O
contato do Oldair me foi passado pelo ex companheiro de Atlético,
Ronaldo Drummond. Tive o prazer em entrevistar o Ronaldo e fico feliz ao
ve-lo me passar novos contatos mostrando com isto uma forma de
reconhecimento ao trabalho serio e de prestar homenagens aqueles que
merecem do nosso blog.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Em qual clube você iniciou sua carreira?
OLDAIR - Bem eu joguei futebol de varzea em São Paulo e tinha um diretor do Palmeiras que era meu vizinho. Na minha casa toda familia era de corinthianos e o Palmeiras era o inimigo como até hoje é. Toda hora ele falava que iria me levar para treinar no Palmeiras até um dia em que meu irmão falou que era para me levar mesmo, para ver o que ia dar. O treinador era o Milton Medeiros,conhecido como Canhotinho ,ex idolo do clube. Pois eu fiz dois treinos e fui chamado. Continuei mas na verdade eu nem queria porque estava estudando. Cheguei a assinar profissionalmente e o tecnico dos profissionais era o Oswaldo Brandão. Só que ele não dava chances a ninguem das categorias de base ainda mais com o time sendo sempre campeão. Foi então que o Canhotinho me perguntou se eu queria jogar no futebol carioca. Eu disse que teria de ver com meu pai e minha mãe e lhe dava a resposta. Até então eu nunca tinha saido de casa e na hora da conversa minha mãe começou a querer chorar e foi aí que meu irmão falou: "vai lá, vai lá".
OLDAIR NO FLUMINENSE
FTT - E então você foi para o Fluminense?
OLDAIR - Fui para um periodo de teste de tres meses. Não completaram nem dois meses e mandaram bater meu contrato ali mesmo. Aí começou minha carreira pra valer.
FTT - Quem era o tecnico do Fluminense?
OLDAIR - Era o Zezé Moreira.
FTT - E no Fluminense você jogava de volante ?
OLDAIR - Na verdade quando cheguei no Palmeiras eu jogava de ponta de lança. O olhar clinico do Canhotinho foi quem descobriu minha real posição e me recuou para volante. Disse que eu não tinha nada de ponta de lança e que ali seria o meu lugar. No Fluminense passei a jogar então de volante. Zezé Moreira gostava muito de mim porque naquela epoca eu já era polivalente. Ele precisava na lateral esquerda me colocava, de zagueiro eu jogava. Eu tinha esta facilidade de adaptação.
FLUMINENSE 1962 - Em pé a partir da esq: Oldair, Dari, Edmilson, Marcio, Nonô e Pinheiro.
Agach: Calazans, Walter, Jaburu, Quarentinha e Escurinho
FTT - Uma defesa fantastica com Castilho, Carlos Alberto, Procopio, Clovis, Altair e você na cabeça da area.
OLDAIR - Foi mas quando eu cheguei peguei outra formação ainda. Era o Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clovis e Altair.
Carlos Alberto, Oldair, Altair, Procopio, Castilho e Nonô
FTT - E o Pinheiro era um lider naquele time?
OLDAIR - Era. Só que Pinheiro jogava na sobra, era o ultimo homem a dar combate. Porque o Zezé Moreira tinha um esquema que quando o ponta esquerda adversario saía com a bola quem dava o combate era o volante. No lado contrario quando vinha o ponta direita, quem saia para dar o combate era o meia armador.
FTT - Você se revezava com o Altair na lateral ou sua posição no tricolor era mesmo volante?
OLDAIR - No Fluminense eu jogava somente de volante. Só nas eventualidades eu jogava improvisado. Quando cheguei peguei Pinheiro, Jair Marinho, um volante chamado Edmilson, Tele, Waldo , Escurinho. Edmilson era um volante corredor, brigador.
FTT - O Waldo é o maior artilheiro da historia do Fluminense. Fazia gols de todo jeito?
OLDAIR - Fazia sim.Não era muito tecnico, estilo trombador mas que fazia muitos gols. Depois ele foi jogar no Valencia da Espanha , fez um grande sucesso e deve estar morando lá até hoje.
FTT - Então chegou outro volante ao Fluminense, o Denilson. Voces jogavam com dois volantes?
OLDAIR - Na verdade eu joguei poucas vezes com o "Zulu" (Denilson). Aqueles jogadores mais antigos começaram a parar como o Jair Marinho entrando o Carlos Alberto, o Pinheiro e veio o Procopio que foi do Cruzeiro para lá, quarto zagueiro tinha o Valdez que era das categorias de base. Na lateral esquerda tinha entrado o Nonô. Eu continuava de volante o meia de ligação era o Joaquinzinho, um gaucho. A linha era Jorginho, Amoroso, Ubiracy e Gilson Nunes. Uma vez ou outra jogavamos eu e Denilson.E fomos campeões em 64 com este time
FTT - Fluminense, Botafogo, Bangu...Nesta época qual era o melhor time do futebol carioca?
OLDAIR - Ahh era o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos. Didi eu ainda cheguei a jogar contra ele. Foi motivo de orgulho para mim jogar contra eles. O Bangu tambem era muito bom com o Paulo Borges , o Ocimar no meio campo, o Aladim na ponta.
O time-base do ano foi: Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Dari e Altair; Íris e Oldair; Edinho, Manuel, Joaquinzinho e Escurinho. Técnico: Fleitas Solich.
FTT - O Fluminense chegou em tres finais seguidas do carioca. 63 contra o Flamengo, 64 contra o Bangu foi campeão e 65 novamente contra o Flamengo foi vice. Porque você saiu então do tricolor numa epoca tão boa para o Vasco?
OLDAIR - O que aconteceu foi apenas problema de contrato, na renovação. Eu queria uma casa na Ilha do Governador. A diretoria falava que não podia, que não tinha jeito. Diziam que era muito dinheiro e que eu queria ganhar mais do que Castilho e estava começando agora. Acabou que trocaram a diretoria e apareceu o convite do Vasco e quem me indicou novamente foi o Zezé Moreira que era seu treinador. Ele quando saiu do Fluminense e foi ser treinador no Nacional do Uruguai queria me levar pra lá mas eu não quis. Agora aceitei ir para o Vasco.
