Através
do meu amigo jornalista Celso Unzelte obtive o telefone do Batata,
filho do famoso centroavante Baltazar, o Cabecinha de Ouro. A entrevista
foi realizada no Clube Esportivo da Penha, onde me reencontrei com o
Carlos Botelho, filho do Julinho, que também entrevistei para o Blog
Futebol de Todos os Tempos (FTT). Confiram a matéria.
FUTEBOL
DE TODOS OS TEMPOS: O seu pai nasceu em Santos no dia 14 de Janeiro de
1926, começando a jogar profissionalmente no Monte Alegre, em 1943.
CARLOS ALBERTO DA SILVA (BATATA):
Exatamente, primeiro no Monte Alegre, depois no Jabaquara, indo depois
pro Corinthians, onde jogou praticamente toda a carreira e no final dela
atuou no Juventus da Mooca.
FTT: Quando
criança ele tinha como referência o Leônidas da Silva, na questão de
posicionamento na área, agilidade e saltar para cabecear?
BATATA: Pelos comentários da família na época, sim.
FTT: O
seu pai chamava-se Oswaldo Silva e, quando ele começou a jogar futebol,
não era conhecido como Baltazar, que por sinal era o nome do irmão dele.
BATATA: Isso mesmo, o irmão era bem conhecido na vila e ficou aquela história do irmão do Baltazar e o nome ficou pra ele mesmo.
Jabaquara 1945 - A ártir da esq. Doca, Baltazar, Bahia, Leonardoo e Tom Mix.
FTT:
Em 1944 ele é contratado pelo Jabaquara, jogando em um ataque que tinha
Alemãozinho, Baltazar, Bahia e Tom Mix. Foi quando ele começou a se
destacar?
BATATA: Na
época era um time excelente, fazendo com que o Corinthians se
interessasse e o contratasse no final de 1945. No início ele era
meia-direita (Servílio jogava como centroavante) e quando o Luizinho
subiu para o time de cima (1949), passou a jogar no comando do ataque.
FTT:
No primeiro Torneio Rio-São Paulo oficial (1950), com o Corinthians
sendo campeão, o Baltazar acabou sendo o artilheiro da competição,
marcando 9 gols, chamando a atenção do técnico Flávio Costa para que ele
fosse convocado pra Seleção Brasileira. Na Copa do Mundo jogou as duas
primeiras partidas, contra o México no Maracanã (4 a 0) e com a Suíça no
Pacaembu (2 a 2), marcando um gol em cada jogo. Ele ficou chateado por
não ter jogado entre os titulares as outras partidas do Mundial?
BATATA: Não, ele nunca se deixou levar pelo outro lado. Era tranquilo, pacato e sereno, portanto foi algo que não influenciou em nada.
FTT:
Em 1951/52 o Corinthians é Bicampeão Paulista, surgindo, talvez, o
ataque mais famoso da história do clube, com Cláudio, Luizinho,
Baltazar, Carbone e Mário, que marcou 103 gols no Paulistão de 51. O que
o seu pai falava desta linha?
BATATA: Encontrei
uma vez com o Cláudio no Parque São Jorge e ele comentou comigo que
“não tinha jogada ensaiada, metia a bola e o seu pai estava lá”. Era
assim, eles se davam muito bem dentro e fora do campo, facilitando as
jogadas.
FTT:
O Baltazar tinha uma frase muito legal, dizendo que “nunca fui muito
bom com a bola nos pés, mas com a cabeça ‘nem Pelé’ era melhor do que
eu”. Isso também se deve aos cruzamentos precisos do Cláudio Cristovam
de Pinho.
BATATA: Não
o vi jogar, pois nasci em 1955, mas pude ver em fotos que a minha mãe
tinha em arquivos, que a impulsão dele era extraordinária, sempre
passando os zagueiros, algo incrível, muito difícil pará-lo quando bem
posicionado.
FTT: Os defensores adversários diziam que, “para pará-lo, era somente com socos e pontapés”.
BATATA: Inclusive
ele teve o maxilar quebrado algumas vezes devido a essas jogadas, pois,
quando saltava, os zagueiros já metiam o cotovelo nele. Mas era
difícil, porque o meu pai saltava muito bem.
FTT:
Ele era constantemente convocado pra Seleção Brasileira, sendo Campeão
Panamericano em 1952, disputou o Sulamericano no ano seguinte, venceu o
Campeonato Brasileiro de Seleções em 52 pela Seleção Paulista e foi o
artilheiro das Eliminatórias da Copa do Mundo, ou seja, era o grande
centroavante brasileiro na época. No Mundial da Suíça ele estreou contra
o México (5 a 0), marcando um gol. Na segunda partida, enfrentou a
Iugoslávia. Só não participou do jogo com a Hungria, em que o Brasil foi
eliminado.
BATATA:
São grandes lembranças que ele tinha. Se é na época atual, talvez fosse
mais difícil fazer os gols que fazia naquele tempo, pois hoje o
zagueiro abraça, se joga em cima, o que não havia tanto quando o meu pai
jogava futebol.
