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terça-feira, 26 de junho de 2012

O Craque disse e eu anotei - ENEAS por Rodrigo



No dia 12 de Fevereiro de 2011 fiz uma matéria muito legal sobre o Memorial da Portuguesa de Desportos. Fiquei amigo do Sr. Vital e do Artur, que na ocasião me concederam a entrevista. Algum tempo depois, Rodrigo de Camargo, filho do ex-jogador Enéas de Camargo, esteve no museu para entregar os troféus do seu pai, pois considerava que estaria em um bom lugar, preservando assim a história do seu pai e da própria Portuguesa. Aproveitei o dia pra fazer uma matéria com ele que gentilmente me deu todas as informações da carreira do grande jogador que foi o Enéas.



FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Rodrigo, o seu pai (Enéas de Camargo) faleceu no dia 22 de Dezembro de 1988 por causa de um acidente automobilístico. Quantos anos você tinha na ocasião e como foi o seu convívio com ele?
RODRIGO DE CAMARGO: Meu pai faleceu no dia 27/12/1988 em virtude do acidente automobilístico ocorrido no dia 22/08/1988 e eu tinha 8 anos de idade. O convívio foi muito bom.


FTT: O Enéas nasceu na cidade de São Paulo no dia 18 de Março de 1954. Como ele desenvolveu o seu futebol de dribles curtos em zigue-zague, tinha ídolos e se a várzea foi mesmo a sua primeira escola ou o futebol de salão?
RODRIGO: O drible curto em zigue-zague era nato, meu pai aperfeiçoou no futebol de salão. A várzea foi uma ótima escola para meu pai e muitos jogadores de sua época , pois o jogador de antigamente era muito mais malandro devido a escola varzeana.  Na infância, meu pai era santista, pois tinha como ídolo o Pelé, com aquele esquadrão do Santos.  

 

FTT: Como aconteceu a contratação dele pela Portuguesa de Desportos?
RODRIGO: O professor Nena se encantou com o futebol do meu pai e o aprovou em uma peneira, onde iniciou uma grande carreira, sendo artilheiro em todas as categorias até chegar ao Profissional.

FTT: No time principal estreou no ano de 1971, mas começou a despontar de fato com a conquista do Campeonato Paulista dois anos depois, dividido com o Santos. O que o Enéas comentava sobre esse título?
RODRIGO: Foi a realização de um sonho, pois ele foi campeão junto com o melhor jogador de futebol de todos os tempos e seu ídolo de infância.


FTT: Foi a partir daí que o seu pai começou a ser comparado ao Pelé?
RODRIGO: Os comentários se solidificaram aí, mas dentro da Portuguesa essa comparação já acontecia.

FTT: Diziam alguns que ele era um grande craque, mas que costumava cochilar em campo (termo usado para jogadores que se desligavam da partida). Certa vez vi o Dicá dizer em uma entrevista que o Enéas foi o melhor jogador com quem jogou. Como o seu pai lidava com tantas críticas e tantos elogios?
RODRIGO: Meu pai aceitava as críticas e tocava a vida dele normalmente. Na minha opinião foi um dos jogadores mais injustiçados da década de 70.

FTT: No dia 31 de Março de 1974 joga a sua primeira partida na Seleção Brasileira, num empate de 1 a 1 contra o México, em um amistoso no Maracanã. Na ocasião ele entrou no lugar do Mirandinha. Estava no grupo para a Copa do Mundo da Alemanha, mas acabou sendo cortado. Você acha que isso se deu devido a Portuguesa não ter força na CBD?
RODRIGO: Pode ser também, mas acho que o grupo estava fechado, principalmente os remanescentes da copa de 70.

Eneas recebe a Chuteira de Ouro como revelação do futebol brasileiro
Rodrigo filho de Eneas segura a chuteira ganha pelo  pai ao lado de Mauricio Sabará
FTT: A derrota para o São Paulo nos pênaltis na final do Campeonato Paulista de 1975 foi a maior tristeza do Enéas no futebol? O que ele comentava sobre essa final?
RODRIGO: Foi um jogão, ele fez um belo gol de cabeça na segunda partida levando o jogo para a prorrogação e, nas cobranças de pênaltis, a equipe da Portuguesa não foi feliz.

