Rubens
Minelli, um dos maiores técnicos do futebol brasileiro, foi o meu
entrevistado do dia 13 de Fevereiro de 2012. Obtive o seu contato
através do meu amigo Matheus Trunk (Alltv). O grande treinador me
concedeu uma bela entrevista, sendo que, da mesma forma que Mario
Travaglini, mostrou todo o seu conhecimento sobre futebol.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Rubens
Minelli, você nasceu no dia 19 de Dezembro de 1928. Seu pai, José
Minelli, foi um ex-jogador de futebol, jogando na época do Artur
Friedenreich. Ele comentava sobre o próprio Friedenreich e tantos outros
jogadores desse tempo?
RUBENS MINELLI:
Eu cheguei ainda a ver o Friedenreich jogar em 1935 no São Paulo da
Floresta. Ele sempre foi saudosista, contava sobre os jogadores, fatos
jocosos, craques farristas e falava que o presidente do clube que ele
jogava, o São Bento, era delegado de polícia, sendo que nas vésperas dos
jogos prendia os atletas pra não fazerem folia (risos!). Meu pai
realmente gostava muito de futebol e talvez seja por isso que eu me
enveredei na carreira. O primeiro presente que ele me deu foi uma bola
de futebol.
FTT: Quando garoto você tinha ídolos no futebol, jogadores que admirava e se espelhava?
MINELLI:
No começo não. Após os 14 anos comecei a jogar no Infantil do Clube
Atlético Ypiranga e por força de estar no time, comecei a assistir aos
jogos profissionais. A equipe era muito boa, inclusive não foi campeão
em determinadas situações porque não deixaram, já que se tratava de um
time pequeno. Havia jogadores maravilhosos, como o Liminha (que jogou no
Palmeiras), o Doutor Rubens (indo depois para o Flamengo), Bibe (atuou
muito tempo no São Paulo e Ponte Preta) e o Silas (centroavante do
Fluminense). Grandes jogadores.
NOTA: A entrevista com o Rubens Minelli aconteceu no dia 13 de Fevereiro, sendo que coincidentemente o Bibe faleceu no dia 17.
Ypiranga 1949 - Em pé: Reinaldo, Osvaldo, Homero, Silas, Belmiro, Giancoli e Dema. Agachados: Liminha, Rubens, Bibe e Minelli.
FTT: Por sinal quem te levou para o Ypiranga foi o seu próprio pai, que também descobriu o Mario Travaglini.
MINELLI:
Fui jogar no Infantil do Ypiranga porque o meu pai trabalhava numa
fábrica de meias, era o Gerente Geral, sendo também o Diretor do clube.
Como já tinha idade e estava jogando bem na várzea, passei a jogar no
Infantil e Juvenil do Ypiranga, indo depois ao Profissional, como
ponta-esquerda reserva do Válter (jogou posteriormente na Portuguesa de
Desportos), daquele time consagrado que citei. Esses sim foram os meus
primeiros ídolos.
FTT: Parece que na ocasião jogou um período no São Paulo Futebol Clube, a partir de 1946.
MINELLI:
Realmente, saí do Ypiranga em uma ocasião, fui com alguns amigos fazer
um teste no São Paulo e acabamos ficando por lá. Joguei de 1946 à 1947,
fui Campeão Juvenil, chegando a jogar nos Aspirantes por algumas vezes.
Vicente Feola era o meu treinador. Depois voltei para o Ypiranga, já
como Profissional, em 1949.
FTT: Qual é a sua lembrança dessa fase profissional no Ypiranga e dos jogadores que enfrentava dos times grandes de São Paulo?
MINELLI:
Fui um jogador mediano, não me sobressaí tanto como o Mario Travaglini e
o Dino Sani, que foram muito mais longe como jogadores. Tive muitas
contusões. É evidente que a partir do momento que se chega à uma equipe
profissional, disputando um Campeonato Paulista, jogar contra grandes
times como o Corinthians, São Paulo e Palmeiras, o que realmente foi
muito bom, deixando boas lembranças.
FTT: Pouco tempo depois teve uma oportunidade de jogar no Nacional da Comendador de Souza.
MINELLI:
Tive sim. Entrei na faculdade quando estava parado e jogando na várzea.
Houve aqueles festivais varzeanos do dia Primeiro de Maio e havia
muitos campos de futebol no bairro do Bom Retiro. Jogamos contra os
profissionais do Nacional Atlético Clube, o antigo SPR, cujo treinador
era o Caetano de Domenico, que foi meu técnico no Ypiranga, me
convidando pra jogar no time e fiquei dois anos lá.
Nacional - Rubens Minelli é o ultimo agachado a direita
FTT: Depois
do Nacional jogou no Taubaté, conquistando o seu único título
profissional como jogador, o Campeonato Paulista da Segunda Divisão de
1954.
MINELLI:
Foi realmente isso. Sempre joguei em times pequenos, com exceção do
Ypiranga em um ano que merecia ser campeão e não foi. Eu estava no
Palmeiras fazendo um teste, já estudava na faculdade e jogava na Seleção
Paulista de Universitários, sendo que numa determinada situação não
podia jogar no Parque Antártica, pois já havia começado o Segundo Turno,
com o Arnaldo Tirone me indicando ao Taubaté, que procurava jogadores.
Tive mesmo a felicidade de conquistar um título da Segunda Divisão
Profissional
Taubaté 1954 - Novamente Rubens Minelli é o ultimo agachado a direita
FTT: Pouco depois foi jogar no São Bento de Sorocaba, sendo que foi justamente lá que acabou fraturando a perna em 1956.
