O Craque disse e eu anotei - ADEMIR DA GUIA
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ADEMIR DA GUIA:
Então, você sabe que nós viemos pra São Paulo, eu tinha dois anos,
morávamos no Parque São Jorge. Ele jogou 4 anos e sempre falou que não
conseguiu ser campeão paulista. Foi um jogador tricampeão em 3 países,
pelo Flamengo, Nacional e Boca Juniors. Ele tinha esta tristeza de não
conseguir ser campeão no Corinthians. Na verdade, eu era muito jovem,
naquela época não havia televisão, era só rádio, portanto eu não tenho
muita lembrança do meu pai jogando profissionalmente. Lembro quando ele
jogava nos Veteranos, mas isto foi mais pra frente.
ADEMIR A GUIA:
Joguei 4 anos de muita alegria no Bangu. Este clube me deu a
oportunidade de começar. Joguei a primeira vez em 1957 nos Infantis,
quando ficamos em terceiro lugar no Campeonato Carioca. Depois joguei em
58, quando terminamos em segundo lugar. E em 59 o Bangu foi Campeão
Juvenil. Foi uma festa muito grande, porque fazia muito tempo que o
Bangu não era Campeão Juvenil. Inclusive disputamos em 60 o primeiro
Torneio Internacional de Nova York. Levou 4 jogadores deste time que foi
campeão. Então com 18 anos tive o privilégio de estar lá. Nunca tinha
viajado de avião, só andava de trem em um bairro tranqüilo como Bangu.
Pegamos um Super Constellation no Galeão, levamos 23 horas pra chegar à
Nova York. Chegamos lá, aquela cidade, tinha que ser
dólar e eu nem sabia o que era isso. Tinha que aprender Inglês,
queríamos comprar alguma coisa e falar how much. E foi esta a minha
primeira viagem, fomos campeões do Torneio Internacional de Nova York.
Não éramos titulares, mas fui escolhido como o melhor jogador do
torneio, me deram um prêmio que era um envelope cheio de dólares. Pensei
até que tinha uns 2000 dólares, guardei e quando cheguei ao hotel eram
21 dólares e fiquei muito feliz, fui para o Mac Donalds fazer a festa.
Então foi assim, voltamos no ano seguinte, em 61, fizemos uma excursão
pra Europa, começamos em Portugal e terminamos na Escócia. O Bangu me
proporcionou estas coisas e, muita gente não sabe, foi uma passagem
muito boa, feliz e, depois , em agosto de 61, acertou o valor para que o
Palmeiras me contratasse e isto foi muito bom
MAURÍCIO SABARÁ: Foi ele e o Tim na ocasião.
ADEMIR DA GUIA:
Exatamente. Quando cheguei aqui, até foi uma coisa muito importante na
minha vida. O Palmeiras tinha sido Campeão Paulista em 59 e vencido o
Santos, portanto tinha uma equipe espetacular. Tínhamos Valdir, Djalma,
Valdemar Carabina, Aldemar, Geraldo Scotto, Zequinha, Chinesinho,
Julinho e Vavá. Era uma equipe de craques. Eu fiquei na reserva do
Chinês, como o também o Hélio Burini, que também estava esperando uma
oportunidade. Só tive esta chance de jogar porque o Chinesinho estava na
Seleção Brasileira e depois foi pra Itália. Houve esta oportunidade,
disputamos a posição o Burini e eu, até que em 63 chegou o Geninho e me
colocou. Inclusive neste ano fui Campeão Paulista de Aspirantes e
Profissionais. Aí comecei a jogar e consegui atuar 901 partidas aqui no
Palmeiras durante 16 anos, mereci este busto que é algo que tenho muito
orgulho. No ano que vem estou fazendo 50 anos de Palmeiras e ainda
jogando.
Em
pé a partir da esquerda o Palmeiras em 1963 :Valdemar Carabina, Valdir,
Ademir da Guia, Aldemar, Tiburcio e Jurandir; agachados estão Gildo,
Américo Murolo, Vavá, Chinesinho e Geraldo José.
