Sempre
gostei da história do Julinho Botelho. No último mês de julho tive a
idéia de tentar fazer uma matéria no colégio Julio Botelho. O
entrevistado foi o seu filho (Carlos) e os netos (Beatriz e Rodrigo).
Todos conhecem muito bem a história do grande ponta-direita,
concedendo-me uma excelente matéria. A Beatriz Bim Botelho tem um blog
que homenageia o seu avô, cujo link é http://juliobotelho.blogspot.com/.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O Julinho Botelho nasceu no bairro da Penha, começando a jogar na várzea.
CARLOS BOTELHO:
Isso mesmo. Nasceu no dia 29 de julho de 1929 na Penha, começando na
várzea, sendo que tinham cinco campos e hoje apenas resiste um, através
da força dos moradores do bairro, pois este campo pertence ao Rio Branco
da Penha, clube fundado por ele em 1962 e foi aqui que tudo começou,
saindo da várzea para o Juventus da Mooca.
FTT:
Antes do Juventus, o Julinho fez um teste no Corinthians. Por que não
deu certo de jogar no Sport Club Corinthians Paulista?
CARLOS BOTELHO: Ele fez um teste nos Aspirantes do Corinthians e
tinha feito um treino. Já no segundo, teve que enfrentar os
Profissionais, mas como ele tinha 1m83 de altura, falaram que não
possuía porte de ponta-direita e que iriam escalá-lo como
lateral-esquerdo pra marcar o Cláudio. Como ele não jogava nesta posição
e era atacante, preferiu sair do treino e foi embora.
FTT: Depois do Corinthians, parece que ele teve uma rápida passagem pela Sociedade Esportiva Palmeiras.
CARLOS BOTELHO:
Exatamente. Ele estava assinando um contrato com os Aspirantes do
Palmeiras, mas fez uma partida pelo Stiff (Sindicato dos Tecelões)
contra um time do bairro da Mooca, em uma partida preliminar do
Juventus. Acho que presidente
do Juventus era o Mário Praviato, acabou vendo-o jogando, convidou ele
pra jogar no seu clube, assinou o contrato na terça e no domingo fez a
primeira partida já como Profissional, contra o XV de Jaú e, se não me
engano, foi 1 a 1, com ele fazendo o gol.
FTT: Depois
o Julinho participou do Campeonato Paulista de 1950, formando a
ala-direita com o Rodolfo Carbone que, por sinal, foi artilheiro e
Campeão Paulista no ano seguinte, já como jogador do Corinthians. Qual
era a lembrança que seu pai tinha do Carbone?
CARLOS BOTELHO:
Além de jogarem juntos, meu pai tinha uma grande amizade com o Carbone,
mesmo depois, já veterano, encontravam-se em festas do Juventus, um
clube que sempre homenageava os seus ex-jogadores. Por ser o time que
ele começou, tinha muito carinho e apreço.
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Começando a fazer sucesso no Juventus |
FTT: No Juventus ele já era considerado um grande ponta-direita?
CARLOS BOTELHO: Ele teve destaque no Campeonato Paulista, tanto que ficou apenas seis meses, com a Portuguesa contratando-o.
FTT: A estréia dele na Portuguesa foi contra o Flamengo no Maracanã, com uma derrota por 5 a 2, mas já demonstrando pra que veio.
CARLOS BOTELHO:
A Portuguesa estava em formação. Na verdade o ponta-direita era o
Renato, passando depois para a meia-direita. Neste mesmo ano, o time já
ganhou a sua primeira Fita Azul (dez jogos invictos no exterior). O
ataque era formado por Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão.
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Julinho Botelho, Renato, Nininho, Pinga e Simão |
FTT:
Este time ficou famoso depois do dia 25 de novembro de 1951, quando
goleou o Corinthians por 7 a 3. Foi depois desta partida que a equipe
começou a ser mais reparada e, consequentemente, o seu pai?
CARLOS BOTELHO:
Isso mesmo. A partida estava pra ser desmarcada porque tinha chovido um
dia antes e o campo não estava bom. Como o Corinthians tinha um
esquadrão, falaram que a Portuguesa estava com medo. Então teve o jogo,
foi 7 a 3, com quatro gols do Julinho e, infelizmente, puseram a culpa
no grande goleiro Gilmar dos Santos Neves, que foi até proibido de
entrar no Parque São Jorge.
