicológico, e ficou mais difícil. Hoje estou na torcida pelo Fluminense, pois foi um clube que aprendi a amar e é onde quero encerrar a carreira.”
2º lugar: Villa Nova-MG 2 x 0 Fluminense, em 1999
Depoimento de Roberto Brum (atualmente no Figueirense):
“O Fluminense vinha de campanhas ruins e com sete meses de salários atrasados, obrigando jogadores a vender carros e imóveis para pagar contas e manter o padrão de vida. A torcida não sabia disso e só cobrava. Era muito complicado mesmo, até que chegou o Parreira. Ele avisou que a partir de então o salário não atrasaria mais, para que pudesse cobrar dos jogadores. Ele fez mais: tirou do próprio bolso para comprar móveis para os vestiários e fez a diretoria comprar equipamento novo para musculação, duchas novas… Ele foi o grande responsável para que o Fluminense se reerguesse. Levou o time para uma pré-temporada na Espanha e em El Salvador. Enfrentamos o Numancia e até o La Coruña. Perdemos por 4 a 0, com direito a olé do Djalminha, mas enfrentamos. Subiu para os profissionais uma boa safra de jogadores, em que estávamos, eu, Roger, Bruno Reis, Marco Brito… Tivemos a nossa oportunidade para ajudar o Fluminense a subir, mas não foi fácil. Ouvíamos histórias terríveis de quando o time foi rebaixado. Uma vez, o Jorge Luís (lateral-esquerdo) foi agredido no Maracanã, e sobrou até para os pais dele, que tentaram defendê-lo. Para um jogador experiente, viver uma situação dessa já não é fácil. Imagina para um jovem, que que sonhava disputar um Fla-Flu com Maracanã lotado. Houve um jogo em que estávamos no ônibus subindo a serra, e passou um fusca na nossa frente e desceu a ribanceira. Jogamos em gramados cheios de sapos, levamos pedradas em campo… Quem joga a Série C pode encarar qualquer campeonato no mundo. O primeiro jogo é sempre mais tenso, atípico. E nossos adversários sempre pareciam leões que haviam sido soltos após um mês na jaula. Não ficamos preocupados após a estreia, pois já víamos uma estrutura diferente no clube, com alguém intercedendo por nós e dando condições de trabalho. O Parreira foi anunciado em solo americano quando chegamos a Miami para a pré-temporada. Os árbitros olhavam para o banco, viam o Parreira e apontavam para a marca do cal. Era pênalti o tempo todo.”
3º lugar: Paulista 2 x 0 Fluminense, em 2005
Depoimento de Antônio Carlos (atualmente no Atlético-GO):
“Quando chegamos à final, o clima era o melhor possível. O time foi ganhando confiança durante a Copa do Brasil e conquistou o Campeonato Carioca. Perdemos o título no primeiro jogo, por causa de desatenções. Tivemos desfalques, o que tornou a nossa situação mais complicada. Todos vinham com sequência de jogo e atuando muito bem. É normal que quem entre não esteja no mesmo ritmo – sem querer jogar culpa em alguém. Levamos gol, saímos para o ataque para tentar empatar e acabamos nos expondo. Esquecemos que haveria um segundo jogo. Poderíamos ter esperado mais. O time não vinha tendo muito trabalho na partida. Em São Januário, eles se fecharam bem. Revi esse segundo jogo há pouco tempo, e perdemos muitos gols. Eu lamento muito a perda desse título, pois foi um ano bom, com um elenco que se ajudava sempre. Seria um título de expressão para a minha carreira. Depois, acabei me transferindo (para o Ajaccio-FRA).”
4º lugar: Santos 5 x 2 Fluminense, em 1995
Depoimento de Rogerinho (atualmente professor de educação física):
“Era um time em sintonia com o esquema tático do Joel Santana, com cada um cumprindo bem a sua função. A estrela era o Renato Gaúcho, e os outros aceitavam essa situação. Nós carregávamos o piano, enquanto ele tocava. O jogo no Maracanã (4 a 1 para o Fluminense) foi muito puxado, pois o Santos fez 1 a 0 no primeiro tempo, e nós tivemos que correr muito no segundo tempo para virar. E o intervalo entre um jogo e outro foi curto, entre quarta-feira e domingo. Saímos tarde do Maracanã e fomos para uma churrascaria. Houve uma euforia normal de quem havia vencido a partida, sem exageros. Cumprimos a programação da diretoria: saímos do jogo, jantamos e fomos para um hotel. Fui dormir entre 2h e 3h e acordei cedo no dia seguinte. No jogo em São Paulo, nada deu certo. Alguns jogadores sentiram o cansaço da partida no Rio, o que era natural. A nossa postura no início do jogo foi a mesma que havíamos adotado no campeonato: um time bem postado e saindo no contra-ataque. Mas tivemos algumas falhas, e o Giovanni estava em um dia inspirado. Deve ter feito a melhor partida da carreira dele. Ele fez o jogo ficar fácil para o Santos. Já não havíamos feito marcação individual sobre o Giovanni no Rio, e ele não fez uma grande partida. Geralmente marcávamos por setor. O primeiro tempo terminou 2 a 0, e o Valdeir sentiu uma lesão. No segundo tempo, ainda fiz o gol que nos daria a classificação, mas em seguida tivemos uma infelicidade na marcação, e o Santos aumentou para 4 a 1. Depois fez 5 a 1, e eu ainda marquei mais um. Quando o jogo acabou, não estávamos acreditando no que estava acontecendo. Sentimos muito”
5º lugar: Palmeiras 3 x 2 Fluminense, em 2005
Depoimento de Marcão (atualmente no Bangu):
“Estávamos tão perto da Libertadores, mas vimos a vaga escapar entre os dedos. Esse ano começou bem, mas terminou de forma decepcionante. Uma hora acendeu o alerta, porque o Palmeiras começou a crescer. Sempre pensávamos: ‘No próximo jogo nós conseguimos’. Mesmo sem querer, o time acabou relaxando. Nunca achamos que chegaríamos a uma sequência de cinco derrotas. Fica como aprendizado para todos. Estávamos tão seguros e chegamos a um momento crucial, que foi enfrentar o Palmeiras no Palestra Itália. Aí encaramos como final de Copa do Mundo. Mas é difícil, por causa da pressão. O Arouquinha acertou aquela bomba bonita (fazendo 2 a 1), mas não deu. Não soubemos segurar, e o Palmeiras foi forte nas bolas paradas. Foi um jogo aberto, equilibrado, bonito. Acho que deixamos uma boa impressão. Foi uma pena dependermos desse resultado. Aquele era um grupo de qualidade, fechado, em que um era companheiro do outro. O Fluminense tinha uma base do campeonato anterior e manteve o Abel durante toda a temporada.”
A seção desta semana tem os cinco motivos de orgulho e os cinco motivos de vergonha do Fluminense. Confira abaixo as listas com os depoimentos de quem participou dos episódios: Romerito, Renato Gaúcho, Paulo Victor, Marcão, Rogerinho…
E deixe o seu recado nos comentários: sentiu falta de algum jogo? Quais partidas são motivo de orgulho ou vergonha?
OS ORGULHOS:
1º lugar: Fluminense 3 x 2 Flamengo, em 1995
Depoimento de Aílton:
“Nunca esquentei com a autoria do gol. Depois colocaram o meu nome na súmula, mas o importante mesmo foram o título e a campanha. O gol de barriga do Renato tornou o jogo mais marcante, mais do que teria sido se a bola entrasse direto. A nossa campanha começou com uma derrota para o Madureira e com o Joel Santana reunindo o grupo e falando que só ficaria quem estivesse a fim de segurar na alça do caixão. Ele disse: ‘Vamos ser campeões. Quem quiser que continue comigo’. No octogonal final, ganhamos credibilidade com uma vitória de virada sobre o Vasco. Antes do jogo contra o Flamengo, o Renato foi muito feliz ao reunir os jogadores numa roda e falar da importância de ser campeão. Ele começou a chorar e emocionou o grupo. Ele disse para deixarmos o dinheiro de lado, pois estávamos com três meses de salários atrasados. Eu nunca tive nada contra o Flamengo, pelo contrário. Foi o clube que me projetou. Eu estava deixando o Japão e já tinha acertado tudo com o Vanderlei Luxemburgo. Mas o Kléber Leite não quis, pois não gostava do meu futebol. Então, o (lateral) Lira falou de mim para o Joel, e acertei com o Fluminense. Por isso sempre joguei com uma garra fora de série contra o Flamengo. Fomos superiores no primeiro tempo e continuamos massacrando nos primeiros 15 minutos do segundo. Esfriamos um pouco, principalmente depois das expulsões (de Marquinhos e Sorlei). Perdemos um pouco de força ofensiva, mas não a aplicação e a garra. Tanto que, no gol do Fabinho, teve dois jogadores do Fluminense dando carrinho. Nessa hora, pensei: já era. E o Lira ainda foi expulso por uma entrada dura. Parecia que a torcida do Flamengo estava dentro de campo. Eu colei no Djair e avisei que estaria na ponta direita e que era para me dar a bola. Quem me deu o passe foi o Ronald, e eu já estava quase dentro da área. Na hora, achei que fosse o Branco na marcação. Só depois, pela TV, vi que foi o Charles. Dei o primeiro corte, mas ele conseguiu fechar, então dei o segundo corte. O chute desviou na trava da chuteira do Jorge Luiz e foi na barriga do Renato. Sorte que ele estava gordinho. O Fluminense foi superior no jogo e não merecia o empate. Os jogadores foram irmãos, passaram por dificuldades, e isso foi fundamental para o sucesso. Falam que o Renato é marrento, mas não conhecem o coração dele. Ele deu dinheiro a companheiros, pagou muitas contas com o próprio cartão de crédito. Eu tinha voltado do Japão e estava com um dinheirinho, por isso também ajudei.”
2º lugar: Fluminense 3 x 1 Boca Juniors, em 2008
Depoimento de Renato Gaúcho:
“O Boca era um monstro e tinha o nosso respeito, mas eu confiava no meu grupo. Antes do jogo, trabalhei as partes técnica, tática e psicológica. Nosso time ganhava confiança a cada etapa superada. Achavam que não passaríamos da primeira fase, e depois que não eliminaríamos o São Paulo. A maior fragilidade do Boca era a sua autoconfiança. Achavam que atropelariam seus adversários a qualquer momento e tinham time para isso, mas faltou respeitar o Fluminense. Autoconfiança é algo bom, desde que você respeite o adversário. E eles não respeitaram. Eu falei isso para o meu grupo e adverti para que não entrasse de salto alto. Não fomos tão bem no primeiro tempo, mas também não demos muitas chances para eles. Sabíamos que tínhamos a vantagem do empate (0 a 0 ou 1 a 1), e o Boca jogava fora de casa da mesma maneira que jogava na Argentina. Uma hora eles teriam que buscar o gol e iriam se abrir. Fizeram 1 a 0, e o jogo ficou aberto. Tirei o Ygor e coloquei o Dodô, porque precisávamos do gol e tínhamos que arriscar. Quando eu fazia essa substituição, pedia para o outro cabeça de área não sair mais. Cada jogador sabia bem a sua função e as possíveis mudanças de esquema tático. Depois empatamos com o Washington e viramos com Conca e Dodô. No Fluminense, batia falta quem estava com a confiança em alta. Vai muito do momento. Perdemos o título por detalhes. Se eu tivesse feito aquela campanha na Europa, teriam renovado comigo por três anos. Foi uma Libertadores exemplar, e não me arrependo de nada. Faria tudo igual. O que não deveria ter sido feito? Onde erramos? Eu queria muito aquele título, mais do que ninguém. Não veio o título, vou fazer o quê? Dar tiro nos caras? Nossos melhores batedores perderam pênaltis. O título não foi conquistado, mas é como se tivesse sido.”
3º lugar: Corinthians 0 x 2 Fluminense, em 1984
Depoimento de Romerito:
“A euforia estava no lado do Corinthians, mas sabíamos que tínhamos mais time. O Corinthians tinha mais individualidades, mas o nosso conjunto era mais forte. Eu estava 100% certo de que ganharíamos. Tínhamos um goleiro muito bom e um time em que todos sabiam jogar futebol. A defesa era muito forte e sabia sair jogando. O meio-campo ia e voltava, criava jogadas e fazia gols. E o ataque era alto. Sabíamos das fragilidades do Corinthians. Lembro das instruções que o Parreira me passou, de marcar o Zenon. E, como ele não era forte na marcação, me deixava livre. O nosso primeiro gol saiu de uma jogada ensaiada a semana toda: um cruzamento meu, e a cabeçada de Assis. Esse gol no fim do primeiro tempo desarrumou de vez o Corinthians, que quase não criou jogadas de gol e foi envolvido. Nossa marcação foi um diferencial, tanto que o Sócrates, que atuava mais avançado, foi anulado pela zaga. Enquanto o Parreira esteve no Fluminense, o time se destacou pela pegada forte. Tomávamos a bola e saíamos em contra-ataque. Assim saiu o segundo gol, do Tato. O lado esquerdo se destacou nesse jogo, com o Tato, o Branco e comigo. No jogo no Maracanã (ver vídeo acima), fomos superiores e merecíamos ganhar de quatro, mas o (goleiro) Carlos teve uma ótima atuação”
4º lugar: Fluminense 1 x 0 Vasco, em 1976
Depoimento de Renato (atualmente trabalhando numa autarquia de Uberlândia):
“No começo do ano, o Horta quis dar uma mexida no time de 1975, que havia perdido para o Inter na semifinal do Brasileiro. Fez um troca-troca com o Flamengo, cedendo Roberto, Toninho Baiano e Zé Roberto, e pegando Rodrigues Neto, Doval e eu. Foi uma coisa louca, porque ninguém imaginava dois rivais trocando de jogadores de um ano para outro. Aquilo incendiou o campeonato. Num Fla-Flu amistoso no início do ano, perdemos por 4 a 1, o que levou alguns a questionarem o negócio feito pelo Fluminense. Mas depois viram que foi bom, porque nós três nos tornamos titulares. Tínhamos um time de muitos craques e um grande capitão, Carlos Alberto Torres, que controlava as vaidades. Por melhor que seja, um time precisa de um capitão forte, senão nem adianta ter um grande técnico. Caju, Pintinho e Rivellino tinham gênios fortes. Fazíamos muitas reuniões e conseguimos unir o grupo. O time embalou do meio para o fim do campeonato, porque alguns jogadores foram adquirindo forma física. O jogo-chave foi a vitória sobre o Vasco no terceiro turno (3 a 0), pois estávamos sem Pintinho, Caju e Rivellino. O Horta queria que ao menos um jogasse, porque estava com medo que perdêssemos e ficássemos fora do campeonato. E se desentendeu com o Arnaldo Santiago, que dizia que as lesões poderiam se agravar. Fluminense e Vasco tinham times muito bons. O Vasco tinha conjunto e o Roberto Dinamite, muito bom em bolas paradas e em lançamentos. Mas o Fluminense tinha grandes jogadores e era superior. Num jogo-extra, numa quarta-feira à noite, ganhamos com um gol no fim, em que o Doval cabeceou de costas e a bola passou entre as pernas do Zé Mário. Foi sorte que só os campeões têm, até porque não existe campeão azarado. Estávamos engasgados com o Vasco, pois no quadrangular estávamos vencendo por 2 a 0 e eles empataram”
5º lugar: Fluminense 1 x 0 Flamengo, em 1983
Depoimento de Paulo Victor (atualmente comentarista do PFC):
“Perdemos o campeonato em 1982, e começaram a contratar. O Cláudio Garcia acertou o time numa excursão ‘bye bye Brasil’. Havia expectativa em relação ao time, pois só eu e Delei éramos remanescentes da equipe anterior. Ninguém conhecia Assis, Washington, René, Jandir… Ficou aquela desconfiança. Conquistamos a Taça Guanabara de forma invicta, e eu só levei o primeiro gol em Volta Redonda (na quinta rodada). O Cláudio Garcia recebeu proposta do Flamengo e foi para lá. Foi uma coisa chata, porque ele estava no Fluminense, montou o time e nos conhecia. Quando o Flamengo ganhou a Taça Rio, pensamos: ‘Não podemos perder o título para o Cláudio’. O grupo se reuniu e falou que tinha que ganhar o título. Empatamos com o Bangu no primeiro jogo do triangular, mas estávamos tranquilos. Tínhamos certeza de que seríamos campeões. O jogo contra o Flamengo foi equilibrado, porque o time deles era muito bom. Eu já estava esperando o empate, quando o Assis fez o gol. Assistimos na arquibancada ao jogo entre Flamengo e Bangu. Sabíamos que não havia como o Bangu ganhar do Flamengo, que tinha muito mais time. Havia mais torcedores do Fluminense do que do Bangu no Maracanã. O título carioca consagrou aquele time e deu confiança, pois era um grupo novo.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Fluminense 2 x 3 ABC, em 1998
Depoimento de Marco Brito:
“Eu ia subir pela primeira vez para os profissionais em 1995, mas sofri uma lesão às vésperas de estrear. Voltei para os juniores e subi em 1998, meu último ano como júnior. Houve muita coisa errada. O elenco chegou a ter 63 jogadores. No coletivo, ficavam quatro times fora, fazendo um trabalho à parte. Como era muita gente, e a cada rodada chegavam jogadores novos, separavam o elenco por grupos. E os jogadores da casa foram deixados de lado. A diretoria alegou que queria nos preservar, mas tínhamos condições de ajudar. Na metade do campeonato, os pratas da casa já não faziam parte do grupo. No futebol não existe milagre. Se você planta coisas erradas, colhe coisas erradas. O jogo contra o ABC foi às 11h de domingo. Se fosse uma sequência de jogos nesse horário, o time se acostumaria. Mas você sente a diferença na primeira vez. Muda toda a logística: concentração, refeição, sono… Além disso, era uma situação nova para o clube, e fazia muito calor. Ficamos muito ansiosos. Quando subimos ao gramado, comentamos que havia muita gente na arquibancada e que não poderíamos vacilar. Quem veio de fora pode ter se surpreendido, mas eu não. Conheço a força da torcida e sei que ela é especial. Foi uma pena que depois as coisas tenham se complicado. Começamos a partida querendo resolver logo e confundimos velocidade com pressa. A torcida passou a cobrar, aí pesou o fator psicológico, e ficou mais difícil. Hoje estou na torcida pelo Fluminense, pois foi um clube que aprendi a amar e é onde quero encerrar a carreira.”
2º lugar: Villa Nova-MG 2 x 0 Fluminense, em 1999
Depoimento de Roberto Brum (atualmente no Figueirense):
“O Fluminense vinha de campanhas ruins e com sete meses de salários atrasados, obrigando jogadores a vender carros e imóveis para pagar contas e manter o padrão de vida. A torcida não sabia disso e só cobrava. Era muito complicado mesmo, até que chegou o Parreira. Ele avisou que a partir de então o salário não atrasaria mais, para que pudesse cobrar dos jogadores. Ele fez mais: tirou do próprio bolso para comprar móveis para os vestiários e fez a diretoria comprar equipamento novo para musculação, duchas novas… Ele foi o grande responsável para que o Fluminense se reerguesse. Levou o time para uma pré-temporada na Espanha e em El Salvador. Enfrentamos o Numancia e até o La Coruña. Perdemos por 4 a 0, com direito a olé do Djalminha, mas enfrentamos. Subiu para os profissionais uma boa safra de jogadores, em que estávamos, eu, Roger, Bruno Reis, Marco Brito… Tivemos a nossa oportunidade para ajudar o Fluminense a subir, mas não foi fácil. Ouvíamos histórias terríveis de quando o time foi rebaixado. Uma vez, o Jorge Luís (lateral-esquerdo) foi agredido no Maracanã, e sobrou até para os pais dele, que tentaram defendê-lo. Para um jogador experiente, viver uma situação dessa já não é fácil. Imagina para um jovem, que que sonhava disputar um Fla-Flu com Maracanã lotado. Houve um jogo em que estávamos no ônibus subindo a serra, e passou um fusca na nossa frente e desceu a ribanceira. Jogamos em gramados cheios de sapos, levamos pedradas em campo… Quem joga a Série C pode encarar qualquer campeonato no mundo. O primeiro jogo é sempre mais tenso, atípico. E nossos adversários sempre pareciam leões que haviam sido soltos após um mês na jaula. Não ficamos preocupados após a estreia, pois já víamos uma estrutura diferente no clube, com alguém intercedendo por nós e dando condições de trabalho. O Parreira foi anunciado em solo americano quando chegamos a Miami para a pré-temporada. Os árbitros olhavam para o banco, viam o Parreira e apontavam para a marca do cal. Era pênalti o tempo todo.”
3º lugar: Paulista 2 x 0 Fluminense, em 2005
Depoimento de Antônio Carlos (atualmente no Atlético-GO):
“Quando chegamos à final, o clima era o melhor possível. O time foi ganhando confiança durante a Copa do Brasil e conquistou o Campeonato Carioca. Perdemos o título no primeiro jogo, por causa de desatenções. Tivemos desfalques, o que tornou a nossa situação mais complicada. Todos vinham com sequência de jogo e atuando muito bem. É normal que quem entre não esteja no mesmo ritmo – sem querer jogar culpa em alguém. Levamos gol, saímos para o ataque para tentar empatar e acabamos nos expondo. Esquecemos que haveria um segundo jogo. Poderíamos ter esperado mais. O time não vinha tendo muito trabalho na partida. Em São Januário, eles se fecharam bem. Revi esse segundo jogo há pouco tempo, e perdemos muitos gols. Eu lamento muito a perda desse título, pois foi um ano bom, com um elenco que se ajudava sempre. Seria um título de expressão para a minha carreira. Depois, acabei me transferindo (para o Ajaccio-FRA).”
