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sábado, 21 de abril de 2012

O Craque disse e eu anotei - RICARDINHO

O Craque disse e eu anotei - RICARDINHO

A entrevista com Ricardinho foi bem ao estilo dele atuando. Fiquei no seu encalço por quase tres meses e varios imprevistos aconteceram. Não desistí , corri atrás e no final o resultado valeu muito a pena. Ricardinho nos fala do futebol nos anos 90 uma época de grandes times e grandes conquistas do futebol brasileiro. Ele é nada menos do que o recordista em titulos conquistados em toda historia do Cruzeiro. Confiram aqui um pouco do que Ricardo Alexandre dos Santos, o Ricardinho,  fez nos gramados do Brasil e do mundo.


FTT - Você foi para o Cruzeiro em 94. Chegou a jogar ao lado de Ronaldo?
RICARDINHO – Joguei. Eu fui para o Cruzeiro em 92 ainda no juvenil. Fiquei dois anos jogando na base e quando o Ronaldo veio do São Cristovão ele veio também para o juvenil. Me lembro que estavam naquele time eu, Ronaldo, o Belleti, o Rodrigo Posso goleiro, Donizeti Amorim também jogava. Quando terminou o ano eu, Ronaldo e Belleti subimos direto para o profissional, nem passamos pelo Junior. Nos treinos do meio de semana já jogávamos contra os reservas do profissional .

FTT - No jogo de despedida de Ronaldo, contra o Botafogo , foi você inclusive quem entrou no lugar dele.
RICARDINHO – Foi, eu estava no elenco e não sabia se iria jogar. Sabiamos que o Ronaldo sairia no meio do jogo mas ninguém imaginava quem iria substitui-lo.O Sr. Enio me mandou ficar “pilhado” e ligado porque eu poderia entrar no jogo. E eu acabei entrando no lugar do Ronaldo.

FTT - Ali nos treinos já dava para notar o potencial de Ronaldo então com 17 anos ?
RICARDINHO – Já dava para notar que ele era diferenciado.. Pela velocidade que ele tinha, os dribles , como ele ocupava os espaços. Já era uma promessa que não tinha como dar errado.



FTT - E você teve naquele time do Cruzeiro de 94 tres grandes volantes jogando juntos: Ademir, Douglas e Toninho Cerezo.O que representaram estes jogadores para você?
RICARDINHO – Aprendi muito. Eu estava no elenco com este pessoal e via muitos detalhes. O Cerezo após os treinamentos me orientava muito, me dizia como bater na bola. Falava sobre visão de jogo e que eu deveria saber usar as duas pernas porque um bom armador tem de saber usar bem tanto a direita como a esquerda. Eu dei muita sorte em pegar um pessoal como este. O Douglas muito experiente também, com um passe muito bom e então foram muito importantes para mim.

FTT – Toninho Cerezo foi um dos maiores volantes que você viu jogar ?
RICARDINHO – Com certeza. Um cara diferenciado que dava dois toques apenas na bola e mudava o jogo. Uma visão de jogo sensacional e dificílimo jogar como ele . Dava dois ou três toques na bola e resolvia toda uma jogada em que outros carregavam a bola um tempão.

Douglas, Nonato, Cerezo agach. Zelão e Ademir


FTT - Você gostava mais de jogar como volante ou como armador (segundo volante)
RICARDINHO – No começo de carreira jogava mais atrás como volante , mais defensivo, até mesmo porque você está tentando se encaixar no time sem arriscar demais. Porem eu era meia e o Sr. Enio me orientou a jogar de segundo volante porque o meia joga de costas e eu jogaria de frente.Ele dizia que eu tinha habilidade e velocidade para sair para o jogo de frente e me colocou ali para jogar vindo de trás, de frente.