FTT:
Após o Campeonato Paulista de 1951, teve o Rio-São Paulo no ano
seguinte, com a Portuguesa ganhando o seu primeiro título de destaque,
apesar de que em 51 conquistou a Taça San Isidro numa grande vitória
sobre o Atlético de Madrid.
CARLOS BOTELHO: Nessa
Copa San Isidro (nome em homenagem ao santo da cidade), eles sempre
colocavam a taça contra algum time que eles sabiam que venceriam, com o
troféu continuando lá. Essa vitória de 4 a 3 sobre o Atlético de Madrid
foi fantástica, porque o jogo não acabava nunca, mas o Atlético não
conseguiu ganhar.
FTT: Retornando ao primeiro Rio-São Paulo, uma vitória contra o Botafogo na final. O que significou para o seu pai esta conquista?
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Brandãozinho, Julinho e Djalma Santos |
CARLOS BOTELHO: O
Rio-São Paulo era o título brasileiro. Ganhar ele com apenas dois anos
de carreira, era fantástico. O esquadrão da Portuguesa era muito bom,
ninguém precisava olhar para o outro, pois sabiam o que todo mundo ia
fazer, ainda mais junto com o Djalma Santos, formando uma ala durante
toda a sua carreira.
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Lindolfo,
Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho. Agachados: Julinho
Botelho, Zé Amaro, Ipojucan, Osvaldinho, Ortega e o massagista Mário
Américo
FTT:
1952 foi um ano muito importante na história do Julinho. Depois de ser
campeão do Torneio Rio-São Paulo, foi convocado pela primeira vez à
Seleção Brasileira pra disputar e ganhar o Panamericano. Qual era a
recordação do Julinho desta conquista?
CARLOS BOTELHO: A
Seleção estava em reformulação. Em 1950 havia perdido, sobrando alguns
jogadores e esta derrota ainda estava muito presente na memória do povo.
Ganhar este título foi, como o meu pai falava, levantar o futebol,
porque o brasileiro estava meio desgostoso, não ganhava, ainda mais
perdendo uma final no Brasil. Essa conquista foi como “lavar a alma do
brasileiro”. Ele jamais se esqueceu deste Panamericano, destacando como
uma das mais importantes do futebol no Brasil, chegando depois ao título
mundial de 1958.
FTT: Em 1952 o seu pai foi convocado pra Seleção Paulista, Campeã Brasileira de Seleções neste ano. Como eram essas partidas?
CARLOS BOTELHO:
Como não tinha essa mídia, o técnico da Seleção Brasileira tinha a
competição como base, com os melhores paulistas e cariocas, as vezes com
algum do Rio Grande do Sul. As partidas eram dificílimas, havendo muita
rivalidade entre os paulistas, cariocas e mineiros, sendo que meu pai
dizia que “era sensacional disputar este tipo de torneio”.
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Julinho , Djalma Santos, Pinga e Rubens na Seleção Brasileira |
FTT:
Teve também o Sulamericano de 1953, com o seu pai estando presente e,
no ano seguinte, houve a Copa do Mundo, com o Brasil indo bem, mas teve
azar de enfrentar a Hungria de Puskas e Kocsis, perdendo de 4 a 2, com o
Julinho fazendo um belo gol. O que aconteceu em 1954 pra não ganharmos a
competição?
CARLOS BOTELHO:
Era uma Seleção que tinha se formado em 1952, o ataque era constituído
por Julinho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues, ganhando o Panamericano, perdendo
o Sulamericano de 53 e disputando as Eliminatórias da Copa do Mundo,
com os jogadores se conhecendo bem. Na primeira partida, venceu o México
por 5 a 0 com este ataque. No segundo jogo, empatou por 1 a 1 com a
Iugoslávia, teve prorrogação por causa do empate, com os brasileiro
achando que tinham sido eliminados, sendo que o Jô Soares lembrou muito
bem que “quando eles foram para o ônibus, todos estavam chorando, por
acharem que tinham sido desclassificados, só sabendo na concentração que
estavam classificados”. Pra você ver como a organização era fantástica
(risos). O meu pai não sabia porque o técnico Zezé Moreira mudou o
ataque no jogo contra a Hungria, colocando o Índio no lugar do Baltazar,
tirou o Pinga pra colocar o Humberto Tozzi e mudou o Rodrigues pra
escalar o Maurinho. Mudou praticamente todo o ataque, ou seja, 70% dele.
Pode ser que ali o Brasil tenha perdido esse entrosamento de dois anos,
mas meu pai dizia que os brasileiros jogaram de igual pra igual com os
húngaros, tomando logo os dois primeiros gols, chegou nos 2 a 1, tomaram
o terceiro, encostaram no placar com um gol dele, teve um pênalti em
cima do Julinho que rasgaram o seu calção(temos a imagem) com o juiz não
apitando e, no quarto gol, com os jogadores sendo atendidos do lado de
fora, o jogador húngaro entrou correndo sem pedir permissão ao árbitro,
fazendo o seu ultimo gol. O Brasil não fez feio, jogando de igual pra
igual. Mas a Hungria tinha um time fantástico, com outro tipo de
treinamento, jogando Czibor, Kocsis, Puskas e Hidegkuti. Pena que não
ganharam a Copa.
FTT: Depois
o Julinho voltou a disputar o Campeonato Paulista, com o Corinthians
sendo Campeão do IV Centenário da cidade de São Paulo e em 1955
conquista mais uma vez o Torneio Rio-São Paulo, com uma equipe também
muito boa.
CARLOS BOTELHO:
Era muito forte este time. Não era o mesmo esquadrão de 1952, mas bem
entrosado, com algumas peças que saíram e outras que entraram, dando
tudo certo.
FTT: Nesta época, quem era o lateral-esquerdo que seu pai dizia dar mais trabalho na sua marcação?
CARLOS BOTELHO: Nílton
Santos, apesar de eu ter uma declaração que ele fala “que o Julinho
Botelho me deu vários bailes”. O meu pai sempre o considerou muito leal,
não dava pontapés, era marcação mesmo, portanto tratava-se do oponente
mais difícil. Aqui em São Paulo, jogando na Portuguesa, era o Alfredo
Ramos. Já no Palmeiras, enfrentou muito o Oreco, do Corinthians.
FTT: Na ponta-direita o rival no início era o Cláudio?
CARLOS BOTELHO:
Nunca chegaram a disputar a posição na Seleção. Só jogavam juntos no
Sulamericano de 1953. Disputou mais com o Garrincha, que foi cortado em
54, porque o Maurinho jogava nas duas pontas, havia também o Telê
Santana e o habilidoso Joel. Se formos enumerar os pontas da época, eram
muitos. Hoje, infelizmente, acabaram.
JULINHO É CONTRATADO PELA FIORENTINA
FTT:
Após o Rio-São Paulo de 1955, Julinho Botelho é contratado pela
Fiorentina da Itália, sendo Campeão Italiano em 56 e Vice-Campeão
Europeu no ano seguinte. Como esta passagem por este país?
CARLOS BOTELHO:
Não existia muita informação. Ele saiu da Portuguesa pra jogar na
Fiorentina, sendo uma novidade quando chegou lá, não sabendo muita coisa
da cidade. Não é o grande time da Itália, nunca tinha sido Campeão
Italiano e, já no primeiro ano, ganhou o primeiro título na temporada
1955/56, com onze pontos na frente do Milan. Foi Vice-Campeão da Copa
Européia, perdendo a final para o Real Madrid, que havia sido campeão no
ano anterior, portanto tinham direito a disputar uma única final no
estádio dele. A Fiorentina teve melhores resultados nos outros jogos,
mas na decisão perdeu com um gol de pênalti que havia sido marcado com o
jogador estando a um metro fora da área. Voltou a ser Campeã Italiana
em 1968, com o brasileiro Amarildo, mas nunca mais teve um esquadrão
como esse. A Fiorentina tornou-se grande com o Julinho jogando lá.
Julinho o primeiro agachado a esquerda brilhou intensamente na Fiorentina onde é idolatrado até hoje.