4º lugar: Santos 5 x 2 Fluminense, em 1995
Depoimento de Rogerinho (atualmente professor de educação física):
“Era um time em sintonia com o esquema tático do Joel Santana, com cada um cumprindo bem a sua função. A estrela era o Renato Gaúcho, e os outros aceitavam essa situação. Nós carregávamos o piano, enquanto ele tocava. O jogo no Maracanã (4 a 1 para o Fluminense) foi muito puxado, pois o Santos fez 1 a 0 no primeiro tempo, e nós tivemos que correr muito no segundo tempo para virar. E o intervalo entre um jogo e outro foi curto, entre quarta-feira e domingo. Saímos tarde do Maracanã e fomos para uma churrascaria. Houve uma euforia normal de quem havia vencido a partida, sem exageros. Cumprimos a programação da diretoria: saímos do jogo, jantamos e fomos para um hotel. Fui dormir entre 2h e 3h e acordei cedo no dia seguinte. No jogo em São Paulo, nada deu certo. Alguns jogadores sentiram o cansaço da partida no Rio, o que era natural. A nossa postura no início do jogo foi a mesma que havíamos adotado no campeonato: um time bem postado e saindo no contra-ataque. Mas tivemos algumas falhas, e o Giovanni estava em um dia inspirado. Deve ter feito a melhor partida da carreira dele. Ele fez o jogo ficar fácil para o Santos. Já não havíamos feito marcação individual sobre o Giovanni no Rio, e ele não fez uma grande partida. Geralmente marcávamos por setor. O primeiro tempo terminou 2 a 0, e o Valdeir sentiu uma lesão. No segundo tempo, ainda fiz o gol que nos daria a classificação, mas em seguida tivemos uma infelicidade na marcação, e o Santos aumentou para 4 a 1. Depois fez 5 a 1, e eu ainda marquei mais um. Quando o jogo acabou, não estávamos acreditando no que estava acontecendo. Sentimos muito”
5º lugar: Palmeiras 3 x 2 Fluminense, em 2005
Depoimento de Marcão (atualmente no Bangu):
“Estávamos tão perto da Libertadores, mas vimos a vaga escapar entre os dedos. Esse ano começou bem, mas terminou de forma decepcionante. Uma hora acendeu o alerta, porque o Palmeiras começou a crescer. Sempre pensávamos: ‘No próximo jogo nós conseguimos’. Mesmo sem querer, o time acabou relaxando. Nunca achamos que chegaríamos a uma sequência de cinco derrotas. Fica como aprendizado para todos. Estávamos tão seguros e chegamos a um momento crucial, que foi enfrentar o Palmeiras no Palestra Itália. Aí encaramos como final de Copa do Mundo. Mas é difícil, por causa da pressão. O Arouquinha acertou aquela bomba bonita (fazendo 2 a 1), mas não deu. Não soubemos segurar, e o Palmeiras foi forte nas bolas paradas. Foi um jogo aberto, equilibrado, bonito. Acho que deixamos uma boa impressão. Foi uma pena dependermos desse resultado. Aquele era um grupo de qualidade, fechado, em que um era companheiro do outro. O Fluminense tinha uma base do campeonato anterior e manteve o Abel durante toda a temporada.”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos santistas
sex, 18/09/09
por bernardo ferreira |
categoria Jogos na Memória, Santos
Texto: Bernardo Ferreira
A seção desta semana traz dez partidas marcantes do Santos na história. Para falar de orgulhos e vergonhas, ouvimos Renato, Emerson Leão, Gallo, Jamelli, Vagner Mancini… Confira a seguir os Jogos na Memória dos santistas e os depoimentos de quem esteve lá.
Aproveite e deixe o seu recado nos comentários: sentiu falta de algum jogo? Quais partidas são motivo de orgulho ou vergonha?
OS ORGULHOS:
1º lugar: Benfica 2 x 5 Santos, em 1962
Depoimento de Pepe:
“O Santos jogava partidas nacionais e internacionais, misturando tudo. Jogávamos na Argentina, depois no Pacaembu, no Rio… Mas dessa vez, como se tratava de um Mundial, nos preparamos bem. E ganhamos com facilidade. O Benfica era nosso freguês de caderneta. Estive no Boavista há alguns anos e me encontrei com o Torres, centroavante alto do Benfica daquela época. Ele me confidenciou que o Benfica tinha muito medo do Santos e principalmente do Pelé. Essa partida foi um marco na história do Santos. Tiveram que mudar a Hora do Brasil de horário, para que as pessoas escutassem a partida pelo rádio. Os portugueses já pensavam no terceiro confronto, em Paris. Mas, quando começou o jogo, viram que a história seria outra. No Maracanã a partida foi mais dura porque o Benfica atuou mais recuado, marcando mais. Em Portugal, saíram para o jogo, sem preocupações defensivas e sem escalar alguém para marcar o Pelé. O meu gol nesse jogo foi o mais feio da minha carreira. Tabelei com o Coutinho, e a bola ficou mais para o Costa Pereira, goleiro deles. Só que o campo estava molhado, e ele foi escorregando, até quase sair da área, soltando a bola nos meus pés. Foi a maior partida que vi o Pelé fazer com a camisa do Santos. E foi a maior partida da história do Santos, junto com os 4 a 2 no Milan em 1963″
2º lugar: Santos 5 x 2 Fluminense, em 1995
Depoimento de Narciso (atualmente técnico dos juniores do Santos):
“Vi o primeiro jogo (vídeo acima) pela televisão. Fomos derrotados por 4 a 1 com três gols nos últimos 20 minutos e criamos muitas chances. Seria difícil reverter a vantagem, mas vi que os jogadores estavam confiantes pelo menos na vitória. Se a classificação viesse também, seria outra história. Para o jogo em São Paulo, perdemos dois jogadores por suspensão, o que acabou sendo positivo para o nosso propósito. O Robert e o Jamelli armavam jogadas e fechavam o meio-campo, enquanto o Macedo e o Camanducaia eram mais homens de frente e tinham mais velocidade. Treinamos muito nossas jogadas em velocidade, com a chegada de trás do Giovanni e do Marcelo Passos, e as finalizações. Sabíamos que teríamos muitas chances durante o jogo, por isso precisávamos ter frieza. As declarações no Fluminense aumentaram nossa motivação e fizeram com que crescêssemos. O Renato Gaúcho disse que sairia pelado do Pacaembu se o Fluminense não se classificasse. O Gaúcho falou que sairia de cueca. Disseram que a final seria carioca.
No começo do jogo, estávamos ansiosos. Depois que o Giovanni fez o primeiro gol, o time se tranquilizou. Nosso objetivo inicial era fazer 1 a 0 ou 2 a 0 no primeiro tempo e arriscar mais depois do intervalo. Mandamos duas bolas na trave depois que fizemos 2 a 0, e isso nos animou. Após o primeiro tempo, eu estava descendo para o vestiário e me chamaram de volta para o meio-campo. Acho que a ideia de permanecer em campo foi do Gallo ou do Giovanni. Foi legal, diferente. A torcida foi maravilhosa. O segundo tempo foi mais aberto para os dois times, e conseguimos os gols de que precisávamos. O Fluminense não esperava que jogássemos daquela maneira. No fim do jogo, quando fizemos 4 a 1, bateu um pouco de desespero no Fluminense, que começou a mandar bolas para a área. O Santos havia sido formado naquele ano. Eram jogadores jovens, pouco conhecidos, buscando seu espaço. O time jogava com alegria, era essa nossa maior virtude. Os treinamentos eram divertidos, e havia amizade entre os jogadores, até por serem quase todos da mesma faixa etária. O Giovanni vivia grande fase e era muito importante. Era o nosso desafogo. Passávamos a bola para ele e podíamos descansar um pouco, pois ele cadenciava o jogo e tinha bom controle de bola.”
3º lugar: Santos 3 x 1 São Paulo, em 2002
Depoimento de Emerson Leão:
“O maior desafio era provar que era um time adulto no mata-mata. Conseguiu o inverso do que acontece com muitos times e amadureceu na hora necessária. O campeonato com mata-mata pode ser maravilhoso, mas o mais correto é premiar o time que apresenta regularidade. E aquele Santos poderia ter conseguido sucesso se a disputa fosse por pontos corridos, já que ainda haveria todo um turno pela frente. Todos diziam que jovens ganhavam partidas, mas não um campeonato. Meu desafio foi tirar deles o excesso de responsabilidade, deixá-los à vontade para continuar jogando. Tínhamos muita confiança nos moleques, e o clima era muito bom. Jogar mal é que era novidade, por isso era perdoado quando acontecia. O Santos era um time com sucesso futuro, enquanto o São Paulo era um time com sucesso presente. Era agradável ver o Santos jogar”
4º lugar: América de Cáli 1 x 5 Santos, em 2003
Depoimento de Renato (atualmente no Sevilla):
“Seria a primeira vez que todos iriam jogar a Libertadores, um sonho para qualquer jogador. Perguntamos ao Rubens Cardoso (lateral reserva) como eram os jogos, e ele dizia que eram mais disputados, mais truncados, diferentes do Brasileirão. Mas não houve qualquer tumulto. Lembro que depois, num jogo no Paraguai (contra o 12 de Octubre), tivemos que tomar banho no hotel, porque o vestiário era pequeno demais. Na Colômbia, estávamos mais ansiosos do que o normal, por se tratar de uma competição nova. O Robinho estava bastante confiante, até pela trajetória dele em 2002. Procurou fazer o mesmo que no ano anterior, e as jogadas saíram com facilidade. Deu chapéu, elástico, pedalada… Fiquei surpreso quando a torcida aplaudiu a substituição do Robinho e, ao final do jogo, o time do Santos. Na Europa você até vê isso, mas na América do Sul não é normal. Foi inusitado. Comentamos entre nós mesmos que os colombianos haviam gostado do jogo, pelo futebol bonito, pelo prazer de ter visto uma partida muito boa. Essa goleada foi fundamental para o restante da Libertadores, pois nos deu muita confiança. Poderíamos ter sido campeões naquele ano, mas infelizmente não deu.”
5º lugar: Santos 4 x 2 Corinthians, em 2005
Depoimento de Gallo:
“Após a era Pelé, Giovanni e Robinho foram os dois grandes ídolos do Santos. E eles queriam muito jogar um com o outro. O Robinho sempre chamava o Giovanni de craque nos treinamentos. Disse que havia visto aquele time de 1995 e vibrado muito. E o Giovanni dava conselhos aos mais jovens e conversava bastante com o Robinho, inclusive sobre a Espanha, pois havia atuado cinco anos no Barcelona. O Giovanni é um cara muito simples, um gentleman, agradável de se trabalhar. Às vezes passa uma imagem de calado, por ser tímido, mas é um líder e tem uma influência positiva sobre os outros. Tentei dar o máximo de liberdade possível em campo ao Giovanni, até pela idade dele, para que ele pudesse servir Robinho e Deivid. Às vezes eu até recuava o Deivid para atuar como ponta-de-lança, para deixar o Giovanni livre. Eu sabia que, com Giovanni e Robinho juntos, sairia alguma coisa boa. Foi muito frustrante depois saber da anulação dessa partida, já que era a volta do Robinho ao time (após negociações com o Real Madrid). Esse era um time que poderia disputar o título. Depois perdemos Robinho e Deivid, que foram substituídos por Basílio e Geílson. A qualidade na frente caiu, mas nos mantivemos entre os primeiros. Até hoje, quando vou a Santos, falam desse time. E não entendem por que fui demitido. Na época alegaram que o time oscilava muito e temiam ficar fora da Libertadores. Mas estávamos sempre entre os primeiros, atrás de Corinthians e junto com Inter e Fluminense.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Corinthians 7 x 1 Santos, em 2005
Depoimento de Basílio (atualmente no Barueri):
“Foi o pior jogo da minha vida, a pior derrota. Perder de sete num clássico marca negativamente. Já tínhamos vencido o Corinthians por 4 a 2, mas o jogo foi remarcado e depois perdemos (3 a 2), o que revoltou os jogadores. O Santos começou bem o campeonato, com o Gallo no comando. Ele conhecia o elenco e nos apoiava. Depois chegou o Nelsinho Batista, que não fez um bom trabalho. Os jogadores que estavam no Santos desde 2004 não tinham a confiança no treinador, pois foram muitas mudanças no elenco, com algumas dispensas. Perdemos estabilidade. O Santos já estava longe da Libertadores. Por mais que você busque forças, acaba perdendo o foco. E o Corinthians brigava pelo título, tinha um time bem armado, com grandes jogadores. Aproveitou bem as oportunidades na partida. Eu entrei no segundo tempo, no lugar do Luizão, quando já estava 3 a 0 para o Corinthians. Não deu para fazer muita coisa, até porque logo depois tivemos um jogador expulso.”
2º lugar: Santos 0 x 5 Flamengo, em 1984:
Depoimento de Pita (atualmente trabalhando na Traffic):
“Montaram um time para conseguir títulos. Conseguimos chegar à final do Brasileiro de 1983 e tínhamos time para conquistar a Libertadores. Mas fizemos duas partidas ruins e atípicas contra o Flamengo. Santos x Flamengo era um confronto equilibrado, com ataques lá e cá, em que não se podia vacilar. O Flamengo tinha um timaço e era quase imbatível no Maracanã, embora tenha havido um pênalti claro em mim que não foi marcado na final do Brasileiro de 1983. Eu me machuquei num jogo contra o América de Cáli na Colômbia e voltei meia-boca para essa partida contra o Flamengo. Tivemos dois jogadores expulsos, mas é porque não é fácil perder de cinco. Nessa hora, o melhor a fazer é tocar a bola. O Santos tinha jogadores experientes e malandros, com um meio-campo forte, em que jogávamos eu, Paulo isidoro e Dema. Esse foi um dos melhores times em que atuei. Naquela época, a Libertadores não tinha essa importância toda, não era televisionada e tinha casos de doping. Era uma guerra. Não era fácil ganhar times estrangeiros lá fora.”
3º lugar: São Paulo 6 x 1 Santos, em 1993
Depoimento de Evaristo de Macedo:
“O Santos tinha feito um campeonato muito bom. Era um time competitivo. Se não era tecnicamente muito bom, tinha muita força física e era bem preparado. E compensava as deficiências com muita luta. Dependíamos de outro resultado (Novorizontino x Corinthians), mas, na hora em que começa um jogo, você se esquece do resto. No máximo, pergunta no intervalo como estão os jogos, mas isso nem interfere na sua atuação. Você sabe que de nada vai adiantar se não fizer a sua parte. O resultado contra o São Paulo foi ruim, mas lutamos até o fim. Acho que o árbitro se precipitou ao expulsar o Gallo. Não sei se ele expulsaria, no Morumbi, se o jogador fosse do São Paulo. Isso nos prejudicou. Mas eles tinham um grande time. Santos e São Paulo faziam jogos duros naquela época, sem favoritismo”
4º lugar: Santos 0 x 6 Palmeiras, em 1996
Depoimento de Jamelli:
“Lembro desse jogo, porque eu e Narciso estávamos voltando ao Santos depois de dois meses fora, jogando pelo Pré-Olímpico com a seleção brasileira. O time estava cheio de desfalques. Muitos não jogariam por lesão, e outros por suspensão. Não havia ninguém no time, apenas eu, Gallo e Giovanni. E o Palmeiras tinha um timaço. Não tinha o que fazer, eles atropelaram. Foi um dos jogos em que eu mais me senti impotente, porque o time estava com muitos desfalques, com mudança de treinador e enfrentando uma máquina. Naquela época, de cada dez jogos na Vila, o Santos ganhava sete, empatava dois e perdia um. Era o nosso alçapão. Mas levamos três gols cedo, num deles de bola parada, o que desestruturou o nosso time. Essa pode ter sido a maior goleada sofrida na minha carreira. O ambiente naquele Santos era excelente, éramos como uma família.”
5º lugar: Santos 0 x 1 CSA, em 2009
Depoimento de Vágner Mancini (atualmente no Vitória):
“Tivemos jogo no sábado pelo Paulistão, nos reapresentamos na segunda-feira e voltaríamos a jogar na quarta. Eu tinha que treinar primeiro para o jogo contra o CSA, mesmo porque até a bola era diferente. Apenas na quinta-feira é que treinaríamos em função do Corinthians (para a final do Paulistão). Montei o time das divisões de base como o CSA, para funcionar como um sparring. No jogo, os atletas não conseguiram tirar o foco da final. Não é a primeira vez que isso acontece no futebol, nem será a última. Você só pode ter alto rendimento se está totalmente concentrado. Se acontecesse uma próxima vez, eu tiraria o time que vai jogar na partida seguinte. Os reservas do Santos não teriam condição de ganhar do CSA na Vila? O que é melhor: um time B focado ou um time A sem foco? Nem levei em conta a eliminação do Botafogo (que estava no mesmo lado da chave) na hora de escalar, porque a vitória sobre o CSA era algo que deveria acontecer. O resultado não veio por fatalidade, pois perdemos uns dez gols inacreditáveis. Por mais importante que seja a Copa do Brasil, estávamos no meio de uma decisão do Paulista, contra o nosso maior rival. Não acho que a derrota para o CSA tenha interferido na final, porque o que decidiu foi a genialidade de um atleta. Ronaldo fez a diferença”
A seção desta semana traz dez partidas marcantes do Santos na história. Para falar de orgulhos e vergonhas, ouvimos Renato, Emerson Leão, Gallo, Jamelli, Vagner Mancini… Confira a seguir os Jogos na Memória dos santistas e os depoimentos de quem esteve lá.
Aproveite e deixe o seu recado nos comentários: sentiu falta de algum jogo? Quais partidas são motivo de orgulho ou vergonha?
OS ORGULHOS:
1º lugar: Benfica 2 x 5 Santos, em 1962
Depoimento de Pepe:
“O Santos jogava partidas nacionais e internacionais, misturando tudo. Jogávamos na Argentina, depois no Pacaembu, no Rio… Mas dessa vez, como se tratava de um Mundial, nos preparamos bem. E ganhamos com facilidade. O Benfica era nosso freguês de caderneta. Estive no Boavista há alguns anos e me encontrei com o Torres, centroavante alto do Benfica daquela época. Ele me confidenciou que o Benfica tinha muito medo do Santos e principalmente do Pelé. Essa partida foi um marco na história do Santos. Tiveram que mudar a Hora do Brasil de horário, para que as pessoas escutassem a partida pelo rádio. Os portugueses já pensavam no terceiro confronto, em Paris. Mas, quando começou o jogo, viram que a história seria outra. No Maracanã a partida foi mais dura porque o Benfica atuou mais recuado, marcando mais. Em Portugal, saíram para o jogo, sem preocupações defensivas e sem escalar alguém para marcar o Pelé. O meu gol nesse jogo foi o mais feio da minha carreira. Tabelei com o Coutinho, e a bola ficou mais para o Costa Pereira, goleiro deles. Só que o campo estava molhado, e ele foi escorregando, até quase sair da área, soltando a bola nos meus pés. Foi a maior partida que vi o Pelé fazer com a camisa do Santos. E foi a maior partida da história do Santos, junto com os 4 a 2 no Milan em 1963″
2º lugar: Santos 5 x 2 Fluminense, em 1995
Depoimento de Narciso (atualmente técnico dos juniores do Santos):
“Vi o primeiro jogo (vídeo acima) pela televisão. Fomos derrotados por 4 a 1 com três gols nos últimos 20 minutos e criamos muitas chances. Seria difícil reverter a vantagem, mas vi que os jogadores estavam confiantes pelo menos na vitória. Se a classificação viesse também, seria outra história. Para o jogo em São Paulo, perdemos dois jogadores por suspensão, o que acabou sendo positivo para o nosso propósito. O Robert e o Jamelli armavam jogadas e fechavam o meio-campo, enquanto o Macedo e o Camanducaia eram mais homens de frente e tinham mais velocidade. Treinamos muito nossas jogadas em velocidade, com a chegada de trás do Giovanni e do Marcelo Passos, e as finalizações. Sabíamos que teríamos muitas chances durante o jogo, por isso precisávamos ter frieza. As declarações no Fluminense aumentaram nossa motivação e fizeram com que crescêssemos. O Renato Gaúcho disse que sairia pelado do Pacaembu se o Fluminense não se classificasse. O Gaúcho falou que sairia de cueca. Disseram que a final seria carioca.
No começo do jogo, estávamos ansiosos. Depois que o Giovanni fez o primeiro gol, o time se tranquilizou. Nosso objetivo inicial era fazer 1 a 0 ou 2 a 0 no primeiro tempo e arriscar mais depois do intervalo. Mandamos duas bolas na trave depois que fizemos 2 a 0, e isso nos animou. Após o primeiro tempo, eu estava descendo para o vestiário e me chamaram de volta para o meio-campo. Acho que a ideia de permanecer em campo foi do Gallo ou do Giovanni. Foi legal, diferente. A torcida foi maravilhosa. O segundo tempo foi mais aberto para os dois times, e conseguimos os gols de que precisávamos. O Fluminense não esperava que jogássemos daquela maneira. No fim do jogo, quando fizemos 4 a 1, bateu um pouco de desespero no Fluminense, que começou a mandar bolas para a área. O Santos havia sido formado naquele ano. Eram jogadores jovens, pouco conhecidos, buscando seu espaço. O time jogava com alegria, era essa nossa maior virtude. Os treinamentos eram divertidos, e havia amizade entre os jogadores, até por serem quase todos da mesma faixa etária. O Giovanni vivia grande fase e era muito importante. Era o nosso desafogo. Passávamos a bola para ele e podíamos descansar um pouco, pois ele cadenciava o jogo e tinha bom controle de bola.”
3º lugar: Santos 3 x 1 São Paulo, em 2002
Depoimento de Emerson Leão:
“O maior desafio era provar que era um time adulto no mata-mata. Conseguiu o inverso do que acontece com muitos times e amadureceu na hora necessária. O campeonato com mata-mata pode ser maravilhoso, mas o mais correto é premiar o time que apresenta regularidade. E aquele Santos poderia ter conseguido sucesso se a disputa fosse por pontos corridos, já que ainda haveria todo um turno pela frente. Todos diziam que jovens ganhavam partidas, mas não um campeonato. Meu desafio foi tirar deles o excesso de responsabilidade, deixá-los à vontade para continuar jogando. Tínhamos muita confiança nos moleques, e o clima era muito bom. Jogar mal é que era novidade, por isso era perdoado quando acontecia. O Santos era um time com sucesso futuro, enquanto o São Paulo era um time com sucesso presente. Era agradável ver o Santos jogar”
4º lugar: América de Cáli 1 x 5 Santos, em 2003
Depoimento de Renato (atualmente no Sevilla):
“Seria a primeira vez que todos iriam jogar a Libertadores, um sonho para qualquer jogador. Perguntamos ao Rubens Cardoso (lateral reserva) como eram os jogos, e ele dizia que eram mais disputados, mais truncados, diferentes do Brasileirão. Mas não houve qualquer tumulto. Lembro que depois, num jogo no Paraguai (contra o 12 de Octubre), tivemos que tomar banho no hotel, porque o vestiário era pequeno demais. Na Colômbia, estávamos mais ansiosos do que o normal, por se tratar de uma competição nova. O Robinho estava bastante confiante, até pela trajetória dele em 2002. Procurou fazer o mesmo que no ano anterior, e as jogadas saíram com facilidade. Deu chapéu, elástico, pedalada… Fiquei surpreso quando a torcida aplaudiu a substituição do Robinho e, ao final do jogo, o time do Santos. Na Europa você até vê isso, mas na América do Sul não é normal. Foi inusitado. Comentamos entre nós mesmos que os colombianos haviam gostado do jogo, pelo futebol bonito, pelo prazer de ter visto uma partida muito boa. Essa goleada foi fundamental para o restante da Libertadores, pois nos deu muita confiança. Poderíamos ter sido campeões naquele ano, mas infelizmente não deu.”