MINELLI:
Estava na faculdade, não pretendia mais jogar futebol, porque ficava
muito difícil pra mim. Era Funcionário Público no Correio, ia à Taubaté
pra treinar e voltava de noite pra estudar. Pretendia mesmo parar, mas
surgiu essa oportunidade, indo jogar no São Bento de Sorocaba e tive a
infelicidade de ter uma fratura muito grave no perônio, que complicou,
fui operado, ficando nove meses engessado e resolvi parar em definitivo
como jogador de futebol.
RUBENS MINELLI DÁ ENTÃO INICIO A SUA CARREIRA DE TECNICO DE FUTEBOL
FTT: Após
este triste fato, foi convidado pelo ex-jogador Canhotinho (auxiliar
técnico do Oswaldo Brandão no time principal) pra ser treinador das
equipes de base do Palmeiras.
MINELLI:
É verdade. O Canhotinho e eu estudávamos juntos na Faculdade de
Economia, além do Richard (outro antigo meia do Palmeiras), que mora em
São João da Boa Vista, sendo que nunca mais o vi. Estudávamos e
jogávamos juntos na Seleção Universitária. Trabalhava nos Correios e
depois de formado fui trabalhar numa firma de Importação e Exportação,
tendo a oportunidade de me reencontrar com o Mílton de Medeiros
(Canhotinho), que foi um jogador maravilhoso, jogando no Palmeiras,
Seleção Brasileira e na França, sendo o responsável direto para que eu
entrasse na profissão de treinador.
Eles
precisavam de alguém pra treinar a equipe de base do Palmeiras e como
eu tinha fraturado a perna, não estava jogando e tomava conta do time da
faculdade, fui convidado pelo Canhoto pra treinar o Infantil do time. A
atividade que tinha de tomar conta do time da faculdade era diferente
do que teria agora. O Canhotinho quis assistir a minha primeira
preleção, falando que teria que ter começo, meio e fim. Ele também
treinava o Juvenil, que era conhecido como Cadetes e me chamou pra ver
como ele fazia a preleção. Assisti e a partir daí passei a me nortear,
vendo o futebol de uma maneira diferente, estudando o porquê das coisas e
levando isso até o final da minha carreira. Se um time era forte,
queria descobrir porque ele era melhor que o outro, o que me ajudou
bastante, porque comecei a ver os pontos fracos e fortes dos times,
procurando nessa diferença descobrir a forma de neutralizar os
adversários, começando a ter sucesso a partir daí. Fiquei cinco anos nas
divisões de base do Palmeiras, ganhando 9 títulos, saindo do clube já
formado
Juvenis do Palmeiras na decada de 50 com Rubens Minelli a direita em pé
FTT: Em 1961 você passou a ser também auxiliar técnico do treinador Armando Renganeschi (ex-jogador do São Paulo) no time principal.
MINELLI:
Era também o auxiliar técnico do Armando Renganeschi, que pediu a
demissão após um resultado ruim de um jogo. Na ocasião ainda era
funcionário público e chefe de sessão, sendo que naquele tempo era
obrigado a andar de paletó e gravata. Chegando ao Palmeiras, o Alberto
Mendes chamou o preparador físico, o Maurício Cardoso, como novo
técnico, ou seja, iria mesmo parar.
FTT: Pouco
tempo depois surgiu a sua primeira oportunidade como técnico
profissional no time do América de São José do Rio Preto em 1963.
MINELLI:
Quando ainda era treinador juvenil do Palmeiras, fomos jogar na divisa
de São Paulo com o Paraná. Coincidentemente o presidente do América de
São José do Rio Preto estava passando por lá, vendo o meu time jogar e
se entusiasmou. Depois de uns quinze dias, uma pessoa mandada por ele me
procurou, convidando-me pra ser técnico profissional do América, que
iria disputar o campeonato da segunda divisão. Teria que modificar
completamente a minha vida, mas como vi que não ficaria mais nas
divisões de base do Palmeiras, acabei acertando com o clube de São José
do Rio Preto, levando uma série de jogadores juvenis muito bons (6 à 7),
mas que não eram aproveitados nos titulares, pois naquele tempo,
diferente de hoje, achavam que deveriam ir para os profissionais a
partir dos 23 anos, sendo que atualmente com 15 ou 16 anos já tem uma
oportunidade.Montamos um time muito bom, fomos campeões da segunda
divisão e subimos pra primeira. Fiquei dois anos e meio no América.
FTT: Depois
do América, você fez foi contratado pelo Botafogo de Ribeirão Preto,
realizando uma excursão histórica à América Central, perdendo apenas uma
partida em 17 jogos.
MINELLI:
Ganhamos um Pentagonal no México e venci um Come-Fogo (clássico contra o
Comercial) no início do Campeonato Paulista de 1966, sendo que a
euforia em Ribeirão Preto era muito grande por esses resultados. O
presidente do América de Rio Preto era o Benedito Teixeira, o Birigui,
apareceu por lá pra me levar de volta. Eu era muito amigo do Waldomiro
da Silva, o presidente do Botafogo de Ribeirão Preto, que já havia
vetado que Ponte Preta me levasse. Expliquei ao presidente do América
que não havia condições de retornar, mas ele mesmo foi falar com o
Waldomiro. Minha família tinha ficado em Rio Preto, meus filhos
estudavam lá, sendo que era a primeira vez que me afastava deles e
sentia muitas saudades. O presidente do Botafogo quis saber se eu queria
voltar. Respondi que na verdade o meu interesse era estar junto com a
minha família. Fui liberado.
A
equipe do América estava caindo. Jogamos a última partida contra o
Comercial, que tinha alguns importantes jogadores que se destacaram no
futebol mineiro, como o Jair Bala. Ganhamos de 5 a 2, com o treinador
deles (Alfredinho), tirando o time do campo, portanto foi um jogo
marcante.
FTT: Em 1967 veio o convite pra trabalhar no Sport de Recife, sendo que na época o Náutico tinha um timaço, com o Nado e Bita.