OLDAIR VAI PARA O RIVAL VASCO DA GAMA
FTT - Foi chegando no Vasco e de cara campeão da Taça Guanabara em 65.
OLDAIR - É em 65. Jogamos contra o Botafogo. E numa outra partida antes contra eles na fase de classificação o seu Zezé me chamou e disse :"Garotinho você hoje vai jogar de lateral esquerdo". Eu disse , mas e o homem das pernas tortas seu Zezé? Ele respondeu: se vira! Acabou que eu nem encostei direito na bola mas o Garrincha tambem não.
FTT - E na final da Taça Guanabara repetiu te colocando na lateral esquerda?
OLDAIR - Foi. E desta vez eu marquei em cima. Só que o Garricnha não adiantava você entrar de primeira. Ele sempre driblava para a direita mas quando jogava na frente era dificil pega-lo porque ele tinha muita arrancada. Fiquei ali chegando junto mas limpo, na bola e ele tentava uma batia na minha perna e saia pra lateral. tentava outra batia em mim e saia e foi umas tres vezes assim . Acabou que eu comecei a pegar confiança e passei a apoiar, dei caneta nele tambem, fui lá pra frente e acabei fazendo um gol de falta. O Manga tinha muito respeito por mim , assim como o Castilho tinha medo do Quarentinha. O Quarentinha chutava muito forte e era canhoto. Então o Castilho cansava de falar com a gente: "não deixa ele botar a bola para a perna esquerda não". Acabava que muitas vezes o Quarentinha fazia gol de perna direita e a gente falava: ué mas você não disse pra tomar cuidado com a esquerda? (risadas gerais) . O Manguinha era a mesma coisa. Não sei o que acontecia mas sempre que eu cobrava faltas eu fazia os gols.
VASCO 2 x 0 BOTAFOGO Data – 05 / 09 / 1965
Local – Maracanã (público - 115.064)
Árbitro – Frederico Lopes
Gols – 1° tempo: Vasco 1 a 0, Oldair; Final: Vasco 2 a 0, Paulistinha (contra)
Vasco – Gainete, Joel, Brito, Fontana e Oldair; Maranhão e Lorico; Luisinho, Célio, Mário e Zezinho. Técnico: Zezé Moreira.
Botafogo – Manga, Joel, Zé Carlos, Paulistinha e Rildo; Ayrton e Gérson; Garrincha, Sicupira, Jairzinho e Roberto. Técnico: Daniel Pinto. Obs: Paulistinha e Roberto foram expulsos.
FTT - Dizem que foi uma de suas melhores apresentações, anulando completamente Garrincha.
OLDAIR - Cada jogo é uma historia. Foi uma bela apresentação mas eu tive jogos que me marcaram muito , de alguma maneira. O FlaFlu decidindo o campeonato em 63 mesmo não vou me esquecer nunca. Tinham quase 200 mil pessoas no estadio. Acho que tinha mais gente do que na Copa de 50. Eu fiquei até um pouco assustado com aquilo. Tinha gente "saindo pelo ladrão".
FTT - Tinha algum segredo para marcar Garrincha e não virar mais um João?
OLDAIR - Ele era muito habilidoso. O Garrincha tinha o mesmo drible. Sempre para a direita mas se desse espaço ele levava. No espaço de cinco metros ele tocava tres ou quatro vezes na bola e te deixava pra trás porque era muito rapido.Ele precisava de 1 metro apenas para fazer suas jogadas. Se ele visse que faltavam pouco mais de um metro pra bola sair pra linha de fundo ele fazia miseria naquele espaço. Era o suficiente pra ele. Então era chegar junto, não deixar ele virar.
FTT - No Vasco você teve como companheiros uma zaga de seleção: Brito e Fontana. Atacante não brincava com eles.
OLDAIR - (risadas) A nossa zaga era composta por Gainete,um goleiro que veio do Inter, Joel, Brito, Fontana e eu que já jogava de lateral neste time. De volante tinha o Maranhão, o uruguaio Danilo Menezes. Nosso time chegava junto mesmo. Teve uma vez que o Rivelino jogando contra a gente e tentava cavar faltas toda hora. Nós falavamos na zaga: chega junto com vontade porque se você encostar nele ele vai cair e o juiz vai dar falta. Então chega espanando para assustar mesmo. E foi que fizemos. A gente revezava , cada hora um dava. (risos)Teve uma que eu dei nele com vontade. Acabou que o Rivelino que não é bobo foi jogar lá no meio campo e saiu de perto da area. Agora Brito era mais tecnico do que o Fontana. O Fontana toda vez que desarmava alguem o Maranhão logo gritava , toca a bola, toca a bola que você não sabe armar não.
BRASIL 3X1 PERU
08-06-1966
Maracanã - RJ
Gols: Andrés Herrea, Fidélis, Tostão e Edu
BRASIL Ubirajara [Bangu]
Fidélis [Bangu]
Brito [Vasco]
Fontana [Vasco]
Oldair [Vasco]
Roberto Dias [São Paulo]
Denílson I [Fluminense]
Paulo Borges [Bangu]
Alcindo [Grêmio]
Tostão [Cruzeiro]
Edu [Santos]
Técnico : Vicente Feola
Seleção Brasileira em uma das inumeras formações de 1966 - Murilo, Manga, Brito, Fontana, Oldair e Roberto Dias. Agachados: Garrincha, Alcindo, Silva Batuta, Fefeu e Rinaldo
OLDAIR AJUDA A DAR AO GALO O SEU MAIOR TITULO
FTT- Do Vasco você foi para o Atletico Mineiro. Conhecia alguma coisa do futebol mineiro?