FTT - Copa do Brasil de 1996. Cruzeiro x Palmeiras. No Mineirão empate de 1x1. No jogo de volta em SP logo aos 5 minutos Luizão faz o gol palmeirense.  Voces precisavam agora de um milagre. Fazer dois gols no time  de Cafu, Cleber, Junior, Amaral, Djalminha, Rivaldo, e Luizão. Foi a vitoria da união contra o melhor time?
RICARDINHO – Foi um jogo muito difícil até mesmo pelo momento que o Palmeiras vivia. O time deles tinha pelo menos seis jogadores da seleção brasileira naquela época , eles tinham empatado por 1x1 com a gente no Mineirão , Luxemburgo era o treinador, o time do Palmeiras estava completo e ninguém imaginava que nós pudéssemos reverter isto . A imprensa também já dava como certa a conquista palmeirense e nós éramos tratados como os “azarões”.. Mas a gente vinha bem na Copa do Brasil. Mas como você falou, tomamos um gol logo com 5 minutos e contra uma equipe como aquela do Palmeiras era para desestabilizar qualquer equipe adversária. Nós conseguimos colocar os pés no chão, tentamos controlar a partida e acabamos fazendo um gol. Aí eles viram que se fizéssemos um gol seriamos campeões e ficou aqueke jogo meio travado. Fizemos o segundo gol e aí não tinha mais jeito.

Time campeão da Copa do Brasil em 1996



FTT – Foi talvez a maior festa de titulos na historia de Belo Horizonte.
RICARDINHO – Olha eu cheguei em Belo Horizonte e nunca vi nada igual.Nem na Libertadores, nem em titulo nenhum. A cidade parou para receber os jogadores. Foi impressionante. Acho que estava engasgado na garganta dos torcedores.

FTT - Falando na Libertadores em 97 voces conquistaram o bi. O time havia perdido tres partidas seguidas e precisava vencer praticamente todos os seus jogos seguintes. Eliminou o Grêmio nas quartas e teve um duelo dificilimo com o Colo Colo nas semifinais. (0x1 em BH e 2x3 no Chile). Venceu na decisão por penaltis.
RICARDINHO – Como você disse, começamos muito mal a Libertadores. Foi quando o Paulo Autuori reuniu o grupo e nos fechamos para dar uma virada. Vencemos o Grêmio em Porto Alegre e daí a equipe começou a crescer e ganhar confiança e nos classificamos. Nas semifinais fomos para o jogo contra o Colo Colo em uma partida dificilma. Pressão da torcida, as dimensões do campo muito menores do que a do Mineirão, o time deles corria demais. Tinhamos perdido em BH e precisávamos vencer lá. Começamos bem, conseguimos tomar conta do jogo e vencemos por 3x2. Fomos para os pênaltis e tínhamos o Dida que era fantástico no gol. Chegou a minha vez de cobrar e aquela sensação de responsabilidade, de ter de fazer porque se você erra compromete todo um trabalho. Estar numa semifinal de Libertadores que é uma coisa dificilma, eu fui feliz na cobrança , meus companheiros também e chegamos a final.


FTT - Na final com 100 mil pessoas no Mineirão um jogo durissimo contra o Sporting Cristal. Voces estavam nervosos ou o time deles é que surpreendeu?
RICARDINHO – É foi verdade, não jogamos bem. O primeiro jogo nós jogamos bem melhor lá no Peru. Chegou aqui no Mineirão com tudo a nosso favor, contra uma equipe peruana acho que isto deixou a gente com aquela obrigação de vencer. O gol não saia e o time deles quase fez um com o Dida fazendo uma defesa impressionante. Foi um jogo tenso e no final saiu o gol do Elivelton com o goleiro deles ajudando um pouco. Cruzeiro campeão.