MINELLI:
O Sport tinha outra estrutura em relação ao América de Rio Preto, um
time de ponta em Pernambuco. Realmente o Náutico era o grande
pernambucano da época. Mas também montamos uma equipe muito boa no
campeonato estadual, vencendo o Torneio Início. Perdemos a final numa
jogada de bola parada e mesmo assim fomos páreos com o Náutico o tempo
todo.
Minha
família foi comigo, mas não se adaptou. Eles acabaram voltando antes e
no final do ano, quando resolveram renovar o meu contrato, acabei não
acertando, já que não queria ficar sozinho por lá.
FTT: Entre 1968/69 algumas passagens rápidas pela Francana e Guarani.
MINELLI:
Pela Francana fui Vice-Campeão da Segunda Divisão de 1968. Já no
Guarani fiquei pouco tempo, mas mesmo assim fizemos uma campanha boa.
Mario Travaglini, Orlando Duarte e Rubens Minelli
RUBENS MINELLI VAI PARA O PALMEIRAS
FTT: O
Palmeiras o contrata na metade do ano de 1969, dez anos depois da sua
estréia nos Infantis do clube. Uma temporada muito boa, conquistando o
Torneio Ramón de Carranza e o Roberto Gomes Pedrosa, contribuindo em
parte para o surgimento da segunda Academia.
MINELLI:
O time da primeira Academia havia envelhecido. Na ocasião queriam
montar um time com jogadores do Interior. Contrataram o goleiro Neuri
(ex-Marília), Baldochi e Eurico (ex-Botafogo de Ribeirão Preto), Chicão e
Copeu (ex-São Bento de Sorocaba), Dé e Serginho (ex-Portuguesa
Santista), etc. Mais tarde chegaram o Luís Pereira , Leão, Madurga (que
não era titular) e o ponta-direita Ronaldo.
Rubens Minelli orienta Cesar Maluco
FTT: Porque você saiu do Palmeiras em 1971 no decorrer do Campeonato Paulista, entrando o Mario Travaglini no seu lugar?
MINELLI:
O Mario Travaglini era administrador do clube na ocasião. Somando toda a
minha passagem no Palmeiras, trabalhei durante nove anos em quatro
ocasiões (1959 a 1963, 1969 a 1971, 1982/1983 e 1987/1988). Nunca me
mandaram embora, pois fui eu mesmo que quis sair. Nesse momento citado
por você, fiz um trabalho muito profícuo. No lugar do Travaglini entrou o
Oswaldo Brandão, o verdadeiro criador da segunda Academia, sendo duas
vezes Campeão Paulista e Brasileiro.
FTT: Após o Palmeiras uma rápida passagem pela Portuguesa de Desportos.
MINELLI:
Antes treinei a Ponte Preta, na ocasião que a minha mãe faleceu.
Fizemos uma boa campanha, com o time sendo campeão do Interior. A equipe
era muito boa, com o Dicá e o Manfrini.
Na
Portuguesa realmente foi uma passagem rápida entre o final do
Brasileirão de 1971 e início do Paulistão no ano seguinte, mas tive a
oportunidade de treinar grandes jogadores como o Marinho Peres, Xaxá,
Ratinho e tantos outros.
Rubens Minelli na Portuguesa em 1972
MINELLI CONQUISTA O BICAMPEONATO BRASILEIRO NO INTER
FTT: Vamos
agora falar, talvez, da sua melhor fase como treinador, que foi a
partir de 1974, quando foi contratado pelo Internacional de Porto
Alegre. O que tem a dizer desse período, sendo três vezes seguido
Campeão Gaúcho (1974/75/76) e Bicampeão Brasileiro em 1975/76? Comente
como foi a formação desse timaço do Inter, com Falcão, Figueroa, Manga e
tantos outros.
MINELLI:
Minha mãe, como já tinha dito, havia falecido. Meu pai, estando viúvo,
não quis morar comigo, preferindo ficar sozinho. Falei pra minha mulher
que optaria de ficar um tempo sem trabalhar, preferindo ver como as
coisas iriam se encaminhar, pois não tinha irmãs, meu pai possuía duas
noras, o que é diferente, mas mesmo assim se deu muito bem.
Na
minha casa apareceram o presidente e os diretores de futebol do América
de Rio Preto, me convidando pela terceira vez pra ser treinador deles,
sendo que eu não queria voltar a treinar na Segunda Divisão, mas mesmo
assim aceitei. Curiosamente estava em São Paulo e um amigo me convidou
pra assistir um jogo num sábado entre o Corinthians e o Internacional de
Porto Alegre (deu empate), mas não tinha nenhuma intenção de ser
técnico do time gaúcho. Não tive contato com ninguém.
Depois
o São Paulo Futebol Clube foi fazer um jogo em Rio Preto e o presidente
do Internacional (Eraldo Hermann), que era são paulino, foi assistir a
partida. Ele estava procurando um treinador. Disseram que na cidade
havia um técnico muito bom, mas que era rico e fazendeiro, que não
queria sair daí. Eu não era nada disso (risos!). Depois de uns quinze
dias, o presidente do Inter me telefonou, dizendo que queria conversar
comigo, pois precisava de um treinador. Fui pego de surpresa, já que a
minha família tinha ido toda pra Rio Preto, criei uma série de
dificuldades e dizendo que a estrada era perigosa. Foram então me buscar
de avião na cidade, conversamos bastante, fiz uma proposta e eles
cobriram. Tive que ir naquele momento, pois o time estava sendo cobrado
pela imprensa e torcida, portanto tinham que apresentar o treinador
naquele mesmo dia.
O
início foi muito difícil, por não conhecer os jogadores, além dos
melhores treinadores gaúchos trabalharem em radio e televisão. Você sabe
como é, o campeonato começou e havia uma campanha da imprensa para que
me mandassem embora. Disse à minha mulher para que fizéssemos os papéis,
pois no segundo semestre voltaríamos pra São Paulo.