OLDAIR - Na verdade foi mais ou menos uma troca. O Buglê jogava no Santos emprestado pelo Atletico. Ele iria voltar mas tinha um diretor que não queria a sua volta e não sei o porque. Então o Buglê foi para o Vasco e eu para o Atletico. Foi entaõ que eu quis saber quanto valia esta troca porque eu tinha direito aos meus 15% . Quase que não sai o negocio mas depois o Atletico acabou pagando porque o Vasco não quis pagar. Cheguei em BH e ainda recebi luvas pela trasnferencia. Mas sobre conhecer o futebol mineiro eu gostava do Cruzeiro. Eu tinha amigos jogando no Cruzeiro. O Hilton Oliveira e o Procopio jogaram comigo no Fluminense. O Evaldo veio tambem do Fluminense pra cá. Não que eu fosse cruzeirense mas pelos amigos que jogavam lá. Em 1967 o Felicio Brandi (presidente do Cruzeiro) quis me trazer para o Cruzeiro mas o Vasco não quis me vender. Aí acabei vindo para o Atletico e eu de preto e branco e eles de azul eu tinha que defender o meu leite. (risadas)
FTT - O time do Atletico era forte com Djalma Dias, Cincunegui, Vanderlei Paiva, Oldair, Tião, Dario e Vaguinho. O que faltava para vencer o time do Cruzeiro que acabou sendo pentacampeão?
OLDAIR - Olha o que acontecia e que eu notei quando eu cheguei em 68 é que o Atletico sempre jogava pra cima contra o Cruzeiro. O time ia pra cima e tentava fazer os gols e acabava levando. As vezes estava vencendo por 1x0 e tomava virada. Não podia jogar só pensando em vencer a qualquer custo.
FTT - Teve aquele celebre 3x3 quando o Atletico vencia por 3x0 e permitiu o empate.
OLDAIR - Eu ainda não estava no time mas soube desta partida. E parece que o Cruzeiro quase virou no final. (26-11-67 O Atletico vencia até os16 do seg.tempo por 3x0)
Pois então, depois que eu cheguei chamei o pessoal e disse. Vamos parar de nos mandar pra cima deles. Vamos primeiro não tomar gols e qualquer coisa dividimos o bicho que é melhor do que não ganhar nada . Foi então que começamos a beliscar eles. Ganhávamos de 1x0 , 2x1.
ATLÉTICO 1967 - Hélio, Canindé, Vander, Grapete, Décio Teixeira; Vanderlei, Amauri Horta, Ronaldo, Buião, Lacy Beto, Tião - Técnico Fleitas Solich
FTT - Hoje a marcação da imprensa e da torcida é pior do que antigamente?
OLDAIR - Ahhhh é. Hoje o cara não pode fazer nada. Hoje eles querem botar capa de jornal e de revista sensacionalista. Tira qualquer liberdade do jogador.
FTT - Hilton Oliveira, Procopio e Evaldo e depois Brito e Fontana. Como era a relação entre voces? Podiam sair juntos em BH mesmo sendo rivais?
OLDAIR - Podia. Nós nos encontrávamos, tomavamos "golo" juntos, não tinha isto. Eramos amigos. Eu por exemplo muitas vezes fumei no intervalo do jogo do Atletico. O Tele ficava maluco mas eu dizia pra deixar que eu ia resolver em campo. Quer dizer eu e meus companheiros.
BRASIL
Raul Plassmann [Cruzeiro]
Pedro Paulo [Cruzeiro]
Djalma Dias [Atlético-MG]
Procópio [Cruzeiro]
Oldair [Atlético-MG]
Zé Carlos [Cruzeiro]
Dirceu Lopes [Cruzeiro]
Natal [Cruzeiro]
Tostão [Cruzeiro]
(Dirceu Alves) [América-MG]
Evaldo [Cruzeiro]
Rodrigues [Cruzeiro]
Técnico : Biju
Em pé: Normandes, Humberto Monteiro, Grapete, Vanderlei, Mussula e Cincuneggi - Agachados: Ronaldo Drummond, Oldair, Dario, Vaguinho e Tião
FTT - Você chegou no Atletico praticamente junto do uruguaio Cincunegui.
OLDAIR - Se não me engano o Cincinuegui chegou quase 1 ano depois.
FTT - E quem era lateral?
OLDAIR - O Cincunegui. Eu jogava de volante no Atlético.
FTT - Porem no Brasileiro (71) foi você quem jogou de lateral esquerdo ?
OLDAIR - Foi. Só não joguei acho que os dois primeiros jogos, contra o America e Grêmio no Olimpico. Depois fui o lateral em todas as partidas.
FTT - Quem resolveu fazer esta mudança. Foi o Telê Santana?
OLDAIR - O Telê me conhecia bem pois jogamos juntos por dois anos no Fluminense e ele sabia desta facilidade que eu tinha pra me adaptar as posições, principalmente ali do lado esquerdo. Ele não iria tirar o Vanderlei do meio campo, era o nosso carregador de piano. Ia tirar o Spencer ou o Lola , nossos meias de ligação ? Então quando algume machucava ali , aí sim o Telê colocava o Cincunegui e eu ia para o meio campo. Recuperava o jogador , voltava eu pra lateral e saía o Cincunegui. O Tele teve muita sorte tambem. Nós corremos o campeonato todo atrás, pois o Grêmio estava em primeiro e todo mundo queria tirar uma casquinha. A gente era menos visado.Qualquer beliscada que a gente desse fora de casa buscando 1 ponto era importante . Naquela epoca eram apenas 2 pontos por vitoria e então um empate fora judava muito. Nós tomamos apenas 3 cartões amarelos no campeonato todo e nenhuma expulsão. Então ele podia repetir o time quase sempre. Quase não tinhamos jogadores machucados tambem. O time era assim, batalhador. O Telê me deu liberdade para comandar o time ali dentro do campo e eu cobrava mesmo.Orientava e distribuia o time.
FTT - E tinha algum destaque neste time?
OLDAIR - Não, eu considero que tinhamos muito conjunto. União. Se tivessemos um gol anulado corriamos atrás pra fazer outro. Nosso time não ficava correndo atras de juiz até mesmo porque quando ele marca não volta atrás. Craque mesmo não tinhamos. Quer ver: Dario é craque?
FTT - Não, ele é goleador mas não craque.
OLDAIR - Mas faz gol. Você chuta lá na area , a bola bate nele e sai o gol. ele era um atleta perigoso dentro da area. Cabeceava muito bem, de olhos abertos.
FTT - Mas e o Vanderlei Paiva?