5º lugar: Santos 4 x 2 Corinthians, em 2005
Depoimento de Gallo:
“Após a era Pelé, Giovanni e Robinho foram os dois grandes ídolos do Santos. E eles queriam muito jogar um com o outro. O Robinho sempre chamava o Giovanni de craque nos treinamentos. Disse que havia visto aquele time de 1995 e vibrado muito. E o Giovanni dava conselhos aos mais jovens e conversava bastante com o Robinho, inclusive sobre a Espanha, pois havia atuado cinco anos no Barcelona. O Giovanni é um cara muito simples, um gentleman, agradável de se trabalhar. Às vezes passa uma imagem de calado, por ser tímido, mas é um líder e tem uma influência positiva sobre os outros. Tentei dar o máximo de liberdade possível em campo ao Giovanni, até pela idade dele, para que ele pudesse servir Robinho e Deivid. Às vezes eu até recuava o Deivid para atuar como ponta-de-lança, para deixar o Giovanni livre. Eu sabia que, com Giovanni e Robinho juntos, sairia alguma coisa boa. Foi muito frustrante depois saber da anulação dessa partida, já que era a volta do Robinho ao time (após negociações com o Real Madrid). Esse era um time que poderia disputar o título. Depois perdemos Robinho e Deivid, que foram substituídos por Basílio e Geílson. A qualidade na frente caiu, mas nos mantivemos entre os primeiros. Até hoje, quando vou a Santos, falam desse time. E não entendem por que fui demitido. Na época alegaram que o time oscilava muito e temiam ficar fora da Libertadores. Mas estávamos sempre entre os primeiros, atrás de Corinthians e junto com Inter e Fluminense.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Corinthians 7 x 1 Santos, em 2005
Depoimento de Basílio (atualmente no Barueri):
“Foi o pior jogo da minha vida, a pior derrota. Perder de sete num clássico marca negativamente. Já tínhamos vencido o Corinthians por 4 a 2, mas o jogo foi remarcado e depois perdemos (3 a 2), o que revoltou os jogadores. O Santos começou bem o campeonato, com o Gallo no comando. Ele conhecia o elenco e nos apoiava. Depois chegou o Nelsinho Batista, que não fez um bom trabalho. Os jogadores que estavam no Santos desde 2004 não tinham a confiança no treinador, pois foram muitas mudanças no elenco, com algumas dispensas. Perdemos estabilidade. O Santos já estava longe da Libertadores. Por mais que você busque forças, acaba perdendo o foco. E o Corinthians brigava pelo título, tinha um time bem armado, com grandes jogadores. Aproveitou bem as oportunidades na partida. Eu entrei no segundo tempo, no lugar do Luizão, quando já estava 3 a 0 para o Corinthians. Não deu para fazer muita coisa, até porque logo depois tivemos um jogador expulso.”
2º lugar: Santos 0 x 5 Flamengo, em 1984:
Depoimento de Pita (atualmente trabalhando na Traffic):
“Montaram um time para conseguir títulos. Conseguimos chegar à final do Brasileiro de 1983 e tínhamos time para conquistar a Libertadores. Mas fizemos duas partidas ruins e atípicas contra o Flamengo. Santos x Flamengo era um confronto equilibrado, com ataques lá e cá, em que não se podia vacilar. O Flamengo tinha um timaço e era quase imbatível no Maracanã, embora tenha havido um pênalti claro em mim que não foi marcado na final do Brasileiro de 1983. Eu me machuquei num jogo contra o América de Cáli na Colômbia e voltei meia-boca para essa partida contra o Flamengo. Tivemos dois jogadores expulsos, mas é porque não é fácil perder de cinco. Nessa hora, o melhor a fazer é tocar a bola. O Santos tinha jogadores experientes e malandros, com um meio-campo forte, em que jogávamos eu, Paulo isidoro e Dema. Esse foi um dos melhores times em que atuei. Naquela época, a Libertadores não tinha essa importância toda, não era televisionada e tinha casos de doping. Era uma guerra. Não era fácil ganhar times estrangeiros lá fora.”
3º lugar: São Paulo 6 x 1 Santos, em 1993
Depoimento de Evaristo de Macedo:
“O Santos tinha feito um campeonato muito bom. Era um time competitivo. Se não era tecnicamente muito bom, tinha muita força física e era bem preparado. E compensava as deficiências com muita luta. Dependíamos de outro resultado (Novorizontino x Corinthians), mas, na hora em que começa um jogo, você se esquece do resto. No máximo, pergunta no intervalo como estão os jogos, mas isso nem interfere na sua atuação. Você sabe que de nada vai adiantar se não fizer a sua parte. O resultado contra o São Paulo foi ruim, mas lutamos até o fim. Acho que o árbitro se precipitou ao expulsar o Gallo. Não sei se ele expulsaria, no Morumbi, se o jogador fosse do São Paulo. Isso nos prejudicou. Mas eles tinham um grande time. Santos e São Paulo faziam jogos duros naquela época, sem favoritismo”
4º lugar: Santos 0 x 6 Palmeiras, em 1996
Depoimento de Jamelli:
“Lembro desse jogo, porque eu e Narciso estávamos voltando ao Santos depois de dois meses fora, jogando pelo Pré-Olímpico com a seleção brasileira. O time estava cheio de desfalques. Muitos não jogariam por lesão, e outros por suspensão. Não havia ninguém no time, apenas eu, Gallo e Giovanni. E o Palmeiras tinha um timaço. Não tinha o que fazer, eles atropelaram. Foi um dos jogos em que eu mais me senti impotente, porque o time estava com muitos desfalques, com mudança de treinador e enfrentando uma máquina. Naquela época, de cada dez jogos na Vila, o Santos ganhava sete, empatava dois e perdia um. Era o nosso alçapão. Mas levamos três gols cedo, num deles de bola parada, o que desestruturou o nosso time. Essa pode ter sido a maior goleada sofrida na minha carreira. O ambiente naquele Santos era excelente, éramos como uma família.”
5º lugar: Santos 0 x 1 CSA, em 2009
Depoimento de Vágner Mancini (atualmente no Vitória):
“Tivemos jogo no sábado pelo Paulistão, nos reapresentamos na segunda-feira e voltaríamos a jogar na quarta. Eu tinha que treinar primeiro para o jogo contra o CSA, mesmo porque até a bola era diferente. Apenas na quinta-feira é que treinaríamos em função do Corinthians (para a final do Paulistão). Montei o time das divisões de base como o CSA, para funcionar como um sparring. No jogo, os atletas não conseguiram tirar o foco da final. Não é a primeira vez que isso acontece no futebol, nem será a última. Você só pode ter alto rendimento se está totalmente concentrado. Se acontecesse uma próxima vez, eu tiraria o time que vai jogar na partida seguinte. Os reservas do Santos não teriam condição de ganhar do CSA na Vila? O que é melhor: um time B focado ou um time A sem foco? Nem levei em conta a eliminação do Botafogo (que estava no mesmo lado da chave) na hora de escalar, porque a vitória sobre o CSA era algo que deveria acontecer. O resultado não veio por fatalidade, pois perdemos uns dez gols inacreditáveis. Por mais importante que seja a Copa do Brasil, estávamos no meio de uma decisão do Paulista, contra o nosso maior rival. Não acho que a derrota para o CSA tenha interferido na final, porque o que decidiu foi a genialidade de um atleta. Ronaldo fez a diferença”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos atleticanos
sex, 11/09/09
por bernardo ferreira |
categoria Atlético-MG, Jogos na Memória
Confira a seguir os Jogos na Memória desta
semana, com o Atlético-MG. Os momentos marcantes são lembrados por
jogadores como Guilherme, Robert, Euller, Marcelo Djian, Sérgio Araújo…
Sentiu falta de alguma partida? E, na sua opinião, quais jogos são motivo de orgulho e de vergonha para os atleticanos? Mande o recado nos comentários.
OS ORGULHOS
1º lugar: Botafogo 0 x 1 Atlético-MG, em 1971
Depoimento de Humberto Ramos:
“O Atlético mescalava jovens, como eu, e jogadores experientes. Tinha dois zagueiros muito bons, o Grapete e o Vantuir, eu e Vanderlei no meio-campo, e no ataque o artilheiro do campeonato, o Dadá. E tinha no comando o Telê Santana, que gostava de um time que jogasse para frente e era avesso a violência e indisciplina. Nunca mandou pegar um adversário. Por isso, ganhamos naquele ano o Troféu Disciplina. Palmeiras, Cruzeiro, Santos e Inter eram mais virtuosos do que o Atlético-MG. No triangular, o São Paulo era o favorito, sem dúvida. Ganhamos deles no Mineirão, com uma defesa milagrosa do Renato. Foi ali que passei a acreditar no título. O Botafogo via como remota a possibilidade de título, porque era muito difícil nos vencer por seis gols. Eles tentariam ganhar de qualquer jeito, e se isso acontecesse o São Paulo seria campeão. Mas o maior motivador para o Botafogo foi o dinheiro prometido pelo São Paulo. O Gérson havia conversado sobre isso com o Jairzinho, que comentou com o Oldair em campo. Mas não podíamos deixar escapar o título. Não teve orientação especial do Telê para esse jogo. Atuamos como sempre fazíamos, qualquer que fosse o adversário. Quando marcamos o gol, me ajoelhei no gramado porque tinha visto o Petráš, da Tchecoslováquia, fazer isso na Copa do Mundo. E fiquei sensibilizado quando vi, achei um gesto bonito. Por isso me ajoelhei para agradecer a Deus. Com aquele gol, matamos o Botafogo. Eu ainda tive chance de fazer o segundo gol, mas perdi por excesso de preciosismo.”
2º lugar: Atlético-MG 3 x 2 Cruzeiro, em 1999
Depoimento de Robert:
“O Cruzeiro tinha teoricamente um time melhor e era mais badalado. Nosso time foi feito naquele ano e se deu muito bem: conquistou dois títulos mineiros, chegou á final do Brasileiro contra o Corinthians e ganhou um torneio no Vietnã. Era um time com garra e muito bem montado, com jogadores certos no momento certo. A imprensa, de um modo geral, dava como certa a nossa derrota, mesmo que já tivéssemos eliminado o Cruzeiro no Estadual. Eles estavam de salto alto, pelo momento que viviam e pelos jogadores que tinham. O Levir reclamou, após a primeira fase, que havia perdido a vantagem por ter se classificado em segundo lugar, já que os dois jogos seriam no Mineirão. Essa declaração deu moral ao Atlético. Pensamos: ‘Eles estão temerosos, estão nos respeitando. Se ele está falando isso, é porque temos qualidade’. Conseguimos a classificação na raça e eliminamos o Cruzeiro. Foi muito bom”
3º lugar: Atlético-MG 4 x 0 Cruzeiro, em 2007
Depoimento de Danilinho (atualmente no Jaguares-MEX):
“Quando enfrentamos o Cruzeiro na primeira fase precisávamos do resultado para conseguir a classificação, por isso fizemos 3 a 1. Naquele momento foi mais na base da vontade, mas sabíamos que tínhamos qualidade, mesmo com o Cruzeiro fazendo melhor campanha. O Atlético tinha um time rápido, com a dupla de ataque formada por mim e Éder Luís, e com o Marcinho armando as jogadas. Era comum atuarmos atrás do meio-campo e explorarmos os contra-ataques. No primeiro tempo, criamos muitas chances. Em algumas situações, você se pergunta: ‘Será que a bola não vai entrar?’. Mas estávamos confiantes, principalmente depois que o Gladstone foi expulso. Era importante manter a tranquilidade para o segundo tempo. No vestiário, o Levir pediu para mantermos a pegada. Não podíamos deixar a vitória escapar com um jogador a mais. Marcamos o primeiro gol cedo, numa jogada em que o Bilu roubou a bola, me lançou na ponta e eu cruzei para o Éder Luís. O Bilu roubava muitas bolas e tinha um bom passe. Foi um dos melhores em campo. Depois tivemos chances com o Galvão e o Eder Luis, mas não nos desesperamos. Já tínhamos a vantagem. No fim fomos premiados com três gols. O segundo foi o mais marcante da minha carreira, por tudo o que fiz no Atlético e por ter sido num clássico contra o Cruzeiro. Depois que fizemos 3 a 0, imaginamos que bateria o desespero no Cruzeiro. Estávamos tão concentrados, que eu e Vanderlei fomos para o abafa na saída de bola. Ele roubou a bola e viu o Fábio de costas. Com 4 a 0, a final já estava resolvida, por mais que houvesse o jogo de volta.”
4º lugar: Inter 0 x 3 Atlético-MG, em 1980
Depoimento de Palhinha (atualmente comentarista):
“O Atlético vinha com uma turma boa, e nesse ano chegamos eu, Chicão e Éder. Eu e Chicão fomos contratados para dar mais experiência ao time, que era muito novo. Passamos a ter essa mistura, além de conciliar técnica e força, que era uma das nossas grandes virtudes. Era um time vencedor. Naquele ano ganhamos mais com bichos do que com nossos ordenados. Na sua fase boa, o Atlético teve dois times que marcaram: o de 1977, quando subiram jogadores como Reinaldo e Marcelo, e o de 1980. O Inter tinha um estilo parecido ao do Atlético: marcava bem, tinha força física e jogava de forma bem ofensiva. Sabíamos que seria um jogo difícil, pois o Inter viria para cima. Então, nos armamos para atuar no contra-ataque. O Atlético fez uma grande partida, tanto é que eliminou o Inter – que vinha com uma grande campanha – da maneira que foi. Naquele campeonato, Atlético, Inter e Flamengo estavam em grande fase. Infelizmente, fomos prejudicados pelo árbitro na final contra o Flamengo, no Rio.”
5º lugar: Corinthians 0 x 4 Atlético-MG, em 1999
Depoimento de Guilherme:
“Tínhamos um time equilibrado, com o Gallo e o Valdir Benedito atrás, além do Velloso no gol. O ataque se saiu bem. O Marques estava numa fase espetacular, voando baixo e caindo pelos dois lados do campo, e eu tive um ano inesquecível como finalizador. Jogamos muito naquela partida. É verdade que havia uma diferença de disposição entre o Atlético e o Corinthians, mas não dá para tirar os méritos do nosso time. Além disso, o Corinthians tinha o Cruzeiro no encalço e brigava pelo primeiro lugar. O Corinthians tinha o melhor time da competição, mas o Atlético fez o jogo ficar fácil. O nosso time sempre jogava para frente, não tinha jeito. Todos diziam que o Atlético éramos só eu e Marques, mas ninguém conseguia nos marcar. Jogávamos num 4-4-2 clássico, difícil de se ver hoje. O time nem era tão espetacular, e havia outros melhores. Mas chegou à final pela vontade, pelo comprometimento entre os jogadores. No mata-mata, não teve para ninguém. O Darío Pereyra saiu depois, por problemas com a diretoria, e entrou o Humberto Ramos. Mas aquele time iria andar com qualquer um no comando. Foi o ano em que o Atlético começou a se estruturar, até se transformar no que é hoje. Até então, não havia nada. Tínhamos que viajar para treinar, por exemplo.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Atlético-MG 0 x 5 Cruzeiro, em 2008
Depoimento de Juninho (atualmente no Juventude):
“Havia expectativa nem tanto pelo centenário, mas porque em 2007 o Atlético havia conquistado o Mineiro e terminado bem o Brasileirão. A massa atleticana ficou esperando um presente no início do ano. O time começou bem no jogo, mas facilitou para o Cruzeiro. Era o jogo mais importante do ano, pois decidiria um título no centenário e nos daria mais tranquilidade para o resto da temporada. Foi o que aconteceu neste ano com o Inter, que ganhou o Gaúcho e agora pode trabalhar com calma. Tínhamos jogadores experientes no Atlético, como Petkovic, Souza e Marques, mas nem assim foi suficiente para ajudar os mais novos. Toda equipe precisa ter uma defesa forte para dar confiança ao ataque. E era assim como o Atlético, pois o Geninho treinava muito os goleiros e os homens de defesa. Para aquele jogo, tivemos problemas de contusão, o que atrapalhou. Levamos gols em erros individuais e coletivos. Era preciso ter alguém para impedir a cabeçada no primeiro gol (de Marcelo Moreno), e deveríamos ter matado o contra-ataque na jogada do segundo gol. Depois, o time perdeu a cabeça e quis resolver, indo para a frente. No intervalo, perdendo por 3 a 0, partimos para o tudo ou nada. Perdido por três, perdido por cinco. O Geninho trocou os dois laterais, mantendo o esquema no 4-4-2, mas atacaríamos como num 3-5-2. Ficamos mais ofensivos, mas aumentou a responsabilidade dos zagueiros, que teriam de cobrir as laterais. Naquele dia nada deu certo. Quem está realmente concentrado na partida não percebe a torcida deixando o estádio. Mas às vezes bate um desânimo e você olha em volta, principalmente no caso do Atlético, que tem sua força não apenas dentro de campo. Quando chegaram os momentos finais, depois de tentar tantas vezes e a bola não entrar, você acaba torcendo para o jogo terminar logo. Não adiantava tentar, porque não estava dando certo. Outros jogadores pensaram da mesma maneira. Podia acontecer para qualquer um dos lados, mas infelizmente aconteceu com o nosso”
2º lugar: Rosario Central 4 x 0 Atlético-MG, em 1995
Depoimento de Euller (atualmente no América-MG):
“O que eu lembro desse jogo é foguete, bagunça, foguete, bagunça… Os torcedores do Rosario invadiram o campo e partiram para cima da gente depois da partida mesmo ganhando. Imagina se tivessem perdido… Eu levei duas coronhadas nas costas, arrancaram a minha camisa e quase tiraram o meu short. A maioria dos jogadores chegou pelada e machucada ao vestiário. E ainda soltaram foguetes dentro do vestiário, ficamos acuados. São coisas que acontecem na Argentina, principalmente em Rosário. Antes do jogo, soltaram foguetes no hotel durante a madrugada. Aí chegou a polícia e fez mais barulho ainda. A caminho do estádio, bateram no nosso ônibus com pedras e bombas. Durante o jogo, tivemos chances para marcar, mas o Rosario foi agressivo e teve felicidade de marcar quatro gols, assim como o primeiro jogo foi nosso. O Taffarel não esteve bem naquela noite, mas espero que todos tenham consciência de que todos podem errar, mesmo os maiores goleiros. No intervalo, o Procópio pediu para não deixarmos a peteca cair e agredir o adversário, para que ele recuasse um pouco. Acho que o time se defendeu muito no segundo tempo. Chegou um momento em que o Rosario partiu para o tudo ou nada, e o número de atacantes deles falou mais alto. Na hora da decisão por pênaltis, eles estavam muito mais confiantes. Aquilo não estava programado, embora tivéssemos treinado.”
3º lugar: Atlético-MG 2 x 3 Fortaleza, em 2005
Depoimento de Marco Aurélio:
“O Carlos Alberto Silva era diretor do Atlético na época e meu amigo. Conversamos muito sobre a situação do time, que tinha 40 ou 50 jogadores e precisava passar por uma reformulação. Comecei a fazer isso, trazendo jogadores dos juniores, outros de fora, e afastando alguns. Mas chegou uma hora em que precisei sair para dar espaço para que outro terminasse a reformulação. Era difícil cobrar algo com os salários atrasando, cheques retornando… Houve jogador que veio até mim e disse: ‘Marco, para mim não dá mais, eu já larguei’. Estavam desmotivados, já tinham largado. Chegamos a conseguir uma boa sequência de resultados, mas os problemas internos atrapalharam. Quando saí, avisei: ‘Faz um time pensando no ano que vem, porque esse aí já era’. A vitória por 2 a 0 sobre o Fortaleza estava caindo do céu. Não estávamos merecendo. E aí o nosso goleiro (Diego) se complicou em uma bola fácil, embora estivesse bem no jogo. Foi uma infelicidade. A torcida queria que o Danrlei jogasse, mas ele não tinha mais espaço. Eu avisei que, se não dava para o Bruno jogar, entraria o Diego, que é fera. Hoje ele está bem na Espanha, o que mostra que eu tinha razão.”
4º lugar: Atlético-MG 0 x 3 Brasiliense, em 2002
Depoimento de Marcelo Djian (atualmente empresário de jogadores):
“O Brasiliense tinha um time bem montado, e tivemos alguns desfalques nesse jogo. O principal deles foi o Marques, que era decisivo. O jogo foi uma catástrofe, e ficou quase impossível de inverter a vantagem deles. Tanto que perdemos lá por 2 a 1 (no Distrito Federal). O Brasiliense não tinha a tradição do Atlético, mas estava bem montado, com jogadores rápidos na frente, principalmente o Wellington Dias, e marcação forte na defesa. Depois que levamos o primeiro gol, ficamos desprotegidos, pois tínhamos que correr atrás para melhorar o resultado em casa. Tivemos que nos expor. Nossa torcida estava empolgada, mas teve a segunda decepção em seis meses, já que havíamos perdido de virada para o São Caetano na semifinal do Brasileiro de 2001″
5º lugar: Botafogo 3 x 0 Atlético-MG, em 1993
Depoimento de Sérgio Araújo (atualmente técnico de divisões de base):
“Houve uma mudança muito grande entre os times de 1987 e o de 1993. O Atlético tinha muitos jogadores qualificados e mudou muito o elenco. Entrou num processo de decadência que dura até hoje. A exceção foi aquele time que tinha Guilherme e Marques, em 1999. O Atlético estava formando um novo time em 1993, depois do título da Conmebol, no ano anterior. Muitos jogadores saíram, como o Moacir, que foi para o Atlético de Madri, e o Aílton, que foi para Portugal (Benfica). Achamos que o jogo já estava ganho, depois que fizemos 3 a 1 na primeira partida. Foi uma derrota desastrosa. Depois, o time só caiu, só levou pancada. Não foi um bom ano. Mudava muito, já não tinha o entrosamento de antes. Eu saí pouco tempo depois, para o Flamengo”
Sentiu falta de alguma partida? E, na sua opinião, quais jogos são motivo de orgulho e de vergonha para os atleticanos? Mande o recado nos comentários.
OS ORGULHOS
1º lugar: Botafogo 0 x 1 Atlético-MG, em 1971
Depoimento de Humberto Ramos:
“O Atlético mescalava jovens, como eu, e jogadores experientes. Tinha dois zagueiros muito bons, o Grapete e o Vantuir, eu e Vanderlei no meio-campo, e no ataque o artilheiro do campeonato, o Dadá. E tinha no comando o Telê Santana, que gostava de um time que jogasse para frente e era avesso a violência e indisciplina. Nunca mandou pegar um adversário. Por isso, ganhamos naquele ano o Troféu Disciplina. Palmeiras, Cruzeiro, Santos e Inter eram mais virtuosos do que o Atlético-MG. No triangular, o São Paulo era o favorito, sem dúvida. Ganhamos deles no Mineirão, com uma defesa milagrosa do Renato. Foi ali que passei a acreditar no título. O Botafogo via como remota a possibilidade de título, porque era muito difícil nos vencer por seis gols. Eles tentariam ganhar de qualquer jeito, e se isso acontecesse o São Paulo seria campeão. Mas o maior motivador para o Botafogo foi o dinheiro prometido pelo São Paulo. O Gérson havia conversado sobre isso com o Jairzinho, que comentou com o Oldair em campo. Mas não podíamos deixar escapar o título. Não teve orientação especial do Telê para esse jogo. Atuamos como sempre fazíamos, qualquer que fosse o adversário. Quando marcamos o gol, me ajoelhei no gramado porque tinha visto o Petráš, da Tchecoslováquia, fazer isso na Copa do Mundo. E fiquei sensibilizado quando vi, achei um gesto bonito. Por isso me ajoelhei para agradecer a Deus. Com aquele gol, matamos o Botafogo. Eu ainda tive chance de fazer o segundo gol, mas perdi por excesso de preciosismo.”
