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sábado, 17 de setembro de 2011

O Craque disse e eu anotei - DINO SANI


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FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você começou a jogar no Palmeiras em 1945, nas divisões de Base. De 49 pra 50, passou a ser Profissional. Fale desta sua passagem pelo Palmeiras e porque ficou tão pouco tempo no Parque Antartica.
DINO SANI: Comecei no Palmeiras desde o Infantil, quando tinha 13 anos. Depois fui Juvenil, Amador e Aspirante. Me tornei Profissional no final de 1949. Joguei em 50, quando ganhei uma Taça Cidade de São Paulo e o Campeonato Paulista daquele ano. Em 51 fui emprestado para o XV de Jaú com mais três jogadores (Lourenço, Gino e Gengo). Neste mesmo ano fomos campeões da Segunda Divisão. De lá, o Gino e eu, voltamos para o Palmeiras, mas logo saímos, porque eles não aproveitavam o pessoal da casa. O Canhotinho me abriu os olhos pra eu ir para o Comercial da Capital Paulista.

Mauricio Sabará e Dino Sani - Um momento inesquecivel para a FTT ao entrevistar um craque e um homem tão digno.


FTT: Em 1954 você foi para o São Paulo. Inicialmente jogava como meia?

DINO SANI: Comecei nos Infantis do Palmeiras como meia-direita, depois passei a ser meia-esquerda. No São Paulo cheguei a jogar pelo lado direito, com o Negri no esquerdo. Quando ele parou, passei a ser o meia-esquerda titular. Depois houve um problema na cabeça-de-área, quando um jogador estava machucado, se não me engano. O Sr. Bela Guttmann (técnico) me colocou pra jogar como médio-volante. Disse que nunca havia jogado nesta posição e ele respondeu que o problema era meu e não dele. Me deu as instruções e fomos jogar contra a Portuguesa (08/09/1957), não me esqueço disso e empatamos por 2 a 2. Aí fiquei e não saí mais. Passei a jogar no São Paulo e na Seleção Brasileira nesta posição. Depois joguei ainda na meia no Boca Juniors. Já no Milan, só joguei com a 8, pois o Trapattoni era o volante.

FTT: No São Paulo, quando jogava com meia-esquerda, haviam dois pontas-esquerdas, primeiramente o Teixeirinha e depois o Canhoteiro.

DINO SANI: Peguei a fase do Teixeirinha, depois veio o Canhoteiro, que era fabuloso, muito habilidoso e fenomenal, quase igual à Garrincha. Joguei contra grandes jogadores, como Puskas e Di Stefano. Na Europa, pelo Milan, enfrentei os jogadores do Benfica no estádio do Wembley, sendo que foi a única vez que joguei naquele gramado fabuloso. Eu não combatia o Luizinho (Corinthians), pois quem fazia esta função era o Mauro, que era um craque, mas o Pequeno Polegar era baixinho e rápido, fazendo misérias com a bola. Lembro de um jogo (02/10/1955), quando eu ainda não era volante, em que o São Paulo vencia por 2 a 0, sendo que fiz o primeiro gol da partida. No Segundo Tempo, o Corinthians virou pra 3 a 2, o Luizinho fez um gol e comandou a virada.


Dino Sani nos tempos de São Paulo.

FTT: Quando você começou a jogar como médio-volante, havia outro jogador que também era muito bom, que era o Roberto Belangero. Havia alguma diferença no estilo de jogo dele em relação ao seu?

DINO SANI: Eu joguei contra ele, o Roberto era o volante do Corinthians. Eu era meia e ele o cabeça-de-área. Também era tecnicamente um excelente jogador. Ele era mais defensivo, armava muito bem as jogadas, marcava bem, mas não ia muito pra frente e não marcava muitos gols. Eu, por ter sido meia, já tinha característica de atacante, chegava na área adversária e quando sobrava a bola ou quando vinha com ela dominada já chutava dali mesmo. Futebol é mais fácil gol de fora da área do que dentro dela, porque está todo mundo aberto e o goleiro ainda está de baixo das traves. Dentro da área, ele fecha o ângulo, a defesa está apertada. Quem bate bem de fora da área hoje em dia, faz quantos gols quiser. Mas do jeito que se bate atualmente, é triste de ver (risos...).