OLDAIR - O Vanderlei era um grande jogador mas que raramente passava do meio de campo. Eu falava pra ele chutar porque ele batia forte. Mas ele ficava com vergonha de chutar, errar e a torcida vaiar. Eu falava pra ele esquecer a torcida e chutar sem medo de errar. Era o carregador de piano do nosso time.
Um grande duelo no meio campo nos clássicos contra o Cruzeiro. Vanderlei Paiva e Oldair x Dirceu Lopes e Tostão
FTT - Então voces se fecharam e fizeram uma bela campanha.
OLDAIR - Olha o Atlético não perdeu nenhum jogo em casa e isto contou muito no final. Aliás, perdemos um jogo quando podiamos perder, para o Internacional. Foi 1x0 para eles , gol de Arlem mas nós só perderiamos a vaga se perdessemos por 3 gols. Beliscamos alguns pontos fora e no triangular final levamos vantagem de fazer o primeiro jogo em casa e vencer. Foi assim que chegamos ao titulo de 70 (Atletico venceu uma de 2x1 e empatou a outra 1x1).
FTT - Chegou o triangular final e no primeiro jogo voces pegaram o São Paulo no Mineirão.
http://youtu.be/RF0r9o7JOvE
OLDAIR -
Foi, um jogo durissimo. Ganhamos aqui com um gol de falta meu. Quando
eu dei o chute já senti que sairia o gol porque você sente que pegou bem
na bola e a direção que ela foi. No final o Renato ainda fez uma grande
defesa em um chute do Gerson. Acabou que ganhamos e folgamos na outra
rodada. O Botafogo teve que ir jogar em São Paulo e levou uma goleada. E
nós precisavamos apenas empatar no Rio no ultimo jogo contra o Botafogo
porque o São paulo já tinha feito as duas partidas. Administramos o
jogo e conseguimos ainda fazer um gol. Acabou que o que ficou marcado o
gol do Dario mas o time todo foi muito bem.
FTT- Como era duelar com o Gerson no meio campo?
OLDAIR - Gerson era catimbeiro e não aliviava nas divididas. Você tinha que ficar esperto com ele. Mas era um grande jogador, a canhotinha dele enfiava bem a bola e chutava muito bem. Mas não era só o Gerson. O time do São Paulo era muito bom. Tinha o Pedro Rocha, Toninho Guerreiro, o Dias. Foi um jogo dificil e que ali praticamente definimos o titulo.
FTT - Mas o Tele teve participação fundamental neste titulo e logo depois o Brasileiro?OLDAIR - Ahh teve. O treinador era o Fleitas Solich e trouxeram o Tele. Primeiro ele andou perdendo umas duas ou tres partidas e o pessoal já queria correr com ele. Eu disse pra deixa-lo começar a mostrar o trabalho. Tinha que dar um tempo pra ele. E nós treinavamos ainda em Lourdes no velho estadio onde hoje é o shopping. A Vila Olimpica só veio alguns anos depois. Aí ele pegou confiança e acabou sendo campeão. Montou o time certinho e levou tambem o brasileiro.
ATLETICO campeão brasileiro 1971 - Em pé a partir da esq. Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vanderlei Paiva, Vantuir e Oldair; agachados: Ronaldo, Humberto Ramos, Dario, Beto e Romeu
FTT - Tele Santana ou Zezé Moreira?
OLDAIR - Eram épocas diferentes mas fico com o Zezé Moreira. A parte tatica dele era muito boa. Se fosse pra ganhar só de 1x0 ele ganhava. Armava o time pra aquilo. O Tele já era meio teimoso, pirracento. Tudo bem que existe o lema de que "a melhor defesa é o ataque", mas não é sempre que dá .Ele queria sempre jogar pra cima. Está aí o melhor exemplo a seleção de 82 que ele treinou e que nós tivemos 3 chances de classificar e perdemos. 0x0, depois eles fizeram 1x0. A seleção empatou. Eles fizeram 2x1 e conseguimos buscar de novo. E o time todo pra cima e acabou levando o terceiro gol. Agora o erro não foi somente dele. Faltou um lider ali dentro de campo . Não pode deixar os caras jogarem a vontade como deixaram. Quiseram crucificar o Toninho Cerezo . Tudo bem que você não deve dar um passe daqueles atravessado no meio campo porque se o adversario pegar a bola de frente e cortar já era, fica na cara do gol.
FTT - Mas culpar o Cerezo pela derrota não é justo.
OLDAIR - Mas culparam. Veja o que fizeram com o Barbosa na copa de 50. Só porque levou aquele gol do Gigghia. Foi crucificado.
Oldair atualmente com seus 72 anos morando confortavelmente em Belo Horizonte
Oldair Barchi e Bruno Steinberg
A
importancia de Oldair na historia do Clube Atlético Mineiro é tamanha
que em quase todas as listas que se faça do Atlético de Todos os Tempos
ele está presente.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Em qual clube você iniciou sua carreira?
OLDAIR - Bem eu joguei futebol de varzea em São Paulo e tinha um diretor do Palmeiras que era meu vizinho. Na minha casa toda familia era de corinthianos e o Palmeiras era o inimigo como até hoje é. Toda hora ele falava que iria me levar para treinar no Palmeiras até um dia em que meu irmão falou que era para me levar mesmo, para ver o que ia dar. O treinador era o Milton Medeiros,conhecido como Canhotinho ,ex idolo do clube. Pois eu fiz dois treinos e fui chamado. Continuei mas na verdade eu nem queria porque estava estudando. Cheguei a assinar profissionalmente e o tecnico dos profissionais era o Oswaldo Brandão. Só que ele não dava chances a ninguem das categorias de base ainda mais com o time sendo sempre campeão. Foi então que o Canhotinho me perguntou se eu queria jogar no futebol carioca. Eu disse que teria de ver com meu pai e minha mãe e lhe dava a resposta. Até então eu nunca tinha saido de casa e na hora da conversa minha mãe começou a querer chorar e foi aí que meu irmão falou: "vai lá, vai lá".
OLDAIR NO FLUMINENSE
FTT - E então você foi para o Fluminense?
OLDAIR - Fui para um periodo de teste de tres meses. Não completaram nem dois meses e mandaram bater meu contrato ali mesmo. Aí começou minha carreira pra valer.
FTT - Quem era o tecnico do Fluminense?