2º lugar: Atlético-MG 3 x 2 Cruzeiro, em 1999
Depoimento de Robert:
“O Cruzeiro tinha teoricamente um time melhor e era mais badalado. Nosso time foi feito naquele ano e se deu muito bem: conquistou dois títulos mineiros, chegou á final do Brasileiro contra o Corinthians e ganhou um torneio no Vietnã. Era um time com garra e muito bem montado, com jogadores certos no momento certo. A imprensa, de um modo geral, dava como certa a nossa derrota, mesmo que já tivéssemos eliminado o Cruzeiro no Estadual. Eles estavam de salto alto, pelo momento que viviam e pelos jogadores que tinham. O Levir reclamou, após a primeira fase, que havia perdido a vantagem por ter se classificado em segundo lugar, já que os dois jogos seriam no Mineirão. Essa declaração deu moral ao Atlético. Pensamos: ‘Eles estão temerosos, estão nos respeitando. Se ele está falando isso, é porque temos qualidade’. Conseguimos a classificação na raça e eliminamos o Cruzeiro. Foi muito bom”
3º lugar: Atlético-MG 4 x 0 Cruzeiro, em 2007
Depoimento de Danilinho (atualmente no Jaguares-MEX):
“Quando enfrentamos o Cruzeiro na primeira fase precisávamos do resultado para conseguir a classificação, por isso fizemos 3 a 1. Naquele momento foi mais na base da vontade, mas sabíamos que tínhamos qualidade, mesmo com o Cruzeiro fazendo melhor campanha. O Atlético tinha um time rápido, com a dupla de ataque formada por mim e Éder Luís, e com o Marcinho armando as jogadas. Era comum atuarmos atrás do meio-campo e explorarmos os contra-ataques. No primeiro tempo, criamos muitas chances. Em algumas situações, você se pergunta: ‘Será que a bola não vai entrar?’. Mas estávamos confiantes, principalmente depois que o Gladstone foi expulso. Era importante manter a tranquilidade para o segundo tempo. No vestiário, o Levir pediu para mantermos a pegada. Não podíamos deixar a vitória escapar com um jogador a mais. Marcamos o primeiro gol cedo, numa jogada em que o Bilu roubou a bola, me lançou na ponta e eu cruzei para o Éder Luís. O Bilu roubava muitas bolas e tinha um bom passe. Foi um dos melhores em campo. Depois tivemos chances com o Galvão e o Eder Luis, mas não nos desesperamos. Já tínhamos a vantagem. No fim fomos premiados com três gols. O segundo foi o mais marcante da minha carreira, por tudo o que fiz no Atlético e por ter sido num clássico contra o Cruzeiro. Depois que fizemos 3 a 0, imaginamos que bateria o desespero no Cruzeiro. Estávamos tão concentrados, que eu e Vanderlei fomos para o abafa na saída de bola. Ele roubou a bola e viu o Fábio de costas. Com 4 a 0, a final já estava resolvida, por mais que houvesse o jogo de volta.”
4º lugar: Inter 0 x 3 Atlético-MG, em 1980
Depoimento de Palhinha (atualmente comentarista):
“O Atlético vinha com uma turma boa, e nesse ano chegamos eu, Chicão e Éder. Eu e Chicão fomos contratados para dar mais experiência ao time, que era muito novo. Passamos a ter essa mistura, além de conciliar técnica e força, que era uma das nossas grandes virtudes. Era um time vencedor. Naquele ano ganhamos mais com bichos do que com nossos ordenados. Na sua fase boa, o Atlético teve dois times que marcaram: o de 1977, quando subiram jogadores como Reinaldo e Marcelo, e o de 1980. O Inter tinha um estilo parecido ao do Atlético: marcava bem, tinha força física e jogava de forma bem ofensiva. Sabíamos que seria um jogo difícil, pois o Inter viria para cima. Então, nos armamos para atuar no contra-ataque. O Atlético fez uma grande partida, tanto é que eliminou o Inter – que vinha com uma grande campanha – da maneira que foi. Naquele campeonato, Atlético, Inter e Flamengo estavam em grande fase. Infelizmente, fomos prejudicados pelo árbitro na final contra o Flamengo, no Rio.”
5º lugar: Corinthians 0 x 4 Atlético-MG, em 1999
Depoimento de Guilherme:
“Tínhamos um time equilibrado, com o Gallo e o Valdir Benedito atrás, além do Velloso no gol. O ataque se saiu bem. O Marques estava numa fase espetacular, voando baixo e caindo pelos dois lados do campo, e eu tive um ano inesquecível como finalizador. Jogamos muito naquela partida. É verdade que havia uma diferença de disposição entre o Atlético e o Corinthians, mas não dá para tirar os méritos do nosso time. Além disso, o Corinthians tinha o Cruzeiro no encalço e brigava pelo primeiro lugar. O Corinthians tinha o melhor time da competição, mas o Atlético fez o jogo ficar fácil. O nosso time sempre jogava para frente, não tinha jeito. Todos diziam que o Atlético éramos só eu e Marques, mas ninguém conseguia nos marcar. Jogávamos num 4-4-2 clássico, difícil de se ver hoje. O time nem era tão espetacular, e havia outros melhores. Mas chegou à final pela vontade, pelo comprometimento entre os jogadores. No mata-mata, não teve para ninguém. O Darío Pereyra saiu depois, por problemas com a diretoria, e entrou o Humberto Ramos. Mas aquele time iria andar com qualquer um no comando. Foi o ano em que o Atlético começou a se estruturar, até se transformar no que é hoje. Até então, não havia nada. Tínhamos que viajar para treinar, por exemplo.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Atlético-MG 0 x 5 Cruzeiro, em 2008
Depoimento de Juninho (atualmente no Juventude):
“Havia expectativa nem tanto pelo centenário, mas porque em 2007 o Atlético havia conquistado o Mineiro e terminado bem o Brasileirão. A massa atleticana ficou esperando um presente no início do ano. O time começou bem no jogo, mas facilitou para o Cruzeiro. Era o jogo mais importante do ano, pois decidiria um título no centenário e nos daria mais tranquilidade para o resto da temporada. Foi o que aconteceu neste ano com o Inter, que ganhou o Gaúcho e agora pode trabalhar com calma. Tínhamos jogadores experientes no Atlético, como Petkovic, Souza e Marques, mas nem assim foi suficiente para ajudar os mais novos. Toda equipe precisa ter uma defesa forte para dar confiança ao ataque. E era assim como o Atlético, pois o Geninho treinava muito os goleiros e os homens de defesa. Para aquele jogo, tivemos problemas de contusão, o que atrapalhou. Levamos gols em erros individuais e coletivos. Era preciso ter alguém para impedir a cabeçada no primeiro gol (de Marcelo Moreno), e deveríamos ter matado o contra-ataque na jogada do segundo gol. Depois, o time perdeu a cabeça e quis resolver, indo para a frente. No intervalo, perdendo por 3 a 0, partimos para o tudo ou nada. Perdido por três, perdido por cinco. O Geninho trocou os dois laterais, mantendo o esquema no 4-4-2, mas atacaríamos como num 3-5-2. Ficamos mais ofensivos, mas aumentou a responsabilidade dos zagueiros, que teriam de cobrir as laterais. Naquele dia nada deu certo. Quem está realmente concentrado na partida não percebe a torcida deixando o estádio. Mas às vezes bate um desânimo e você olha em volta, principalmente no caso do Atlético, que tem sua força não apenas dentro de campo. Quando chegaram os momentos finais, depois de tentar tantas vezes e a bola não entrar, você acaba torcendo para o jogo terminar logo. Não adiantava tentar, porque não estava dando certo. Outros jogadores pensaram da mesma maneira. Podia acontecer para qualquer um dos lados, mas infelizmente aconteceu com o nosso”
2º lugar: Rosario Central 4 x 0 Atlético-MG, em 1995
Depoimento de Euller (atualmente no América-MG):
“O que eu lembro desse jogo é foguete, bagunça, foguete, bagunça… Os torcedores do Rosario invadiram o campo e partiram para cima da gente depois da partida mesmo ganhando. Imagina se tivessem perdido… Eu levei duas coronhadas nas costas, arrancaram a minha camisa e quase tiraram o meu short. A maioria dos jogadores chegou pelada e machucada ao vestiário. E ainda soltaram foguetes dentro do vestiário, ficamos acuados. São coisas que acontecem na Argentina, principalmente em Rosário. Antes do jogo, soltaram foguetes no hotel durante a madrugada. Aí chegou a polícia e fez mais barulho ainda. A caminho do estádio, bateram no nosso ônibus com pedras e bombas. Durante o jogo, tivemos chances para marcar, mas o Rosario foi agressivo e teve felicidade de marcar quatro gols, assim como o primeiro jogo foi nosso. O Taffarel não esteve bem naquela noite, mas espero que todos tenham consciência de que todos podem errar, mesmo os maiores goleiros. No intervalo, o Procópio pediu para não deixarmos a peteca cair e agredir o adversário, para que ele recuasse um pouco. Acho que o time se defendeu muito no segundo tempo. Chegou um momento em que o Rosario partiu para o tudo ou nada, e o número de atacantes deles falou mais alto. Na hora da decisão por pênaltis, eles estavam muito mais confiantes. Aquilo não estava programado, embora tivéssemos treinado.”
3º lugar: Atlético-MG 2 x 3 Fortaleza, em 2005
Depoimento de Marco Aurélio:
“O Carlos Alberto Silva era diretor do Atlético na época e meu amigo. Conversamos muito sobre a situação do time, que tinha 40 ou 50 jogadores e precisava passar por uma reformulação. Comecei a fazer isso, trazendo jogadores dos juniores, outros de fora, e afastando alguns. Mas chegou uma hora em que precisei sair para dar espaço para que outro terminasse a reformulação. Era difícil cobrar algo com os salários atrasando, cheques retornando… Houve jogador que veio até mim e disse: ‘Marco, para mim não dá mais, eu já larguei’. Estavam desmotivados, já tinham largado. Chegamos a conseguir uma boa sequência de resultados, mas os problemas internos atrapalharam. Quando saí, avisei: ‘Faz um time pensando no ano que vem, porque esse aí já era’. A vitória por 2 a 0 sobre o Fortaleza estava caindo do céu. Não estávamos merecendo. E aí o nosso goleiro (Diego) se complicou em uma bola fácil, embora estivesse bem no jogo. Foi uma infelicidade. A torcida queria que o Danrlei jogasse, mas ele não tinha mais espaço. Eu avisei que, se não dava para o Bruno jogar, entraria o Diego, que é fera. Hoje ele está bem na Espanha, o que mostra que eu tinha razão.”
4º lugar: Atlético-MG 0 x 3 Brasiliense, em 2002
Depoimento de Marcelo Djian (atualmente empresário de jogadores):
“O Brasiliense tinha um time bem montado, e tivemos alguns desfalques nesse jogo. O principal deles foi o Marques, que era decisivo. O jogo foi uma catástrofe, e ficou quase impossível de inverter a vantagem deles. Tanto que perdemos lá por 2 a 1 (no Distrito Federal). O Brasiliense não tinha a tradição do Atlético, mas estava bem montado, com jogadores rápidos na frente, principalmente o Wellington Dias, e marcação forte na defesa. Depois que levamos o primeiro gol, ficamos desprotegidos, pois tínhamos que correr atrás para melhorar o resultado em casa. Tivemos que nos expor. Nossa torcida estava empolgada, mas teve a segunda decepção em seis meses, já que havíamos perdido de virada para o São Caetano na semifinal do Brasileiro de 2001″
5º lugar: Botafogo 3 x 0 Atlético-MG, em 1993
Depoimento de Sérgio Araújo (atualmente técnico de divisões de base):
“Houve uma mudança muito grande entre os times de 1987 e o de 1993. O Atlético tinha muitos jogadores qualificados e mudou muito o elenco. Entrou num processo de decadência que dura até hoje. A exceção foi aquele time que tinha Guilherme e Marques, em 1999. O Atlético estava formando um novo time em 1993, depois do título da Conmebol, no ano anterior. Muitos jogadores saíram, como o Moacir, que foi para o Atlético de Madri, e o Aílton, que foi para Portugal (Benfica). Achamos que o jogo já estava ganho, depois que fizemos 3 a 1 na primeira partida. Foi uma derrota desastrosa. Depois, o time só caiu, só levou pancada. Não foi um bom ano. Mudava muito, já não tinha o entrosamento de antes. Eu saí pouco tempo depois, para o Flamengo”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos vascaínos
sex, 04/09/09
por bernardo ferreira |
categoria Jogos na Memória, vasco
Texto: Bernardo Ferreira
Quais jogos enchem a torcida vascaína de orgulho? E quais são motivo de vergonha? Aí embaixo estão as listas elaboradas pelo GLOBOESPORTE.COM, com depoimentos de quem esteve lá: Roberto Dinamite, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Mauro Galvão…
Você também pode formular a sua lista – é só deixar um recado nos comentários.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Palmeiras 3 x 4 Vasco, em 2000
Depoimento de Juninho Paulista (atualmente diretor do Ituano):
“Tínhamos empatado por 2 a 2 com o Cruzeiro, e o Oswaldo de Oliveira saiu por causa de um entrevero com o Eurico Miranda. Ficou um clima muito ruim, porque ele tinha o grupo na mão e estava conseguindo os resultados. É ruim trocar o treinador numa hora dessas. Eu, Romário e Juninho Pernambucano fomos falar com o Eurico e o Oswaldo, mas não teve jeito. Conseguimos ganhar do Palmeiras porque tínhamos um time muito bom, um dos melhores da minha carreira. Caso contrário, não conseguiríamos. O primeiro tempo, com o nosso time apático, refletiu essa troca no comando. O primeiro gol do Palmeiras, de pênalti, foi um erro do Júnior Baiano, que admitiu isso. Não sei o que deu na cabeça dele. Mas o grupo era muito unido e superava esses problemas em campo. Após o primeiro gol, nosso time ficou desestabilizado, perdido. Dos males, o menor: o fato de os três gols saírem já no fim do primeiro tempo interrompeu a pressão do Palmeiras. Poderia ter sido pior. Chegamos cabisbaixos ao vestiário, mas conversamos e falamos que tínhamos que jogar. O clima foi ameno, ninguém gritou ou procurou um culpado.
Fomos para o tudo ou nada no segundo tempo, com o Viola, que entrou muito bem. E o Palmeiras nos ajudou, por ter relaxado e recuado. Quando quis acordar, já estávamos em cima, dominando a partida. Alguns jogadores do Palmeiras já achavam que eram campeões. Ouvi gente dizendo isso em campo, o que foi uma infelicidade. Não dava para bobear com o nosso time. Passei a acreditar quando marcamos o primeiro gol. Aí eu já via o Vasco motivado e o Palmeiras com medo. O Palmeiras estava muito recuado, e eu não encontrava espaços na intermediária deles. Então voltava para o campo de defesa e pegava a bola, sem a marcação do Fernando. Aí passei a chegar ao ataque com a bola dominada, em velocidade, e estava numa noite feliz. Foi assim que conseguimos os dois pênaltis. O nosso time nem sentiu quando o Júnior Baiano foi expulso. A adrenalina e a vontade eram tão grandes, que continuamos no mesmo ritmo. Quando empatamos, já consideramos uma vitória levar para a decisão por pênaltis. Ninguém esperava o quarto gol. A adrenalina era tão grande, que eu e o Romário comemoramos daquela maneira, colocando o dedo na boca e pedindo silêncio. Não era um gesto comum meu. Sempre preferi comemorar com a minha torcida. Depois pensei que não deveria ter feito aquilo. Mas era um momento para extravasar”
2º lugar: Flamengo 1 x 4 Vasco, em 1997
Depoimento de Mauro Galvão (atualmente diretor executivo do Grêmio):
“Atuamos um tempo naquela partida com um jogador a menos, mas nosso time se fechava bem. E tinha uma arma mortal: o Evair recuava um pouco, confundia o adversário e abria espaço para o Edmundo surpreender, entrando em diagonal. O Lopes treinava muito essa jogada. O Evair se sacrificava, atuando quase como um meia, e o Edmundo estava numa forma física incrível. Geralmente, até o adversário perceber, já estávamos ganhando. Nosso primeiro gol contra o Flamengo, aliás, foi dessa maneira. Estávamos numa fase de grupos, e esse jogo era fundamental, porque se tratava de um rival e do adversário direto pela vaga na final. Uma vitória teria um peso muito grande. Nesse jogo, atuei ao lado do Alex, que era mais técnico e com menos força do que o Odvan. Além disso, tivemos César Prates na lateral esquerda e Filipe Alvim na direita, a posição com mais mudanças naquele campeonato. O Flamengo tinha um grande time. Eles tomaram a iniciativa no clássico, mas tivemos tranquilidade. O time do Vasco era consciente do que devia fazer em campo, se defendia bem e contava com um atacante que marcava gols, o que fez a diferença”
3º lugar: River Plate 1 x 1 Vasco, em 1998
Depoimento de Juninho Pernambucano (atualmente no Al Gharafa-QAT) por e-mail:
“O River tinha um grande time e, independentemente do resultado na primeira partida, nosso respeito por eles era enorme. Era um time com grandes jogadores, e todos preocupavam, mas era a velocidade deles o que causava mais cuidados. Era comum nos defendermos fora de casa, e ali tínhamos tudo contra e havíamos ganhado no Rio. É normal esperar o adversário, apesar de não termos ficado tão atrás assim. Arriscamos alguma coisa, mas sempre com cautela. O Vasco tinha um grupo com grandes jogadores, mas sempre chateia quando saímos do time titular, ainda mais na fase em que estávamos. Mas o Lopes era um grande treinador e sabia o que fazer. Sempre procuro ver o jogo quando estou no banco de reservas. Estava vendo que precisávamos sair mais, até porque a derrota por 1 a 0 levava para os pênaltis. Não podíamos era tomar outro gol. Quando entrei, o Lopes pediu pra fechar e dar dinâmica ao jogo. Não acho que aquele gol tenha consolidado minha posição como titular. Todos éramos titulares. E minha relação com a torcida sempre foi muito boa. É claro que hoje lembram bem disto, o que me emociona, pois aquele gol foi importante para chegarmos à final. Já revi aquele confronto, e foi um grande jogo. Mas não acho que tenha sido uma final antecipada, pois o jogo com o Barcelona foi bem duro.”
4º lugar: Vasco 3 x 1 Manchester United, em 2000
Depoimento de Ramon (atualmente no Vitória):
“Existia pressão, porque tínhamos tudo a favor. Era uma grande oportunidade, depois da derrota para o Real Madrid em 1998. Era um time que estava sempre ganhando e conquistava muitos títulos. Jogávamos no Rio, e ainda com muitas contratações. O meio-campo tinha apenas o Amaral na marcação porque ele vivia uma fase espetacular. Era o motor do time e marcava por todos. O Felipe jogava mais recuado, ao lado dele, e eu e Juninho Pernambucano fazíamos a mesma função desde 1997. Era um grupo tão forte, que tinha o Viola no banco. Contra o Manchester, cada jogador entrou em campo sabendo sua função tática e como atuava o adversário. O Antônio Lopes sempre foi detalhista, estuda muito o outro time e passa tudo para o grupo. O time havia feito uma excelente pré-temporada, folgando só um ou dois dias no Natal e no Ano-Novo. O calor também nos favoreceu. Começamos o jogo querendo matar logo o adversário. Tínhamos um time tão bom quanto o do Manchester. Marcamos forte e saímos com velocidade no contra-ataque. Todos estiveram bem na parte técnica, e nossos dois atacantes, o Edmundo e o Romário, aproveitaram as chances que tiveram. Eram dois grandes jogadores e não tinham problema dentro de campo. Tinham consciência do que o Mundial representava e de que o Vasco estava acima de tudo. Depois do Mundial, fui para o Atlético-MG porque a proposta financeira era boa para o Vasco e para mim. Saí, mas tive a felicidade de retornar em 2002″
5º lugar: Vasco 5 x 2 Corinthians, em 1980
Depoimento de Roberto Dinamite (atualmente presidente do Vasco):
“O técnico do Barcelona saiu três jogos depois da minha chegada e ainda ocorreram outros problemas. Para mim, não adiantava ficar no Barcelona sem poder fazer o que mais gostava, jogar futebol. Por isso, optei por voltar ao Brasil. Talvez hoje eu pudesse tomar outra atitude, mas não me arrependo. O Flamengo foi a Barcelona, mas os espanhóis procuraram ouvir o Vasco. Soube que os torcedores do Vasco foram contra a minha possível ida para o Flamengo e cobraram da diretoria, dizendo que não aceitavam. Foi uma vitória dupla: voltar ao Brasil e marcar cinco gols no Corinthians… e ainda com torcedores do Flamengo na arquibancada, já que havia uma preliminar contra o Bangu. Foi uma vitória inesquecível e que vai ficar na lembrança do torcedor do Vasco e também do Corinthians. O dia foi de muita alegria para mim e para os outros jogadores. O gol que fechou a goleada, num chute de longe, foi o mais bonito. Mas todos foram marcantes. E bem diferentes um do outro, o que é legal”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Botafogo 1 x 0 Vasco, em 1990
Depoimento de Luís Carlos Winck (atualmente técnico do Manaus):
“Era normal que houvesse uma queda do primeiro para o segundo turno do Carioca. Estávamos ganhando tudo, e depois dividimos as atenções com a Libertadores. Era um time muito qualificado, mas que dependia dos avanços dos laterais, porque do meio-campo para frente não havia tanta velocidade. Então William e Tita, principalmente, trabalhavam a bola para o meu avanço e o do Mazinho. Para esse jogo contra o Botafogo, o Eurico nos passou que não haveria problema, que o título seria nosso, qualquer que fosse o resultado. Isso nos deu autoconfiança e tirou um pouco da concentração. O Vasco era superior e tinha um time mais preparado, tanto que vinha de uma sequência muito boa na Taça Guanabara. O jogo foi igual. Criamos chances de gol, mas o Botafogo marcou e segurou o resultado. Após os 90 minutos, ficamos aguardando para ver se haveria prorrogação. Disseram que podíamos dar a volta olímpica porque conseguiriam o título. No fim foi frustrante, porque era um time com capacidade para ser campeão. Não me arrependo da volta olímpica, porque cumprimos uma determinação da diretoria. Mas você acaba sofrendo chacota dos torcedores adversários, porque desfila com uma caravela, enquanto o troféu está com o outro time. Nossa diretoria era competente. Podem falar do Eurico, mas ele defendia o Vasco com unhas e dentes e sempre foi muito bom para mim.”