No
começo da competição percebi que os times que vinham enfrentar o Grêmio
e o Internacional jogavam com dez atrasados e um recuado, ou seja,
saiam dali pra empatar. Os dois times pagavam para os adversários pra
ganharem um ponto, para que entrassem no Grenal decisivo com um ponto à
frente, para que decidissem como jogariam a partida. As duas equipes
usavam muito disso.
Como
o time do Inter era bastante forte, comecei a mudar a sua mentalidade,
pois iam muito à frente e tomavam um gol. Isso acontecia quando não
estão marcados. Fiz o seguinte: “Se o adversário jogar com outros
jogadores na frente, faremos o mesmo; caso joguem com 8 atrás, jogaremos
também com 8 na frente; meu time é bem mais proporcionado fisicamente e
tecnicamente 10 vezes melhor; vou dividir aquele canto deles, quando
tinham 8 contra 3 atacantes, dividindo os espaços em cada 10 disputas
individuais, ganho 8 e tenho 6 ou 7 chances de fazer o gol”. Isso
incorporou, os jogadores gostaram, começamos a ganhar e fomos campeões
com nenhum ponto perdido. Ganhamos os dois Grenais e todos os outros
jogos.
No
ano seguinte, quando começou o Campeonato Brasileiro, as coisas eram
vistas de outra maneira, usando a mesma mentalidade de não deixar o
adversário jogar, pois quando jogávamos no Rio de Janeiro contra os
grandes clubes, marcávamos a saída de bola deles. Foi difícil, pois
embora fizéssemos uma campanha maravilhosa, dizia-se que o futebol
gaúcho nada e morre na praia. Quando ganhamos do Fluminense no Maracanã,
só faltando o Cruzeiro, começaram a achar que o time era bom, pois até
então só falavam que tinha defeitos, dizendo que ia perder. Ganhamos do
Cruzeiro e fomos campeões.
Já
em 1976 foi mais fácil, um time mais personalizado e fortalecido.
Quando se trabalha com uma equipe campeã, não precisa de muita mudança,
pois se tem dois pontos fracos, dá pra alterar para que o time torne-se
mais forte. Agora quando se perde, tem que mandar embora 6 ou 7
jogadores e começar tudo de novo.
Acabamos
ganhando dois Brasileirões seguidos e fomos Octacampeões Gaúchos.
Quando fui pra lá, tratava-se de uma responsabilidade muito grande,
pegar um time que já era Pentacampeão do seu Estado. Imaginava se
perdesse o campeonato com a pressão dos técnicos gaúchos que estavam
desempregados trabalhando em radio e querendo a minha saída. Eles
estavam preocupados porque entrei no lugar do Dino Sani, que também é
paulista e havia tomado o lugar deles.
Tinha
um contrato de mais um ano, mas meu filho não quis mais ficar por lá e a
família queria voltar pra São Paulo. Procurei a diretoria, pedi a
revisão do contrato, devolvi a eles uma parte das luvas que havia
recebido e retornei pra capital paulista.
TRICAMPEÃO BRASILEIRO CONSECUTIVO, AGORA NO SÃO PAULO
FTT:
Foi aí então que o São Paulo Futebol Clube o contratou no início de
1977. Tratava-se um time que falavam que era bem inferior ao do Atlético
Mineiro, o que, em minha opinião, acho injusto. Tudo bem que o Atlético
fez uma campanha bem melhor, mas o São Paulo também tinha os seus
valores, como o Dario Pereyra, Waldir Peres, Zé Sérgio e Serginho
Chulapa, que estava numa grande fase. Como aconteceu a conquista do
Campeonato Brasileiro de 1977, decidido no início de 78 no Mineirão,
além de você ter escalado o Viana, que nem titular era, pra marcar o
Toninho Cerezzo?
MINELLI:
Você começou essa pergunta falando uma verdade, pois o time do São
Paulo não era ruim. Nós pegamos uma chave (a do sul), com clubes mais
fortes. O Atlético Mineiro pegou a do norte, ficando 7 ou 8 pontos à
frente. Tínhamos que pegar equipes de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul e eles enfrentaram times de Sergipe e Amazonas, portanto
foram ganhando.
O
grande segredo pra chegarmos à final foi, como você bem disse, do
campeonato parar em 1977 e recomeçar no ano seguinte. Na nossa chave
tinha o Corinthians, América do Rio e Internacional de Porto Alegre. O
único jogo que faríamos em casa, por questões óbvias, era contra o
Corinthians e perdemos por 1 a 0, com todo o mundo achando que
estaríamos fora. Quando estava terminando a temporada de 77, reuni a
comissão técnica, reclamando que todos iriam pra casa, encher a cara e
engordar. Eu trabalhava com o Mario Juliato e o professor Medina. Esse
último sugeriu que se convencêssemos os jogadores a estabelecer uma
programação para cada um, diminuindo os excessos, poderíamos chegar à
segunda fase em uma condição melhor que os outros. Reuni-os, mostrei o
plano e toparam. Fiz um exame de insuficiência física e queria ver se
quando eles voltassem, estariam do mesmo jeito. Não perderam 5%.
A
segunda partida seria contra o Internacional e o diretor deles foi me
visitar. O Valmir principalmente, que era o vice-presidente do meu
tempo, disse que se eu ainda estivesse lá, seria Tricampeão Brasileiro e
agora que estou no São Paulo, jogando dois jogos fora, não iria longe.
Eu sabia que o lateral-direito deles, o Cláudio Duarte, disputava um
campeonato maravilhoso, era cogitado pra Seleção Brasileira, sentia um
problema no joelho. Acabei criando uma situação de jogo. O centroavante
Dario jogava pelo lado esquerdo e acabei obrigando-o a jogar pela
direita, deixando o Zé Sergio no mano a mano com o Cláudio Duarte e
ganhamos por 4 a 1, eliminando eles.