FTT: Por
sinal, na Itália, ele teve uma participação significativa, mas diziam
que sentia muitas saudades do Brasil, da cidade de São Paulo e do bairro
da Penha. Mas, mesmo assim, adaptou-se muito bem no futebol italiano.
CARLOS BOTELHO: Adaptou-se
muito bem. No primeiro ano em que ele chegou à Itália, o seu pai estava
doente e veio a falecer. Uma das histórias que o Cláudio Carsughi conta
muito é que “ele veio ao Brasil e o pai (Francisco Botelho) ainda
estava vivo, falecendo depois”. Voltando à Itália, ele iria jogar contra
a Inter de Milão, um jogo decisivo pra Fiorentina ganhar o título, pois
o Milan estava encostando. O técnico agradeceu a sua presença, querendo
dispensá-lo desta partida, mas o Julinho não aceitou, dizendo que
“jogaria pelo pai dele”, realizando uma das melhores partidas no time.
Quando chegou ao vestiário, de luto, vieram as lágrimas. O “não querer
permanecer” na Itália era por amor ao Brasil, por São Paulo, pelo bairro
da Penha e pela sua mãe (Maria Teixeira Botelho). Apesar dos irmãos
estarem aqui, o filho quer estar sempre presente nesta hora difícil.
Quando encerrou o seu contrato de três anos, o treinador colocou o
contrato na mesa, perguntando quanto o meu pai queria ganhar. Mas
Julinho agradeceu, dizendo que “como o Brasil não existe, como São Paulo
não tem e como a Penha não há”.
Julinho Botelho está ao centro em pé . Time da Fiorentina que conquistou o campeonato italianom 1955-56.
Autografos dos jogadores da Fiorentina. Julinho é o quarto a partir da esquerda.
FTT: No
dia 29 de maio de 1958 houve uma partida entre a Fiorentina e a Seleção
Brasileira. Por sinal considero como “um dos momentos mais bonitos da
carreira do seu pai”, porque era pra ser convocado para a Copa do Mundo
daquele ano e acabou não aceitando.
CARLOS BOTELHO:
Ele jogou em 1954 e foi convocado pra 58. Na ponta-direita iria ele e o
Joel. Por estar a três anos na Itália, não achava justo, sendo que
havia jogadores no Brasil que estavam lutando por um espaço. Mandou uma
carta pra CBD, cujo presidente era o João Havelange, agradeceu a
convocação, falando que não aceitava por não ser patriota, mas por amor
ao Brasil que estava fazendo isso, queria disputar a Copa do Mundo, mas
não achando justo, aparecendo aí o grande Mané Garrincha para o mundo.
Ele estava esperando o jogo do Brasil contra a Fiorentina, iria pra
Suécia e seria ele o titular, com o Joel na reserva.
FTT: Quando
ele veio ao Brasil, teve proposta do Corinthians, Palmeiras e
Fluminense. O que fez o Julinho decidir pela Sociedade Esportiva
Palmeiras?
CARLOS BOTELHO:
Ele não achava justo fazer leilão. Falou para os clubes colocarem o
valor dentro de um envelope e, dependendo da proposta, aceitaria. Não
falaria de um clube para o outro. E a melhor proposta veio da Sociedade
Esportiva Palmeiras.
JULINHO BOTELHO RETORNA AO BRASIL E VAI PARA O PALMEIRAS
FTT:
Então Julinho é contratado pelo Palmeiras, faz um bom Campeonato
Paulista em 1958 e, provavelmente, o grande ápice da carreira dele foi
no dia 13 de maio de 1959, em uma partida da Seleção Brasileira contra a
Inglaterra, com vitória do Brasil por 2 a 0. Antes de o jogo acontecer,
houve um fato muito curioso que o Carlos contará.
CARLOS BOTELHO:
Foi a primeira partida da Seleção Brasileira no Brasil após a conquista
do título mundial, em um jogo contra uma equipe que nunca havia vencido
(na Copa do Mundo foi 0 a 0) e teve a vaia. A torcida carioca queria
ver o Mané Garrincha, que havia jogado a Copa. O meu pai, há uma semana,
já sabia que seria o titular e que o Garrincha não estava numa boa
fase. O técnico Vicente Feola disse à ele que “receberia uma grande
vaia”, com o meu pai dizendo que “não havia importância, porque joga no
Palmeiras e quando joga contra o Corinthians, que tem a torcida maior,
também é vaiado, portanto não o abalaria”. Essa partida ficou marcada
porque havia quase 200 mil pessoas no Maracanã, tropeçou no último
degrau do túnel (quase caindo), mas mesmo assim ele comentou com o
Nílton Santos e o Djalma Santos que “eles vão engolir essas vaias”. Aos
três minutos do primeiro tempo, já fez um gol, estraçalhando com o jogo,
sendo considerado o melhor jogador em campo, saindo aplaudido por mais
de dez minutos, tanto que o técnico inglês perguntou “quantos Garrinchas
vocês têm”?
FTT: Neste
mesmo ano, mais precisamente no início de 1960, numa decisão da
melhor-de-três, foi decidido o Super Campeonato Paulista de 59, uma
final contra o Santos, com o Palmeiras vencendo por 2 a 1, sendo que o
Pelé marcou o primeiro gol santista, Julinho empatou e Romeiro fazendo o
gol de falta. Deve ter sido uma grande emoção para o seu pai essa
conquista por nunca ter vencido esta competição.
CARLOS BOTELHO:
Sim. Ele saiu do Juventus, ganhou duas vezes o Rio-São Paulo e a Fita
Azul na Portuguesa, mas não conseguiu o título paulista. O Palmeiras já
ia faze dez anos que não ganhava, jogando contra aquele timaço do Santos
de Pelé e, ser campeão, foi algo marcante na carreira dele.
FTT: No
ano de 1960, venceu uma Taça Brasil numa vitória de 8 a 2 contra o
Fortaleza, disputando a Libertadores de 61. Em 1962 era pra ir à Copa do
Mundo do Chile e também não foi. Por que não foi nesta vez?
CARLOS BOTELHO: Na
convocação, uma semana antes do embarque, já estavam na concentração,
ele machucou a virilha, quando disputava a posição com o Garrincha. Ao
se machucar, o Pelé, Djalma Santos, Nílton Santos e Gilmar vieram
conversar com ele, dizendo que “pelo gesto nobre de 1958, abrindo mão de
disputar uma Copa do Mundo que estava convocado, deveria desta vez ir
com eles, mesmo não jogando, pois se o Brasil ganhar, seria junto com o
time”. E mais uma vez ele falou que não iria, porque na cabeça dele “se o
a Seleção Brasileira fosse campeã, o Julinho seria também e, se
perdesse, levaram o Julinho machucado”. Não achando justo, indicou o
Jair da Costa, que era da Portuguesa, sendo que foi o que o técnico
Aymoré Moreira fez, levando este jovem jogador.
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Julinho e Humberto Tozzi |
FTT:
No ano seguinte, o Palmeiras foi Campeão Paulista mais uma vez,
quebrando aquela sequência do Santos como único time de São Paulo que
dava trabalho ao formidável time de Pelé. Dizem que este título foi
praticamente ganho pelo seu pai. Claro que o Palmeiras já tinha uma
equipe fabulosa, mas praticamente o Julinho foi o responsável por mais
essa conquista.
CARLOS BOTELHO: Era
a primeira Academia, com o Vavá e o Ademir da Guia começando, portanto
já tinha um grande esquadrão. O Palmeiras era mesmo o único time que
encarava o Santos de Pelé, não tinha “perder e ganhar”, o jogo era
difícil, muito parelho e, com este título de 1963, meu pai comentava que
“talvez tenha sido o melhor ano dele, estando em quase todos os jogos e
jogando bem”.
A
primeira grande Academia tinha entre outros: Picasso, Servilio, Ademir
da Guia, Julinho Botelho, Valdemar Carabina, Djalma Dias, Vicente, Vavá,
Gilvo, Djalma Santos, Zequinha, Silvio Pirilo
FTT:
Em 1964 foi ainda convocado pra Seleção Brasileira. E, no ano seguinte,
um grande momento, quando o Palmeiras representa a Seleção, com o eu
pai sendo substituído pelo Germano, na vitória de 3 a 0 contra o Uruguai
na segunda partida do estádio Mineirão. Boas recordações do Julinho
deste jogo?