Primeiro gol marcado pelo Brasil na Copa de 1954 foi feito por Baltazar.
FTT:
Depois da Copa do Mundo ele foi Campeão Paulista do IV Centenário
(tinha vencido também o Rio-São Paulo em 1953). No ano de 1957 o
Baltazar foi vendido ao Juventus da Mooca, mas não se destacando mais
como o Cabecinha de Ouro, pois havia marcado 267 gols em 409 partidas no
Parque São Jorge, tornando-se o segundo maior artilheiro da história
corintiana (Cláudio é o primeiro). O seu pai achava que já estava
prestes a encerrar a carreira?
BATATA: Ele sentia que já estava na hora de parar, pois ficou pouco tempo no Juventus. O auge dele foi no Corinthians
FTT:
Em 1971 o Baltazar era o técnico do Corinthians no Campeonato
Brasileiro, realizando, por sinal, uma boa campanha, tendo o Rivellino
no time.
BATATA: A
equipe era muito boa. Se eu não me engano eles perderam uma partida
para o Cruzeiro em Belo Horizonte por 1 a 0, fazendo com que ele saísse
do cargo. O pessoal gostava muito do meu pai. A experiência foi boa,
treinou outros clubes, mas não gostava muito dessa função.
FTT:
Vamos falar agora um pouco de você, pois afinal de contas também foi
jogador de futebol, jogando como lateral-esquerdo. Chegou a treinar nas
Equipes de Base do Corinthians?
BATATA: Comecei
a jogar no Corinthians em 1968 nas Categorias de Base do Sr. José
Castelli (Rato), completei todo aquele ciclo de jogador Infantil,
Juvenil e Aspirante. Terminei a minha carreira como jogador Amador do
Palmeiras, onde me profissionalizei, indo depois pro São Bento de
Sorocaba em 1977, fui vendido ao Botafogo do Rio em 79 e mais tarde
rodei o Brasil.
FTT: Você era muito cobrado por ser filho do Baltazar?
BATATA: Fui
sim, porque comecei a jogar na frente. A cobrança foi muita e acabei
caindo pra ponta-esquerda. Quando fui para os Juvenis do Corinthians, o
Julinho Botelho me levou pro Juvenil do Palmeiras, sendo que lá me
colocaram pra jogar como quarto-zagueiro e o treinador era o Godê. Fomos
Campeões Paulistas Juvenis e me dei bem na posição. Mas a maior parte
dos meus jogos foi como lateral-esquerdo.
FTT: Jogou também na Seleção Brasileira Amador.
BATATA: Joguei no Torneio de Cannes em 1973/74.
Batata filho de Baltazar por quem tem grande orgulho tambem tentou a carreira como jogador de futebol.
FTT: E a passagem no Botafogo, talvez o time mais importante que jogou como Profissional?
BATATA: Sem
dúvida, na época o presidente era o Charles Borer, com o Botafogo se
refazendo há alguns anos e os pagamentos estando em dia. Foi uma
experiência boa, pois o time era muito bom, contando com jogadores como o
Mendonça, Renê (que era do Vasco), Dé, Manfrini, Perivaldo, Renato Sá e
Marcelo (hoje é treinador do Coritiba).
FTT:
Fale do seu primo, o Gérson, que faleceu prematuramente com 29 anos, em
1994. Foi um centroavante revelado pelo Santos, sendo campeão da Taça
São Paulo de 1984 e com passagens muito boas pelo Atlético Mineiro e
venceu a Copa do Brasil de 92 pelo Internacional-RS. Qual é a sua
recordação deste grande atacante?
BATATA: Era
uma pessoa maravilhosa, um cara muito tranquilo, sossegado e sempre na
dele. Isso pegou toda a família de surpresa. Foi uma perda prematura,
lamentável e muito tristeBatata e Mauricio Sabará
FTT:
Obrigado pela entrevista, Batata. Parabenizo você, o seu primo Gérson
e, principalmente, o Baltazar, provavelmente o maior centroavante da
história do Corinthians junto com o Teleco. Anos atrás foi feito um
busto no Parque São Jorge em sua homenagem ao lado das estátuas do
Cláudio e do Luizinho, algo bem merecido. Ele era um jogador tão
popular, que foi feita uma marchinha em sua homenagem. Você me disse
saber que foi composta pelo Alfredo Borba (1952/53), mas não sabe a
letra completa, que na época quem cantava era a Elza Laranjeira. Não sou
cantor, mas com a sua permissão, a cantarei, pois conheço a música
inteira.
GOL DE BALTAZAR
GOL DE BALTAZAR
SALTA O CABECINHA
UM A ZERO NO PLACAR
O MOSQUETEIRO NINGUÉM PODE DERROTAR
CARBONE É UM ARTILHEIRO ESPETACULAR
CLÁUDIO, LUIZINHO E MÁRIO
JULIÃO, ROBERTO E IDÁRIO
HOMERO, OLAVO E GILMAR
SÃO OS ONZE CRAQUES QUE SÃO PAULO VAI CONSAGRAR
GOOOLLL!!!
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário