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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Treze capítulos da rica história de um campeão: Zagallo






Mario Jorge Lobo Zagallo completa 80 anos nesta terça-feira. Um nome que está marcado eternamente na história do futebol mundial. Único a possuir quatro títulos mundiais no currículo. O primeiro e um dos dois a ter conquistado Copas do Mundo como jogador e como treinador (o alemão Franz Beckenbauer o acompanha neste seletíssimo clube). Uma rica trajetória recheada de momentos marcantes. Listamos 13 para lembrar o número preferido do multicampeão.

1) 1950
Com 19 anos e ainda no time de aspirantes do América, o alagoano Mário Jorge esteve presente em sua primeira Copa do Mundo. Na decisão. Dentro do Maracanã. Mas não no gramado, como estaria oito anos depois. Naquele ano, o futuro tetracampeão mundial era soldado do Exército. E, devido a sua ligação com o futebol, foi designado para fazer a segurança dos torcedores em Brasil x Uruguai, em 16 de julho. Deveria ficar de costas para o campo, acompanhando a movimentação dos torcedores nas arquibancadas. Mas se lembra até hoje perfeitamente do gol de Gigghia, que causou a maior derrota da história do futebol brasileiro.
2) 1958
Quanto tempo um jogador precisa ter de experiência na Seleção Brasileira para ser convocado para uma Copa do Mundo? E para ser titular do time no Mundial? Alguns anos? Seria a resposta mais esperada. Não para Zagallo. O ponta-esquerda do Flamengo fez sua primeira partida com a ‘amarelinha’ que tanto gosta em 4 de maio de 1958. Exatos 35 dias antes da abertura da Copa disputada na Suécia. A boa atuação na goleada por 5 a 1 sobre o Paraguai, com direito a um gol, o ajudou a garantir a convocação para o Mundial, derrotando Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo, na luta pelo posto de reserva de Pepe. Reserva?
Reserva. Pepe, camisa 11 do Santos, embarcou para a Europa com o status de titular da posição. Iniciou os amistosos contra a Fiorentina (4 a 0, um gol do santista) e Internazionale. O jogo contra o time de Milão teve o mesmo placar, mas foi outro ponta-esquerda a balançar a rede. Pepe sentiu um distensão muscular na coxa e foi substituído por…Zagallo. Que marcou o quarto gol da vitória brasileira. Machucado, Pepe acompanhou o Mundial fora do campo. Zagallo foi titular nos seis jogos do Brasil. E marcou o quarto gol brasileiro na decisão contra a Suécia.

5) 1962
Quatro anos depois, a estrela de Zagallo voltaria a mostrar sua força. Em 1961, Pepe foi titular de quatro dos cinco jogos da Seleção no ano que antecedeu a Copa do Chile. Zagallo, já no Botafogo, não iniciou nenhum. Em 62, cada um foi escalado para começar três partidas. Mas na hora do Mundial…Como na Suécia, Pepe chegou ao Chile machucado e Zagallo voltou a disputar os seis jogos da campanha vitoriosa do bicampeonato. A imagem do atacante, já com 30 anos, aos prantos, após a vitória sobre a Tchecoslováquia na decisão, é uma das mais marcantes da conquista.
6) 1968
Em 66, o Brasil foi defender o título mundial na Inglaterra. Mas Zagallo já estava fora das quatro linhas. Havia se aposentado no ano anterior. Mas não conseguiu ficar longe do futebol. Em 67, após treinar o time de aspirantes do Botafogo, assumiu o posto de treinador da equipe principal. E rapidamente, na nova função, acrescentou um título ao seu currículo: campeão carioca. Em 68, mais duas conquistas: bicampeão carioca e da Taça Brasil.
5) 1970
Em 58, Zagallo estreou na Seleção Brasileira 35 dias antes da abertura da Copa do Mundo. Em 70, o pontapé inicial como treinador da equipe principal teve uma distância maior para o começo do Mundial. Um pouco maior: 74 dias. Após a demissão de João Saldanha, Dino Sani, então treinador do São Paulo, recusou o convite de João Havelange. O presidente da CBD então procurou um velho conhecido das campanhas de 58 e 62. Diante da possiblidade de voltar a disputar uma Copa do Mundo, Zagallo, então no Botafogo, aceitou na hora. E treinou a equipe pela primeira vez em 22 de março de 70. Dois meses e meio depois, iniciava a campanha no México contra a mesma Tchecoslováquia, seu último adversário em Mundiais como jogador.
Justiça seja feita: Zagallo fez importantes mudanças na excelente base deixada por Saldanha: deslocou o meia Piazza para a zaga; efetivou Clodoaldo no meio-campo e Félix no gol; e, o mais importante, encontrou uma fórmula para que Pelé, Tostão, Gérson, Jairzinho e Rivellino jogassem juntos. O resultado é mais do que conhecido: Brasil campeão, com seis vitórias em seis jogos. Uma campanha 100%, que nem os times de 58 e 62 haviam conseguido.
6) 1974
Com o título mundial, Zagallo seguiu no comando da Seleção. Mas quatro anos depois, peças importantes no México já não vestiam mais a camisa amarela: Gérson, Tostão, Carlos Alberto Torres…e Pelé. E sem elas, o Brasil não foi nem sombra do time de 70. Na primeira fase, fez três gols em três jogos. Todos contra o fraco Zaire. O time até deu impressão que engrenaria ao vencer a Alemanha Oriental e Argentina. Mas parou na Holanda. Zagallo mostrou desconhecimento e pouco respeito pela Laranja Mecânica. E acabou tendo que ir disputar o terceiro lugar. E nem isso conseguiu. Ficou em quarto ao perder para a Polônia. Jogo que marcaria a despedida do treinador da Seleção.
7) 1978
Sem a amarelinha, Zagallo comandou o Botafogo em 75, antes de ficar três temporadas no Kuwait. Em 78, voltou ao Alvinegro carioca. E mesmo sem conquistar um título revelante, teve uma boa passagem pelo clube, ajudando o time a estabelecer o recorde de invencibilidade no futebol brasileiro: 52 jogos, entre 77 e 78.
8) 1994
Na década de 80, Zagallo passou por Vasco, Flamengo, Botafogo e Bangu, além de clubes no Emirados Árabes e Arábia Saudita. Nos clubes brasileiros, não sentiu o gosto de um título sequer. E em 91, decidiu aceitar o convite de Carlos Alberto Parreira, auxiliar de preparação física na comissão técnica de 70, para ser seu escudeiro na Seleção Brasileira. Diante de seu temperamento e experiência, não se contentou em ser uma figura decorativa no cargo. Dava conselhos ao comandante, respondia às críticas da imprensa, tentando proteger Parreira dos embates, e chegou a criar uma polêmica com Romário, que reclamou ser reserva em um amistoso contra a Alemanha, em dezembro de 92.
Após a sofrida classificação para o Mundial, nos Estados Unidos criou, ao seu estilo, uma contagem para o tetra. “Faltam quatro jogos”, “faltam três”…E voltou a ter o prazer de levantar o troféu. Pela quarta vez. Não mais a Jules Rimet. Era a vez da Taça Fifa.
9) 1996
Com o título nos Estados Unidos, Parreira decidiu deixar a Seleção por cima. A vaga se abriu e Zagallo não deixou a oportunidade escapar. Já sexagenário, assumiu a equipe campeã mundial. Não satisfeito, decidiu comandar o Brasil nas Olimpíadas de Atlanta-96. O objetivo era acrescentar mais um título ao extenso currículo: a inédita medalha de ouro olímpica. Mas dessa vez a estrela de Zagallo não brilhou. Para as três vagas destinadas aos jogadores com mais de 23 anos, o treinador optou por um zagueiro (Aldair), um meia (Rivaldo) e um atacante (Bebeto). Deixando Romário no Brasil, para revolta do Baixinho. Com o jovem Ronaldo em grande forma, a Seleção chegou à semifinal, mas perdeu para a Nigéria por 4 a 3, após estar vencendo por 3 a 1.  O bronze não apagou a tristeza de experiente treinador, que considerou aquela a maior decepção de sua carreira.