FTT - Chegou a decisão do mundial em Toquio. Jogadores que lutaram pela conquista da Libertadores ficaram de fora. Você acha que foi um erro da diretoria contratar Bebeto, Gonçalves e Donizete somente para a disputa desta final ?
RICARDINHO – Foi muito ruim. O que aconteceu foi que no segundo semestre o Cruzeiro tinha caído de produção, o Palhinha tinha saído mas nós tínhamos ainda uma base forte . Trocaram o treinador e acabou tendo alguns conflitos , inclusive com o Gottardo se desentendendo com o Nelsinho Baptista . Perto da competição contrataram quatro jogadores. Se tivessem contratados eles seis meses antes seria bom inclusive para os jogadores que vieram e para o elenco todo. Evitaria este conflito que foi criado. A gente saiu daqui dividido e sem saber o time que iria disputar a decisão. Você pega do outro lado, um time que é o campeão da Europa, todo estruturado. No nosso time o Wilson Gottardo nem viajou (era o capitão na Libertadores), o Nonato saiu do time, o Marcelo Ramos também. Então chegamos lá sem motivação realmente. Expectativa de que poderíamos ganhar mas a partida não foi boa para nós. Se a equipe não estiver unida fica difícil em qualquer situação.

Wilson Gottardo o capitão ergue a Taça Libertadores em 97



FTT – O Cruzeiro conquistou o tricampeonato mineiro em 98 mas acabou perdendo tres finais importantes no mesmo ano. O que faltou a este time?
RICARDINHO – É este time jogava muito bonito, tinha um toque de bola certinho e a marcação muito boa. Não sei se foi um erro nosso mas entramos para ganhar todos os torneios. No primeiro semestre misturava jogos do campeonato mineiro e da Copa do Brasil, depois do Brasileiro junto com a Mercosul. Acho que se tivéssemos preparado para uma ou duas competições teríamos vencido. Perdemos um pouco o foco. Acreditamos que podiamos ganhar todos ao invés de escolher um ou dois.




FTT - Levir Culpi errou quando na terceira e ultima partida das finais do Brasileiro contra o Corinthians entrou com apenas dois atacantes e o time precisando vencer? Marcelo Ramos e Alex Alves na reserva não foi um erro?
RICARDINHO – Olha eu penso que o Levir queria segurar o jogo  para tentar vencer no final. Talvez tenha sido o pensamento dele, eu não sei. Mas o Levir é um treinador muito inteligente , um cara sensacional. Eu vi poucos treinadores unir um grupo como ele. Agora acontece. As vezes ele pensa uma coisa mas não anda como ele pensou.



FTT – Enio Andrade e Levir Culpi são dois grandes treinadores. Fale um pouquinho da maneira deles trabalharem.
RICARDINHO – O Enio Andrade é aquele treinador que te olha e sabe o seu perfil todinho, Conhece o seu potencial , o seu futebol. Ele é diferente, excepcional. Agora o Levir Culpi pratcamente foi quem me deu a oportunidade real de jogar, que acreditou em mim. Um cara que me ensinou não a jogar futebol mas outras coisas na minha vida. Estrutura familiar, como lidar com dinheiro. Foi um cara fundamental na minha vida no inicio. Eu o tenho até hoje como exemplo e uso como exemplo para muitos jogadores que estão começando no futebol. Dificilmente você vai ver um treinador fazer o que ele faz.


FTT – Este time de 98 do Cruzeiro era uma grande equipe. Dida, Marcelo Djian, Wilson Gottardo, Gilberto, Ricardinho, Djair, Valdo, Marcelo Ramos, Muller, Elivelton, e Fabio Junior começando. Este time era melhor do que o de 97?
RICARDINHO – Olha este time de 98 jogava mais bonito. Agora time que ganha para mim é o melhor. Veja que o Cruzeiro até hoje não ganhou outra Libertadores, é muito difícil. Ganhou em 76, depois este time de 97. É uma competição extremanente difícil. Eu inclusive lamento que até hoje eu ouço nas ruas sobre o time de 97 e vejo que não é tão valorizado como deveria. Veja que são os dois títulos mais importantes na historia do Cruzeiro. Por isto que acho que devemos valorizar o que ganha. O de 98 jogava muito bonito mas não ganhou.


