Entrevistar
o Zenon foi algo muito gratificante, pois pela primeira vez pela FTT me
desloquei pra outra cidade, conversei com um ex-jogador muito
inteligente e consciente das suas opiniões, trata-se da entrevista mais
longa que realizei, além de ter feita a matéria no dia do meu
aniversário (12/01). Entrei em contato por telefone, expliquei sobre o
meu trabalho e ele, prestativo e atencioso, aceitou de imediato,
marcando a entrevista para o dia seguinte na sua escolinha, às 15 horas.
FUTEBOL
DE TODOS OS TEMPOS: Zenon, você é catarinense, nascido no dia
31/03/1954, na cidade de Tubarão. Confesso que conheço pouco do futebol
de Santa Catarina. Então pergunto se quando criança você torcia para
algum time e se tinha ídolos no seu Estado?
ZENON DE SOUZA FARIAS:
Em Santa Catarina brincava muito nas peladas de rua, futebol amador e
de várzea, mas jamais passava pela minha cabeça ser profissional. Tinha
um irmão que jogava profissionalmente no time da minha cidade, o
Hercílio Luz, sendo que através dele que passei a gostar de futebol, mas
sem me imaginar como um profissional, pois tratava mais de estudar,
ajudava os meus pais, porque somos uma família de muitos irmãos e
tínhamos que trabalhar para o nosso sustento. Agora, jogar bola era
comigo mesmo, tanto no paralelepípedo, como na terra, grama, ou seja, em
qualquer lugar que fosse, com bola de papel ou de bexiga de porco que
deixávamos secando pra bater uma bolinha. Então Deus me reservou certo
dia uma oportunidade de entrar no time e fazer um treino na equipe
profissional da minha cidade, o Hercílio Luz.
FTT: Houve
jogadores de futebol que te influenciaram no seu estilo de jogo? Na
época havia o Rivellino, Gérson, Ademir da Guia e o próprio Pelé. Eles
te tiveram alguma influência pra você?
ZENON: Sim,
principalmente o Rivellino e o Gérson, que considero os dois
professores que tive na minha vida, pela característica de jogar bola,
forma de se posicionar dentro de campo e como conduziam os grandes times
dos quais participavam. Então peguei dos dois um pouco de cada um pra
formar a minha característica como jogador de futebol.
AVAÍ 1975 - Zenon é o segundo agachado a partir da direita.
FTT: Depois do Hercílio Luz você foi contratado pelo Avaí, sendo Campeão Catarinense em 1975. Fale dessa passagem.
ZENON: Vamos
voltar um pouquinho ao Hercílio Luz. Eu tive uma ascensão muito rápida,
pois no primeiro ano já estava sendo cobiçado por grandes equipes do
futebol catarinense, disputando um campeonato por um time pequeno em
1972. No ano seguinte, o Avaí passou a ter uma vontade que eu fosse
compor o seu elenco e acabarem negociando com o Hercílio, já sendo
campeão e escolhido como melhor jogador da posição e indo pra Seleção
Catarinense. Então foi uma ascensão muito rápida que tive dentro do
mundo futebolístico e acredito que Deus tenha me reservado essa
oportunidade, me abençoou, dando-me o dom e soube como aproveitar.
Zenon jogando pelo Avaí |
FTT: Foi com essa passagem pelo futebol catarinense que o Guarani se interessou pelo seu passe. Como foi essa contratação?
ZENON: A
partir do momento que disputei o meu primeiro Campeonato Brasileiro,
que também foi o primeiro do Avaí, em 1974, já despertei interesse de
grandes clubes do futebol brasileiro. O Palmeiras, que fui indicado pelo
Chico Anísio, que me viu jogando em Santa Catarina quando estava de
férias, se encantou com o meu futebol e no mesmo instante me indicou,
mas o clube me observou, achou que eu era muito magrinho e acabou me
deixando de lado. Depois veio o Cruzeiro, na época do presidente
Felício, que também se interessou, mas achou muito caro o valor do meu
passe.
Em
75 apareceu o Guarani de Campinas lá no estádio do Avaí, o Adolfo
Konder, onde estava realizando um treinamento sozinho, porque na época
comecei a fazer a faculdade de Educação Física, então tinha um plano de
trabalho deixado pelo professor para que eu pudesse realizar após as
minhas aulas. Nesse dia estava no campo e apareceu o Guarani pra treinar
no Adolfo Konder, pois iria jogar contra o Figueirense no dia seguinte
pelo Campeonato Brasileiro e me convidaram pra participar do recreativo
deles. Entrei e dali começou um namoro com o Guarani que se concretizou
no início de 1976.
O plantel do Guarani em 1976 possuia jogadores como Mauro, Amaral, Flamarion, Flecha, Zenon, André, Brecha e Ziza
FTT:
Antes de falar do Guarani, achei interessante você dizer que o
Palmeiras e Cruzeiro tiveram interesse no seu passe. Você se imaginava
jogando no Palmeiras ao lado de Ademir da Guia e Leivinha, ou mesmo no
Cruzeiro com Dirceu Lopes, Palhinha e Jairzinho? Como seria jogar em
outro time?
ZENON:
Não imaginava. A minha preferência era permanecer em Santa Catarina,
jogando pelo Avaí, terminar a minha faculdade na UFSC, casar com uma
garota catarinense e tocar a minha vida, pois jamais imaginei sair do
meu Estado. Mas apareceu uma oportunidade de jogar fora, o Avaí achou
muito bom o negócio e foi inevitável a minha vinda ao futebol paulista,
independentemente de Palmeiras, Guarani ou qualquer outro clube, a minha
vontade mesmo era permanecer em Santa Catarina, mas, para o bem da
minha carreira, acabei acertando com o Guarani de Campinas.
FTT:
Começa 1976 e comentei com o Zenon de tratar-se de um ano importante
pra mim, pois nasci no dia 12/01/1976, ou seja, hoje estou fazendo
aniversário.
ZENON:
Que maravilha, meus parabéns, muitos anos de vida, muito sucesso e
muita saúde, que é o que interessa, pois é a riqueza maior que temos,
porque tendo ela corremos atrás do que queremos e desejamos, pois aí é
só ter vontade e poder de superação para conquistar os nossos objetivos.
FTT:
Vamos então falar do nosso querido Guarani. Você foi contratado em 1976
por um time que tinha uma estrutura boa para o Brasileirão de 78. Pelo
que sei jogava o Flamarion e muitos jogadores que serão lembrados por
você.
ZENON: Com
certeza, o Guarani foi uma grande surpresa na minha vida, não esperava
encontrar um clube com essa estrutura em 1976, que tinha quase 20 mil
associados pagantes. Vim participar de um grande elenco, que além do
Flamarion, tínhamos o Flecha, Brecha, Amaral, Ziza e garotos subindo das
categorias de base que foram titulares em 78, dos quais falaremos
depois, ou seja, era um grande time. Eu vim pra suprir a saída de
Alexandre Bueno, outro grande camisa 10 que o Guarani tinha. Fui muito
feliz no meu primeiro ano, escolhido novamente como melhor jogador do
campeonato estadual e recebi o prêmio, Campeão do Primeiro Turno do
Paulistão pelo Guarani, fui chamado pra defender a Seleção Paulista
contra a Brasileira num amistoso realizado no Morumbi e empatamos o jogo
em 1 a 1. Minha ascensão foi muito rápida e já comecei a despertar
interesse dos grandes clubes, não somente de São Paulo, , como também de outros Estados
FTT: Quais seriam esses outros grandes clubes?
ZENON:
Principalmente o Corinthians, pois o presidente Vicente Matheus me
namorava desde 1976. Surgiu também um buchicho do Flamengo, do próprio
Cruzeiro novamente, mas essas negociações não foram concretizadas.
Permaneci no Guarani, onde estava muito feliz, ainda fazendo a minha
faculdade de Educação Física, porque a primeira coisa que exigi foi a
transferência da UFSC para uma universidade em Campinas e eles
conseguiram uma vaga na PUC, continuando assim os meus estudos.
FTT:
Falaremos agora do grande time do Guarani de 1978. Vamos ver se acerto a
escalação. O time jogava com Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé
Carlos, Renato “Pé Murcho” e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. O técnico
era o Carlos Alberto Silva. Fale sobre esse timaço, Zenon.
ZENON:
Um time que te posso dizer que faria frente ao Barcelona hoje, uma
equipe que jogava por música, desfilava dentro de campo, não tinha medo
de adversário, tanto é que detemos o recorde de maior número de vitórias
consecutivas no Campeonato Brasileiro, sendo que ninguém quebrou essa
marca, com 12 vitórias, que foram as últimas, pra você ter idéia, as
mais difíceis. Não jogamos 38 jogos como se joga hoje, mas umas 33 ou 34
até a última partida contra o Palmeiras. Foi um time que dentro do
campo brilhava devido à vários fatores, como uma afinidade muito grande
que tinham os jogadores, se tratavam com muito respeito e muita união,
detalhes que são importantíssimos e indispensáveis em um time de futebol
para que você consiga alcançar a finalidade.
Guarani 1978 - Neneca, Mauro, Edson, Miranda, Zé Carlos e Gomes; Agachados: Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó
FTT:
Claro que o time inteiro era importantíssimo, mas falarei de três
jogadores que você sempre comenta. Cito o volante Zé Carlos, Renato “Pé
Murcho” que você numa entrevista no programa Grandes Momentos do Esporte
da TV Cultura disse que o Kaká joga hoje o que ele jogava na época e o
centroavante Careca.
ZENON: Com
certeza, três jogadores fantásticos. O Zé Carlos era praticamente o
auxiliar técnico dentro das quatro linhas, ele que nos posicionava,
ditava o ritmo do time e tranquilizava nos momentos mais difíceis. O
Renato “Pé Murcho”, no que você acabou de falar, sempre tracei uma
semelhança muito grande com o
Kaká, mas acho que o Renato jogava mais, mas o Kaká é um dos grandes
jogadores que temos atualmente sem dúvida alguma. E o Careca era um
jogador diferenciado, pois se escolhermos os dez maiores camisas 9 do
futebol brasileiro, eles está dentro, não fica fora de jeito nenhum, um
gênio dentro de campo, pois um metro quadrado era o suficiente pra
realizar grandes jogadas.
FTT:
O Guarani foi o primeiro time do Interior a ganhar um campeonato da
dimensão de um Brasileirão. Será difícil falar de todos os jogos do
Campeonato Brasileiro de 1978, mas citarei dois famosíssimos antes das
finais contra o Palmeiras, o famoso 3 a 0 contra o Internacional em
pleno Beira-Rio e os 2 a 1 com o Vasco no Maracanã. Disseram que o
ataque o Guarani, formado por Capitão, Careca e Bozó era de circo.
Comente sobre esses dois jogos, Zenon.
ZENON: Dois
jogos inesquecíveis. Aquele contra o Internacional, eu te diria que foi
o jogo-chave para que pudéssemos acreditar que poderíamos disputar o
título do Campeonato Brasileiro. Quando entramos pra participar deste
Brasileirão, jamais imaginávamos que disputaríamos um título e seríamos
campeões, pois seria hipocrisia demais da minha parte. As coisas foram
acontecendo, fomos passando de fase, porque o campeonato era dividido em
grupos, se não me engano, oitenta times disputavam e de repente
estávamos nas oitavas de final. Fomos encarar o Internacional de Porto
Alegre, de Falcão, Batista e Valdomiro, um time irretocável, o grande
candidato à conquista do título pelos valores que tinham. Quando
chegamos a Porto Alegre pra jogar contra o Inter, a imprensa satirizou o
nosso time, falando que o ataque com Capitão, Careca e Bozó era de
circo e de risos, dizendo pra nós prepararmos o balaio (cesto) porque
sairíamos com isso do Beira-Rio. No dia do jogo entramos em campo muito
determinados, focados naquela partida, acredito que todos os jogadores
deram o melhor de si, gastaram até a última gota de suor e nosso time de
forma brilhante aplicou um 3 a 0 no Internacional em pleno Beira-Rio.