Julinho Botelho, Vavá, Servilio, Ademir da Guia e Tupazinho - O ataque impossivel do Palmeiras em 64.
ADEMIR DA GUIA:
Nesta passagem jogaram o Dudu e eu no meio-de-campo nos três jogos no
Maracanã. Se não me engano, o técnico era o Feola. Jogamos bem. Depois
fomos até a África e aconteceu uma coisa inédita, porque nós chegamos a
um país que não me lembro, jogava Pelé e eu, o time era muito bom,
tivemos uma facilidade muito grande, porque em 20 minutos ganhávamos por
3 a 0 e eu saí. Existia uma coisa diferente, pois um técnico não tira
um jogador com 20 minutos. Entrou o Gérson, que também era um grande
jogador, um craque. Depois jogamos na Suécia. Na outra convocação, eu
não fui e levaram os 44 jogadores. No Palmeiras foram o Djalma, Servílio
e o Valdir. Foi uma opção do técnico. Aqui no Brasil temos esta
dificuldade porque temos 3 ou 4 jogadores para uma opção e o técnico tem
que escolher um. Depois a Seleção não foi bem, perdemos pra Portugal,
fomos desclassificados e Pelé se machucou. Mas é sempre
bom você estar no Campeonato Mundial, pois o jogador luta e trabalha pra
isso. Se você não consegue ir, tem que continuar a vida.
Ademir
da Guia no jogo em que o Brasil venceu a Alemanha no Maracanã por 2x0. A
partida foi realizada em 6 de Junho de 1965 e teve alem de Ademir as
presenças de Djalma Santos, Dudu e Rinaldo , todos do Palmeiras.
ADEMIR DA GUIA:
Os jogos contra o Santos eram muito difíceis, pois tinha um ataque com
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Eram clássicos que tínhamos
que nos preparar mais, ter mais atenção e marcação e, normalmente, umas
derrotas, porque eles eram terríveis. O Palmeiras algumas vezes
conseguiu alguns resultados, pois se não tivéssemos vencido um
Campeonato Paulista, o Santos teria sido campeão uns 12 anos seguidos,
eles tinham um elenco espetacular.
Palmeiras x Santos - Sempre grandes jogos nos anos 60 e 70. Aqui Pelé x Ademir da Guia - Dois genios.
MAURÍCIO SABARÁ: Foi neste ano de 65 que começou a Academia.
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ADEMIR DA GUIA: Nós
tivemos a Academia com o Filpo Nuñes e tínhamos uma equipe que era
muito boa, grandes jogadores e, como você falou, eram equipes
tradicionais, como as do Rio, que tinha Botafogo, Flamengo e Vasco. Lá
no Maracanã era difícil. Aqui tínhamos o Santos, São Paulo e
Corinthians. O Campeonato Rio-São Paulo era como se fosse um torneio
nacional e não tinha os times do Sul e de Minas, mas eram na verdade as
equipes que chegavam. Depois o Robertão incluiu as equipes do Sul e de
Minas, que eram naquela época Internacional, Grêmio, Cruzeiro e
Atlético, então era na verdade um campeonato nacional, porque as equipes
iam se desclassificando e ficavam sempre estas.
Um
plantel espetacular - Djalma Santos, Valdir Joaquim de Moraes, Valdemar
Carabina, Filpo Nuñez, Djalma Dias, Dudu, Geraldo Scotto, Santo,
Tarciso e Picasso. Agachados: Germano, o massagista Reis, Gildo,
Servílio, Tupãzinho, Ademir da Guia, Rinaldo, Dario Alegria, Nélson
Coruja, Júlio Amaral e Ferrari. Esse Palmeiras conquistou o Torneio
Rio-São Paulo de 1965
ADEMIR DA GUIA:
Um craque. O Dirceu Lopes fazia parte de um ataque sensacional do
Cruzeiro e era um jogador completo, técnico, fazia gols, vinha defender e
foi sensacional. Lamentamos, pois foi uma época de grandes craques e
Dirceu Lopes estava incluído entre eles. Mas era uma questão de escolha,
pois se fosse um técnico de Minas, teria convocado mais jogadores de
lá. O futebol brasileiro é assim mesmo. Agora nós vimos o Mano Menezes
que tem vários jogadores para escolher, com a missão de optar por 22 ou
16 jogadores, então é aquele negócio de testar. Vemos que o celeiro do
futebol brasileiro é muito grande. Naquela época cada equipe normalmente
tinha 5 ou 6 craques, o que para o técnico era bom, mas a escolha era
muito difícil.