FTT: Em 1976 é novamente convocado para a Seleção Brasileira pra disputar a Copa do Atlântico, sendo campeão do torneio, tendo Oswaldo Brandão como técnico. Marca o seu único gol com a camisa canarinho no empate de 1 a 1 com o Paraguai. Participa também da vitória por 2 a 1 contra o Uruguai. No total, apenas três jogos pelo Brasil. Talvez essa falta de ritmo tenha contribuído para que não se firmasse?
RODRIGO: A maior injustiça da copa de 1974 foi o corte do meu pai da lista de convocados. Tenho certeza absoluta que se meu pai tivesse uma sequência maior na seleção, ele seria nome certo também em 1978. 

 FTT: No começo dos anos 80 encerra o seu ciclo na Portuguesa de Desportos. O que o Enéas dizia dos seus companheiros de time e dos adversários. Houve algum marcador que tenha dado mais trabalho. Havia algum clube que ele sentia mais dificuldades para enfrentar?
RODRIGO: Meu pai falava de grandes jogadores como Leão, Amaral, Oscar e Marinho Peres. Zé Maria, Badeco, Rivelino, Ademir, Wilsinho, Muricy e Serginho. Lembro também que falava muito bem do futebol do Zico e que era um grande homem. Nunca comentou de um clube específico, mas adorava jogar contra Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.


 Em pé: Pescuma, Zecão, Badeco, Isidoro, Calegari e Cardoso; Agachados: Xaxá, Enéas, Cabinho,  Basílio e Wilsinho.

FTT: É contratado pelo Bologna da Itália. Como foi a adaptação no futebol italiano. Conseguiu exibir o mesmo futebol que o consagrou na Portuguesa?
RODRIGO: Os treinos eram muito pesados, pois o frio de Bologna era rigoroso e nevava muito. O que atrapalhou meu pai foi o futebol muito duro e violento, onde as lesões se agravaram muito. Houve um jogo épico entre a Juventus, que era a base da seleção italiana campeã de copa de 82 e o Bologna, com o meu pai jogando muita bola e sofrendo muitas faltas, inclusive sofreu o pênalti onde ocorreu o gol da vitória do Bologna em Turim contra o campeão daquele ano.



FTT: Em 1981 retorna ao Brasil como jogador da Sociedade Esportiva Palmeiras. Apostavam muito nele como parceiro do Jorginho, fez boas partidas, mas não brilhou tanto assim. Como foi essa passagem e relembre uma grande partida dele contra o Santos pelo Campeonato Paulista de 1983, empatando um jogo em que o seu time perdia por 2 a 0, marcando o primeiro gol aos 41 minutos do segundo tempo e com o Jorginho anotando o segundo tento aos 46.
RODRIGO: As lesões foram o principal problema, ou melhor, as infiltrações nos joelhos, isso atrapalhou muito sua passagem pelo Palmeiras ainda mais que veio como um Salvador da Pátria na busca de um título. Realmente foi um jogo inesquecível.



FTT: O Palmeiras não ganhava títulos há certo tempo, fazendo com que seu pai fosse dispensado. Teve depois discretas passagens pelo Ponta Grossa-PR (1984), Juventude-RS (1985) e Central de Cotia-SP (1985/86). Conseguiu apresentar um bom futebol nesses dois clubes?
RODRIGO: Meu pai foi emprestado ao XV de Piracicaba em 1984, pois não contou para a Diretoria qual jogador que jogou água nos hóspedes da varanda de um Hotel em recife e foi responsabilizado pelo ato, isso foi o que faltava para encerrar seu ciclo no Palmeiras. Ainda em 1984 jogou pelo Atlético Goainiense. Em 1985 atuou pelo Operário de Ponta Grossa e  Juventude de Caxias do Sul. Em 1986 na Desportiva e Central Brasileira de Cotia. Teve passagens curtas e discretas e não foi nem sombra do Enéas da década de 70. 