OLDAIR - Era o Zezé Moreira.
FTT - E no Fluminense você jogava de volante ?
OLDAIR - Na verdade quando cheguei no Palmeiras eu jogava de ponta de lança. O olhar clinico do Canhotinho foi quem descobriu minha real posição e me recuou para volante. Disse que eu não tinha nada de ponta de lança e que ali seria o meu lugar. No Fluminense passei a jogar então de volante. Zezé Moreira gostava muito de mim porque naquela epoca eu já era polivalente. Ele precisava na lateral esquerda me colocava, de zagueiro eu jogava. Eu tinha esta facilidade de adaptação.
FLUMINENSE 1962 - Em pé a partir da esq: Oldair, Dari, Edmilson, Marcio, Nonô e Pinheiro.
Agach: Calazans, Walter, Jaburu, Quarentinha e Escurinho
FTT - Uma defesa fantastica com Castilho, Carlos Alberto, Procopio, Clovis, Altair e você na cabeça da area.
OLDAIR - Foi mas quando eu cheguei peguei outra formação ainda. Era o Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clovis e Altair.
Carlos Alberto, Oldair, Altair, Procopio, Castilho e Nonô
FTT - E o Pinheiro era um lider naquele time?
OLDAIR - Era. Só que Pinheiro jogava na sobra, era o ultimo homem a dar combate. Porque o Zezé Moreira tinha um esquema que quando o ponta esquerda adversario saía com a bola quem dava o combate era o volante. No lado contrario quando vinha o ponta direita, quem saia para dar o combate era o meia armador.
FTT - Você se revezava com o Altair na lateral ou sua posição no tricolor era mesmo volante?
OLDAIR - No Fluminense eu jogava somente de volante. Só nas eventualidades eu jogava improvisado. Quando cheguei peguei Pinheiro, Jair Marinho, um volante chamado Edmilson, Tele, Waldo , Escurinho. Edmilson era um volante corredor, brigador.
FTT - O Waldo é o maior artilheiro da historia do Fluminense. Fazia gols de todo jeito?
OLDAIR - Fazia sim.Não era muito tecnico, estilo trombador mas que fazia muitos gols. Depois ele foi jogar no Valencia da Espanha , fez um grande sucesso e deve estar morando lá até hoje.
FTT - Então chegou outro volante ao Fluminense, o Denilson. Voces jogavam com dois volantes?
OLDAIR - Na verdade eu joguei poucas vezes com o "Zulu" (Denilson). Aqueles jogadores mais antigos começaram a parar como o Jair Marinho entrando o Carlos Alberto, o Pinheiro e veio o Procopio que foi do Cruzeiro para lá, quarto zagueiro tinha o Valdez que era das categorias de base. Na lateral esquerda tinha entrado o Nonô. Eu continuava de volante o meia de ligação era o Joaquinzinho, um gaucho. A linha era Jorginho, Amoroso, Ubiracy e Gilson Nunes. Uma vez ou outra jogavamos eu e Denilson.E fomos campeões em 64 com este time
Fluminense campeão carioca 1964 - Em pé: Carlos Alberto - Altair - Oldair - Valdez - Castilho e Procópio. Agachados: Jorginho - Denílson - Amoroso - Joaquinzinho e Gilson Nunes
OLDAIR - Ahh era o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos. Didi eu ainda cheguei a jogar contra ele. Foi motivo de orgulho para mim jogar contra eles. O Bangu tambem era muito bom com o Paulo Borges , o Ocimar no meio campo, o Aladim na ponta.
Na primeira fileira abaixo a partir da esquerda em segundo lugar vemos Evaldo e ao lado Oldair.
Na
excursão pela Europa e América do Sul, foram 11 vitórias, 1 empate e
apenas 1 derrota, defrontando os seguintes adversários: Seleção de
Paisandu (3 x 1), do Paraguai, em Montevidéu; Seleção do Paraguai, (4 x
2) em Assunção; Combinado Osk-Degertors (1 x 2) da Suécia, na Suécia;
Combinado Elfsborg-Horrby, (4 x 2) da Suécia, na Suécia; A.F.F. (3 x 0)
da Suécia, na Suécia; Salto B. K. (4 x 1) da Suécia, na Suécia;
Kristianstad (4 x 1) da Suécia, na Suécia; B. K. Landora (6 x 0) da
Suécia, na Suécia; Seleção de Helsinki (2 x 1), em Helsinki; Dínamo de
Moscou (1 x 0), em Moscou; Lugansck (2 x 1) da Rússia, em Lugansck;
Seleção da Rússia (0 x 0), em Volgrad; e Ararati (5 x 2)da Rússia, em
Jerevan.
O time-base do ano foi: Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Dari e Altair; Íris e Oldair; Edinho, Manuel, Joaquinzinho e Escurinho. Técnico: Fleitas Solich.
FTT - O Fluminense chegou em tres finais seguidas do carioca. 63 contra o Flamengo, 64 contra o Bangu foi campeão e 65 novamente contra o Flamengo foi vice. Porque você saiu então do tricolor numa epoca tão boa para o Vasco?
OLDAIR - O que aconteceu foi apenas problema de contrato, na renovação. Eu queria uma casa na Ilha do Governador. A diretoria falava que não podia, que não tinha jeito. Diziam que era muito dinheiro e que eu queria ganhar mais do que Castilho e estava começando agora. Acabou que trocaram a diretoria e apareceu o convite do Vasco e quem me indicou novamente foi o Zezé Moreira que era seu treinador. Ele quando saiu do Fluminense e foi ser treinador no Nacional do Uruguai queria me levar pra lá mas eu não quis. Agora aceitei ir para o Vasco.
OLDAIR VAI PARA O RIVAL VASCO DA GAMA
FTT - Foi chegando no Vasco e de cara campeão da Taça Guanabara em 65.
OLDAIR - É em 65. Jogamos contra o Botafogo. E numa outra partida antes contra eles na fase de classificação o seu Zezé me chamou e disse :"Garotinho você hoje vai jogar de lateral esquerdo". Eu disse , mas e o homem das pernas tortas seu Zezé? Ele respondeu: se vira! Acabou que eu nem encostei direito na bola mas o Garrincha tambem não.