FTT: Qual é a lembrança que você tem do título paulista de 1957?

DINO SANI: Foi um título fantástico. Na fase classificatória, o São Paulo quase desceu pra Segunda Divisão e por pouco não entrou no campeonato. Depois engrenou e perdeu apenas um jogo, se não me engano contra a Portuguesa (4 a 0 no dia 27/10). Veio o Zizinho, preenchendo a meia-esquerda, o time começou a jogar futebol e foi campeão, jogando muito bem.

São Paulo 1957 - DeSordi. Poy. Sarará. Riberto. Vitor e Mauro Ramos.
Agachados: Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro
FTT: Você foi um craque conhecido por sua categoria e facilidade de organizar o jogo, que era um dom seu. Houve algum jogador que te inspirou neste estilo de jogar?

DINO SANI: Não! Eu vi grandes jogadores, como o Jair Rosa Pinto, Luiz Villa e Villadoniga, todos do Palmeiras. No Corinthians havia o Roberto Belangero e, antes dele, tinha o Brandão. Havia o Ruy, do São Paulo. E, no Vasco, tinha o Danilo, que, quando iniciei, ele já estava encerrando. Haviam muitos grandes jogadores, mas eu não me inspirava neles, queria talvez fazer igual, mas eu pratiquei o futebol que sabia e deu certo.
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FTT: Pouco depois do titulo de 57, houve a Copa do Mundo de 58. A principio você era o titular da Seleção. Qual foi o motivo que fez com que você perdesse a posição?
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DINO SANI: Foi uma contusão nas vésperas do jogo contra a União Soviética. Houve uma brincadeira na recreação e estourei um músculo, ficando quase 60 dias sem jogar. Não foi nem distensão, mas ruptura do músculo, que partiu no meio. Perdi a chance terminar jogando, mas entrou o Zito que foi muito bem. Eu joguei duas partidas e ele jogou quatro. Valeu a pena, mas o pecado foi que fiquei de fora, nem podia treinar, fazendo tratamento a assistindo os jogos na arquibancada. Virei um torcedor, sendo que é horrível. Fomos campeões do mundo, comemoramos muito, mas a festa foi maior quando chegamos ao Brasil. Foi muito bonito


Seleção em 1959: Djalma Santos, Bellini, Dino Sani, Nilton Santos, Gilmar e Orlando.
Agachados: Julinho, Didi, Henrique, Pelé e Canhoteiro
 
FTT: Depois você continuou jogando no São Paulo.

DINO SANI: Continuei no São Paulo até Abril de 1961. Ainda disputei pela Seleção Brasileira o Sulamericano de 59, em Buenos Aires, quando teve uma briga contra os uruguaios e o Paulo Valentim fez três gols (26/03). E no ultimo (04/04), contra os argentinos, o jogo estava empatado e, no final, o Garrincha pegou a bola, saiu driblando todo mundo e quando ia entrar na área, o juiz terminou a partida que estava empatada e a Argentina foi campeã. Isto foi uma vergonha. Também venci a Copa Rocca de 1960.



FTT: Garrincha ou Canhoteiro?

DINO SANI: Os dois eram excelentes. O Garrincha tem mais nome porque jogou na Copa e teve projeção. Nós estávamos concentrados no hotel Danubio na preparação para a Copa e o Canhoteiro saiu à noite, foi publicado no jornal e ele foi dispensado. Eles queriam o homem e depois o atleta. Foi uma pena, porque a Copa do Mundo perdeu este grande jogador que foi o Canhoteiro. Ele perdeu esta grande chance.

FTT: Em Abril de 1961 você foi para o Boca Juniors.