Eneas com a camisa do Palmeiras


FTT: No ano de 1986 conquista o seu último título, sendo Campeão Capixaba pela Desportiva. Conseguiu ser ídolo no Espírito Santo?
RODRIGO: Não foi ídolo, pois atuou menos de 10 partidas pelo clube. Foi contratado na fase final do campeonato, colaborou com gols e assistências na conquista desse título. Foi até matéria da Placar daquele ano.


FTT: Diziam alguns que ele era um grande craque, mas que costumava cochilar em campo (termo usado para jogadores que se desligavam da partida). Certa vez vi o Dicá dizer em uma entrevista que o Enéas foi o melhor jogador com quem jogou. Como o seu pai lidava com tantas críticas e tantos elogios?
RODRIGO: Meu pai aceitava as críticas e tocava a vida dele normalmente. Na minha opinião foi um dos jogadores mais injustiçados da década de 70.



FTT: No dia 31 de Março de 1974 joga a sua primeira partida na Seleção Brasileira, num empate de 1 a 1 contra o México, em um amistoso no Maracanã. Na ocasião ele entrou no lugar do Mirandinha. Estava no grupo para a Copa do Mundo da Alemanha, mas acabou sendo cortado. Você acha que isso se deu devido a Portuguesa não ter força na CBD?
RODRIGO: Pode ser também, mas acho que o grupo estava fechado, principalmente os remanescentes da copa de 70.


FTT: A derrota para o São Paulo nos pênaltis na final do Campeonato Paulista de 1975 foi a maior tristeza do Enéas no futebol? O que ele comentava sobre essa final?
RODRIGO: Foi um jogão, ele fez um belo gol de cabeça na segunda partida levando o jogo para a prorrogação e, nas cobranças de pênaltis, a equipe da Portuguesa não foi feliz.


FTT: Em 1976 é novamente convocado para a Seleção Brasileira pra disputar a Copa do Atlântico, sendo campeão do torneio, tendo Oswaldo Brandão como técnico. Marca o seu único gol com a camisa canarinho no empate de 1 a 1 com o Paraguai. Participa também da vitória por 2 a 1 contra o Uruguai. No total, apenas três jogos pelo Brasil. Talvez essa falta de ritmo tenha contribuído para que não se firmasse?
RODRIGO: A maior injustiça da copa de 1974 foi o corte do meu pai da lista de convocados. Tenho certeza absoluta que se meu pai tivesse uma sequência maior na seleção, ele seria nome certo também em 1978. 

Eneas x Zé Carlos um duelo de classe no meio campo
FTT: No começo dos anos 80 encerra o seu ciclo na Portuguesa de Desportos. O que o Enéas dizia dos seus companheiros de time e dos adversários. Houve algum marcador que tenha dado mais trabalho. Havia algum clube que ele sentia mais dificuldades para enfrentar?
RODRIGO: Meu pai falava de grandes jogadores como Leão, Amaral, Oscar e Marinho Peres. Zé Maria, Badeco, Rivelino, Ademir, Wilsinho, Muricy e Serginho. Lembro também que falava muito bem do futebol do Zico e que era um grande homem. Nunca comentou de um clube específico, mas adorava jogar contra Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.




FTT: Antes de falecer em 1988 tinha interesse em se despedir do futebol jogando pela Portuguesa de Desportos?
RODRIGO: Não sei informar, mas tenho certeza que ele ficaria muito feliz se isso tivesse ocorrido.

FTT: Qual foi o legado deixado por Enéas de Camargo?
RODRIGO: Meu pai foi um jogador que tinha um arranque fantástico, finalizava com as duas pernas como poucos e sempre no contrapé do goleiro, tinha uma matada no peito, domínio e controle de bola incríveis e ainda era um exímio cabeceador. Muricy Ramalho citou várias vezes em entrevistas coletivas pelo Santos que craque para ele era o Enéas, que decidia jogos em cinco minutos. Acho que o futebol do meu pai era impar, só não foi tão valorizado por razões que a própria razão desconhece.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.

FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.

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