MAURÍCIO SABARÁ: Também em 1965, o Palmeiras representou a Seleção Brasileira em uma partia que venceram por 3 a 0 o Uruguai no Mineirão.
ADEMIR DA GUIA: Foi
na inauguração do Mineirão em 65, o Palmeiras foi convidado ejogamos
contra o Uruguai. É aquele negócio, às vezes ela é mais difícil, pois
jogar com jogadores que você nunca jogou, médicos, treinadores e
diretores que você não conhece, de vez em quando,
e quando você tem sua equipe que vai jogar contra uma Seleção é mais
fácil. Nós tivemos aí, inclusive, durante estas temporadas, técnicos que
queriam colocar jogadores do Botafogo e do Santos no misto, pois sabiam que seria mais fácil escalar jogadores que não se conheciam.
ADEMIR DA GUIA:
Como falei pra você, seriam os Estados entrando, porque na verdade o
que acontecia é que você mudava apenas o nome, pois tinha o Rio-São
Paulo, depois foi o Robertão incluindo Minas e o Sul, veio o Nacional
com mais duas equipes do Paraná, sendo que na verdade era um torneio que
você ia mudando os nomes, nas no final de contas era apenas isso, uma
mudança de clube, mais dificuldades nas equipes, a rivalidade era sempre
igual, jogar contra o Santos, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro e
Internacional, que teve uma equipe sensacional com o Minelli, quando
foram campeões. Tive a oportunidade de jogar no estádio dos Eucaliptos
do Internacional, depois eles conseguiram fazer o Beira-Rio. Coisas que
foram melhorando, equipes melhores, as mesmas dificuldades e
conseguíamos ser campeões, porque tínhamos uma grande equipe.
ADEMIR DA GUIA:
E teve o Hélio Maffia, que fez um grande trabalho na mudança da
preparação física. É bom destacarmos também que em 72 nós jogamos cinco
torneios e ganhamos todos, uma coisa inédita. Começou com o Torneio
Laudo Natel, depois veio o Mar Del Plata na Argentina contra clubes de
lá, o que era uma guerra. Aí depois veio o Campeonato Paulista, o
Brasileirão e o Ramón de Carranza, que tinha normalmente Atlético de
Madrid, Real Madrid, Barcelona e Español. Sempre tinha uma equipe de
fora, às vezes até duas. Inclusive em 74 estava o Santos lá, Barcelona,
Palmeiras e era um torneio muito difícil. Em 72 foi o ano que fomos
campeões cinco vezes e ganhamos as 5 coroas. Com a chegada do Brandão,
que foi uma pessoa sensacional, ele e o Maffia inovavam, portanto foi um
ano que não podemos esquecer.
ADEMIR DA GUIA:
A segunda Academia jogou mais tempo junta, de 72 a 75, quando se
desmanchou, saindo Luís Pereira, Leivinha, Alfredo e Dudu. E a primeira
Academia jogou menos tempo, o Filpo era o técnico, ficou pouco tempo,
sendo que este time jogou muito bem durante mais ou menos um ano, mas
foi uma equipe com menos tempo jogando. Eles diziam que o Maracanã era o
Recreio dos Bandeirantes, porque íamos lá, ganhávamos de equipes
grandes por 4 a 2 ou 4 a 1, fazendo gols e todos diziam que era um
futebol acadêmico.
ADEMIR DA GUIA:
Eram confrontos muito difíceis. O futebol é assim, você vai tendo
durante anos equipes que vão se modificando e jogando um futebol melhor.
