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sexta-feira, 4 de março de 2011

O Craque disse e eu anotei -

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS
Fair Play & Amizade

terça-feira, 1 de março de 2011

O Craque disse e eu anotei - MARIO AMÉRICO NETO

Através do meu amigo Eduardo Verdasca, entrei em contato com o neto do massagista Mário Américo, que foi Tricampeão Mundial pela Seleção Brasileira em 1958, 1962 e 1970, além de ter participado de sete Copas do Mundo. A entrevista foi realizada no museu da Portuguesa, com um jovem de 23 anos que mostrou muito conhecimento sobre a história do seu avô. Confiram a matéria

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: O que você tem a dizer deste pouco convívio que teve com o seu avô?
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Na verdade, eu pouco convivi com ele, pois nasci em 1987 e ele faleceu em 90. Como fui criado por minha avó, desde pequeno fuçava as coisas que ele trouxe das Copas, fotos, o que foi me trazendo uma paixão pelo futebol e pela história dele. Mesmo as pessoas me influenciando a torcer por outros times, depois de um certo tempo não teve jeito, acabei gostando da Portuguesa, o time que ele mais amou.
Mario Americo em 1958


FTT: O Mário Américo nasceu em Minas Gerais no ano de 1912.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Exatamente, na cidade de Monte Santo.

FTT: Parece que com oito anos de idade ele fugiu de Minas.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Ele morava em uma fazenda, mas um dia resolveu fugir para o Rio de Janeiro pra morar com um primo dele, com a intenção de melhorar a sua vida. Lá no Rio, também não deu certo, resolveu ir pra São Paulo atrás de outro primo, chamado Malquíades. Aqui em São Paulo ele foi trabalhar como auxiliar de mecânico, só que também não se deu bem. Chegou até a ser baterista de uma orquestra, mas acabou tendo uma confusão e foi para o boxe, chegando a lutar em várias lutas lá no Rio de Janeiro. Teve um dia que tomou uma surra no ringue e acabou parando na mesa do Madureira. O médico do clube, Doutor Almir do Amaral, falou pra ele parar por aí, dizendo a ele que era muito valente e qualquer hora via acabar morrendo. O meu avô perguntou o que poderia fazer. O Doutor disse que tem um Senhor no Madureira que está pra se aposentar como massagista, que o levaria pra faculdade de Educação Física apenas pra assistir as aulas, porque não tinha o Ginásio. Aí começou a história dele como massagista.

FTT: Então ele foi para o Madureira, do qual participou de um grande time, que tinha os 3 patetas, com Jair, Lelé e Isaías.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Ele ficou sete anos lá. Depois alguns jogadores do Madureira começaram a se destacar, acabaram indo para o Vasco, pedindo aos diretores pra levar o Mário. Teve um dia que meu avô foi lá e praticamente o forçaram a ser massagista do clube, que veio a ter o maior time da sua história, que foi o do Expresso da Vitória.
Vasco campeão 1949 - Em´pé: Mario Americo, Sampaio, Augusto, Barbosa, Wilson e Laerte. Na fila do meio: Jorge, Alfredo II, o mdeico Amilcar Gifoni, , o tecnico Flavio Costa, o auxiliar Otto Gloria, Danilo Alvin e Ely. Sentados :Nestor, Mancea, Ademir Menezes, Lima, Ipojucan , Heleno de Freitas, Chico e Mario.


FTT: Mário Américo fez parte deste time do Expresso da Vitória, sendo Campeão Carioca em 1945, 1947 e 1949/50. Vencendo também aquele famoso Sulamericano vencido no Chile, empatando com o River Plate na final. Era um timaço o Vasco. Foi também massagista da Seleção Carioca. Aí ele teve a oportunidade de ser massagista da Seleção Brasileira, que foi praticamente a grande carreira do seu avô.
MÁRIO AMÉRICO NETTO:  Ele começou em 1949 pra ser auxiliar do Johnson, que era o massagista da Seleção Brasileira. Mas o Johnson já estava em final de carreira. Em 1958 ele já foi massagista oficial da Seleção. O seu início foi no Campeonato Sulamericano de 49 e dali parou somente em 74

FTT: Ele oficialmente foi em 1958, mas também fez parte em 50 e 54, ou seja, viu muita coisa boa.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Ele bateu muito naquele jogo do Brasil contra a Hungria... risos!
Uniforme usado por Mario Américo na Copa do Mundo de 1958.


FTT: No início da década de 50 foi chamado pra ser massagista da Portuguesa. Você sabe o motivo que o fez sair do Vasco?
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Tudo começou em um jogo do Vasco contra a Portuguesa. O Eli deu uma pernada no Pinga, começando o quebra pau no campo. O presidente da Portuguesa, que era o Doutor Marcos Augusto Izaías, entrou em campo e começou a briga. O meu avô, sem saber de quem se tratava, deu um soco de direita nele, com o presidente caindo no chão. Mas passou dali, apaziguaram, só que alguns meses depois ficaram no mesmo hotel o Vasco e a Portuguesa (não havia muitos hotéis naquela época), o Djalma Santos levou o presidente para o quarto onde o meu avô estava. Ele disse que este é quem tinha lhe dado o soco. O presidente falou que se tem uma pessoa que tem que levar pra Portuguesa é ele, porque “é um homem de verdade” e precisavam de pessoas assim. Dali começaram as conversas pra ele trabalhar na Portuguesa.