FTT - Mas aquele Corinthians era muito forte tambem. Gamarra, Silvinho, Vampeta, Ricardinho, Rincon, Edilson e Marcelinho Carioca. Foi um dos melhores times que você enfrentou em sua carreira?
RICARDINHO – Sensacional. Um dos melhores que vi. O nosso erro maior foi aqui no Mineirão quando vencíamos por 2x0 e permitimos o empate. Se ganhássemos aqui jogaríamos por empate em São Paulo e este time sabia tocar a bola muito bem.

FTT – Falando em grandes times você enfrentou timaços nos anos 90. Quais foram os melhores ?
RICARDINHO – Corinthians de 98, o Palmeiras de 96, o Vasco de 97, o São Paulo com Serginho, Denilson, França e Dodô


FTT - E a rivalidade com o Palmeiras nos anos 90. Só em 98 foram 8 partidas com 4 vitorias para cada lado.
RICARDINHO – Era grande a rivalidade. Muitos jogadores bons dos dois lados. Decidimos duas copas do Brasil com uma vitoria para cada lado, semifinais do Brasileiro, final de Mercosul. Foram grandes jogos realmente.

FTT – Como companheiro de time você jogou com alguns dos melhores zagueiros do nosso futebol:  Wilson Gottardo, Luisinho, Marcelo Djian , Cleber e Cris.Qual seria sua zaga?
RICARDINHO – Todos citados foram muito bons. O Luisinho não tem jeito Bruno;o Luisinho e o Toninho Cerezo são acima deste pessoal todo. O que eles jogavam você ficava até com vergonha. Eu ficava pensando como é que eu vou conseguir jogar no meio destes caras? Eles jogam bola com simplicidade, parece muito fácil para eles. O Clebão foi muito bom também. O Cris um xerifão, Todos foram grandes zagueiros.

RICARDINHO – Foi uma delas. Acho que a de 96 contra o Palmeiras foi mais. A de 2000 , o Cruzeiro tinha condições de ganhar, um time melhor, jogando em casa, com o apoio da nossa torcida. Apesar que fomos fazer dois gols nos últimos minutos e quase tomamos outro gol nos descontos. Foi uma virada historica. Mas a de 96 superamos tudo. Era como se jogássemos contra o atual Barcelona na casa deles, guardada as devidas proporções. Vencer aquele time do Palmeiras e de virada foi emocionante e marcante.
FTT - A final da Copa do Brasil em 2000 foi a partida mais emocionante na sua carreira?

FTT - A final da Copa do Brasil em 2000 foi a partida mais emocionante na sua carreira?



No video alem dos lances , Geovani e André do Cruzeiro e Rogerio Ceni do São Paulo falam sobre esta emocionante decisão.


FTT - A  Copa Sul Minas existiu por apenas 3 anos. Era um grande torneio com times como Grêmio, Inter, Atletico, Cruzeiro , America, Coritiba, Atletico Pr, Figueirense e Avai. Você preferia disputar este torneio ou o campeonato mineiro?
RICARDINHO – Não tem nem chances de comentar. Sou muito mais a Sul Minas. Lá você pegava times do mesmo nível, times grandes, jogos difíceis. Lá você jogava com vontade de ser campeão mesmo. Agora no campeonato mineiro, não desmerecendo os times do interior o nível é muito distante. Os times não recebem apoio, investimento nenhum. Desde a época em que eu jogava não melhorou nada.

O Cruzeiro venceu duas vezes , o America uma e travaram bons jogos na Copa Sul Minas.


FTT - O Cruzeiro teve inumeros craques vitoriosos ao longo destes anos. Piazza, Raul, Dirceu Lopes, Palhinha e Nonato são alguns destes. Porem o maior ganhador de titulos na historia do clube é você com 15 titulos conquistados. O que isto representa?
RICARDINHO – Para mim representa um trabalho muito bem feito dentro do clube. Lógico que este pessoal que você citou, jogou muito melhor do que eu . São ídolos eternos do clube. Eu vivi um momento muito bom do Cruzeiro com vários jogadores vitoriosos e que me ajudaram bastante a conseguir estes títulos. Então eu me orgulho bastante. Escrevi meu nome na historia do clube e até hoje saio na rua e sou reconhecido por isto. Ficou aquela sensação de dever cumprido.


FTT - Você jogou ao lado de dois dos maiores laterais esquerdos na historia do Cruzeiro: Sorin e Nonato. Na sua seleção do Cruzeiro de todos os tempos qual seria o titular?
RICARDINHO – É dificil. Sorin foi muito bom com reconhecimento internacional. O Nonato também jogava muita bola. Porque tem o seguinte: não é só o cara jogar. O cara ajuda você jogar. O Nonato era assim, queria o jogo, te orientava, te ajudava em campo entendeu? Este pessoal que depois foi parando , como o Cerezo, Douglas, Nonato eles sabiam ler o jogo. Veja aquele jogo da final de 96. Me lembro direitinho do Palhinha e o Fabinho logo que nós tomamos o gol eles disseram: "calma! Vamos continuar tocando a bola. Nada de apavorar. Se os caras notarem que estamos desesperados eles vão vir pra cima." Então, os caras liam o jogo. Então de 2000 pra cima quando este pessoal aprou eu sentia muita falta disto. Não tinha mais aquele jogador que sabia ler o jogo. Você vê hoje em dia por exemplo. O Diego Renan que é um cara que sabe jogar. Mas vem pressionado pela torcida e acaba jogando mal. Nesta hora tinha de ter aquele jogador para orientar, dar confiança. Não é aquele líder que quer aparecer para a torcida que fica fazendo gestos para aparecer. Não é xingar. É ler o jogo, orientar o time, os jogadores, passar tranquilidade e confiança.


FTT – E aquele time de 97 era bem assim?
RICARDINHO – Era. Nonato, Gottardo, Fabinho , Vitor lateral direito. O Vitor foi campeão de tudo isto, sabia os atalhos. No vestiário todo mundo falava, não ficava somente o treinador falando. Porem o torcedor não vê isto. A gente se unia e resolvia estas coisas que são importantes demais. Jogadores tem de analisar o adversário, saber o que vão enfrentar. Eu e Fabinho conversavamos muito. Tinha time que a gente sabia que era muito difícil e combinávamos de parar o jogo. Faziamos muitas faltas, não violentas mas para parar mesmo. Acaba que saíamos ganhando, a gente era campeão.

FTT – Quantas Bolas de Prata da Placar você ganhou?
RICARDINHO – Duas, uma em 96 e outra em 2000.

FTT – Aponte os sete maiores jogadores que você viu em campo.
RICARDINHO – Palhinha, Dida, Djalminha, França foi muito bom, Edilson , Muller e. Marcelinho Carioca que jogava demais. Aliás aquele time do Corinthians era sensacional.


FTT – E o Marcelinho Carioca sempre passou uma imagem de provocador. Era assim em campo?
RICARDINHO – Era. Ele provocava, era irritante mas isto era do jogo. Era um cara inteligente. Sabia jogar e tirar proveito.

FTT – Como companheiro de time você jogou com alguns dos melhores zagueiros do nosso futebol:  Wilson Gottardo, Luisinho, Marcelo Djian , Cleber e Cris.Qual seria sua zaga?
RICARDINHO – Todos citados foram muito bons. O Luisinho não tem jeito Bruno;o Luisinho e o Toninho Cerezo são acima deste pessoal todo. O que eles jogavam você ficava até com vergonha. Eu ficava pensando como é que eu vou conseguir jogar no meio destes caras? Eles jogam bola com simplicidade, parece muito fácil para eles. O Clebão foi muito bom também. O Cris um xerifão,



FTT – Qual foi a partida que te marcou ?
RICARDINHO – Foram as três finais. Copa do Brasil 96, Libertadores 97 e Copa do Brasil 2000. Não te  como não ser .

FTT – E qual foi o melhor arbitro do futebol brasileiro para você?
RICARDINHO - Paulo Cesar de Oliveira. Ele te passava firmeza, segurança. Para ele não importava fator campo, pressão de torcida. Apitava da mesma maneira em qualquer lugar.