Nós tivemos no passado o Botafogo e Santos, depois o Cruzeiro,
Internacional, sem falar do Corinthians, que é sempre, mas dependendo do
ano, o clube se renova e melhora, sendo que o São Paulo teve uma caída
quando eles faziam o estádio. Depois quando estava pronto, eles
trouxeram o Gérson, Pedro Rocha e Forlan. Portanto era uma equipe
sensacional e difícil de se bater. Foram jogos muito complicados,
ganhávamos, perdíamos e empatávamos. Sabíamos que tínhamos que nos
preparar mais, pois era um clássico.
ADEMIR DA GUIA: Então,
em 74 fui convocado. Era algo que eu esperava na minha carreira,
merecer uma convocação. Eu tinha um desejo, porque o meu pai tinha
convocado em 38, na França, pois sabia que pai e filho jogarem uma Copa
do Mundo realmente foram poucos. Quando fui convocado, o Zagallo disse
pra mim que o Rivellino era o titular, ele tinha jogado em 70, com uma
Seleção que encheu os nossos olhos, conseguiu em uma final contra a
Itália ganhar de 4 a 1, jogando muito bem. Eu falei pra ele que o
Rivellino é o titular e estou aqui com o grupo, se precisar de mim, vou
jogar, caso não precise estarei junto para que possamos chegar e sermos
campeões. Infelizmente tivemos a Holanda, com uma equipe diferente,
jogando um futebol moderno e que ainda tivemos dois lances que podíamos
ter feito os gols, fomos surpreendidos e eles venceram. Você estar lá,
sentir a alegria da vitória, como encarar uma derrota, tudo isso eu tive
a oportunidade de estar sentindo. Fiquei muito contente quando o
Zagallo falou que eu iria jogar o último jogo. É uma coisa meio que
complicada, pois eu fiquei três meses sem jogar, totalmente fora de
ritmo, mas quando ele disse que ia jogar, foi ótimo, porque era uma
coisa que estava esperando conseguir, estar jogando uma Copa do Mundo,
mesmo que fosse um terceiro ou quarto lugar. Eu fui, desempenhei e
joguei o primeiro tempo. O segundo tempo estava 0 a 0 e ele quis mudar a
maneira de jogar, me tirou e colocou um centroavante para ganhar o
jogo. É como eu falo, o técnico tem que entender a maneira que está
fazendo, mas pra mim foi muito bom, pois consegui alcançar este desejo e
se eu pudesse ter jogado seria uma coisa sensacional. Se pudéssemos ser
campeões do mundo, teria sido muito bom. Mas pra mim, só de ter ido à
Copa e ter jogado também foi importantíssimo pra minha história.
ADEMIR DA GUIA: Grande
rival. Nós tivemos uma final contra o Corinthians, eles tinham sido
campeões em 54, sendo que em 74 seria um ano de festa sensacional. Eles
estavam esperando. Na verdade o nosso torcedor até preferiu não ir ao
campo, porque acreditava que seria festa do Corinthians, tanto que
quando entramos e olhamos o estádio, vimos que tinha 80% da torcida
corintiana e da nossa tinha pouca gente. Era tudo mais ou menos
programado para o Corinthians ser campeão. Nós não, mas tínhamos a
certeza que nossa equipe era muito boa, teríamos um jogo difícil, mas
podíamos ganhar. Então foi isso que aconteceu, nos preparamos
e concentramos para um campeonato que podia acontecer e sabíamos que
era muito difícil. Nossa equipe era muito boa, conseguimos fazer 1 a 0,
batalhamos e conseguimos a vitória. Foi sensacional.
MAURÍCIO SABARÁ: Na época também tinha a Portuguesa de Desportos. Era um time difícil de enfrentar, com Enéas e Badeco?