OLDAIR - Foi. E desta vez eu marquei em cima. Só que o Garricnha não adiantava você entrar de primeira. Ele sempre driblava para a direita mas quando jogava na frente era dificil pega-lo porque ele tinha muita arrancada. Fiquei ali chegando junto mas limpo, na bola e ele tentava uma batia na minha perna e saia pra lateral. tentava outra batia em mim e saia e foi umas tres vezes assim . Acabou que eu comecei a pegar confiança e passei a apoiar, dei caneta nele tambem, fui lá pra frente e acabei fazendo um gol de falta. O Manga tinha muito respeito por mim , assim como o Castilho tinha medo do Quarentinha. O Quarentinha chutava muito forte e era canhoto. Então o Castilho cansava de falar com a gente: "não deixa ele botar a bola para a perna esquerda não". Acabava que muitas vezes o Quarentinha fazia gol de perna direita e a gente falava: ué mas você não disse pra tomar cuidado com a esquerda? (risadas gerais) . O Manguinha era a mesma coisa. Não sei o que acontecia mas sempre que eu cobrava faltas eu fazia os gols.
VASCO 2 x 0 BOTAFOGO Data – 05 / 09 / 1965
Local – Maracanã (público - 115.064)
Árbitro – Frederico Lopes
Gols – 1° tempo: Vasco 1 a 0, Oldair; Final: Vasco 2 a 0, Paulistinha (contra)
Vasco – Gainete, Joel, Brito, Fontana e Oldair; Maranhão e Lorico; Luisinho, Célio, Mário e Zezinho. Técnico: Zezé Moreira.
Botafogo – Manga, Joel, Zé Carlos, Paulistinha e Rildo; Ayrton e Gérson; Garrincha, Sicupira, Jairzinho e Roberto. Técnico: Daniel Pinto. Obs: Paulistinha e Roberto foram expulsos.
OLDAIR - Cada jogo é uma historia. Foi uma bela apresentação mas eu tive jogos que me marcaram muito , de alguma maneira. O FlaFlu decidindo o campeonato em 63 mesmo não vou me esquecer nunca. Tinham quase 200 mil pessoas no estadio. Acho que tinha mais gente do que na Copa de 50. Eu fiquei até um pouco assustado com aquilo. Tinha gente "saindo pelo ladrão".
FTT - Tinha algum segredo para marcar Garrincha e não virar mais um João?
OLDAIR - Ele era muito habilidoso. O Garrincha tinha o mesmo drible. Sempre para a direita mas se desse espaço ele levava. No espaço de cinco metros ele tocava tres ou quatro vezes na bola e te deixava pra trás porque era muito rapido.Ele precisava de 1 metro apenas para fazer suas jogadas. Se ele visse que faltavam pouco mais de um metro pra bola sair pra linha de fundo ele fazia miseria naquele espaço. Era o suficiente pra ele. Então era chegar junto, não deixar ele virar.
Oldair mais ao fundo ve Luisinho dando combate a Samarone do Fluminense
OLDAIR - (risadas) A nossa zaga era composta por Gainete,um goleiro que veio do Inter, Joel, Brito, Fontana e eu que já jogava de lateral neste time. De volante tinha o Maranhão, o uruguaio Danilo Menezes. Nosso time chegava junto mesmo. Teve uma vez que o Rivelino jogando contra a gente e tentava cavar faltas toda hora. Nós falavamos na zaga: chega junto com vontade porque se você encostar nele ele vai cair e o juiz vai dar falta. Então chega espanando para assustar mesmo. E foi que fizemos. A gente revezava , cada hora um dava. (risos)Teve uma que eu dei nele com vontade. Acabou que o Rivelino que não é bobo foi jogar lá no meio campo e saiu de perto da area. Agora Brito era mais tecnico do que o Fontana. O Fontana toda vez que desarmava alguem o Maranhão logo gritava , toca a bola, toca a bola que você não sabe armar não.
Oldair na capa da revista com a manchete - OLDAIR lateral vascaino faz jus a sua convocação pela CBD
Oldair
foi um dos 47 jogadores convocados para a seleção brasileira de 1966
que treinou em Serra Negra ~SP e Caxambu - MG. Fez uma partida amistosa
contra o Peru.
08-06-1966
Maracanã - RJ
Gols: Andrés Herrea, Fidélis, Tostão e Edu
BRASIL Ubirajara [Bangu]
Fidélis [Bangu]
Brito [Vasco]
Fontana [Vasco]
Oldair [Vasco]
Roberto Dias [São Paulo]
Denílson I [Fluminense]
Paulo Borges [Bangu]
Alcindo [Grêmio]
Tostão [Cruzeiro]
Edu [Santos]
Técnico : Vicente Feola
Seleção Brasileira em uma das inumeras formações de 1966 - Murilo, Manga, Brito, Fontana, Oldair e Roberto Dias. Agachados: Garrincha, Alcindo, Silva Batuta, Fefeu e Rinaldo
OLDAIR AJUDA A DAR AO GALO O SEU MAIOR TITULO
FTT- Do Vasco você foi para o Atletico Mineiro. Conhecia alguma coisa do futebol mineiro?
OLDAIR - Na verdade foi mais ou menos uma troca. O Buglê jogava no Santos emprestado pelo Atletico. Ele iria voltar mas tinha um diretor que não queria a sua volta e não sei o porque. Então o Buglê foi para o Vasco e eu para o Atletico. Foi entaõ que eu quis saber quanto valia esta troca porque eu tinha direito aos meus 15% . Quase que não sai o negocio mas depois o Atletico acabou pagando porque o Vasco não quis pagar. Cheguei em BH e ainda recebi luvas pela trasnferencia. Mas sobre conhecer o futebol mineiro eu gostava do Cruzeiro. Eu tinha amigos jogando no Cruzeiro. O Hilton Oliveira e o Procopio jogaram comigo no Fluminense. O Evaldo veio tambem do Fluminense pra cá. Não que eu fosse cruzeirense mas pelos amigos que jogavam lá. Em 1967 o Felicio Brandi (presidente do Cruzeiro) quis me trazer para o Cruzeiro mas o Vasco não quis me vender. Aí acabei vindo para o Atletico e eu de preto e branco e eles de azul eu tinha que defender o meu leite. (risadas)
FTT - O time do Atletico era forte com Djalma Dias, Cincunegui, Vanderlei Paiva, Oldair, Tião, Dario e Vaguinho. O que faltava para vencer o time do Cruzeiro que acabou sendo pentacampeão?