2º lugar: Atlético-PR 7 x 2 Vasco, em 2005
Depoimento de Elinton (atualmente no Olympique-FRA):
“O Vasco vivia um momento ruim e trocava de goleiro a toda hora. Na minha estreia, contra o Flamengo, disseram que fui um dos melhores em campo. Depois ganhamos do Santos na Vila e perdemos para o Corinthians em São Januário, mas fui aplaudido no aquecimento e me apontaram como um dos destaques do jogo. Mesmo quatro anos depois, ainda sou lembrado como o goleiro que levou sete gols. Mas não me abalo com isso. Doni e Marcos já levaram sete, mas é mais fácil falar do Elinton. O problema não foi desse jogo contra o Atlético-PR. As coisas já estavam erradas, vinham sendo plantadas, e uma hora elas aparecem. Quando cheguei ao clube, senti um clima ruim, pesado. Ninguém jogou bem contra o Atlético-PR. O primeiro tempo terminou 4 a 0 para eles. Se eu pudesse, naquela hora pegaria um ônibus em direção ao aeroporto. O Renato Gaúcho não disse nada no intervalo, simplesmente porque não havia o que dizer. A nossa fragilidade e o momento ruim eram nítidos. Ninguém pensava em conseguir o empate por 4 a 4. Na volta do intervalo, um jogador – acho que foi o Alan Bahia – disse para o Morais que o Antônio Lopes havia pedido para ir com tudo e ganhar de dez, se desse. Na saída de bola do segundo tempo, o Anderson rolou para o Alex Dias, que tocou para trás. E vieram seis jogadores do Atlético-PR correndo na nossa direção. Os jogadores do Vasco devem ter pensado: ‘Eles não vão parar?’. E a torcida continuava cantando. Sobre a declaração do Renato (de que até uma grávida faria gol no Vasco), não levei para o mau caminho. Claro que concordo. Se colocasse alguém numa cadeira de rodas, também faria gol. A minha vovozinha também. Falo isso com a maior naturalidade. Até hoje peço desculpa por esse jogo, mas não por mim, e sim pelo time. A torcida do Vasco não merecia isso. Sei que fiz o meu melhor. Dos sete gols, posso ter falhado em dois. Mas o meu DVD deve ter uns 30 lances desse jogo, porque eles chutaram umas 50 bolas.”
3º lugar: Vasco 2 x 4 Figueirense, em 2008
Depoimento de Alan Kardec (atualmente no Inter):
“Tenho dez anos de Vasco, por isso foi muito difícil chegar àquela situação. Passei por pré-mirim, mirim, infantil, juvenil… fiz poucos jogos nos juniores e subi cedo para o profissional, com 18 anos. Tinha sido artilheiro das competições nas categorias de base e começava a viver um sonho. Ainda era garoto, mas tinha muita responsabilidade. A pressão começou a aumentar, o que me atrapalhou. Hoje eu entendo melhor tudo o que eu vivi. Não faltou vontade para os jogadores daquele time, tenho certeza, nem competência. Cada um tinha sua vida fora de campo, mas todos chegavam bem para treinar. Fomos mal no confronto direto com quem estava lá embaixo: empatamos com Atlético-PR e perdemos para Náutico, Ipatinga e Figueirense. Se tivéssemos vencido esses últimos três, seriam nove pontos a mais, e três a menos para eles. Esse foi um fator importante, porque foram derrotas horríveis. Contra o Figueirense, usamos dois meias ofensivos e três atacantes porque tínhamos que correr riscos mesmo. Precisávamos ganhar. E não é porque usamos essa formação que não vamos marcar. Isso varia de acordo com o treinador e a análise tática. Tudo foi treinado, mas saímos com o resultado adverso, pois havia 11 profissionais do outro lado também. Chegamos a levar 4 a 0, o que foi complicado.”
4º lugar: Vasco 0 x 3 Baraúnas, em 2005
Depoimento de Alex Dias (atualmente no Vila Nova-GO):
“Sempre tive o sonho de atuar no Rio, pois meu futebol combina com o estilo carioca. Pude jogar ao lado do Romário, de quem sou amigo até hoje, tive exposição em mídia nacional e ganhei música da torcida. Depois do empate por 2 a 2 em Mossoró, todos achavam que o jogo no Rio seria tranquilo. Excesso de confiança causa esse tipo de situação. Partimos para cima no início do jogo, pois em São Januário não poderia ser diferente. Depois o Baraúnas começou a contra-atacar e fez 1 a 0. Não quero comentar sobre a defesa, pois é chato falar de companheiros. Mas realmente se trocava muito de goleiro e de jogador da defesa na época do Joel. Quando fizeram 3 a 0, a vaca foi para o brejo. A torcida cobrou, pois deveríamos ter entrado com outra postura. Mas ela sempre me poupou. Às vezes eu nem estava em campo, e ela gritava o meu nome. Só não poupou quando eu saí do Vasco, porque o Eurico me jogou contra ela. Acho que aquele time tinha condições de chegar à final. Depois do jogo houve muitos protestos e xingamentos, e eu só soube da demissão do Joel quando estava chegando em casa”
5º lugar: Vasco 1 x 2 Gama, em 2007
Depoimento de Cássio (atualmente no Paços de Ferreira-POR):
“Toda a expectativa em torno do milésimo gol do Romário fez com que o foco não fosse 100% no jogo. Atrapalhou de alguma maneira. E é o tipo de situação que motiva muito o goleiro adversário. Para ele e para outros jogadores do Gama, aquela partida ajudou a projetar a carreira. No jogo anterior, contra o Botafogo, fiz minha centésima partida pelo Vasco e fui muito bem. Já considerava até a possibilidade de seleção. O Gama fez gol no primeiro e no último chute. O campo do Maracanã era mais duro na linha da pequena área. A bola quicou ali e ganhou altura. Fiquei chateado, mas logo depois fiz outras defesas. Para o goleiro, o jogo começa no aquecimento. Se faz um bom aquecimento, vai bem no jogo. Se o aquecimento não é tão bom, você fica cismado. No fim, o rapaz teve competência de acertar uma falta no ângulo, num chute forte. Com a eliminação, tiveram que arranjar alguém para Cristo, e fui eu. A torcida gritou ‘Edmundo’ no fim, mas não acho que tenha sido direcionado para o Romário. Sempre gritavam ‘Edmundo’ quando as coisas não iam bem. O Romário era ídolo, mas não era endeusado pela torcida, como o Edmundo. Não era algo que perturbava os jogadores, mas é claro que preferíamos que gritassem os nossos nomes. Antes de levarmos o segundo gol, a partida estava tranquila. Perdemos algumas chances de gol e, chegando aos últimos minutos do jogo, é normal você querer se resguardar.”
Quais jogos enchem a torcida vascaína de orgulho? E quais são motivo de vergonha? Aí embaixo estão as listas elaboradas pelo GLOBOESPORTE.COM, com depoimentos de quem esteve lá: Roberto Dinamite, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Mauro Galvão…
Você também pode formular a sua lista – é só deixar um recado nos comentários.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Palmeiras 3 x 4 Vasco, em 2000
Depoimento de Juninho Paulista (atualmente diretor do Ituano):
“Tínhamos empatado por 2 a 2 com o Cruzeiro, e o Oswaldo de Oliveira saiu por causa de um entrevero com o Eurico Miranda. Ficou um clima muito ruim, porque ele tinha o grupo na mão e estava conseguindo os resultados. É ruim trocar o treinador numa hora dessas. Eu, Romário e Juninho Pernambucano fomos falar com o Eurico e o Oswaldo, mas não teve jeito. Conseguimos ganhar do Palmeiras porque tínhamos um time muito bom, um dos melhores da minha carreira. Caso contrário, não conseguiríamos. O primeiro tempo, com o nosso time apático, refletiu essa troca no comando. O primeiro gol do Palmeiras, de pênalti, foi um erro do Júnior Baiano, que admitiu isso. Não sei o que deu na cabeça dele. Mas o grupo era muito unido e superava esses problemas em campo. Após o primeiro gol, nosso time ficou desestabilizado, perdido. Dos males, o menor: o fato de os três gols saírem já no fim do primeiro tempo interrompeu a pressão do Palmeiras. Poderia ter sido pior. Chegamos cabisbaixos ao vestiário, mas conversamos e falamos que tínhamos que jogar. O clima foi ameno, ninguém gritou ou procurou um culpado.
Fomos para o tudo ou nada no segundo tempo, com o Viola, que entrou muito bem. E o Palmeiras nos ajudou, por ter relaxado e recuado. Quando quis acordar, já estávamos em cima, dominando a partida. Alguns jogadores do Palmeiras já achavam que eram campeões. Ouvi gente dizendo isso em campo, o que foi uma infelicidade. Não dava para bobear com o nosso time. Passei a acreditar quando marcamos o primeiro gol. Aí eu já via o Vasco motivado e o Palmeiras com medo. O Palmeiras estava muito recuado, e eu não encontrava espaços na intermediária deles. Então voltava para o campo de defesa e pegava a bola, sem a marcação do Fernando. Aí passei a chegar ao ataque com a bola dominada, em velocidade, e estava numa noite feliz. Foi assim que conseguimos os dois pênaltis. O nosso time nem sentiu quando o Júnior Baiano foi expulso. A adrenalina e a vontade eram tão grandes, que continuamos no mesmo ritmo. Quando empatamos, já consideramos uma vitória levar para a decisão por pênaltis. Ninguém esperava o quarto gol. A adrenalina era tão grande, que eu e o Romário comemoramos daquela maneira, colocando o dedo na boca e pedindo silêncio. Não era um gesto comum meu. Sempre preferi comemorar com a minha torcida. Depois pensei que não deveria ter feito aquilo. Mas era um momento para extravasar”
2º lugar: Flamengo 1 x 4 Vasco, em 1997
Depoimento de Mauro Galvão (atualmente diretor executivo do Grêmio):
“Atuamos um tempo naquela partida com um jogador a menos, mas nosso time se fechava bem. E tinha uma arma mortal: o Evair recuava um pouco, confundia o adversário e abria espaço para o Edmundo surpreender, entrando em diagonal. O Lopes treinava muito essa jogada. O Evair se sacrificava, atuando quase como um meia, e o Edmundo estava numa forma física incrível. Geralmente, até o adversário perceber, já estávamos ganhando. Nosso primeiro gol contra o Flamengo, aliás, foi dessa maneira. Estávamos numa fase de grupos, e esse jogo era fundamental, porque se tratava de um rival e do adversário direto pela vaga na final. Uma vitória teria um peso muito grande. Nesse jogo, atuei ao lado do Alex, que era mais técnico e com menos força do que o Odvan. Além disso, tivemos César Prates na lateral esquerda e Filipe Alvim na direita, a posição com mais mudanças naquele campeonato. O Flamengo tinha um grande time. Eles tomaram a iniciativa no clássico, mas tivemos tranquilidade. O time do Vasco era consciente do que devia fazer em campo, se defendia bem e contava com um atacante que marcava gols, o que fez a diferença”
3º lugar: River Plate 1 x 1 Vasco, em 1998
Depoimento de Juninho Pernambucano (atualmente no Al Gharafa-QAT) por e-mail:
“O River tinha um grande time e, independentemente do resultado na primeira partida, nosso respeito por eles era enorme. Era um time com grandes jogadores, e todos preocupavam, mas era a velocidade deles o que causava mais cuidados. Era comum nos defendermos fora de casa, e ali tínhamos tudo contra e havíamos ganhado no Rio. É normal esperar o adversário, apesar de não termos ficado tão atrás assim. Arriscamos alguma coisa, mas sempre com cautela. O Vasco tinha um grupo com grandes jogadores, mas sempre chateia quando saímos do time titular, ainda mais na fase em que estávamos. Mas o Lopes era um grande treinador e sabia o que fazer. Sempre procuro ver o jogo quando estou no banco de reservas. Estava vendo que precisávamos sair mais, até porque a derrota por 1 a 0 levava para os pênaltis. Não podíamos era tomar outro gol. Quando entrei, o Lopes pediu pra fechar e dar dinâmica ao jogo. Não acho que aquele gol tenha consolidado minha posição como titular. Todos éramos titulares. E minha relação com a torcida sempre foi muito boa. É claro que hoje lembram bem disto, o que me emociona, pois aquele gol foi importante para chegarmos à final. Já revi aquele confronto, e foi um grande jogo. Mas não acho que tenha sido uma final antecipada, pois o jogo com o Barcelona foi bem duro.”
4º lugar: Vasco 3 x 1 Manchester United, em 2000
Depoimento de Ramon (atualmente no Vitória):
“Existia pressão, porque tínhamos tudo a favor. Era uma grande oportunidade, depois da derrota para o Real Madrid em 1998. Era um time que estava sempre ganhando e conquistava muitos títulos. Jogávamos no Rio, e ainda com muitas contratações. O meio-campo tinha apenas o Amaral na marcação porque ele vivia uma fase espetacular. Era o motor do time e marcava por todos. O Felipe jogava mais recuado, ao lado dele, e eu e Juninho Pernambucano fazíamos a mesma função desde 1997. Era um grupo tão forte, que tinha o Viola no banco. Contra o Manchester, cada jogador entrou em campo sabendo sua função tática e como atuava o adversário. O Antônio Lopes sempre foi detalhista, estuda muito o outro time e passa tudo para o grupo. O time havia feito uma excelente pré-temporada, folgando só um ou dois dias no Natal e no Ano-Novo. O calor também nos favoreceu. Começamos o jogo querendo matar logo o adversário. Tínhamos um time tão bom quanto o do Manchester. Marcamos forte e saímos com velocidade no contra-ataque. Todos estiveram bem na parte técnica, e nossos dois atacantes, o Edmundo e o Romário, aproveitaram as chances que tiveram. Eram dois grandes jogadores e não tinham problema dentro de campo. Tinham consciência do que o Mundial representava e de que o Vasco estava acima de tudo. Depois do Mundial, fui para o Atlético-MG porque a proposta financeira era boa para o Vasco e para mim. Saí, mas tive a felicidade de retornar em 2002″
5º lugar: Vasco 5 x 2 Corinthians, em 1980
Depoimento de Roberto Dinamite (atualmente presidente do Vasco):
“O técnico do Barcelona saiu três jogos depois da minha chegada e ainda ocorreram outros problemas. Para mim, não adiantava ficar no Barcelona sem poder fazer o que mais gostava, jogar futebol. Por isso, optei por voltar ao Brasil. Talvez hoje eu pudesse tomar outra atitude, mas não me arrependo. O Flamengo foi a Barcelona, mas os espanhóis procuraram ouvir o Vasco. Soube que os torcedores do Vasco foram contra a minha possível ida para o Flamengo e cobraram da diretoria, dizendo que não aceitavam. Foi uma vitória dupla: voltar ao Brasil e marcar cinco gols no Corinthians… e ainda com torcedores do Flamengo na arquibancada, já que havia uma preliminar contra o Bangu. Foi uma vitória inesquecível e que vai ficar na lembrança do torcedor do Vasco e também do Corinthians. O dia foi de muita alegria para mim e para os outros jogadores. O gol que fechou a goleada, num chute de longe, foi o mais bonito. Mas todos foram marcantes. E bem diferentes um do outro, o que é legal”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Botafogo 1 x 0 Vasco, em 1990
Depoimento de Luís Carlos Winck (atualmente técnico do Manaus):
“Era normal que houvesse uma queda do primeiro para o segundo turno do Carioca. Estávamos ganhando tudo, e depois dividimos as atenções com a Libertadores. Era um time muito qualificado, mas que dependia dos avanços dos laterais, porque do meio-campo para frente não havia tanta velocidade. Então William e Tita, principalmente, trabalhavam a bola para o meu avanço e o do Mazinho. Para esse jogo contra o Botafogo, o Eurico nos passou que não haveria problema, que o título seria nosso, qualquer que fosse o resultado. Isso nos deu autoconfiança e tirou um pouco da concentração. O Vasco era superior e tinha um time mais preparado, tanto que vinha de uma sequência muito boa na Taça Guanabara. O jogo foi igual. Criamos chances de gol, mas o Botafogo marcou e segurou o resultado. Após os 90 minutos, ficamos aguardando para ver se haveria prorrogação. Disseram que podíamos dar a volta olímpica porque conseguiriam o título. No fim foi frustrante, porque era um time com capacidade para ser campeão. Não me arrependo da volta olímpica, porque cumprimos uma determinação da diretoria. Mas você acaba sofrendo chacota dos torcedores adversários, porque desfila com uma caravela, enquanto o troféu está com o outro time. Nossa diretoria era competente. Podem falar do Eurico, mas ele defendia o Vasco com unhas e dentes e sempre foi muito bom para mim.”
2º lugar: Atlético-PR 7 x 2 Vasco, em 2005
Depoimento de Elinton (atualmente no Olympique-FRA):
“O Vasco vivia um momento ruim e trocava de goleiro a toda hora. Na minha estreia, contra o Flamengo, disseram que fui um dos melhores em campo. Depois ganhamos do Santos na Vila e perdemos para o Corinthians em São Januário, mas fui aplaudido no aquecimento e me apontaram como um dos destaques do jogo. Mesmo quatro anos depois, ainda sou lembrado como o goleiro que levou sete gols. Mas não me abalo com isso. Doni e Marcos já levaram sete, mas é mais fácil falar do Elinton. O problema não foi desse jogo contra o Atlético-PR. As coisas já estavam erradas, vinham sendo plantadas, e uma hora elas aparecem. Quando cheguei ao clube, senti um clima ruim, pesado. Ninguém jogou bem contra o Atlético-PR. O primeiro tempo terminou 4 a 0 para eles. Se eu pudesse, naquela hora pegaria um ônibus em direção ao aeroporto. O Renato Gaúcho não disse nada no intervalo, simplesmente porque não havia o que dizer. A nossa fragilidade e o momento ruim eram nítidos. Ninguém pensava em conseguir o empate por 4 a 4. Na volta do intervalo, um jogador – acho que foi o Alan Bahia – disse para o Morais que o Antônio Lopes havia pedido para ir com tudo e ganhar de dez, se desse. Na saída de bola do segundo tempo, o Anderson rolou para o Alex Dias, que tocou para trás. E vieram seis jogadores do Atlético-PR correndo na nossa direção. Os jogadores do Vasco devem ter pensado: ‘Eles não vão parar?’. E a torcida continuava cantando. Sobre a declaração do Renato (de que até uma grávida faria gol no Vasco), não levei para o mau caminho. Claro que concordo. Se colocasse alguém numa cadeira de rodas, também faria gol. A minha vovozinha também. Falo isso com a maior naturalidade. Até hoje peço desculpa por esse jogo, mas não por mim, e sim pelo time. A torcida do Vasco não merecia isso. Sei que fiz o meu melhor. Dos sete gols, posso ter falhado em dois. Mas o meu DVD deve ter uns 30 lances desse jogo, porque eles chutaram umas 50 bolas.”
3º lugar: Vasco 2 x 4 Figueirense, em 2008
Depoimento de Alan Kardec (atualmente no Inter):
“Tenho dez anos de Vasco, por isso foi muito difícil chegar àquela situação. Passei por pré-mirim, mirim, infantil, juvenil… fiz poucos jogos nos juniores e subi cedo para o profissional, com 18 anos. Tinha sido artilheiro das competições nas categorias de base e começava a viver um sonho. Ainda era garoto, mas tinha muita responsabilidade. A pressão começou a aumentar, o que me atrapalhou. Hoje eu entendo melhor tudo o que eu vivi. Não faltou vontade para os jogadores daquele time, tenho certeza, nem competência. Cada um tinha sua vida fora de campo, mas todos chegavam bem para treinar. Fomos mal no confronto direto com quem estava lá embaixo: empatamos com Atlético-PR e perdemos para Náutico, Ipatinga e Figueirense. Se tivéssemos vencido esses últimos três, seriam nove pontos a mais, e três a menos para eles. Esse foi um fator importante, porque foram derrotas horríveis. Contra o Figueirense, usamos dois meias ofensivos e três atacantes porque tínhamos que correr riscos mesmo. Precisávamos ganhar. E não é porque usamos essa formação que não vamos marcar. Isso varia de acordo com o treinador e a análise tática. Tudo foi treinado, mas saímos com o resultado adverso, pois havia 11 profissionais do outro lado também. Chegamos a levar 4 a 0, o que foi complicado.”
4º lugar: Vasco 0 x 3 Baraúnas, em 2005
Depoimento de Alex Dias (atualmente no Vila Nova-GO):
“Sempre tive o sonho de atuar no Rio, pois meu futebol combina com o estilo carioca. Pude jogar ao lado do Romário, de quem sou amigo até hoje, tive exposição em mídia nacional e ganhei música da torcida. Depois do empate por 2 a 2 em Mossoró, todos achavam que o jogo no Rio seria tranquilo. Excesso de confiança causa esse tipo de situação. Partimos para cima no início do jogo, pois em São Januário não poderia ser diferente. Depois o Baraúnas começou a contra-atacar e fez 1 a 0. Não quero comentar sobre a defesa, pois é chato falar de companheiros. Mas realmente se trocava muito de goleiro e de jogador da defesa na época do Joel. Quando fizeram 3 a 0, a vaca foi para o brejo. A torcida cobrou, pois deveríamos ter entrado com outra postura. Mas ela sempre me poupou. Às vezes eu nem estava em campo, e ela gritava o meu nome. Só não poupou quando eu saí do Vasco, porque o Eurico me jogou contra ela. Acho que aquele time tinha condições de chegar à final. Depois do jogo houve muitos protestos e xingamentos, e eu só soube da demissão do Joel quando estava chegando em casa”
5º lugar: Vasco 1 x 2 Gama, em 2007
Depoimento de Cássio (atualmente no Paços de Ferreira-POR):
“Toda a expectativa em torno do milésimo gol do Romário fez com que o foco não fosse 100% no jogo. Atrapalhou de alguma maneira. E é o tipo de situação que motiva muito o goleiro adversário. Para ele e para outros jogadores do Gama, aquela partida ajudou a projetar a carreira. No jogo anterior, contra o Botafogo, fiz minha centésima partida pelo Vasco e fui muito bem. Já considerava até a possibilidade de seleção. O Gama fez gol no primeiro e no último chute. O campo do Maracanã era mais duro na linha da pequena área. A bola quicou ali e ganhou altura. Fiquei chateado, mas logo depois fiz outras defesas. Para o goleiro, o jogo começa no aquecimento. Se faz um bom aquecimento, vai bem no jogo. Se o aquecimento não é tão bom, você fica cismado. No fim, o rapaz teve competência de acertar uma falta no ângulo, num chute forte. Com a eliminação, tiveram que arranjar alguém para Cristo, e fui eu. A torcida gritou ‘Edmundo’ no fim, mas não acho que tenha sido direcionado para o Romário. Sempre gritavam ‘Edmundo’ quando as coisas não iam bem. O Romário era ídolo, mas não era endeusado pela torcida, como o Edmundo. Não era algo que perturbava os jogadores, mas é claro que preferíamos que gritassem os nossos nomes. Antes de levarmos o segundo gol, a partida estava tranquila. Perdemos algumas chances de gol e, chegando aos últimos minutos do jogo, é normal você querer se resguardar.”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos palmeirenses
sex, 28/08/09
por bernardo ferreira |
categoria Jogos na Memória, Palmeiras
Texto: Bernardo Ferreira
A seção Jogos na Memória desta semana é com o Palmeiras, que na quarta-feira completou 95 anos. Confira abaixo dez momentos marcantes do clube e os depoimentos de jogadores e técnicos que estiveram nas partidas.