ADEMIR DA GUIA:
Então, em 74 fui convocado. Era algo que eu esperava na minha carreira,
merecer uma convocação. Eu tinha um desejo, porque o meu pai tinha
convocado em 38, na França, pois sabia que pai e filho jogarem uma Copa
do Mundo realmente foram poucos. Quando fui convocado, o Zagallo disse
pra mim que o Rivellino era o titular, ele tinha jogado em 70, com uma
Seleção que encheu os nossos olhos, conseguiu em uma final contra a
Itália ganhar de 4 a 1, jogando muito bem. Eu falei pra ele que o
Rivellino é o titular e estou aqui com o grupo, se precisar de mim, vou
jogar, caso não precise estarei junto para que possamos chegar e sermos
campeões. Infelizmente tivemos a Holanda, com uma equipe diferente,
jogando um futebol moderno e que ainda tivemos dois lances que podíamos
ter feito os gols, fomos surpreendidos e eles venceram. Você estar lá,
sentir a alegria da vitória, como encarar uma derrota, tudo isso eu tive
a oportunidade de estar sentindo. Fiquei muito contente quando o
Zagallo falou que eu iria jogar o último jogo. É uma coisa meio que
complicada, pois eu fiquei três meses sem jogar, totalmente fora de
ritmo, mas quando ele disse que ia jogar, foi ótimo, porque era uma
coisa que estava esperando conseguir, estar jogando uma Copa do Mundo,
mesmo que fosse um terceiro ou quarto lugar. Eu fui, desempenhei e
joguei o primeiro tempo. O segundo tempo estava 0 a 0 e ele quis mudar a
maneira de jogar, me tirou e colocou um centroavante para ganhar o
jogo. É como eu falo, o técnico tem que entender a maneira que está
fazendo, mas pra mim foi muito bom, pois consegui alcançar este desejo e
se eu pudesse ter jogado seria uma coisa sensacional. Se pudéssemos ser
campeões do mundo, teria sido muito bom. Mas pra mim, só de ter ido à
Copa e ter jogado também foi importantíssimo pra minha história.
MAURÍCIO SABARÁ:
Você disse que estava três meses sem jogar e fora de ritmo. Mas
recentemente eu assisti esta partida no Grandes Momentos do Esporte
junto com meu pai, que te mandou um abraço e falo o seguinte: “Observei
bem você jogando, não errou um passe sequer nesta partida e estando fora
de ritmo. Imagine se você estivesse treinando, entrosado com o elenco, o
que teria feito nesta partida, como em todo o Mundial! E no final do
jogo li inclusive que o técnico da Polônia, se não me engano o Gorski,
comentou ‘como o melhor jogador do Brasil poderia ser substituído’? Esta
é a minha pequena e singela homenagem ao fato de achar que não deveria
ter ido somente em 74, mas também em 66 e 70, pois futebol pra isso você
tinha de sobra”.
ADEMIR DA GUIA:
É verdade, fazemos aquilo que realmente é possível, mas quando você
está jogando com ritmo, se sente à vontade na partida. Quando fica
parado como fiquei, você vai, procura desempenhar, mas não tem aquela
mesma confiança, volta cansado, o que tira um pouco o ritmo. Mas tenho
orgulho de ter jogado um Campeonato Mundial e ter recebido estes
elogios. Pra mim foi importante, nunca havia jogado uma Copa e quem sabe
o meu filho possa jogar, o que é um sonho pra mim.
MAURÍCIO SABARÁ: Bom,
74 acabou. No ano seguinte a Academia praticamente foi desfeita com as
vendas de Leivinha e Luís Pereira para o Atlético de Madrid. Um novo
técnico que era o Dino Sani. O que o Dino passou pra este time, que foi
Campeão Paulista em 76, já na ocasião com o Dudu como técnico?
ADEMIR DA GUIA:
Exato, o Dino teve uma passagem, o Palmeiras trouxe Jorge Mendonça,
Vasconcelos e o Toninho. Subiu o Valdir e o Arouca começou a jogar.
Ficaram o Leão, Nei, Edu e eu. O Dudu pra técnico. Uma equipe realmente
nova, que nós tivemos uma surpresa, porque o Palmeiras contratou o
Vasconcelos pra ser o titular e o Jorge Mendonça pra ser o reserva.