DINO SANI: Fiquei sete meses no Boca Juniors. Lá haviam jogadores de seleção, como Paulo Valentim, Maurinho e Orlando (Seleção Brasileira). Também jogavam o Rattin, Marzolini e Roma (Seleção Argentina). E tinha o Benítez (Seleção Peruana). A torcida do Boca é fantástica. Em 1958 eu já era pra ter ido jogar na Itália, mas não abriu a quarta vaga estrangeira, sendo que o Altafini (Mazzola) foi na terceira e eu fiquei. Eu nem esperava jogar lá, porque era muito difícil ir para o futebol italiano. Um dirigente do Milan foi ver um jogador argentino jogar, que era o Menéndez, do Huracan, que jogava como centroavante e era um grande jogador. Ele, que tentou me contratar em 58, não sabia que eu estava na Argentina, me viu jogando no Boca como meia e me levou uma semana depois. Joguei três anos no Milan, fui Campeão Europeu e Italiano. Depois discuti por lá voltei para o Brasil. Foi a única coisa que me arrependi na minha carreira. Deveria ter ficado por lá e virar treinador na Europa. Cabeça dura tem que apanhar.

BOCA 61 : Rattin, Marzolini, Carlos Rico, Roma, Benitez e Orlando Peçanha
Agachados: Maurinho, Dino Sani, Paulo Valentim, Grillo e Yudica

No Boca Juniors
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FTT: Em 1965 você veio para o Corinthians. Mesmo já estando prestes a encerrar a carreira, foi uma passagem muito boa. Havia uma jovem promessa que era o Rivellino. O que você passou de bom pra ele?

DINO SANI: Me contrataram porque iriam lançá-lo. Era um moleque de 19 anos e eu estava lá pra ajudá-lo. Rivellino era um grande jogador, mas era rebelde. Foi apanhando, mas melhorou bastante. Ele foi um baita jogador.

FTT: Você foi convocado para a Seleção Brasileira pra Copa de 1966. No seu último jogo, você fez dois gols contra um time sueco. Por que você foi cortado?

DINO SANI: Foram mais de 40 jogadores e o ambiente não estava bom. Tanto um time como uma seleção acabam não caminhando bem nesta situação. Se você não tiver uma equipe forte e unida, não adianta. Pode até ser um time que não seja grande coisa, mas se for unido, dará trabalho e pode até ser campeão. Eu estava no final fora da lista e fui embora, nem quis ficar. Fui convidado pra assistir a Copa, mas não aceitei. O Valdir de Moraes e o Servílio quiseram ficar, mas quando chegaram na Inglaterra, puseram eles no avião e voltaram para o Brasil.

Clássico entre Corinthians e Santos no Morumbi em 1965. Mais de 58 mil pessoas acompanham o Peixe vencer o Timão por 4 a 3 em jogo válido pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. Na foto vemos Eduardo, Dino Sani, Pelé e Rivellino



 

FTT: Depois você jogou mais um tempo no Corinthians, encerrou a carreira e iniciou a de treinador. Inclusive, antes de João Saldanha, era pra ser você o novo técnico da Seleção Brasileira.
DINO SANI: Exatamente. Entregaram a Seleção na minha mão e eu não quis porque ela foi feita em casa num domingo. O Solange Bibas, que era jornalista da Gazeta Esportiva, me avisou que o Saldanha queria falar comigo. Eu aceitei e fomos almoçar. Ficamos conversando sobre os jogadores de São Paulo e ele foi anotando. Me pediu pra levá-lo para o aeroporto e disse que a Seleção já está formada. Deram pra mim a notícia que a Seleção era minha, eu agradeci, mas não aceitei, o que não me arrependo.

DINO SANI ENCERRA A CARREIRA DE JOGADOR E SE TRANSFORMA EM TREINADOR

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FTT: Como treinador, houveram muitos grandes jogadores que passaram contigo. Quais foram eles?

DINO SANI: No Flamengo eu treinei o Zico, Andrade, Raul, Júnior, Tita e Nunes. No Palmeiras tinha o Ademir da Guia, Luís Pereira e Leivinha. Foi na minha época que estes dois últimos foram para o Real Madrid, quando vencemos o Troféu Ramón de Carranza. O Palmeiras estava eliminando os jogadores antigos para formar uma nova equipe e foi Campeão Paulista em 1976. Ficaram o Leão, Ademir, Edu e Nei. Nas últimas partidas, o Dudu era o técnico. Houve um problema com a torcida e resolvi sair.