 Portuguesa : Lindolfo, Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho. Agachados: Julinho Botelho, Zé Amaro, Ipojucan, Osvaldinho, Ortega e o massagista Mário Américo


FTT: Na Portuguesa ele participou de grandes títulos, da Fita Azul na Europa e do Rio-São Paulo de 1955. Mesmo assim ele continuou sendo massagista da Seleção Brasileira. Em 1958 tem uma história engraçada, quando o Brasil acabou de ser Campeão do Mundo, ele se encontrou com o Rei da Suécia e falou “olá, King”, como se fosse uma pessoa que conhecesse há muito tempo. Era uma simplicidade que todos gostavam do Mário Américo, que era também conhecido como Pombo Correio.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Exato. Na final da Suécia, os jogadores e a Comissão Técnica eram tão humildes que meu avô conta no livro dele que o Garrincha, quando acabou a Copa, quis saber dele “com quem jogaríamos agora”. O próprio Nílton Santos, se não me engano, perguntou ao Rei se estava tudo bem. Era muita humildade da parte dos jogadores.

FTT: Falando novamente da Copa de 1958, tem a história de ele ter levado a bola da final para o Brasil.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Quando o jogo estava nos minutos finais, o Doutor Paulo Machado de Carvalho disse ao Mário que queria esta bola. O meu avô respondeu como faria, sendo que o Paulo falou que tinha que arrumar um jeito. Quando a partida acabou, com todo o mundo comemorando, ele foi em disparada ao juiz, que colocou a bola debaixo dos braços, o meu avô deu aquele soquinho básico pra ela cair, pegou a bola, saiu correndo, foi para o vestiário e sumiu com ela. Depois teve um banquete da Seleção na Suécia, eles pressionaram para que antes de voltarem ao Brasil, que devolvessem a bola. Só que ele foi mais esperto, trocou a bola, deu uma réplica e trouxe a verdadeira ao nosso país, que se encontra no museu da Federação Paulista.


FTT: Então a Seleção Brasileira trouxe o troféu e o Mário Américo trouxe a bola ... risos! Ele ainda foi campeão em 1962, fracassando na Inglaterra na tentativa do Tri, sendo que em ambas o Mário teve uma participação muito boa, principalmente nas famosas contusões do Pelé, no segundo jogo contra a Tchecoslováquia (62), com ele tentando recuperá-lo, mas a contusão era grave. Em 66, quando os portugueses marcaram muito forte o Pelé. E em 70, no Tri, ele também estava lá.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Há cinco anos atrás conversei com a mãe do Pelé, dizendo que umas das pessoas fundamentais para o seu filho e pra Copa de 70 foi o Mário Américo, porque o Rei não queria ir mais, pois não teve sorte nas duas últimas, mas o meu avô o convenceu que ele tinha que ir e se preparar. Acabou indo e trouxe pra nós o Tricampeonato.
Mario Américoajudando a carregar Amarildo na Copa do Mundo de 1962.


FTT: Depois de 1970 houve mais uma Copa, que foi a de 74, na Alemanha, sendo justamente a última do Mário Américo. Depois disso o que ele fez no futebol? Continuou a sua profissão como massagista?
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Ele tinha uma clínica de massagens no bairro do Imirim. Só que em 1976 candidatou-se como vereador em São Paulo, tendo 53 mil votos e foi eleito na época. Tinha a clínica e a Câmera Municipal. Como curiosidade, ele participou do primeiro comercial da Gelol.
Mario Americo carregando sozinho Leivinha contundido na Copa de 1974. Sua força era impressionante e chamava a atenção da imprensa de todo mundo.


FTT: Mário Américo veio a falecer em 1990, deixando um legado pra nós. Em 70 tinha o Nocaute Jack, que era auxiliar dele, tornando-se depois o massagista oficial da Seleção. Falamos de grandes histórias do seu avô e você chegou a fazer uma exposição dele alguns tempos atrás.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Em abril de 2010 consegui realizar uma exposição do Mário Américo dentro de um evento na Bienal, chamado Universo do Futebol. Conseguimos reunir 13 mil pessoas em quatro dias, sendo que foi bem legal, porque muitas pessoas jovens não o conheciam, para que saibam que o Brasil teve um massagista que foi a 7 Copas do Mundo e conseguiu Ser Tricampeão. Uma experiência muito bacana.
Mario Américo Neto com o livro em homenagem ao avô, intitulado "O Massagista dos Reis".


FTT: Ele poderia até ter ido em mais uma duas Copas do Mundo.
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Na verdade a CBD falou que ia fazer uma grande homenagem pra ele. O Mário falava  que poderia ter continuado mais em duas ou três, mas ele mesmo quis parar, pois já achava que estava bom demais.

FTT: Em 2012, se seu avô estivesse vivo, completaria 100 anos. Você tem alguma idéia de fazer algo no seu centenário?
MÁRIO AMÉRICO NETTO: Um grande sonho que tenho é poder relançar o livro dele. Depois desta exposição, uma prioridade minha é poder relançá-lo com novas fotos, inclusive histórias da minha avó, além de depoimentos dos jogadores da época

Mauricio Sabará e Mario Américo Neto

REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.

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