OLDAIR - Olha o que acontecia e que eu notei quando eu cheguei em 68 é que o Atletico sempre jogava pra cima contra o Cruzeiro. O time ia pra cima e tentava fazer os gols e acabava levando. As vezes estava vencendo por 1x0 e tomava virada. Não podia jogar só pensando em vencer a qualquer custo.
FTT - Teve aquele celebre 3x3 quando o Atletico vencia por 3x0 e permitiu o empate.
OLDAIR - Eu ainda não estava no time mas soube desta partida. E parece que o Cruzeiro quase virou no final. (26-11-67 O Atletico vencia até os16 do seg.tempo por 3x0)
Pois então, depois que eu cheguei chamei o pessoal e disse. Vamos parar de nos mandar pra cima deles. Vamos primeiro não tomar gols e qualquer coisa dividimos o bicho que é melhor do que não ganhar nada . Foi então que começamos a beliscar eles. Ganhávamos de 1x0 , 2x1.
ATLÉTICO 1967 - Hélio, Canindé, Vander, Grapete, Décio Teixeira; Vanderlei, Amauri Horta, Ronaldo, Buião, Lacy Beto, Tião - Técnico Fleitas Solich
FTT - Hoje a marcação da imprensa e da torcida é pior do que antigamente?
OLDAIR - Ahhhh é. Hoje o cara não pode fazer nada. Hoje eles querem botar capa de jornal e de revista sensacionalista. Tira qualquer liberdade do jogador.
FTT - Hilton Oliveira, Procopio e Evaldo e depois Brito e Fontana. Como era a relação entre voces? Podiam sair juntos em BH mesmo sendo rivais?
OLDAIR - Podia. Nós nos encontrávamos, tomavamos "golo" juntos, não tinha isto. Eramos amigos. Eu por exemplo muitas vezes fumei no intervalo do jogo do Atletico. O Tele ficava maluco mas eu dizia pra deixar que eu ia resolver em campo. Quer dizer eu e meus companheiros.
- Seleção Brasileira representada pela Seleção Mineira -
BRASIL 3 X 2 ARGENTINA
11/08/1968
Local: Mineirão / BH
Arbitro: agomar Martins / BR
Gols: Evaldo, Rodrigues , Dirceu Lopes, Rendo, Angel Silva
BRASIL
Raul Plassmann [Cruzeiro]
Pedro Paulo [Cruzeiro]
Djalma Dias [Atlético-MG]
Procópio [Cruzeiro]
Oldair [Atlético-MG]
Zé Carlos [Cruzeiro]
Dirceu Lopes [Cruzeiro]
Natal [Cruzeiro]
Tostão [Cruzeiro]
(Dirceu Alves) [América-MG]
Evaldo [Cruzeiro]
Rodrigues [Cruzeiro]
Técnico : Biju
Em pé: Normandes, Humberto Monteiro, Grapete, Vanderlei, Mussula e Cincuneggi - Agachados: Ronaldo Drummond, Oldair, Dario, Vaguinho e Tião
FTT - Você chegou no Atletico praticamente junto do uruguaio Cincunegui.
OLDAIR - Se não me engano o Cincinuegui chegou quase 1 ano depois.
FTT - E quem era lateral?
OLDAIR - O Cincunegui. Eu jogava de volante no Atlético.
FTT - Porem no Brasileiro (71) foi você quem jogou de lateral esquerdo ?
OLDAIR - Foi. Só não joguei acho que os dois primeiros jogos, contra o America e Grêmio no Olimpico. Depois fui o lateral em todas as partidas.
OLDAIR - O Telê me conhecia bem pois jogamos juntos por dois anos no Fluminense e ele sabia desta facilidade que eu tinha pra me adaptar as posições, principalmente ali do lado esquerdo. Ele não iria tirar o Vanderlei do meio campo, era o nosso carregador de piano. Ia tirar o Spencer ou o Lola , nossos meias de ligação ? Então quando algume machucava ali , aí sim o Telê colocava o Cincunegui e eu ia para o meio campo. Recuperava o jogador , voltava eu pra lateral e saía o Cincunegui. O Tele teve muita sorte tambem. Nós corremos o campeonato todo atrás, pois o Grêmio estava em primeiro e todo mundo queria tirar uma casquinha. A gente era menos visado.Qualquer beliscada que a gente desse fora de casa buscando 1 ponto era importante . Naquela epoca eram apenas 2 pontos por vitoria e então um empate fora judava muito. Nós tomamos apenas 3 cartões amarelos no campeonato todo e nenhuma expulsão. Então ele podia repetir o time quase sempre. Quase não tinhamos jogadores machucados tambem. O time era assim, batalhador. O Telê me deu liberdade para comandar o time ali dentro do campo e eu cobrava mesmo.Orientava e distribuia o time.
FTT - E tinha algum destaque neste time?
OLDAIR - Não, eu considero que tinhamos muito conjunto. União. Se tivessemos um gol anulado corriamos atrás pra fazer outro. Nosso time não ficava correndo atras de juiz até mesmo porque quando ele marca não volta atrás. Craque mesmo não tinhamos. Quer ver: Dario é craque?
FTT - Não, ele é goleador mas não craque.
OLDAIR - Mas faz gol. Você chuta lá na area , a bola bate nele e sai o gol. ele era um atleta perigoso dentro da area. Cabeceava muito bem, de olhos abertos.
Dario e Oldair
FTT - Mas e o Vanderlei Paiva?
OLDAIR - O Vanderlei era um grande jogador mas que raramente passava do meio de campo. Eu falava pra ele chutar porque ele batia forte. Mas ele ficava com vergonha de chutar, errar e a torcida vaiar. Eu falava pra ele esquecer a torcida e chutar sem medo de errar. Era o carregador de piano do nosso time.