FTT – Nós temos vista cada vez com mais frequência jogadores brasileiros indo jogar na Ucrania, Russia, Japão, e mesmo nos grandes centros da Europa. Porem pouco tempo depois eles voltam e nem sequer são sombra daquele jogador que se destacou aqui. O que acontece, é readapatação?
RICARDINHO – Acho que hoje depois que este tanto de empresários invadiu o futebol eles acabam levando os jogadores para atuar em qualquer lugar somente para ganhar dinheiro. Jogar lá fora é dificil . Tem adaptação, o jeito de jogar, esquema tático, clima, os amigos. É totalmente diferente. Lá fora você não segura a bola como aqui, você faz lançamentos toda hora. O jogo é mais rápido. Porem quando você volta nota a diferença pois aqui mesmo que o pessoal diga que hoje não temos grandes jogadores no Brasil, mas o pessoal sabe jogar bola, tem habilidade.É mais inteligente. Para readaptar ,ocupar os espaços no campo é diferente. Necessita de tempo. Tem também o lado financeiro porque o cara acaba ganhando muito dinheiro lá fora e as vezes volta acomodado, tipo “eu não preciso mais tanto” e aí acaba não rendendo o que devia. Acomodação atrapalha demais o jogador.


FTT – Porque você não deu certo no Corinthians?
RICARDINHO – Eu tive problema serio no tornozelo.Nos meus dois últimos anos no Japão eu já tinha que tomar medicamento diariamente. Até para treinar. Eu tinha que usar uma palmilha para jogar pra corrigir o tornozelo mas mesmo assim eu sofria demais . Quando eu voltei do Japão para o Cruzeiro eu tive propostas até melhores do São Paulo e do Santos. Porem eu quis voltar para o Cruzeiro porque o pessoal aqui , os fisoterapeutas já conheciam meu problema, facilitava o tratamento. Eu tinha medo de acertar com o São Paulo e nem ser aprovado no exame medico.Eu já tinha feito duas cirurgias na época. Para você ter ideia eu tomava injeções todos os jogos. Tinha intervalos das partidas que enquanto o pessoal estava ouvindo a preleção eu estava no departamento médico tomando infiltração.Tudo isto para aguentar o segundo tempo.E você tinha que aguentar porque se fala começava aquela historia de “você está bichado” e coisas do tipo.Fui tentando prolongar. Cheguei então para o Alvimar Perrela que era o presidente e falei que seria bom rescindir o contrato porque eu não estava conseguindo corresponder e por tudo que eu fiz aqui acho que não conseguirei jogar como eu jogava. Apareceu a proposta do Corinthians e de repente sería bom , novos ares, tentar alguma coisa por lá. Acabou que eu fui, consegui jogar 5 partidas. Meu tornozelo doía demais, eu acabava tendo outros problemas por causa desta contusão, como estiramento na perna. Você parado vai perdendo preparo físico e compromete seu futebol. Me indicaram então um medico, Dr. Moisés Cohen e fiz uma ressonância magnética. Chegou no dia do resultado e fui todo esperançoso de que o doutor me daria uma noticia boa , do que poderíamos fazer para curar o tornozelo. ele acabou me dizendo: “Eu se fosse você parava de jogar bola. A melhor coisa para você no momento é para de jogar. Você corre o risco de acabar ficando manco. Vendo sua ressonancia aqui vejo que não dá para se fazer nada pois já tem quatro cirurgias feitas.Sem chance de você continuar com o futebol.” Foi um baque para mim.Acabei rescindindo com o Corinthians e voltei ao Cruzeiro. Tentei novamente seguir a carreira mas sentia muitas dores e resolvi parar. Foi um alivio para mim.

Hoje Ricardinho possui uma representação de calçados da marca Grendene chamada Planeta dos Calçados e está iniciando um novo ramo com a agencia R8. Será destinada ao marketing esportivo. Negociarão por exemplo patrocinios para clubes de futebol ou volei nas mangas das camisas. Publicidade envolvendo jogadores tambem será um foco da empresa.

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