Ganhamos
do América do Rio no Maracanã, um time forte, não o Ameriquinha que
conhecemos hoje (risos!). Na minha época de Inter, ganhávamos de todo o
mundo no Rio, menos do América.
Como
disse pra você no início, sempre quis saber o porquê das coisas. O
primeiro vídeo cassete no Brasil foi trazido pra mim, sendo que fui eu
que comecei a gravar jogos pra voltar a vê-los. Tenho esse vídeo até
hoje na minha chácara, aquele grandão (risos!). Comecei a estudar o
Atlético, já que teria que disputar um jogo decisivo. A equipe deles
girava em torno do Toninho Cerezzo, com o goleiro João Leite jogando a
bola pra ele para começar a jogada. Não era um time forte, mas muito
rápido. Todas as jogadas começavam com o Cerezzo pelo lado esquerdo. Eu
não tinha nenhum jogador capaz de fazer aquela função que eu precisava
na minha cabeça, ou seja, não permitir que eles imprimissem essa tática.
Havia o Viana, um canhoto baixinho, chato e ranheta, que quando pegava a
bola, não a perdia pra ninguém. Estava programado que jogaria o Neca.
Naquela noite não dormia, estava com um diretor do São Paulo na
concentração do Cruzeiro jogando snooker e matutando até as 7 horas da
manhã, tomei um banho e fui tomar o café, chamando em seguida o pessoal
pra preleção as 9 e meia. Disse ao Neca que ele não começaria no jogo,
sendo que ele, que era titular absoluto e não iniciaria a final, aceitou
e disse estar á minha disposição, um profissional excepcional. Quando
comecei a desenhar no quadro negro, não coloquei o ponta-direita, os
jogadores estranharam dizendo que faltava um jogador. Disse então que
jogaria o Viana, que quase caiu do banco, mas conversei com ele explicando
o porquê dele ser escalado, dizendo que, quando estivesse com a bola,
ninguém tiraria dele, por driblar muito bem e na ocasião que o Cerezzo
sair com ela é pra marcá-lo em cima por todas as partes do campo. O João
Leite com isso foi obrigado a chutar a bola pra frente, dificultando
bastante o time. Não jogávamos recuados, mas mascando o time deles, que
era muito forte da intermediária pra trás. Tivemos mais chance de ganhar
nos 90 minutos e na prorrogação. Ganhamos nos pênaltis, mas é aquela
história: “Só Deus ajudando para o jogador não errar”! O São Paulo foi
Campeão Brasileiro em função daquilo que os jogadores fizeram.
FTT: Ficou no São Paulo por certo tempo e em 1979 recebeu um convite pra treinar a Seleção da Arábia Saudita.
MINELLI:
Fiquei três anos na Arábia Saudita. Quase nos classificamos pra Copa do
Mundo, chegamos à terceira fase, sobrando a Nova Zelândia, China e o
Kuwait, que era bastante forte e treinado pelo Carlos Alberto Parreira. O
que nos atrapalhou muito é que na Arábia Saudita todos os campos de
futebol eram de grana artificial. Existia um campo de futebol da polícia
militar que tinha gramado, mas havia uma rusga com o presidente, porque
lá tinha dois presidentes, o da Seleção e o da Confederação, que não se
davam bem. Quando solicitei o campo da grama natural, tiraram essa e
colocaram artificial.
Fomos
jogar na Malásia contra a China, porque não me disseram que haveria a
reunião e o sorteio, só fiquei sabendo disso depois, pois fizeram por
conta deles, sendo que como não existia relação diplomática entre os
chineses e os árabes, que eram ligados aos Estados Unidos, eles não
tiveram nem a inteligência de trazerem um jogo pra Arábia, já que
haveria dois jogos em campo neutro, portanto poderíamos até jogar no
Kuwait. Empatamos um jogo e perdemos o outro.
Quando
jogamos contra a Nova Zelândia, empataram conosco aos 45 minutos do
segundo tempo em uma jogada de arremesso lateral, que foi tão longo, que
o jogador deles cabeceou no segundo pau, algo que nunca havia visto na
minha vida.
Voltamos
pra jogar com o Kuwait e perdemos por 2 a 1, praticamente ficando fora.
Ainda existia uma possibilidade, pois a Nova Zelândia veio jogar
conosco, sendo que fomos infinitamente superiores no país deles. O
futebol na Arábia Saudita era amador, os jogadores não ganhavam salário,
sendo que alguns arrumaram emprego na polícia, mas em compensação
recebiam muito dinheiro nas conquistas, até mesmo casa. Como iriam jogar
contra a Nova Zelândia na própria Arábia, não estavam mais
interessados, dizendo que já estavam fora. Só pra você saber, no
primeiro tempo desse jogo terminou 5 a 0 pra Nova Zelândia, ou seja, não
queriam nada com nada. No intervalo entrei no vestiário e falei pro
intérprete repetir tudo que eu dissesse para esses caras no mesmo tom de
voz que eu falar, dizendo a maioria dos palavrões que conhecia e eles
ficaram assustados com os meus berros (altas risadas!). Entramos no
segundo tempo, o time jogou bem, mas fizemos um gol somente no final e
perdemos por 5 a 1. Quando acabou a partida, eu estava fora da única
Copa do Mundo que disputaria e os jogadores estavam dando risada pela
eliminação. Fui até o príncipe e disse que não podia mais trabalhar
aqui, sendo que tinha ainda um ano de contrato, pois se ficasse mandaria
embora uns dez ou doze desses atletas, mesmo sendo os melhores que
tinha. Não é como no Brasil, que quando manda um embora, já surge outro.
Era dia 19 de dezembro de 1981, meu aniversário, tomei de 5 a 1 dentro
de casa e fiquei fora da Copa do Mundo do ano seguinte, ainda mais
sabendo que o príncipe pediu esforço dos jogadores para que vencessem em
homenagem à mim. Tinha passagem pra ir embora no dia seguinte, mas só
fui liberado em fevereiro de 82. O príncipe queria que eu ficasse,
mandou até um intérprete no Brasil pra me convencer, tinha direito à
sete passagens de primeira classe com a minha família, o que recebi,
pois queria devolver e infelizmente acabou a minha passagem na Arábia
Saudita desta maneira.
FTT: Retorna mais uma vez ao Palmeiras em 1982.
MINELLI:
Não fui campeão, mas fiquei um ano e meio por lá, tornando-me o técnico
que mais tempo ficou no cargo na época em que o Palmeiras estava tantos
anos sem ganhar. Como já tinha dito, saí do clube por decisão minha.
VAI PRA O GRÊMIO E QUEBRA A HEGEMONIA DO INTER
FTT: No ano seguinte teve uma passagem pelo Grêmio, sendo Campeão Gaúcho, com o Renato, Valdo e Mazarópi.
MINELLI:
Fui Campeão Gaúcho e quebrei a hegemonia do Internacional, que era
Pentacampeão, com o Grêmio ganhando por mais cinco anos seguidos. O
Valdo começou comigo. A equipe era muito boa, pois além do Mazarópi e do
Renato Gaúcho, havia o Bonamigo e um volante muito bom que era o China.
O Renato ajudou bastante, maluco também (risos!), mesmo tendo machucado
o joelho, pois ele jogava para o time e para ele, driblava o
adversário, ia à linha de fundo, fazia gols, mas se não fizesse
dificilmente seria aproveitado. Na recomposição do time, ele nunca
estava presente, ficando sempre um furo. Quando ele se machucou,
coloquei o Valdo na ponta-direita, formando uma ala maravilhosa com o
lateral-direito Raul, fazendo misérias. Ganhamos os Grenais e fomos
campeões.
FTT: Falaremos
agora da sua primeira e única passagem pelo Corinthians, em 1986. Por
sinal acho que em junho de 80 já havia recebido uma proposta, mas como
tinha contrato na Arábia Saudita, não pode vir.
MINELLI:
O Corinthians tentou me contratar umas quatro vezes e nunca deu certo.
Quando estava na Arábia Saudita, vim de férias pra São Paulo, com o
presidente Vicente Matheus querendo conversar comigo, mas não queria que
ninguém soubesse, então não iria a casa dele e nem ele na minha, pois
sempre terá alguém indo atrás, o que faz parte do futebol. Ele disse que
tinha um escritório na Rua 7 de Abril (Centro de São Paulo) que está
sempre fechado. Falou que ninguém sabia, mas tem sempre alguém que sabe.
Entrei lá, só tinha pó, fiquei de pé, ou seja, estava fechado há muito
tempo (risos!). Ficamos conversando, ele queria mesmo que eu fosse
contratado, eu disse que no momento era muito difícil apesar de estar
querendo voltar, mas dizia que não dava no momento muito grande com
eles, uma família. Não tinha como chegar ao príncipe e dizer isso. Daqui
a pouco começaram a bater na porta, alguém do Corinthians ajeitou e a
imprensa todinha estava lá. Eu disse que não dou nenhuma entrevista, não
tinha nada pra falar, que estava apenas conversando com o Matheus, mas
ele acabou falando que tentava me contratar. No dia seguinte saiu nos
jornais que Minelli era do Corinthians. Cheguei em Brasília e a
embaixada da Arábia Saudita disse que eu estava abandonando o clube. O
príncipe me telefonou, dizendo pra mim voltar, pois queria falar comigo.
Não queria ir lá por ser o campo dele, então viajei de avião Concorde
pra Paris para conversarmos. Chegando no apartamento delem disse que eu
estava abandonando o país, mas respondi que não, nada havia acertado,
mas é que a minha a família queria retornar, liguei pra minha senhora e
pedi para que ficássemos conversando qualquer coisa por uns 10 minutos
(risos!). Depois disso voltei pra Arábia sem problema nenhum. Devido a isso recebi 180 mil dólares.
Em
1985, quando estava no Grêmio, me telefonou o presidente do
Corinthians, me convidando pra ser treinador do time. Disse que não ia
por dois motivos: “O primeiro é que eles já tinham um técnico e por
questão ética não aceitaria; em segundo lugar estava trabalhando em
outro clube e tenho um contrato”. Se ainda tiver interesse, quando
terminar o meu contrato (16/12/85), estou à sua disposição, pois não
pretendia no Sul. Foi o que aconteceu. Só que quando fui conversar com
eles, tinha acabado a Democracia Corintiana, muitos jogadores seriam
mandados embora, com eles querendo que eu fizesse uma relação. Expliquei
que assumiria o time, mas que antes de iniciar os treinamentos teriam
liberdade total pra dispensarem quem eles quisessem, mas que não me
incluísse nessa decisão, pois não tinha nada a ver com isso. Depois que
eu chegasse pra treinar o time, dispensarei os que não me servirem, pois
não tinha nada nenhum problema de política. Fizeram a limpeza, só
sobrando o Biro-Biro, Casagrande, Zenon (que pouco depois foi para o
Atlético Mineiro), o lateral-direito Édson, João Paulo e o goleiro
Carlos. Fizemos um time que não era forte, mas chegamos a disputar as
semifinais e perdemos para o Palmeiras na prorrogação.
FTT: Depois dessa derrota que surgiu a oportunidade de retornar à Arábia Saudita, mas desta vez pra treinar o Al Hilal.