Um grande duelo no meio campo nos clássicos contra o Cruzeiro. Vanderlei Paiva e Oldair x Dirceu Lopes e Tostão
FTT - Então voces se fecharam e fizeram uma bela campanha.
OLDAIR - Olha o Atlético não perdeu nenhum jogo em casa e isto contou muito no final. Aliás, perdemos um jogo quando podiamos perder, para o Internacional. Foi 1x0 para eles , gol de Arlem mas nós só perderiamos a vaga se perdessemos por 3 gols. Beliscamos alguns pontos fora e no triangular final levamos vantagem de fazer o primeiro jogo em casa e vencer. Foi assim que chegamos ao titulo de 70 (Atletico venceu uma de 2x1 e empatou a outra 1x1).
FTT - Chegou o triangular final e no primeiro jogo voces pegaram o São Paulo no Mineirão.
http://youtu.be/RF0r9o7JOvE
FTT- Como era duelar com o Gerson no meio campo?
OLDAIR - Gerson era catimbeiro e não aliviava nas divididas. Você tinha que ficar esperto com ele. Mas era um grande jogador, a canhotinha dele enfiava bem a bola e chutava muito bem. Mas não era só o Gerson. O time do São Paulo era muito bom. Tinha o Pedro Rocha, Toninho Guerreiro, o Dias. Foi um jogo dificil e que ali praticamente definimos o titulo.
FTT - Mas o Tele teve participação fundamental neste titulo e logo depois o Brasileiro?OLDAIR - Ahh teve. O treinador era o Fleitas Solich e trouxeram o Tele. Primeiro ele andou perdendo umas duas ou tres partidas e o pessoal já queria correr com ele. Eu disse pra deixa-lo começar a mostrar o trabalho. Tinha que dar um tempo pra ele. E nós treinavamos ainda em Lourdes no velho estadio onde hoje é o shopping. A Vila Olimpica só veio alguns anos depois. Aí ele pegou confiança e acabou sendo campeão. Montou o time certinho e levou tambem o brasileiro.
ATLETICO campeão brasileiro 1971 - Em pé a partir da esq. Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vanderlei Paiva, Vantuir e Oldair; agachados: Ronaldo, Humberto Ramos, Dario, Beto e Romeu
Oldair o capitão, levanta a Taça de Campeão Brasileiro de 1971
FTT - Tele Santana ou Zezé Moreira?
OLDAIR - Eram épocas diferentes mas fico com o Zezé Moreira. A parte tatica dele era muito boa. Se fosse pra ganhar só de 1x0 ele ganhava. Armava o time pra aquilo. O Tele já era meio teimoso, pirracento. Tudo bem que existe o lema de que "a melhor defesa é o ataque", mas não é sempre que dá .Ele queria sempre jogar pra cima. Está aí o melhor exemplo a seleção de 82 que ele treinou e que nós tivemos 3 chances de classificar e perdemos. 0x0, depois eles fizeram 1x0. A seleção empatou. Eles fizeram 2x1 e conseguimos buscar de novo. E o time todo pra cima e acabou levando o terceiro gol. Agora o erro não foi somente dele. Faltou um lider ali dentro de campo . Não pode deixar os caras jogarem a vontade como deixaram. Quiseram crucificar o Toninho Cerezo . Tudo bem que você não deve dar um passe daqueles atravessado no meio campo porque se o adversario pegar a bola de frente e cortar já era, fica na cara do gol.
FTT - Mas culpar o Cerezo pela derrota não é justo.
OLDAIR - Mas culparam. Veja o que fizeram com o Barbosa na copa de 50. Só porque levou aquele gol do Gigghia. Foi crucificado.
Oldair atualmente com seus 72 anos morando confortavelmente em Belo Horizonte
FTT - O senhor jogou em SP, RJ e MG. Naquela época os jogadores já tinham esta vontade de jogarem no eixo Rio/SP?
OLDAIR
- Não. Eu jogava no Rio por exemplo e quando vinhamos jogar aqui contra
America, Cruzeiro ou Atlético não tinha ainda o Mineirão. Jogávamos no
Independencia. Nós entre os jogadores comentávamos, que os mineiros as
vezes perdiam na nossa casa de 4x0 e ainda queriam o jogo de volta.
Ficava aquela brincadeira, a gozação. Depois que veio o Mineirão mudou
tudo. Os times daqui faziam frente a qualquer time brasileiro.
FTT - Aponte os cinco maiores jogadores que o o senhor viu em campo.
OLDAIR -
Garrincha, Pelé, Gerson, Tostão foi grande jogador, Dirceu Lopes que
era muito sacrificado naquele time do Cruzeiro. Porque um dos mais
inteligentes daquele time era o Evaldo que abria espaços , caía pro lado
e levava o zagueiro junto. sobrava para o Dirceu entrar ali. Eu sempre
falava com meus zagueiros. Quando o Evaldo sair não vai atrás não, deixa
ele ir, fica aqui porque senão vai entrar outro na suas costas. Foi
quando começamos a equilibrar as coisas com o Cruzeiro. Piazza foi outro
importante naquele time porque era um lider, integro e muito respeitado
pelos companheiros.
Oldair Barchi e Bruno Steinberg
FTT
- O senhor jogou com grandes goleiros. Viu o Valdir de Moraes,
Castilho, Renato e Mazurkiewicz. Qual foi o melhor, que mais te
impressionou?
OLDAIR -
É dificil. O Mazurkiewicz foi um grande goleiro. Saia jogando a bola
com a mão com uma facilidade. Colocava a bola lá no meio campo igual a
um chute. O Castilho era o tão falado "leiteria" . A bola batia na trave
e saia mas era um bom goleiro. Para mim um grande goleiro e foi o maior
de todos para sair do gol foi o Manga. Nunca vi igual. A area era dele.
FTT - E qual o seu time de coração?
OLDAIR - Na
verdade se for antes de jogar futebol eu era corinthiano. Depois não
tive nenhum time. Se jogar por exemplo Vasco x Fluminense eu torço por
um empate. Gosto do Atlético. Eu prezo muito pelas amizades que eu fiz
por onde passei, pelo respeito que conquistei.No fim isto é o que conta.
Bruno Steinberg
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