CARLOS BOTELHO:
Boas recordações. Nesta partida, ele estava machucado, não era pra ir
por causa de contusão, mas o técnico Filpo Nuñes pediu para que ele
fosse, conseguiu se recuperar nas vésperas, jogando meio tempo na
Seleção Brasileira e marcou a história dele porque pela primeira vez um
técnico que não era brasileiro dirigiu a Seleção, do qual ele tinha
muito carinho.
FTT:
No ano de 1966, o Palmeiras é novamente Campeão Paulista, quebrando
mais uma vez a marca do Santos, com o seu pai praticamente em final de
carreira. E no dia 12 de fevereiro de 1967, numa partida no Parque
Antártica contra o Náutico, uma vitória de 1 a 0, o Julinho foi
substituído aos 32 minutos do primeiro tempo pelo peruano Gallardo,
sendo que no primeiro lance que ele erro, a torcida pedia para que seu
pai voltasse.
CARLOS BOTELHO:
Isso mesmo. Foi o encerramento, sendo que o Gallardo era um grande
ponta-direita, mas o Palmeiras tinha muito carinho pelo meu pai, parando
no auge, mesmo com 37 anos, ainda tinha muito vigor físico e era bem
profissional. Parou porque achava que tinha que parar no auge,
encerrando a carreira muito bem fisicamente, sendo por isso que a
torcida palmeirense pedia para que ele retornasse. Essa é a história
dele.
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Julinho e Djalma Santos |
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Julinho e Valdir
FTT:
Não posso deixar de falar do grande companheiro do Julinho Botelho, que
foi o Djalma Santos, jogando com ele na Portuguesa, Palmeiras, Seleções
Paulista e Brasileira. O que seu pai dizia deste formidável
lateral-direito?
CARLOS BOTELHO:
O Djalma Santos realmente foi o grande companheiro dele. Só não jogaram
juntos no Juventus e quando o meu pai foi pra Fiorentina. Quem trouxe o
Djalma para o Palmeiras foi o técnico Oswaldo Brandão e o meu pai. Ele
estava pra ir para o Corinthians e, se não me engano, pro Botafogo ou
Fluminense. O Julinho foi pra casa dele e disse que “era pra jogar com
ele no Palmeiras”. Jogaram praticamente toda a carreira juntos. Acho
muito difícil isso voltar a acontecer no futebol. Ambos tinham um
carinho muito grande pelo outro. Toda vez que eu me encontro com o
Djalma Santos, ele comenta sobre isso.
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Carlos (filho) e Beatriz (neta)
Mauricio Sabará entre Neatriz e Carlos Botelho
FTT: Depois da carreira de jogador, o Julinho chegou a ser treinador.
CARLOS BOTELHO: A
carreira de treinador foi gloriosa. Ele nunca quis ser profissional,
algumas vezes treinou o Palmeiras quando houve troca de técnico, parece
que assumiu a Portuguesa por duas vezes, mas não gostava. Quando eu falo
de glória, é porque ele sempre quis jogador de base, queria revelar
talentos, portanto a vontade dele sempre foi essa, mostrar a experiência
que tinha aos mais jovens, tanto como jogador como de vida. |
Beatriz e Carlos cuidando e preservando a historia de Julinho Botelho com muito carinho.
FTT: Rodrigo Botelho, neto de Julinho, fale de um grande momento que você passou por causa do seu avô.
RODRIGO BOTELHO:
Estive em uma homenagem na Itália e num jogo entre Fiorentina e Inter
de Milão, me chamaram no meio de campo pra entregar uma placa no
intervalo do jogo, com o estádio inteiro gritando e aplaudindo o nome
dele, o que foi muito emocionante pra mim, ficando gravado na minha
memória, ainda mais depois de tantos anos que ele jogou lá, o povo não
esqueceu do Julinho e os jovens sabendo quem foi. Tive que dar autógrafo
na porta do estádio por ser neto dele. Isso foi em 2005, dois anos
depois do falecimento do meu avô e foi bacana saber que lá a memória
ainda está muito viva.
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.