MINELLI:
Nas Olimpíadas de 1984 estava lá em Los Angeles assistindo a competição
com um grupo de amigos e encontrei um príncipe amigo do Al Hilal,
dizendo que ainda me queria lá. Pedi um pouco mais de tempo.
Quando
saí do Corinthians, foram sete pessoas da minha família comigo. Fiquei
lá por 8 meses, ganhei a Copa das Confederações, perdi o campeonato
árabe e fomos Vice-Campeões da Ásia, perdendo a final em casa para o
Furukawa do Japão, que tinha um meia-esquerda (Yasuhiko Okudera) que
jogou no futebol alemão, que arrebentou com o jogo.
Na
ocasião que íamos disputar a Copa do Golfo, tinha um diretor que mexia
com cartas, dizendo que se eu saísse o time seria campeão. Pagaram pra
mim o que deviam e me mandaram embora, mas o time não ganhou (risos!).
FTT:
Teve depois uma rápida e última passagem pelo Palmeiras na Copa União
de 1987, substituindo o Valdemar Carabina quase no final da competição,
mas saindo logo no início do ano seguinte.
MINELLI: Foi uma passagem bem rápida e como de costume saí do Palmeiras por decisão minha.
FUTEBOL PARANAENSE MAIS UM SUCESSO EM SUA CARREIRA
FTT: Em seguida uma boa passagem pelo futebol paranaense.
MINELLI:
Foi interessante isso. No Grêmio o meu preparador físico era o
Carlinhos Neves, um excelente profissional. Quando eu não estava
trabalhando, ele me ligou em casa, dizendo que haveria uma fusão no
Paraná, entre o Colorado e o Pinheiros, fundando o Paraná Clube, uma
agremiação muito rica, com duas sedes sociais e três campos de futebol.
Ele queria saber se tinha interesse em trabalhar no futebol paranaense.
Disse que eu poderia montar a estrutura que quisesse, trabalharia
comigo, montaria tudo que fosse necessário, traria um preparador de
goleiros, haveria três garotos muito bons na preparação física pra
trabalhar conosco quem sabe e tem um bom treinador nas divisões de base.
Realmente era uma potência.
Foi
uma história muito boa, pois de repente chego lá pra trabalhar com uma
função, tinham 60 jogadores, 4 médicos, 4 roupeiros e 4 massagistas. O
meu problema maior era exatamente os jogadores, como escolheria, pois
não conhecia ninguém. Tive uma idéia, chamei a comissão técnica do
Colorado à uma sala, pedindo que eles escolhessem os 15 melhores
jogadores do Pinheiros e fiz o mesmo com o pessoal do Pinheiros para que
fossem escolhidos os 15 melhores do Colorado. Separei os 30, dividi em
27, formando a base do time.
No
primeiro ano perdemos o campeonato. No jogo inicial fomos derrotados
para o Coritiba por 1 a 0. Passamos todo o campeonato sem perder. Eram
duas chaves. Na segunda, perdemos o último jogo para o Atlético
Paranaense por 2 a 1, com o Atlético sendo campeão em cima do Coritiba.
Ficamos invictos durante 18 partidas, ganhando ou empatando.
Disputamos a Série C do Campeonato Brasileiro, chegando em segundo lugar e subindo pra Série B.
Fui
dispensado, pois havia uma rivalidade muito grande, com o Pinheiros
sendo azul e o Colorado era vermelho. Um dia puseram uma placa no chão
pra não pisar na grama em letra azul, houve uma reunião onde era
questionado porque as letras não eram em vermelho. Eu disse que deveria
ser feito um fundo azul com as letras em vermelho. Jogador que era do
Colorado e estava na reserva fazia com que a torcida virasse contra e
vice versa. Foi difícil. No primeiro ano o diretor era do Pinheiros. Já
no segundo era do Colorado, na ocasião em que fui dispensado. Mas
consegui montar um time com estrutura, quase chegamos lá e subi da
terceira divisão.
O
patrimônio do Paraná Clube era sensacional. A sede social do Pinheiros
era monstruosa, com um estádio muito bom para 20 mil pessoas. Já o
Colorado possuía e possui até hoje também um estádio excelente para 25
mil pessoas. O Pinheiros era totalmente informatizado, fazendo trabalho
para a prefeitura do Interior e o pagamento era quinzenal. Fui bem
nesses três anos.
Rubens Minelli atualmente
FTT: Inclusive você também foi técnico do Coritiba.
MINELLI:
Fui treinador do Coritiba num Campeonato Brasileiro. Também dirigi a
equipe em um torneio que ganhamos na final do Botafogo do Rio.
FTT: Depois da fase de treinador foi superintendente de alguns clubes, chegando a trabalhar na Radio Jovem Pan.
MINELLI:
Como superintendente trabalhei no Atlético Paranaense, que tinha uma
estrutura muito forte, vieram me contratar, naquela mesa à sua frente
estive sentado com o presidente Petraglia, ficando das 10 da manhã às 15
horas pra me convencer a trabalhar nessa função. A idéia deles era
outra, pois o treinador do time era o Abel Braga, a equipe não estava
indo bem, sendo que se o Abel fosse dispensado, eu seria o técnico.
Achavam que deveria ser superintendente por ser economista. Eu disse que
tinha que ganhar o mesmo que o Abel Braga, pois se aparecesse outra
coisa pra ganhar mais, largaria o clube. Eles aceitaram. Mas lá o
pessoal é muito torcedor, querem dar palpite, eu ajudava o Abel a não se
desgastar com eles. Quando cheguei lá, o Atlético ficou no Hexagonal
final, mas em quarto lugar. O Abel Braga me disse que não aguentava
mais. Falei com o presidente e o vice, que deixassem ele por minha
conta, pra nos unirmos para que o time fosse campeão, o que aconteceu.