Chegou aqui e mudou, o Jorge foi o titular e o Vasconcelos ficou na
reserva. Mas a equipe começou a jogar bem, tínhamos o Samuel, que tinha
vindo do São Paulo e operado o joelho, estava se adaptando novamente a
jogar, a equipe não acreditava que chegaria à final, mas foi melhorando
cada vez mais e conseguimos este titulo também, que realmente foi
inédito
ADEMIR DA GUIA:
Nós jogamos 12 anos juntos. O Dudu era um jogador que, como jogávamos
os dois no meio-de-campo, ele seria o jogador que mais defendia e eu o
que mais atacava, sendo que eu tinha que ajudar na defesa, então nos
entendíamos muito bem. Ele se preocupa em mais defender. Quando recebia a
bola, não se preocupava em atacar, procurava a bola pra mim e eu tinha
que fazer este trabalho. Por isso que nos damos bem, porque ele fazia a
função dele e eu a minha. Nos dávamos bem dentro e fora de campo. O Dudu
procurava ajudar todos os jogadores que chegavam, uma bondade muito
grande, pessoa religiosa, tentava passar, assimilar e ajudar todos nós.
Era o nosso contador, fazia o imposto de renda. Chegava pro César e
perguntava quantos carros ele tinha e quando respondia que tinha um só,
ele dizia “que não adiantava mentir, se você falar que tem três eu vou
falar que tem um, porque o imposto de renda vai te pegar”. O Dudu era
esta pessoa, nos ajudava, conversava, notava que alguns jogadores
estavam indo à casas noturnas e ele aconselhava. Era uma pessoa
sensacional.
ADEMIR DA GUIA: Em 77 aconteceu que eu estava jogando um futebol normal,
mas tive um problema em Agosto, quando fomos jogar contra o Atlético de
Madrid, que tinha o Luís Pereira e Leivinha, e este jogo foi no
Morumbi, um frio muito grande e senti um problema de respiração, me
secava a garganta e aí falei com o médico. Ele falou pra eu ver um
especialista. Fui ver e voltei a treinar, mas o médico disse que depois
teria que operar. Devido a este tipo de problema, eu tive que parar de
jogar. Foi uma decisão minha, pois nunca tive nenhum tipo de problema
com tornozelo, joelho e distensão, mas aos 35 anos apareceu este
problema e na verdade eu operei no inicio de 78, depois por mais dois
anos novamente, mas não consegui ficar bom pra jogar futebol
profissional. Então, na verdade, parai em 77, depois de Agosto tentei
jogar alguns jogos, uns consegui e outros eu tinha que sair, mas não
consegui jogar até o final do ano, então devido à este problema tive que
parar aos 35 anos, mas se não tivesse este problema, teria jogado em
77, 78, 79, 80 e, talvez, até 81 teria jogado profissionalmente, porque
eu estava bem, teria passado as 1000 partidas, que era uma meta que eu
tinha também, portanto parei precocemente com este problema médico.
ADEMIR DA GUIA:
Como você falou, tivemos estas duas passagens boas, mas com a Parmalat a
equipe foi sensacional, tivemos possibilidade de contratar grandes
jogadores, fomos Bicampeões, foi uma época de ouro para o Palmeiras.
Tivemos algumas épocas boas e dificuldades. Recentemente tivemos uma
equipe que a torcida pedia jogadores, os diretores e o presidente
fizeram um esforço muito grande, trouxeram jogadores como o Kléber e o
Valdívia, veio o Felipão para que a equipe pudesse melhorar, então
estávamos vivendo um futebol difícil, com poucas rendas,
financeiramente os jogadores ganham muito, mas estamos indo e os
torcedores estão torcendo, indo ao estádio e estamos esperando a nova
Arena daqui há uns dois anos, a equipe às vezes vai muito bem e tem
dificuldade com um campeonato muito difícil que é o Brasileiro.
Infelizmente não conseguimos ganhar em 2009, parecia que estava com a
mão na taça, mas a equipe não conseguiu nos últimos jogos um bom
futebol, o Flamengo foi campeão, mas é mais ou menos assim, o torcedor
está aí, ajudando e lutando, diretoria fazendo um esforço muito grande
para que o Palmeiras possa ser o que sempre foi, uma grande equipe
tradicional, com bom elenco e vencendo, o que é importante no futebol.
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