FTT: Mas acho que o jogador mais famoso que passou contigo, por ser volante, foi o Falcão.

DINO SANI: Teve o Falcão e o Carpegiani, que era reserva de Dorinho no Internacional. Tirei ele para colocá-lo. Quando o Falcão subiu, tirei o Carbone, que foi para o Botafogo. O Dorinho e o Carbone eram jogadores de categoria, não podiam ficar no banco, então eles saíram. Eu pedi o Figueroa. O Cláudio Duarte também subiu comigo. Ganhei o Pentacampeonato Gaúcho e outros títulos. Depois fui para o Coritiba, onde fiz uma boa campanha.

FTT: Fale da sua passagem como treinador do Peñarol.
DINO SANI: Foi muito boa. Em três anos, fui Bicampeão Uruguaio, além de outros títulos. O Ruben Paz subiu comigo lá. Depois fui para o México treinar o Puebla. O Muricy jogava lá. Classificamos entre os oito, algo que nunca havia acontecido com este time. Mas me mandaram embora por causa de um jogador conhecido como Picolé. Vou contar esta história pra você. Eu precisava de um centroavante, pois eu não tinha ninguém nesta posição, mas tínhamos uma boa equipe. Falei para o presidente que precisávamos de um centroavante. Ele foi até a Espanha e trouxe um centroavante uruguaio naturalizado espanhol que se chamava Hugo Cabeça, que era um grande atacante “em tamanho” (risos...). Quando eu o vi, pensei comigo que seríamos campeões. Nos três primeiros jogos, não marcou nenhum gol. Eu estava perdendo a paciência. Aí, em Guadalajara, olhei para o banco e vi o Picolé. Chamei ele pra jogar no lugar do Cabeça, disse pra não vir muito e não entrar na área, fica no bico dela, faz tabela e invada pra fazer o gol. Ganhamos o jogo, virou titular e classificamos com ele. Depois veio a lista da qual tinham que ficar 18 jogadores. Quem estivesse fora, não entrava mais. Ficou aquele dilema entre o Cabeça e o Picolé, não podia deixá-lo de fora, já que foi ele que marcou os gols. Optei pelo Picolé. O presidente mandou embora ele e eu. Depois fiquei sabendo que o presidente ficou com tanta raiva do Cabeça, que acabou sendo mandado embora. Não vê as coisas direito, dá nisso. Eu só dava risada.

FTT: O que você achou desta nova geração de volantes do Brasil na Copa do Mundo de 2010? Mudou muito?.
DINO SANI: Mudou tudo, é só marcação e destruição total. Acabaram com o meio-de-campo, que é o coração de uma equipe, a alimentação do time. Porque é ali que sai todas as jogadas para a conclusão de outros jogadores na finalização do gol. Veio esta coisa de overlapping, armar pelas laterais, o que é brincadeira, porque no final disso sairá um cruzamento, sendo que pode sair mal feito e, se sair bem, tem o goleiro, os beques pra cabecear, o que é outro problema. Mas agora estão querendo modificar isso, pois vimos algo diferente na primeira partida do Mano Menezes na Seleção. Vamos ver se eles consertam, pois este é o futebol brasileiro que encantou o mundo. E o que vimos foi um bom jogo contra a Seleção dos Estados Unidos, que nestes últimos anos tem jogado de igual pra igual com o Brasil. Os americanos só ficaram correndo atrás da bola, foi um jogo bonito tecnicamente, com uma boa marcação e boas finalizações, porque 2 a 0 foi pouco, pois teve bola na trave e os brasileiros chutaram umas quinze vezes para o gol. Hoje em dia se dá uns noventa passes para a bola chegar ao gol. Depois de 15, 20 e 30 minutos de jogo, não se tem nenhum chute ao gol. Nunca vi futebol deste jeito. Tem que mudar. Pelo menos o Santos está fazendo isso antes desta nova Seleção Brasileira. E que continue assim. Perder é do futebol. Recupera no outro jogo. Não é porque perdeu, que tem que fechar o time.


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