Entramos no Brasileirão, pegamos de cara três ou quatro jogos muito
difíceis, ganhando apenas um e perdendo o restante. Começou gritaria no
vestiário, fui me desgastando, chegou um dia que disse umas boas que
eles não gostariam de ouvir, sumiram o presidente e o vice, colocaram
outras pessoas e fui dispensado.
No São Paulo fiquei um ano e quando faltava uns 15 dias pra terminar o contrato, me dispensaram.
Trabalhei
como comentarista em duas Copas do Mundo pela TV Globo. Na Jovem Pan
também fui comentarista por um ano e meio, além de participar de um
programa no início da tarde de todos os domingos. Foi mais um
aprendizado.
Rubens Minelli com Mauricio Sabará
FTT: Farei
agora uma pergunta que não sei se alguém já te fez. No futebol você
teve muitas alegrias como treinador, mas houve algumas coisas que não
conseguiu, pois nunca foi Campeão Paulista, não dirigiu nenhum time do
Rio de Janeiro e o que muitos comentam de jamais ter treinado a Seleção
Brasileira, mesmo sendo considerado um dos melhores treinadores das
décadas de 70 e 80. Considera como mágoa esses exemplos que dei?
MINELLI:
Não. Como frustração mais por não ter sido Campeão Paulista, pois
cheguei umas quatro ou cinco vezes, mas não conseguir vencer. No
Campeonato Paulista, mesmo não tendo sido campeão, fui escolhido por 4
vezes como o melhor técnico da competição.
Nunca treinei algum clube do futebol carioca, mas cheguei a receber uns cinco convites.
Mágoa
por não ter ido à Seleção Brasileira é evidente que fica aquele
ressentimento, porque no período que poderia ter sido treinador, os
técnicos que foram, fracassaram. Tiraram-me o direito de, quem sabe,
também fracassar na pior das hipóteses (risos!). Eram treinadores que
não tinham feito nada pra estar lá, sendo que foram duas oportunidades.
Na última, em 1986, quando era treinador do Corinthians, o Oswaldo
Brandão era o meu supervisor, entrou na sala de preleção, com aquele
estilo dele pedindo para que parassem, dizendo que agora era comigo, que
havia recebido um telefonema e eu era o treinador da Seleção
Brasileira. Quando saímos da reunião, tinha uns 5 repórteres, inclusive o
J Ávila, Juarez Soares e o Elia Júnior, perguntado sobre isso, mas eu
não sabia nada. O que acontece foi que houve uma reunião em São Paulo
com o meu nome sendo sugerido. Foram para o Rio de Janeiro. Eu tinha
dado uma entrevista nessa ocasião, dizendo que dois jogadores dos quais
não citarei os nomes, jamais levaria. Um deles “talvez” levasse caso
fosse técnico da Seleção, pois não posso admitir em uma Copa do Mundo
com um atleta tendo que ir para se recuperar. Aproveitarem isso no Rio
de Janeiro, dizendo que eu criaria problemas, optando então em conservar
o Telê Santana, que tinha ido bem em 1982. Ficou aquele lamento de me
tirarem o direito de também, quem sabe, fracassar ou ser campeão. Aqui
no Brasil não importa que você trabalhe bem, tem mesmo é que ganhar
títulos.
FTT:
Como última pergunta, falaremos sobre o Muricy Ramalho. Ele conseguiu
algo que somente você tinha, que era ser 3 vezes seguidas Campeão
Brasileiro, só que no caso dele foi pelo mesmo time, o São Paulo. Isso
mudou depois que a Taça Brasil passou a ser reconhecida como Campeonato
Brasileiro, com o técnico Luís Alonso Perez (Lula) sendo o recordista
pelo Santos. O que dizer do Muricy, que sempre fala tão bem de você?
MINELLI:
O Muricy Ramalho foi meu jogador na época do São Paulo e tinha grandes
planos para ele, porque já havia sido titular do time, mas teve muitas
contusões, não conseguindo se firmar comigo, pois antes da minha chegada
era uma das estrelas da equipe. Como trabalhávamos em horário integral,
ele sempre tinha menos condição física que os outros devido às lesões,
tanto que em uma determinada situação disse à ele que não era possível
realizar determinada função, preferindo sempre colocar outro jogador.
Como
treinador de futebol, não podemos falar nada do Muricy, pois certa vez
ouvi de um determinado técnico que quando trabalhou com ele no
Palmeiras, dizer que não sabia nada. Caramba, ele foi campeão no São
Caetano, no norte do Brasil, Rio Grande do Sul, China e ganhou 3
Campeonatos Brasileiros seguidos. Merece receber esse tipo de analise?
O
Muricy Ramalho fala a língua dos jogadores, tem personalidade, se impõe
dentro de sua retórica, fazendo-se entender e é um dos grandes
treinadores do Brasil na atualidade e quem sabe até o melhor.
ENTREVISTA: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.
Revista do Dia MANCHETE ESPORTIVA 1978
A Manchete Esportiva de Março de 1978 trazia em sua capa o time do São Paulo campeão brasileiro de 1977 e decidido em 1978.
05 de março de 1978
ATLÉTICO-MG 0 x 0 SÃO PAULO
Local: Mineirão (Belo Horizonte). Público: 102 974
Árbitro: Arnaldo César Coelho (RJ)
Gols: Darío aos 29 minutos do 1° tempo e Valdomiro aos 12 minutos do 2° tempo
ATLÉTICO-MG: João Leite, Alves, Márcio, Vantuir e Valdemir, Toninho Cerezo, Ângelo e
Marcelo (Paulo Isidoro), Serginho, Caio (Joãozinho Paulista) e Ziza. Téc.: Barbatana
SÃO PAULO: Waldir Peres, Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor, Chicão, Teodoro (Peres) e
Dario Pereira, Zé Sérgio, Mirandinha e Viana (Neca). Téc.: Rubens Minelli
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