E deixe o seu recado nos comentários: quais são os jogos de orgulho e de vergonha do Palmeiras?
A matéria no GLOBOESPORTE.COM pode ser lida aqui.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Palmeiras 4 x 2 Flamengo, em 1999
Depoimento de Euller (atualmente no América-MG):
“Tivemos uma semana muito boa antes desse jogo contra o Flamengo. Passamos quase um mês concentrados, porque disputávamos Libertadores, Copa do Brasil e Paulistão, e isso criou um círculo de amizade e um pensamento positivo. E foi uma semana também de expectativa, porque ninguém sabia quem ia jogar. A prioridade era a Libertadores, mas o Felipão deixou claro que iria usar alguns titulares contra o Flamengo. Como tínhamos jogo atrás de jogo, só ficávamos sabendo o time titular praticamente na preleção. Como quase sempre, o Felipão fez uma preleção motivacional para o jogo. Levamos um gol logo no início, o que foi uma pancada para o Palmeiras. Mas não desanimamos. No intervalo, o Felipão mudou o esquema tático, o planejamento inicial, as características de jogo do Palmeiras e a história da partida. Na ida para o intervalo, comentei com o Sérgio que eu decidiria a partida, tanto é que fui ao vestiário e peguei uma a camisa a mais, para jogá-la para a torcida na hora da comemoração. Quando substituí o Arce, o Felipão me disse: ‘Entra e faz o gol’. Fazer gol de cabeça não era a minha especialidade, e nesse jogo fiz dois, mesmo com 22 jogadores na área. No Palmeiras eu sempre colava no goleiro na hora do escanteio e dava um passo para trás, para atrapalhá-lo. Nos acréscimos, o Pimentel ainda acertou a trave. Era eu que estava na marcação, e joguei o corpo em cima dele, senão faria o gol. Esse resultado nos deu muita confiança para o jogo contra o River Plate (pela Libertadores). Foi uma arrancada”
2º lugar: Palmeiras 4 x 0 Corinthians, em 1993
Depoimento de Zinho (atualmente técnico do Miami FC):
“Quando perdemos o primeiro jogo por 1 a 0, veio aquela gozação toda, depois que o Viola imitou um porco. Havia uma semana inteira até a segunda partida. Ficamos fora de São Paulo, mas vimos entrevistas e comentários de torcedores na televisão. Diziam que o Palmeiras iria morrer na praia, que havia sentido o peso da decisão e que ficaria mais um ano na fila. A própria comissão técnica do Corinthians disse que o Palmeiras era superior tecnicamente, mas que havia prevalecido a garra na final. O Vanderlei (Luxemburgo) foi inteligente e usou tudo isso para nos motivar. Ele nem falou muito na preleção. Mostrou um vídeo com tudo o que não deveríamos fazer, como erros de passe, e depoimentos favoráveis ao Corinthians. Depois mostrou um vídeo com coisas positivas, com a nossa grande campanha, como um jogo contra o Rio Branco (6 a 1). Isso mexeu muito com o nosso emocional. Fomos melhores técnica, tática e emocionalmente. Começamos o jogo num ritmo muito forte, pois precisávamos vencer para levar para a prorrogação. O primeiro gol, que marquei de pé direito, começou numa jogada de velocidade do Roberto Carlos. Deu alívio e tranquilidade ao nosso time e obrigou o Corinthians a sair para o ataque. Foi um gol que marcou a conquista e a minha identificação com o Palmeiras. O título de 1993 marcou por ter sido o meu primeiro no clube, por ter acabado com um jejum, por ter dado a alegria de que o torcedor precisava e por ter sido contra o Corinthians. A conquista foi importante porque deu segurança ao patrocinador para continuar investindo e acreditando. Deu mais segurança também para nós, jogadores, pois passamos a jogar sem a cobrança exagerada por não ganhar um título há tanto tempo. O torcedor também passou a confiar no projeto. Foi a partir dali que ganhamos dois Brasileiros, um Rio-São Paulo e outro Paulista.”
3º lugar: Palmeiras 5 x 1 Grêmio, em 1995
Depoimento de Amaral (atualmente no Perth Glory-AUS):
“Já tínhamos sido humilhados pelo Grêmio no Olímpico. Sinceramente, depois que o Grêmio marcou o gol (no Palestra), eu desisti do jogo. Pensei que era hora de condicionar para a final do Paulista. Para mim, a vaca tinha ido para o brejo. Antes do jogo no Palestra, o Cafu pediu para que ao menos buscássemos a vitória. O Mancuso dava a impressão de ser o único que acreditava. Dizia que, se o Grêmio tinha feito cinco gols, nós também poderíamos fazer. Quando marquei o gol, até passei a acreditar na classificação. Os palmeirenses pensaram: ‘Se o Amaral fez um gol depois de quatro anos, dá para acreditar’. Nos primeiros três gols, nem comemorávamos direito. O meu, por exemplo, foi rápido. Quando fizemos o quarto, o jogo pegou fogo, deu injeção de ânimo. O quinto gol foi o mais comemorado e deixou o Grêmio com medo. Nem eles tinham acreditado naqueles 5 a 0 no Olímpico, por isso achavam que já estavam classificados. Nós olhávamos um para o outro e gritávamos: ‘Vamos, que vai dar’. Os torcedores gaúchos já estavam roendo unha e bebendo chimarrão sem ferver. Foi um jogo histórico, saímos de campo aplaudidos. Nunca tinha visto uma torcida comemorando depois da eliminação do time. Se conseguíssemos a classificação, ia dar enfarte em muita gente. Foi uma demonstração de força, que fez os jogadores do Grêmio saírem de cabeça baixa. Aquele jogo serviu muito de exemplo para equipes que precisavam inverter uma vantagem grande”
4º lugar: Palmeiras 3 x 2 Corinthians, em 2000
Depoimento de Marcelo Ramos (atualmente no Ipatinga):
“Eram dois grandes times, num nível bem parecido. Os dois jogos, espetaculares, mostraram isso. O Corinthians tinha cada jogador… Mas o Palmeiras também tinha jogadores diferenciados. Nosso time era de mais pegada, com Sampaio e Galeano no meio. O Corinthians era mais técnico, tinha apenas o Rincón de mais pegada. Não imaginava que a segunda partida seria cheia de gols, como a primeira. Acho que o gol que levamos no finzinho do primeiro jogo (4 a 3 para o Corinthians) fez com que o Felipão mudasse um pouco o time, me escalando como um meia-atacante e deixando Pena e Euller na frente. Eu já tinha característica de voltar e ajudar na marcação. Aliás, todos no Palmeiras ajudavam, mesmo atuando com três atacantes. No vestiário, depois que o Corinthians fez 1 a 1 no fim do primeiro tempo, o Felipão estava bem tranquilo. Não gritou, apenas mostrou que tínhamos condição de ganhar. Tivemos sorte de empatar logo em seguida da virada do Corinthians, com o Alex, e depois viramos numa bola parada, com o Galeano. Na decisão por pênaltis, fui o primeiro a bater. Já havíamos passado pelo Peñarol assim, e havia os jogadores em quem o Felipão confiava. E fui o escolhido para ser o primeiro. Depois do jogo, indo para o CT no ônibus, ele veio até mim e disse: ‘Coloquei você para bater o primeiro pênalti, mas você jogou por dez anos com o Dida no Cruzeiro’. Respondi que não tinha problema. Mas, se eu perco aquele pênalti, mexeria com o aspecto psicológico de todos que bateriam depois. E eram dois grandes goleiros na disputa, tinham fama de pegadores de pênalti”
5º lugar: Palmeiras 6 x 1 Boca Juniors, em 1994
Depoimento de Antônio Carlos (atualmente técnico do São Caetano):
“Era um grupo muito forte. O Boca tinha a sua tradição, o Vélez estava naqueles anos em que surgiu no futebol argentino e o Cruzeiro tinha uma grande equipe. Mas isso não nos assustou muito, não. Encaramos com naturalidade. Tínhamos um timaço, com alguns jogadores que iriam à Copa, além de Edílson, Edmundo… Vários jogadores disputavam sua primeira Libertadores, como Cléber, César Sampaio e Roberto Carlos. Eram jogadores buscando seu espaço no futebol, mas já com um certo nome. Com aquele time, era normal entrarmos em campo confiantes. Sabíamos da dificuldade de enfrentar o Boca, com Mancuso, que depois iria para o Palmeiras. Demos espetáculo e deixamos uma ótima impressão no início da Libertadores. Merecíamos ganhar até por mais. Fizemos 1 a 0 no primeiro tempo. No segundo, com o Boca na ânsia de tentar virar, deu espaço e permitiu a nossa goleada. Na partida na Argentina (pelo returno), perdemos por 2 a 1, mas sem clima de guerra, pancadaria ou discussões, como era praxe. Infelizmente aquele time não conseguiu ganhar uma Libertadores. Fizemos uma viagem ao Japão no meio do torneio e isso nos atrapalhou. Havíamos empatado antes por 0 a 0 com o São Paulo no Pacaembu, numa noite em que poderíamos ter vencido por três ou quatro, se o Zetti não tivesse brilhado. Depois da viagem, perdemos por 2 a 1 no Morumbi.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Palmeiras 3 x 4 Vasco, em 2000
Depoimento de Galeano (atualmente na Traffic):
“Pelos gols no primeiro tempo, muitos jogadores acharam que o Palmeiras já era campeão. Ficaram empolgados com a comemoração da torcida e criaram clima de oba-oba no vestiário. Não vou citar nomes, mas muitos nem estavam em campo. O clube passava por mudanças, com a Parmalat saindo, e por isso tínhamos vários jogadores jovens. Eu e o Arce éramos os mais experientes do elenco e já tínhamos disputado várias finais. Ficamos revoltados e batemos na tecla de que o jogo não estava ganho, pois o Vasco tinha um timaço e era mais experiente do que o Palmeiras. Fazer 3 a 0 numa final é importantíssimo, mas tem que estar atento até o fim. E o Vasco teve uma reação positiva, foi guerreiro. No segundo tempo, eu e o Arce continuamos cobrando em campo, pois não estávamos focados na marcação. O Juninho Paulista pegava a bola com o zagueiro e vinha até o nosso gol. Foi o jogador mais importante daquela final. Eu atuei como zagueiro nesse jogo e pedia para pararem as jogadas, sem violência. Mas tínhamos que administrar a partida e deixar o adversário nervoso. Passamos 45 minutos só nos defendendo, com o Vasco massacrando. Tínhamos o jogo na mão, mas o Vasco soube reagir. Acho que 60% do resultado foram por mérito do Vasco, e 40% por erros nossos.”
2º lugar: Vitória 4 x 3 Palmeiras, em 2002
Depoimento de César (atualmente no Mirassol-SP):
“A última rodada foi só o carimbo. Foi um mal que veio para o bem do Palmeiras, que não tinha a estrutura que se pensava, de clube grande. Tinha muitas deficiências. O departamento médico não tinha aparelhagem suficiente para recuperar vários jogadores ao mesmo tempo, por exemplo. Eu e o Arce tivemos que comprar, por conta própria, um aparelho de choques para nos recuperarmos logo. A academia também era ruim. O Leão reclamou de muitas coisas quando esteve aqui, e algumas mudaram. Essa situação toda estorou naquele time de 2002. Havia um projeto bom, de mudança, nos mesmos moldes do da Parmalat, com o Vanderlei Luxemburgo. Mas ele saiu, e o clube não conseguiu tirar o projeto do papel. Os jogadores tinham muita confiança no Vanderlei e perderam o suporte quando ele saiu. Ficamos sem rumo e pagamos caro. Alguns jogadores estavam subindo das divisões de base, e esse processo foi apressado. Falávamos que o time era bom e nos apegávamos à matemática. Pensávamos: ‘Ainda faltam 19 partidas’. Depois: ‘Ainda faltam 18…’. Não encaramos a situação como deveríamos. No jogo contra o Vitória, muitos disseram que eles iam entregar a partida, e isso mexeu com eles. Foi uma injeção de ânimo. Usaram aquele jogo para mostrar que não tinha nada daquilo. Na preleção, o Levir Culpi falou no grupo, no torcedor, na instituição, nas nossas famílias. Disse que, se ganhássemos aquele jogo, terminaríamos o campeonato como heróis, já que teríamos saído do buraco. Infelizmente, não foi suficiente. Quando levamos o primeiro gol, deu uma baqueada no time, como quem pensa: ‘De novo essa história…’. Em seguida empatamos, mas depois eles ficaram na frente de novo. O Vitória tinha quase zero de chance de se classificar, e o placar anunciava os outros resultados. Pedíamos em campo aos jogadores do Vitória para deixarem o Palmeiras ganhar. Eu fui um deles. Falei com o Jean e com o Emerson, com quem tinha atuado na Portuguesa. Quando não tem mais o que fazer, você apela para qualquer coisa. Mas eles são profissionais e lutaram pelo que era deles.”
3º lugar: Palmeiras 1 x 2 Inter de Limeira, em 1986
Depoimento de Edmar (atualmente presidente do Campinas):
“Aquela equipe era muito boa, além de muito técnica do meio para frente. Encontrou na final um adversário que tinha bons jogadores, mas que se destacava pelo coletivo. A Inter fez 1 a 0 num chute despretensioso, de longe, e depois aumentou num recuo de bola, numa infelicidade do Denis. Eles eram aplicados, mas individualmente o Palmeiras era superior. Sem tirar os méritos da Inter, foi uma zebra. Com os dois jogos no Morumbi, ninguém pensava em outro resultado que não o título do Palmeiras. Era uma vantagem grande não ter que ir para o interior. O Morumbi tinha 115 mil palmeirenses e cinco mil torcedores da Inter. Mas isso não influencia o jogo, até porque eles tinham jogadores experientes, como Bolivar, Gilberto Costa e Kita. Não eram meninos. E já tinham mostrado força e maturidade ao eliminar o Santos na semifinal. Se o Palmeiras tivesse sido campeão, hoje falariam que o fator campo foi decisivo. Não é que eu preferisse enfrentar o Santos. Mas, quando é um dérbi, o jogo é diferente. Se você enfrenta um time pequeno, tem a obrigação de partir para o ataque o tempo todo. Ninguém admitiria o Palmeiras atrás, marcando na defesa. Se enfrentássemos o Santos, teríamos mais opções de estratégia. E tivemos tudo para vencer a primeira partida e matar a Inter. Aí eles teriam de se expor no segundo jogo. Fomos para a partida decisiva com a mesma responsabilidade do confronto anterior. Eles tiraram proveito da velocidade do Tato e do oportunismo do Kita. O Palmeiras sentiu os dois gols sofridos em um curto espaço de tempo. Aquela discussão de patrocínio não teve influência na final. Só quem vive do futebol é que sabe que, quando pisa no gramado, não tem como pensar nisso. Mas havia alguns problemas no elenco, sim. Quando entrei no time titular, o Mirandinha não admitiu ficar na reserva. Ele tinha o respeito de todos quando jogava, inclusive o meu. Mas, quando saiu do time, falou muito e gerou instabilidade. O Jorginho e o Éder até intervieram para apaziguar o clima”.
4º lugar: Palmeiras 2 x 7 Vitória, em 2003
Depoimento de Jair Picerni (atualmente técnico do Red Bull Brasil):
“Essa goleada foi sofrida, foi terrível, mas ao mesmo tempo foi uma referência para se mudar quase tudo. JQuando assumi o cargo, após o rebaixamento, apresentei meu projeto, pois já conhecia bem o clube. E isso previa a saída de alguns ídolos. O presidente na época tinha algumas dúvidas, mas no fim concordou que alguns já não tinham mais espaço. A reformulação fez bem ao Palmeiras. O início do ano foi mais ou menos como esperávamos – claro que não com a goleada. Mas se teve falha até do Marcos, um dos melhores goleiros do mundo, dá para ver como estava o emocional do time. Sair do gol e furar a bola foi um dos maiores frangos da carreira. Na hora, ele falou: ‘Agora é que o pessoal vem em cima de mim’. E o Adãozinho comentou: ‘Misericórdia, hein, Marcão?’. A goleada foi um mal, mas também um aprendizado. Vimos que havia uma necessidade rápida de mudar o grupo. Em nenhum momento pensei em demissão, pois estava iniciando um trabalho e sabia que havia sido contratado por ser qualificado.”
5º lugar: Palmeiras 2 x 1 ASA, em 2002
Depoimento de Fernando (atualmente no Santo André):
“Quando cheguei ao Palmeiras, em 2000, a Parmalat ainda estava lá. Tínhamos 11 titulates e 11 reservas à altura. Até 2002, houve muitas mudanças no elenco. Naquele dia, deu tudo errado. Jogamos muito mal, mesmo fazendo 1 a 0. Não houve nervosismo, ansiedade, nem algo que atrapalhasse. Às vezes um ou outro jogador tem atuação abaixo da média. Mas naquela noite todos foram mal. Quando sofremos o gol de empate, fomos para o vestiário preocupados por causa da questão de gols, já que teríamos que fazer mais dois. Sabíamos que eles se fechariam na defesa e que não estávamos num bom dia. Precisávamos atacar, colocar o time para frente, por isso o Vanderlei mexeu. Mas quem entrou também não foi bem. Sofremos com a ansiedade no segundo tempo, pressionados pelo resultado e pela cobrança da torcida. Aí eu já estava assistindo à partida do banco, o que é muito ruim. Você fica nervoso e não pode ajudar. E você se sente um torcedor, pois acompanha apenas a bola e esquece a parte tática. Dentro de campo, você visualiza o jogo melhor. O resultado foi muito frustrante. Era uma competição tida pelo Vanderlei como prioridade, porque poderia nos dar uma vaga na Libertadores. Durante os dias seguintes, o clima ficou ruim. O torcedor pegou no pé do Vanderlei depois do jogo, e ele repassou tudo pra gente depois (risos). Essa é uma das piores lembranças que eu tenho, junto com a final da Mercosul em 2000.”
A seção Jogos na Memória desta semana é com o Palmeiras, que na quarta-feira completou 95 anos. Confira abaixo dez momentos marcantes do clube e os depoimentos de jogadores e técnicos que estiveram nas partidas.
E deixe o seu recado nos comentários: quais são os jogos de orgulho e de vergonha do Palmeiras?
A matéria no GLOBOESPORTE.COM pode ser lida aqui.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Palmeiras 4 x 2 Flamengo, em 1999
Depoimento de Euller (atualmente no América-MG):
“Tivemos uma semana muito boa antes desse jogo contra o Flamengo. Passamos quase um mês concentrados, porque disputávamos Libertadores, Copa do Brasil e Paulistão, e isso criou um círculo de amizade e um pensamento positivo. E foi uma semana também de expectativa, porque ninguém sabia quem ia jogar. A prioridade era a Libertadores, mas o Felipão deixou claro que iria usar alguns titulares contra o Flamengo. Como tínhamos jogo atrás de jogo, só ficávamos sabendo o time titular praticamente na preleção. Como quase sempre, o Felipão fez uma preleção motivacional para o jogo. Levamos um gol logo no início, o que foi uma pancada para o Palmeiras. Mas não desanimamos. No intervalo, o Felipão mudou o esquema tático, o planejamento inicial, as características de jogo do Palmeiras e a história da partida. Na ida para o intervalo, comentei com o Sérgio que eu decidiria a partida, tanto é que fui ao vestiário e peguei uma a camisa a mais, para jogá-la para a torcida na hora da comemoração. Quando substituí o Arce, o Felipão me disse: ‘Entra e faz o gol’. Fazer gol de cabeça não era a minha especialidade, e nesse jogo fiz dois, mesmo com 22 jogadores na área. No Palmeiras eu sempre colava no goleiro na hora do escanteio e dava um passo para trás, para atrapalhá-lo. Nos acréscimos, o Pimentel ainda acertou a trave. Era eu que estava na marcação, e joguei o corpo em cima dele, senão faria o gol. Esse resultado nos deu muita confiança para o jogo contra o River Plate (pela Libertadores). Foi uma arrancada”
2º lugar: Palmeiras 4 x 0 Corinthians, em 1993
Depoimento de Zinho (atualmente técnico do Miami FC):
“Quando perdemos o primeiro jogo por 1 a 0, veio aquela gozação toda, depois que o Viola imitou um porco. Havia uma semana inteira até a segunda partida. Ficamos fora de São Paulo, mas vimos entrevistas e comentários de torcedores na televisão. Diziam que o Palmeiras iria morrer na praia, que havia sentido o peso da decisão e que ficaria mais um ano na fila. A própria comissão técnica do Corinthians disse que o Palmeiras era superior tecnicamente, mas que havia prevalecido a garra na final. O Vanderlei (Luxemburgo) foi inteligente e usou tudo isso para nos motivar. Ele nem falou muito na preleção. Mostrou um vídeo com tudo o que não deveríamos fazer, como erros de passe, e depoimentos favoráveis ao Corinthians. Depois mostrou um vídeo com coisas positivas, com a nossa grande campanha, como um jogo contra o Rio Branco (6 a 1). Isso mexeu muito com o nosso emocional. Fomos melhores técnica, tática e emocionalmente. Começamos o jogo num ritmo muito forte, pois precisávamos vencer para levar para a prorrogação. O primeiro gol, que marquei de pé direito, começou numa jogada de velocidade do Roberto Carlos. Deu alívio e tranquilidade ao nosso time e obrigou o Corinthians a sair para o ataque. Foi um gol que marcou a conquista e a minha identificação com o Palmeiras. O título de 1993 marcou por ter sido o meu primeiro no clube, por ter acabado com um jejum, por ter dado a alegria de que o torcedor precisava e por ter sido contra o Corinthians. A conquista foi importante porque deu segurança ao patrocinador para continuar investindo e acreditando. Deu mais segurança também para nós, jogadores, pois passamos a jogar sem a cobrança exagerada por não ganhar um título há tanto tempo. O torcedor também passou a confiar no projeto. Foi a partir dali que ganhamos dois Brasileiros, um Rio-São Paulo e outro Paulista.”
3º lugar: Palmeiras 5 x 1 Grêmio, em 1995
Depoimento de Amaral (atualmente no Perth Glory-AUS):
“Já tínhamos sido humilhados pelo Grêmio no Olímpico. Sinceramente, depois que o Grêmio marcou o gol (no Palestra), eu desisti do jogo. Pensei que era hora de condicionar para a final do Paulista. Para mim, a vaca tinha ido para o brejo. Antes do jogo no Palestra, o Cafu pediu para que ao menos buscássemos a vitória. O Mancuso dava a impressão de ser o único que acreditava. Dizia que, se o Grêmio tinha feito cinco gols, nós também poderíamos fazer. Quando marquei o gol, até passei a acreditar na classificação. Os palmeirenses pensaram: ‘Se o Amaral fez um gol depois de quatro anos, dá para acreditar’. Nos primeiros três gols, nem comemorávamos direito. O meu, por exemplo, foi rápido. Quando fizemos o quarto, o jogo pegou fogo, deu injeção de ânimo. O quinto gol foi o mais comemorado e deixou o Grêmio com medo. Nem eles tinham acreditado naqueles 5 a 0 no Olímpico, por isso achavam que já estavam classificados. Nós olhávamos um para o outro e gritávamos: ‘Vamos, que vai dar’. Os torcedores gaúchos já estavam roendo unha e bebendo chimarrão sem ferver. Foi um jogo histórico, saímos de campo aplaudidos. Nunca tinha visto uma torcida comemorando depois da eliminação do time. Se conseguíssemos a classificação, ia dar enfarte em muita gente. Foi uma demonstração de força, que fez os jogadores do Grêmio saírem de cabeça baixa. Aquele jogo serviu muito de exemplo para equipes que precisavam inverter uma vantagem grande”
4º lugar: Palmeiras 3 x 2 Corinthians, em 2000
Depoimento de Marcelo Ramos (atualmente no Ipatinga):
“Eram dois grandes times, num nível bem parecido. Os dois jogos, espetaculares, mostraram isso. O Corinthians tinha cada jogador… Mas o Palmeiras também tinha jogadores diferenciados. Nosso time era de mais pegada, com Sampaio e Galeano no meio. O Corinthians era mais técnico, tinha apenas o Rincón de mais pegada. Não imaginava que a segunda partida seria cheia de gols, como a primeira. Acho que o gol que levamos no finzinho do primeiro jogo (4 a 3 para o Corinthians) fez com que o Felipão mudasse um pouco o time, me escalando como um meia-atacante e deixando Pena e Euller na frente. Eu já tinha característica de voltar e ajudar na marcação. Aliás, todos no Palmeiras ajudavam, mesmo atuando com três atacantes. No vestiário, depois que o Corinthians fez 1 a 1 no fim do primeiro tempo, o Felipão estava bem tranquilo. Não gritou, apenas mostrou que tínhamos condição de ganhar. Tivemos sorte de empatar logo em seguida da virada do Corinthians, com o Alex, e depois viramos numa bola parada, com o Galeano. Na decisão por pênaltis, fui o primeiro a bater. Já havíamos passado pelo Peñarol assim, e havia os jogadores em quem o Felipão confiava. E fui o escolhido para ser o primeiro. Depois do jogo, indo para o CT no ônibus, ele veio até mim e disse: ‘Coloquei você para bater o primeiro pênalti, mas você jogou por dez anos com o Dida no Cruzeiro’. Respondi que não tinha problema. Mas, se eu perco aquele pênalti, mexeria com o aspecto psicológico de todos que bateriam depois. E eram dois grandes goleiros na disputa, tinham fama de pegadores de pênalti”
5º lugar: Palmeiras 6 x 1 Boca Juniors, em 1994
Depoimento de Antônio Carlos (atualmente técnico do São Caetano):
“Era um grupo muito forte. O Boca tinha a sua tradição, o Vélez estava naqueles anos em que surgiu no futebol argentino e o Cruzeiro tinha uma grande equipe. Mas isso não nos assustou muito, não. Encaramos com naturalidade. Tínhamos um timaço, com alguns jogadores que iriam à Copa, além de Edílson, Edmundo… Vários jogadores disputavam sua primeira Libertadores, como Cléber, César Sampaio e Roberto Carlos. Eram jogadores buscando seu espaço no futebol, mas já com um certo nome. Com aquele time, era normal entrarmos em campo confiantes. Sabíamos da dificuldade de enfrentar o Boca, com Mancuso, que depois iria para o Palmeiras. Demos espetáculo e deixamos uma ótima impressão no início da Libertadores. Merecíamos ganhar até por mais. Fizemos 1 a 0 no primeiro tempo. No segundo, com o Boca na ânsia de tentar virar, deu espaço e permitiu a nossa goleada. Na partida na Argentina (pelo returno), perdemos por 2 a 1, mas sem clima de guerra, pancadaria ou discussões, como era praxe. Infelizmente aquele time não conseguiu ganhar uma Libertadores. Fizemos uma viagem ao Japão no meio do torneio e isso nos atrapalhou. Havíamos empatado antes por 0 a 0 com o São Paulo no Pacaembu, numa noite em que poderíamos ter vencido por três ou quatro, se o Zetti não tivesse brilhado. Depois da viagem, perdemos por 2 a 1 no Morumbi.”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Palmeiras 3 x 4 Vasco, em 2000
Depoimento de Galeano (atualmente na Traffic):
“Pelos gols no primeiro tempo, muitos jogadores acharam que o Palmeiras já era campeão. Ficaram empolgados com a comemoração da torcida e criaram clima de oba-oba no vestiário. Não vou citar nomes, mas muitos nem estavam em campo. O clube passava por mudanças, com a Parmalat saindo, e por isso tínhamos vários jogadores jovens. Eu e o Arce éramos os mais experientes do elenco e já tínhamos disputado várias finais. Ficamos revoltados e batemos na tecla de que o jogo não estava ganho, pois o Vasco tinha um timaço e era mais experiente do que o Palmeiras. Fazer 3 a 0 numa final é importantíssimo, mas tem que estar atento até o fim. E o Vasco teve uma reação positiva, foi guerreiro. No segundo tempo, eu e o Arce continuamos cobrando em campo, pois não estávamos focados na marcação. O Juninho Paulista pegava a bola com o zagueiro e vinha até o nosso gol. Foi o jogador mais importante daquela final. Eu atuei como zagueiro nesse jogo e pedia para pararem as jogadas, sem violência. Mas tínhamos que administrar a partida e deixar o adversário nervoso. Passamos 45 minutos só nos defendendo, com o Vasco massacrando. Tínhamos o jogo na mão, mas o Vasco soube reagir. Acho que 60% do resultado foram por mérito do Vasco, e 40% por erros nossos.”
2º lugar: Vitória 4 x 3 Palmeiras, em 2002
Depoimento de César (atualmente no Mirassol-SP):
“A última rodada foi só o carimbo. Foi um mal que veio para o bem do Palmeiras, que não tinha a estrutura que se pensava, de clube grande. Tinha muitas deficiências. O departamento médico não tinha aparelhagem suficiente para recuperar vários jogadores ao mesmo tempo, por exemplo. Eu e o Arce tivemos que comprar, por conta própria, um aparelho de choques para nos recuperarmos logo. A academia também era ruim. O Leão reclamou de muitas coisas quando esteve aqui, e algumas mudaram. Essa situação toda estorou naquele time de 2002. Havia um projeto bom, de mudança, nos mesmos moldes do da Parmalat, com o Vanderlei Luxemburgo. Mas ele saiu, e o clube não conseguiu tirar o projeto do papel. Os jogadores tinham muita confiança no Vanderlei e perderam o suporte quando ele saiu. Ficamos sem rumo e pagamos caro. Alguns jogadores estavam subindo das divisões de base, e esse processo foi apressado. Falávamos que o time era bom e nos apegávamos à matemática. Pensávamos: ‘Ainda faltam 19 partidas’. Depois: ‘Ainda faltam 18…’. Não encaramos a situação como deveríamos. No jogo contra o Vitória, muitos disseram que eles iam entregar a partida, e isso mexeu com eles. Foi uma injeção de ânimo. Usaram aquele jogo para mostrar que não tinha nada daquilo. Na preleção, o Levir Culpi falou no grupo, no torcedor, na instituição, nas nossas famílias. Disse que, se ganhássemos aquele jogo, terminaríamos o campeonato como heróis, já que teríamos saído do buraco. Infelizmente, não foi suficiente. Quando levamos o primeiro gol, deu uma baqueada no time, como quem pensa: ‘De novo essa história…’. Em seguida empatamos, mas depois eles ficaram na frente de novo. O Vitória tinha quase zero de chance de se classificar, e o placar anunciava os outros resultados. Pedíamos em campo aos jogadores do Vitória para deixarem o Palmeiras ganhar. Eu fui um deles. Falei com o Jean e com o Emerson, com quem tinha atuado na Portuguesa. Quando não tem mais o que fazer, você apela para qualquer coisa. Mas eles são profissionais e lutaram pelo que era deles.”
3º lugar: Palmeiras 1 x 2 Inter de Limeira, em 1986
Depoimento de Edmar (atualmente presidente do Campinas):
“Aquela equipe era muito boa, além de muito técnica do meio para frente. Encontrou na final um adversário que tinha bons jogadores, mas que se destacava pelo coletivo. A Inter fez 1 a 0 num chute despretensioso, de longe, e depois aumentou num recuo de bola, numa infelicidade do Denis. Eles eram aplicados, mas individualmente o Palmeiras era superior. Sem tirar os méritos da Inter, foi uma zebra. Com os dois jogos no Morumbi, ninguém pensava em outro resultado que não o título do Palmeiras. Era uma vantagem grande não ter que ir para o interior. O Morumbi tinha 115 mil palmeirenses e cinco mil torcedores da Inter. Mas isso não influencia o jogo, até porque eles tinham jogadores experientes, como Bolivar, Gilberto Costa e Kita. Não eram meninos. E já tinham mostrado força e maturidade ao eliminar o Santos na semifinal. Se o Palmeiras tivesse sido campeão, hoje falariam que o fator campo foi decisivo. Não é que eu preferisse enfrentar o Santos. Mas, quando é um dérbi, o jogo é diferente. Se você enfrenta um time pequeno, tem a obrigação de partir para o ataque o tempo todo. Ninguém admitiria o Palmeiras atrás, marcando na defesa. Se enfrentássemos o Santos, teríamos mais opções de estratégia. E tivemos tudo para vencer a primeira partida e matar a Inter. Aí eles teriam de se expor no segundo jogo. Fomos para a partida decisiva com a mesma responsabilidade do confronto anterior. Eles tiraram proveito da velocidade do Tato e do oportunismo do Kita. O Palmeiras sentiu os dois gols sofridos em um curto espaço de tempo. Aquela discussão de patrocínio não teve influência na final. Só quem vive do futebol é que sabe que, quando pisa no gramado, não tem como pensar nisso. Mas havia alguns problemas no elenco, sim. Quando entrei no time titular, o Mirandinha não admitiu ficar na reserva. Ele tinha o respeito de todos quando jogava, inclusive o meu. Mas, quando saiu do time, falou muito e gerou instabilidade. O Jorginho e o Éder até intervieram para apaziguar o clima”.
4º lugar: Palmeiras 2 x 7 Vitória, em 2003
Depoimento de Jair Picerni (atualmente técnico do Red Bull Brasil):
“Essa goleada foi sofrida, foi terrível, mas ao mesmo tempo foi uma referência para se mudar quase tudo. JQuando assumi o cargo, após o rebaixamento, apresentei meu projeto, pois já conhecia bem o clube. E isso previa a saída de alguns ídolos. O presidente na época tinha algumas dúvidas, mas no fim concordou que alguns já não tinham mais espaço. A reformulação fez bem ao Palmeiras. O início do ano foi mais ou menos como esperávamos – claro que não com a goleada. Mas se teve falha até do Marcos, um dos melhores goleiros do mundo, dá para ver como estava o emocional do time. Sair do gol e furar a bola foi um dos maiores frangos da carreira. Na hora, ele falou: ‘Agora é que o pessoal vem em cima de mim’. E o Adãozinho comentou: ‘Misericórdia, hein, Marcão?’. A goleada foi um mal, mas também um aprendizado. Vimos que havia uma necessidade rápida de mudar o grupo. Em nenhum momento pensei em demissão, pois estava iniciando um trabalho e sabia que havia sido contratado por ser qualificado.”
5º lugar: Palmeiras 2 x 1 ASA, em 2002
Depoimento de Fernando (atualmente no Santo André):
“Quando cheguei ao Palmeiras, em 2000, a Parmalat ainda estava lá. Tínhamos 11 titulates e 11 reservas à altura. Até 2002, houve muitas mudanças no elenco. Naquele dia, deu tudo errado. Jogamos muito mal, mesmo fazendo 1 a 0. Não houve nervosismo, ansiedade, nem algo que atrapalhasse. Às vezes um ou outro jogador tem atuação abaixo da média. Mas naquela noite todos foram mal. Quando sofremos o gol de empate, fomos para o vestiário preocupados por causa da questão de gols, já que teríamos que fazer mais dois. Sabíamos que eles se fechariam na defesa e que não estávamos num bom dia. Precisávamos atacar, colocar o time para frente, por isso o Vanderlei mexeu. Mas quem entrou também não foi bem. Sofremos com a ansiedade no segundo tempo, pressionados pelo resultado e pela cobrança da torcida. Aí eu já estava assistindo à partida do banco, o que é muito ruim. Você fica nervoso e não pode ajudar. E você se sente um torcedor, pois acompanha apenas a bola e esquece a parte tática. Dentro de campo, você visualiza o jogo melhor. O resultado foi muito frustrante. Era uma competição tida pelo Vanderlei como prioridade, porque poderia nos dar uma vaga na Libertadores. Durante os dias seguintes, o clima ficou ruim. O torcedor pegou no pé do Vanderlei depois do jogo, e ele repassou tudo pra gente depois (risos). Essa é uma das piores lembranças que eu tenho, junto com a final da Mercosul em 2000.”
Jogos na Memória: os orgulhos e as vergonhas dos colorados
sex, 21/08/09
por bernardo ferreira |
categoria Internacional, Jogos na Memória
Texto: Bernardo Ferreira
É a vez do Inter na seção Jogos na Memória, com cinco motivos de orgulho e outros cinco que envergonham o torcedor colorado. Confira abaixo quais são eles, com os depoimentos de quem participou dos episódios.
E deixe o seu recado nos comentários: quais são os jogos de orgulho e de vergonha do Inter?
A matéria no GLOBOESPORTE.COM pode ser lida aqui.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Inter 1 x 0 Barcelona, em 2006
Depoimento de Fabiano Eller:
“Nosso principal mérito foi não ter medo do Barcelona na final do Mundial. Estávamos confiantes. Outra qualidade foi a forte marcação, que eles não esperavam. Foi uma coisa que observei na Espanha. Real Madrid e Barcelona tinham times de qualidade, claro, mas enfrentavam sempre adversários que usavam uma linha de quatro na defesa. O Barcelona não estava acostumado a enfrentar uma equipe que mantivesse alguém na sobra. Isso atrapalhou os jogadores bons em passes em profundidade, como o Deco. Acham que todo time brasileiro tem boa técnica e é fraco na marcação. Pensaram que seria um jogo fácil, como foi o chocolate sobre o América do México. Nossa zaga foi muito bem na partida, mas todos ajudaram na marcação. Até os atacantes voltaram para ajudar, já que nem os volantes do Barcelona poderiam ter espaço. A nossa ansiedade passou logo nos primeiros minutos, e aí vimos que daria para ganhar. Só os jogadores confiavam na vitória. Acho que mesmo os colorados, apesar de uma pequena esperança, torciam para perder de pouco. Depois, foi um mês de férias sem esquecer aquele jogo. Lembro até hoje do fim da partida, de todos festejando com a taça no vestiário. Foi o jogo mais importante da minha carreira”
2º lugar: São Paulo 1 x 2 Inter, em 2006
Depoimento de Rafael Sóbis (atualmente no Al Jazira-EAU):
“Aquela era a nossa chance. O São Paulo era o time a ser batido, mas o Inter nunca tinha chegado tão longe e tão forte. Fomos para o Morumbi preparados para uma partida aberta. Era uma característica daquele Inter na Libertadores: jogar igual em casa ou fora. Sabíamos que a missão seria segurar os primeiros 15 minutos, o momento de pressão, para depois impor o nosso ritmo. Fomos ajudados pela expulsão cedo do Josué, o que acabou com a pressão. O São Paulo ficou mais conservador, enquanto nós tentávamos o ataque.
O jogo abriu de verdade depois que o Fabinho foi expulso. Como isso aconteceu no fim do primeiro tempo, nós é que fomos para o vestiário com a sensação de estar com um a menos. Vimos o Fabinho cabisbaixo e dissemos a ele: ‘Não se preocupa, que vamos ganhar por você’. Foi espetacular vencer o São Paulo na final. Foi mais para o Inter do que teria sido para eles, já que haviam sido campeões da Libertadores e do Mundial. Depois desse jogo no Morumbi, o Muricy deve ter pensado que seria difícil ganhar do Inter no Beira-Rio, porque ele nos conhecia bem. Os meus melhores momentos foram com ele. Também conhecíamos o estilo dele, mas ele não mudou tanto o São Paulo quando chegou. Acho que o determinante ali foi conhecer jogador por jogador do São Paulo, assim como eles nos conheciam também. Quem não torcia por Inter ou São Paulo e assistiu aos dois jogos certamente gostou do espetáculo. Foi meu jogo mais marcante, por estar no time do coração e disputando a final. O Inter não era o candidato ao título, mas teve a segunda melhor campanha na primeira fase, atrás apenas do Vélez Sarsfield. Foi aí que vimos que era possível. Depois, fomos ganhando no mata-mata, e a confiança aumentou. Todos os nossos jogadores vinham num grande momento, mas o título passa pelas mãos do Abel Braga”.
3º lugar: Fluminense 0 x 2 Inter, em 1975
Depoimento de Paulo César Carpegiani (atualmente técnico, sem clube):
“O Fluminense pagou pela propaganda antecipada. Na época, era um jogo só na semifinal do Brasileiro. E não éramos considerados nada pelo Fluminense, a decantada Máquina. A comissão técnica deles já havia pedido o VT de Cruzeiro x Santa Cruz, a outra semifinal. Pagaram pela petulância, pela arrogância. O Minelli pegou os jornais no Rio e usou na preleção, para mostrar como o jogo vinha sendo tratado pelo Fluminense. Eles conseguiram uma jogada logo no começo da partida, com um chute de Gil para fora depois de um lançamento de Rivellino, e depois só concluíram a gol aos 25 minutos do segundo tempo. Foi um chocolate que jamais será esquecido na história do futebol. O Fluminense vinha de uma vitória por 4 a 2 sobre o Palmeiras, o que fez com que estufassem o peito. Jogamos com muita raiva, o que foi um fator de desequilíbrio. O Fluminense tinha um baita time, talvez até superior ao nosso. Mas tivemos enorme facilidade, foi um jogo de um time só. O placar de 2 a 0 foi até pequeno. Fizemos uma marcação muito forte, sulina, e Rivellino e Paulo César Caju não conseguiram jogar. Esse foi o primeiro título nacional do Inter e abriu caminho para outros. O primeiro é sempre mais difícil. Tínhamos um ótimo time desde 1970, fomos octacampeões gaúchos (em 1976), e essa foi a nossa grande prova, já que éramos chamados de caseiros”
4º lugar: Inter 2 x 1 Grêmio, em 1989
Depoimento de Nilson (atualmente empresário de eventos):
“Sabíamos que nada estava decidido no primeiro jogo, mas aquele empate aumentou a nossa confiança e deixou a torcida eufórica. O jejum diante do Grêmio na época nem me afetava, pois aqueles foram os meus primeiros Gre-Nais. Se conseguíssemos a vitória, quebraríamos um tabu e entraríamos para a história. Vai ser difícil repetir uma situação parecida com essa, em que Grêmio e Inter se enfrentaram pela semifinal de um Brasileiro. Mesmo o Gre-Nal do centenário não ficou tão marcado. Durante o jogo, fiquei preocupado quando o Casemiro foi expulso. O Inter esteve mal no primeiro tempo. O Grêmio marcou bem, não nos deixou jogar e massacrou. Se fizesse 3 a 0 no primeiro tempo, seria normal. Fomos cabisbaixos para o intervalo, mas o Abel cobrou muito e ganhou o jogo com a alteração que ele fez, trocando Leomir por Diego Aguirre. Na hora, eu pensei: ‘O meu treinador ficou maluco. Estamos com um jogador a menos, e ele faz uma alteração dessa…’, O Edu Lima passou a atuar como ala pela esquerda, e o Diego Aguirre ficou fixo na área, me dando mais liberdade. E aí cresceu o meu futebol, pois o meu estilo era mesmo de sair da área. O Grêmio não esperava que o Inter partisse para o ataque e se viu sem saída. Ganhamos confiança após o gol de empate, e a torcida começou a jogar junto. Quando marquei o segundo gol, vi que os gremistas começaram a deixar o estádio e dei um tchauzinho. Para os colorados, foi uma satisfação enorme. Esse só não foi um ano perfeito porque perdemos o título na final. Eu era um jogador desconhecido e fui reconhecido nacionalmente. E consegui a artilharia no meu primeiro Brasileirão, e mesmo chegando ao Inter após cinco rodadas”
5º lugar: Palmeiras 2 x 3 Inter, em 1979
Depoimento de Mauro Galvão (atualmente diretor executivo do Grêmio):
“Esse foi um jogo marcante, pois o Palmeiras era considerado um dos melhores times do momento. Comentava-se que era candidato ao título do Brasileiro, pois tinha uma equipe de qualidade, enquanto o Inter não tinha um futebol tão bonito, embora eficiente. Esse confronto foi como uma final antecipada. O Inter não vinha ganhando um destaque tão grande. Foi ali que deu a arrancada e passou a ser candidato ao título, pois não é fácil ganhar do Palmeiras em São Paulo. Foi um jogo bem aberto, com os dois times buscando a vitória. O Falcão desequilibrou. O Inter foi bem como um todo, mas ele fez a diferença. Além da qualidade técnica, que era normal nas atuações dele, fez dois gols e decidiu a partida. Será difícil repetir um título invicto. Não dá para dizer que será impossível, mas com o sistema por pontos corridos fica mais complicado. Jogamos muitas vezes naquele campeonato (foram 23), mas hoje são 38 rodadas”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Inter 2 x 3 Olimpia, em 1989
Depoimento de Luis Fernando Flores (atualmente auxiliar do time sub-17 do Cruzeiro):
“Até hoje lembro dessa semifinal. Para mim foi mais doído, por causa do gol de bicicleta na partida de ida. Um título seria importante na minha carreira, pois aquele gol ficaria marcado. O Grêmio já tinha sido campeão da Libertadores, e o Inter estava próximo. Estávamos muito confiantes após a vitória no Paraguai. Mas esses times sul-americanos são fogo, jogam fora de casa com muita tranquilidade, mesmo inferiores tecnicamente. A nossa maior surpresa foi eles jogarem no ataque. No Paraguai, nós havíamos pressionado o Olimpia. Mas estivemos bem no jogo no Beira-Rio e achávamos que dava para conseguir pelo menos o empate. Quando a decisão foi para os pênaltis, o momento era desfavorável para o Inter. O Olimpia não tinham nada a perder, enquanto na nossa cabeça havia uma obrigação. O Inter tinha um time que primava pelo conjunto, já que não havia um jogador fora de série. Tínhamos Taffarel, Luis Carlos Winck, Norberto, Luis Carlos Martins e Nilson em boa fase. Mas nenhum deles era de fazer a diferença. Outro dia, comentei com o Abel que ficaríamos marcados na história do Inter se tivéssemos conseguido um título. Mas perdemos em 1987 e 88. Em 1989, a diretoria resolveu mudar a fotografia na parede, como costumam dizer. Na época, achei que era precipitado mudar o time, que estava sempre chegando. Mas às vezes você está desgastado e não percebe. No fundo foi melhor, tanto que em 1992 conquistou a Copa do Brasil. No futebol é assim: se você não ganha, não fica marcado”
2º lugar: Inter 0 x 4 Juventude, em 1999
Depoimento de Christian (atualmente na Portuguesa):
“Lembro até hoje desse jogo, e dá dor no coração. Não joguei em Caxias, onde conseguimos um grande resultado, porque estava gripado. Voltei na partida no Beira-Rio, que estava lotado, mas tivemos um resultado frustrante. Não digo que seríamos favoritos contra o Botafogo, mas teríamos boas chances de ganhar o campeonato. E naquela época a torcida estava carente de títulos importantes. Todo o cenário naquela noite indicava uma vitória do Inter. Mas, quando isso acontece, o time da casa acaba perdendo. O Juventude esteve bem na parte tática e teve a felicidade de marcar quatro gols. Nosso time era bom e bem organizado, mas se precipitou na ânsia de querer resolver o jogo e se descuidou na defesa. Quando perdíamos por 2 a 0, fomos para o ataque e levamos mais dois. Três dias depois, pegamos o mesmo time, nas mesmas condições, e ganhamos por 3 a 1 (pelo Gauchão). Mas não dá para comparar as duas situações.”
3º lugar: Bragantino 1 x 0 Inter, em 1996
Depoimento de André (atualmente auxiliar técnico do Inter B):
“Lembro mais da trajetória do Inter naquele campeonato do que dessa partida especificamente. Lembro que havia pouco público no estádio, como sempre. Perdemos um pênalti, mas não dá para analisar uma partida em função de um lance isolado. O time sentiu o pênalti perdido, claro, mas também sentiu o gol levado. O time começou muito bem o Brasileiro e depois foi caindo na segunda metade. Era muito jovem e não soube lidar com a pressão de estar entre os primeiros colocados. Era uma época de renovação no clube, com muita molecada. Não tivemos maturidade suficiente, nem elenco, para saber levar essa situação. Mesmo quando conseguimos três vitórias seguidas (sobre Paraná, Portuguesa e Corinthians), já estávamos lá atrás, no desespero para ficar com uma das últimas vagas. Já não apresentávamos a mesma consistência. O Bragantino não tinha muito a perder, e ainda havia a premiação de times interessados. Ele correu e fez o dele. Não tivemos competência de fazer a nossa parte. A provocação do Grêmio (no placar eletrônico, com ‘Eles estão fora’) é coisa de torcida. Eu fiquei à margem disso. O mundo dá voltas: numa hora um está por cima, e depois é o outro. São ciclos, e é isso que eleva a rivalidade no Sul. Mas hoje o nível de respeito pelo outro está maior, e cada um está mais preocupado com o seu clube. Naquela época, havia amadorismo, e os dirigentes lidavam com paixão. Preocupavam-se mais com o rival do que com o seu próprio clube”
4º lugar: Veranópolis 2 x 1 Inter, em 2007
Depoimento de Ceará (atualmente no Paris Saint-Germain):
“Quando jogam contra um time que conquistou um título importante, os adversário têm motivação maior, o que cria mais dificuldade. Naquele momento, o Inter antingiu o auge e deu uma relaxada. Em alguns jogos, achou que ganharia com facilidade. E no futebol você precisa dar sempre o melhor, seja contra um time forte ou fraco. No Campeonato Gaúcho, às vezes você enfrenta equipes menores, que nem conhece, e encontra pouca motivação. Era início de temporada, quando os times ainda estão se arrumando, e nós havíamos ficado de férias até mais tarde do que os outros. Eu ainda tive problemas no tornozelo durante a pré-temporada e voltei mais tarde, ficando fora dos primeiros jogos. Como em qualquer profissão, você tem que provar o seu valor todo dia. Mas no futebol isso é cobrado com mais exigência. O Inter chegou ao Mundial como franco-atirador, foi campeão e teve um ano fabuloso. Por isso, a torcida poderia ter tido mais paciência, sem tanta cobrança, principalmente por se tratar do Campeonato Gaúcho, que serve mais como preparação. A reação foi exagerada. Começamos mal a temporada, mas depois conquistamos a Recopa, o que amenizou o clima”
5º lugar: São Caetano 5 x 0 Inter
Depoimento de Sangaletti (atualmente cursando gestão esportiva):
“Fui a primeira contratação para a temporada de 2003, indicado pelo Muricy. Era um Inter bem diferente do de hoje: estava num astral baixo, em reconstrução. Mas havia uma diretoria correta, querendo dar a volta por cima, e contratando não apenas jogadores, mas homens. Queriam atletas que pudessem agregar algo e que soubessem que a disciplina estava em primeiro lugar. Deveríamos ser um exemplo para as categorias de base, que eram muito fortes. Todos questionavam as contratações, perguntavam: “Quem é esse?”. O Muricy me conhecia do Náutico e contratava dentro das condições do clube. Eu jogava no Guarani e diminuí meu salário, para você ver como eram as coisas. Eu deixei de ir para o Qatar durante o Brasileiro porque sabia que não havia outro jogador para exercer a função de líbero. O Muricy sempre reclamava que não tinha elenco. Mas a diretoria cumpriu com as obrigações, pagando as premiações e os salários em dia. O São Caetano tinha um grande time. Marcamos bem no início do jogo, mas levamos um gol e saímos para cima, pois não haveria uma segunda chance. Era o jogo do desespero. Eu era um dos líderes do time, junto com o Clemer, e saí chateado de campo, mas principalmente por causa do roupeiro e do massagista. Havia uma premiação em caso de classificação para a Libertadores, e eles ficaram sem um bom dinheiro para o fim do ano. Todos estavam dependendo de nós, e não correspondemos. Fui até eles e falei: ‘Desculpem, mas não deu’. Peguei o dinheiro que tinha no bolso e dei para eles. Mas sabia que o Inter estava crescendo, se estruturando fora de campo. E eles me ligaram agradecendo após o título mundial, porque devem ter recebido uma boa premiação. Ajudei a mudar o esquema de premiação quando estava lá, junto com o Clemer e graças à liberdade dada pelo Muricy, e eles agradeceram por isso. Eu já tinha até parado de jogar. Para quem quase foi rebaixado em 2002, quase chegar à Libertadores foi um grande passo”
É a vez do Inter na seção Jogos na Memória, com cinco motivos de orgulho e outros cinco que envergonham o torcedor colorado. Confira abaixo quais são eles, com os depoimentos de quem participou dos episódios.
E deixe o seu recado nos comentários: quais são os jogos de orgulho e de vergonha do Inter?
A matéria no GLOBOESPORTE.COM pode ser lida aqui.
OS ORGULHOS:
1º lugar: Inter 1 x 0 Barcelona, em 2006
Depoimento de Fabiano Eller:
“Nosso principal mérito foi não ter medo do Barcelona na final do Mundial. Estávamos confiantes. Outra qualidade foi a forte marcação, que eles não esperavam. Foi uma coisa que observei na Espanha. Real Madrid e Barcelona tinham times de qualidade, claro, mas enfrentavam sempre adversários que usavam uma linha de quatro na defesa. O Barcelona não estava acostumado a enfrentar uma equipe que mantivesse alguém na sobra. Isso atrapalhou os jogadores bons em passes em profundidade, como o Deco. Acham que todo time brasileiro tem boa técnica e é fraco na marcação. Pensaram que seria um jogo fácil, como foi o chocolate sobre o América do México. Nossa zaga foi muito bem na partida, mas todos ajudaram na marcação. Até os atacantes voltaram para ajudar, já que nem os volantes do Barcelona poderiam ter espaço. A nossa ansiedade passou logo nos primeiros minutos, e aí vimos que daria para ganhar. Só os jogadores confiavam na vitória. Acho que mesmo os colorados, apesar de uma pequena esperança, torciam para perder de pouco. Depois, foi um mês de férias sem esquecer aquele jogo. Lembro até hoje do fim da partida, de todos festejando com a taça no vestiário. Foi o jogo mais importante da minha carreira”
2º lugar: São Paulo 1 x 2 Inter, em 2006
Depoimento de Rafael Sóbis (atualmente no Al Jazira-EAU):
“Aquela era a nossa chance. O São Paulo era o time a ser batido, mas o Inter nunca tinha chegado tão longe e tão forte. Fomos para o Morumbi preparados para uma partida aberta. Era uma característica daquele Inter na Libertadores: jogar igual em casa ou fora. Sabíamos que a missão seria segurar os primeiros 15 minutos, o momento de pressão, para depois impor o nosso ritmo. Fomos ajudados pela expulsão cedo do Josué, o que acabou com a pressão. O São Paulo ficou mais conservador, enquanto nós tentávamos o ataque.
O jogo abriu de verdade depois que o Fabinho foi expulso. Como isso aconteceu no fim do primeiro tempo, nós é que fomos para o vestiário com a sensação de estar com um a menos. Vimos o Fabinho cabisbaixo e dissemos a ele: ‘Não se preocupa, que vamos ganhar por você’. Foi espetacular vencer o São Paulo na final. Foi mais para o Inter do que teria sido para eles, já que haviam sido campeões da Libertadores e do Mundial. Depois desse jogo no Morumbi, o Muricy deve ter pensado que seria difícil ganhar do Inter no Beira-Rio, porque ele nos conhecia bem. Os meus melhores momentos foram com ele. Também conhecíamos o estilo dele, mas ele não mudou tanto o São Paulo quando chegou. Acho que o determinante ali foi conhecer jogador por jogador do São Paulo, assim como eles nos conheciam também. Quem não torcia por Inter ou São Paulo e assistiu aos dois jogos certamente gostou do espetáculo. Foi meu jogo mais marcante, por estar no time do coração e disputando a final. O Inter não era o candidato ao título, mas teve a segunda melhor campanha na primeira fase, atrás apenas do Vélez Sarsfield. Foi aí que vimos que era possível. Depois, fomos ganhando no mata-mata, e a confiança aumentou. Todos os nossos jogadores vinham num grande momento, mas o título passa pelas mãos do Abel Braga”.
3º lugar: Fluminense 0 x 2 Inter, em 1975
Depoimento de Paulo César Carpegiani (atualmente técnico, sem clube):
“O Fluminense pagou pela propaganda antecipada. Na época, era um jogo só na semifinal do Brasileiro. E não éramos considerados nada pelo Fluminense, a decantada Máquina. A comissão técnica deles já havia pedido o VT de Cruzeiro x Santa Cruz, a outra semifinal. Pagaram pela petulância, pela arrogância. O Minelli pegou os jornais no Rio e usou na preleção, para mostrar como o jogo vinha sendo tratado pelo Fluminense. Eles conseguiram uma jogada logo no começo da partida, com um chute de Gil para fora depois de um lançamento de Rivellino, e depois só concluíram a gol aos 25 minutos do segundo tempo. Foi um chocolate que jamais será esquecido na história do futebol. O Fluminense vinha de uma vitória por 4 a 2 sobre o Palmeiras, o que fez com que estufassem o peito. Jogamos com muita raiva, o que foi um fator de desequilíbrio. O Fluminense tinha um baita time, talvez até superior ao nosso. Mas tivemos enorme facilidade, foi um jogo de um time só. O placar de 2 a 0 foi até pequeno. Fizemos uma marcação muito forte, sulina, e Rivellino e Paulo César Caju não conseguiram jogar. Esse foi o primeiro título nacional do Inter e abriu caminho para outros. O primeiro é sempre mais difícil. Tínhamos um ótimo time desde 1970, fomos octacampeões gaúchos (em 1976), e essa foi a nossa grande prova, já que éramos chamados de caseiros”
4º lugar: Inter 2 x 1 Grêmio, em 1989
Depoimento de Nilson (atualmente empresário de eventos):
“Sabíamos que nada estava decidido no primeiro jogo, mas aquele empate aumentou a nossa confiança e deixou a torcida eufórica. O jejum diante do Grêmio na época nem me afetava, pois aqueles foram os meus primeiros Gre-Nais. Se conseguíssemos a vitória, quebraríamos um tabu e entraríamos para a história. Vai ser difícil repetir uma situação parecida com essa, em que Grêmio e Inter se enfrentaram pela semifinal de um Brasileiro. Mesmo o Gre-Nal do centenário não ficou tão marcado. Durante o jogo, fiquei preocupado quando o Casemiro foi expulso. O Inter esteve mal no primeiro tempo. O Grêmio marcou bem, não nos deixou jogar e massacrou. Se fizesse 3 a 0 no primeiro tempo, seria normal. Fomos cabisbaixos para o intervalo, mas o Abel cobrou muito e ganhou o jogo com a alteração que ele fez, trocando Leomir por Diego Aguirre. Na hora, eu pensei: ‘O meu treinador ficou maluco. Estamos com um jogador a menos, e ele faz uma alteração dessa…’, O Edu Lima passou a atuar como ala pela esquerda, e o Diego Aguirre ficou fixo na área, me dando mais liberdade. E aí cresceu o meu futebol, pois o meu estilo era mesmo de sair da área. O Grêmio não esperava que o Inter partisse para o ataque e se viu sem saída. Ganhamos confiança após o gol de empate, e a torcida começou a jogar junto. Quando marquei o segundo gol, vi que os gremistas começaram a deixar o estádio e dei um tchauzinho. Para os colorados, foi uma satisfação enorme. Esse só não foi um ano perfeito porque perdemos o título na final. Eu era um jogador desconhecido e fui reconhecido nacionalmente. E consegui a artilharia no meu primeiro Brasileirão, e mesmo chegando ao Inter após cinco rodadas”
5º lugar: Palmeiras 2 x 3 Inter, em 1979
Depoimento de Mauro Galvão (atualmente diretor executivo do Grêmio):
“Esse foi um jogo marcante, pois o Palmeiras era considerado um dos melhores times do momento. Comentava-se que era candidato ao título do Brasileiro, pois tinha uma equipe de qualidade, enquanto o Inter não tinha um futebol tão bonito, embora eficiente. Esse confronto foi como uma final antecipada. O Inter não vinha ganhando um destaque tão grande. Foi ali que deu a arrancada e passou a ser candidato ao título, pois não é fácil ganhar do Palmeiras em São Paulo. Foi um jogo bem aberto, com os dois times buscando a vitória. O Falcão desequilibrou. O Inter foi bem como um todo, mas ele fez a diferença. Além da qualidade técnica, que era normal nas atuações dele, fez dois gols e decidiu a partida. Será difícil repetir um título invicto. Não dá para dizer que será impossível, mas com o sistema por pontos corridos fica mais complicado. Jogamos muitas vezes naquele campeonato (foram 23), mas hoje são 38 rodadas”
AS VERGONHAS:
1º lugar: Inter 2 x 3 Olimpia, em 1989
Depoimento de Luis Fernando Flores (atualmente auxiliar do time sub-17 do Cruzeiro):
“Até hoje lembro dessa semifinal. Para mim foi mais doído, por causa do gol de bicicleta na partida de ida. Um título seria importante na minha carreira, pois aquele gol ficaria marcado. O Grêmio já tinha sido campeão da Libertadores, e o Inter estava próximo. Estávamos muito confiantes após a vitória no Paraguai. Mas esses times sul-americanos são fogo, jogam fora de casa com muita tranquilidade, mesmo inferiores tecnicamente. A nossa maior surpresa foi eles jogarem no ataque. No Paraguai, nós havíamos pressionado o Olimpia. Mas estivemos bem no jogo no Beira-Rio e achávamos que dava para conseguir pelo menos o empate. Quando a decisão foi para os pênaltis, o momento era desfavorável para o Inter. O Olimpia não tinham nada a perder, enquanto na nossa cabeça havia uma obrigação. O Inter tinha um time que primava pelo conjunto, já que não havia um jogador fora de série. Tínhamos Taffarel, Luis Carlos Winck, Norberto, Luis Carlos Martins e Nilson em boa fase. Mas nenhum deles era de fazer a diferença. Outro dia, comentei com o Abel que ficaríamos marcados na história do Inter se tivéssemos conseguido um título. Mas perdemos em 1987 e 88. Em 1989, a diretoria resolveu mudar a fotografia na parede, como costumam dizer. Na época, achei que era precipitado mudar o time, que estava sempre chegando. Mas às vezes você está desgastado e não percebe. No fundo foi melhor, tanto que em 1992 conquistou a Copa do Brasil. No futebol é assim: se você não ganha, não fica marcado”
2º lugar: Inter 0 x 4 Juventude, em 1999
Depoimento de Christian (atualmente na Portuguesa):
“Lembro até hoje desse jogo, e dá dor no coração. Não joguei em Caxias, onde conseguimos um grande resultado, porque estava gripado. Voltei na partida no Beira-Rio, que estava lotado, mas tivemos um resultado frustrante. Não digo que seríamos favoritos contra o Botafogo, mas teríamos boas chances de ganhar o campeonato. E naquela época a torcida estava carente de títulos importantes. Todo o cenário naquela noite indicava uma vitória do Inter. Mas, quando isso acontece, o time da casa acaba perdendo. O Juventude esteve bem na parte tática e teve a felicidade de marcar quatro gols. Nosso time era bom e bem organizado, mas se precipitou na ânsia de querer resolver o jogo e se descuidou na defesa. Quando perdíamos por 2 a 0, fomos para o ataque e levamos mais dois. Três dias depois, pegamos o mesmo time, nas mesmas condições, e ganhamos por 3 a 1 (pelo Gauchão). Mas não dá para comparar as duas situações.”
3º lugar: Bragantino 1 x 0 Inter, em 1996
Depoimento de André (atualmente auxiliar técnico do Inter B):
“Lembro mais da trajetória do Inter naquele campeonato do que dessa partida especificamente. Lembro que havia pouco público no estádio, como sempre. Perdemos um pênalti, mas não dá para analisar uma partida em função de um lance isolado. O time sentiu o pênalti perdido, claro, mas também sentiu o gol levado. O time começou muito bem o Brasileiro e depois foi caindo na segunda metade. Era muito jovem e não soube lidar com a pressão de estar entre os primeiros colocados. Era uma época de renovação no clube, com muita molecada. Não tivemos maturidade suficiente, nem elenco, para saber levar essa situação. Mesmo quando conseguimos três vitórias seguidas (sobre Paraná, Portuguesa e Corinthians), já estávamos lá atrás, no desespero para ficar com uma das últimas vagas. Já não apresentávamos a mesma consistência. O Bragantino não tinha muito a perder, e ainda havia a premiação de times interessados. Ele correu e fez o dele. Não tivemos competência de fazer a nossa parte. A provocação do Grêmio (no placar eletrônico, com ‘Eles estão fora’) é coisa de torcida. Eu fiquei à margem disso. O mundo dá voltas: numa hora um está por cima, e depois é o outro. São ciclos, e é isso que eleva a rivalidade no Sul. Mas hoje o nível de respeito pelo outro está maior, e cada um está mais preocupado com o seu clube. Naquela época, havia amadorismo, e os dirigentes lidavam com paixão. Preocupavam-se mais com o rival do que com o seu próprio clube”
4º lugar: Veranópolis 2 x 1 Inter, em 2007
Depoimento de Ceará (atualmente no Paris Saint-Germain):
“Quando jogam contra um time que conquistou um título importante, os adversário têm motivação maior, o que cria mais dificuldade. Naquele momento, o Inter antingiu o auge e deu uma relaxada. Em alguns jogos, achou que ganharia com facilidade. E no futebol você precisa dar sempre o melhor, seja contra um time forte ou fraco. No Campeonato Gaúcho, às vezes você enfrenta equipes menores, que nem conhece, e encontra pouca motivação. Era início de temporada, quando os times ainda estão se arrumando, e nós havíamos ficado de férias até mais tarde do que os outros. Eu ainda tive problemas no tornozelo durante a pré-temporada e voltei mais tarde, ficando fora dos primeiros jogos. Como em qualquer profissão, você tem que provar o seu valor todo dia. Mas no futebol isso é cobrado com mais exigência. O Inter chegou ao Mundial como franco-atirador, foi campeão e teve um ano fabuloso. Por isso, a torcida poderia ter tido mais paciência, sem tanta cobrança, principalmente por se tratar do Campeonato Gaúcho, que serve mais como preparação. A reação foi exagerada. Começamos mal a temporada, mas depois conquistamos a Recopa, o que amenizou o clima”
5º lugar: São Caetano 5 x 0 Inter
Depoimento de Sangaletti (atualmente cursando gestão esportiva):
“Fui a primeira contratação para a temporada de 2003, indicado pelo Muricy. Era um Inter bem diferente do de hoje: estava num astral baixo, em reconstrução. Mas havia uma diretoria correta, querendo dar a volta por cima, e contratando não apenas jogadores, mas homens. Queriam atletas que pudessem agregar algo e que soubessem que a disciplina estava em primeiro lugar. Deveríamos ser um exemplo para as categorias de base, que eram muito fortes. Todos questionavam as contratações, perguntavam: “Quem é esse?”. O Muricy me conhecia do Náutico e contratava dentro das condições do clube. Eu jogava no Guarani e diminuí meu salário, para você ver como eram as coisas. Eu deixei de ir para o Qatar durante o Brasileiro porque sabia que não havia outro jogador para exercer a função de líbero. O Muricy sempre reclamava que não tinha elenco. Mas a diretoria cumpriu com as obrigações, pagando as premiações e os salários em dia. O São Caetano tinha um grande time. Marcamos bem no início do jogo, mas levamos um gol e saímos para cima, pois não haveria uma segunda chance. Era o jogo do desespero. Eu era um dos líderes do time, junto com o Clemer, e saí chateado de campo, mas principalmente por causa do roupeiro e do massagista. Havia uma premiação em caso de classificação para a Libertadores, e eles ficaram sem um bom dinheiro para o fim do ano. Todos estavam dependendo de nós, e não correspondemos. Fui até eles e falei: ‘Desculpem, mas não deu’. Peguei o dinheiro que tinha no bolso e dei para eles. Mas sabia que o Inter estava crescendo, se estruturando fora de campo. E eles me ligaram agradecendo após o título mundial, porque devem ter recebido uma boa premiação. Ajudei a mudar o esquema de premiação quando estava lá, junto com o Clemer e graças à liberdade dada pelo Muricy, e eles agradeceram por isso. Eu já tinha até parado de jogar. Para quem quase foi rebaixado em 2002, quase chegar à Libertadores foi um grande passo”