10) 1997
No ano seguinte, o desafio era a Copa América. E na Bolívia, a Seleção confirmou seu favoritismo e conquistou o título. Com Romário e Ronaldo em grande fase, a equipe venceu os seis jogos. Após o triunfo sobre os bolivianos na decisão, Zagallo desabafou contra jornalistas que o criticavam, pronunciando uma frase que sempre será lembrada em qualquer retrospectiva sobre a trajetória do tetracampeão mundial: “Vocês vão ter que me engolir”. No final do ano, os críticos ainda teriam que engolir o título da Copa das Confederações.

11) 1998
Mas em 98, Zagallo não teve motivos para comemorar. A seleção chegou ao Mundial da França cotada como favorita ao título. A campanha foi irregular. Venceu a Escócia na estreia graças a um gol contra. Passou pelo fraco Marrocos e perdeu para a Noruega. Mas o time melhorou no decorrer da Copa. Eliminou o Chile e passou pelo bom time da Dinamarca. Na semifinal, Zagallo apelou para Santo Antônio e motivou os jogadores na disputa de pênaltis contra a Holanda. Taffarel brilhou com duas defesas e o Brasil chegou à final. A quinta de Mundial em que Zagallo estaria presente (descontando a como soldado em 50). Mas a sequência de triufos foi interrompida.
Com os nervos abalados com o mal-estar de Ronaldo na concentração (até hoje Zagallo é questionado porque liberou a escalação do atacante), o time não foi páreo para a França e ficou com o vice-campeonato. A derrota por 3 a 0 decretou a saída do velho comandante do cargo que tanto gostava.

12) 2001
Apesar da demissão da Seleção, Zagallo não se deu por vencido. Em 1999, aos 68 anos, decidiu navegar em novos mares, aceitando o convite para trabalhar em São Paulo e ser treinador da Portuguesa. Sem grandes resultados na Lusa, em 2001 voltou ao Rio e fechou com o Flamengo. Pelo qual, conseguiu um título que mexeu com o coração do veterano técnico. O gol de Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo do jogo final do Carioca diante do Vasco emocionou o Velho Lobo, que comparou aquela vitória à conquista de uma Copa do Mundo.
13) 2006
Após deixar o Flamengo ainda em 2001, Zagallo ganhou uma última homenagem da Seleção, sendo convidado para comandar a equipe em um amistoso contra a Coreia do Sul, em 20 de novembro de 2002. Seria a despedida oficial do velho comandante da amarelinha. Com uma vitória para coroar: 3 a 2. Mas quem disse que Zagallo queria se afastar de vez da Seleção? E em 2006, lá estava ele de novo no banco da equipe, ao lado de Parreira, como seu auxiliar, repetindo 94. Mas algo havia mudado. O tempo havia passado e Zagallo não tinha o mesmo pique de 12 anos antes. Com a saúde abalada, o auxiliar não foi tão atuante na Alemanha quanto nos Estados Unidos. Mas algo foi parecido. Ele viu o Brasil ser superado novamente pela França. Comandada pelo mesmo Zidane que o havia derrotado em 98.

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