Fiz um dos gols mais interessantes, considerado um dos mais bonitos e se
fosse hoje concorrendo ao mais belo do ano, com certeza seria
escolhido, porque foi feito pela primeira vez daquela forma, pois recebi
a bola da defesa dentro do meu campo, ameacei lançar o Capitão na
ponta-direita, a defesa do Internacional se utilizava da famosa linha
burra pra deixar o ataque do adversário em impedimento, então quando fiz
de ameaçar o lançamento eles avançaram, puxei a bola pra mim mesmo,
passei em na frente de todo o mundo, conduzindo a bola por Falcão,
Batista e toda a defesa do Inter, fui lá e enfrentei o falecido goleiro
Gasperin, tirei dele não o driblando, entrei com bola e tudo porque tive
humildade (risos!), ele saiu e toquei no seu lado esquerdo, fazendo o
terceiro gol do Guarani, dando os três pontos, porque naquele tempo se
fizesse mais de 3 gols ganhava um ponto a mais de bonificação. A partir
dali, meu amigo, não perdemos mais nenhum jogo. Depois tivemos Sport,
Botafogo e outros times pela frente.
Um
mês depois do jogo com o Internacional, fomos enfrentar o Vasco da Gama
que você citou, num mata-mata , pois ganhamos de 2 a 0 em Campinas.
Fomos
ao jogo do Maracanã podendo perder até por 1 a 0 que a classificação
era nossa. Vencemos por 2 a 1 lá no Rio de Janeiro com mais de 100 mil
pessoa no estádio e fiz os dois gols do Guarani, sendo que o primeiro
foi através de uma grande jogada de Renato, Careca e Capitão, tocando de
lá pra cá, deixando o Vasco sem pegar na bola, com o toque do Careca
pra mim que vinha chegando de trás, pegando de três dedos com a bola
indo pro lado direito do goleiro Mazarópi, entrando na parte externa de
dentro da rede, correndo ela inteira e fazendo PRRRRAAAAAAA e saindo do
outro lado. Esse barulho quem escutou foram alguns repórteres de
Campinas que estavam atrás do gol, sendo que era difícil a bola sair da
trave do Maracanã, pois a rede era um verdadeiro véu de noiva, ou seja ,
era gostoso demais balançá-la. O segundo gol eu fiz de falta.
FTT:
Chega a grande final entre Guarani e Palmeiras. Zenon, vamos falar do
momento mais marcante dessa campanha de 1978, um grande momento de
emoção. Falamos do jogo contra o Internacional e o Vasco da Gama, mas
claro que um título é sempre diferente. No primeiro jogo, no estádio do
Morumbi, aconteceu um lance curioso, quando o novato Careca se aproxima
do experiente goleiro Leão, que dá um soquinho na cabeça do centroavante
e acaba sendo expulso. Esse lance foi decisivo para a conquista do
título?
ZENON: Não,
de forma alguma. Depois que nós passamos por todos aqueles times que
falamos, colocamos na cabeça que ninguém tiraria o título da gente. Como
tínhamos conquistado todas as vitórias, jogávamos por dois empates e
penso que quando temos uma vantagem num momento decisivo é muito difícil
o adversário tirá-la, porque construir muito mais complicado que
destruir e quando entramos com essa incumbência de não deixar o
adversário fazer gol, que é algo muito difícil de fazer no futebol,
jogando com a vantagem de empatar, pode-se arrumar um monte de tocaias e
emboscadas. Fizemos um esquema muito bom e bem organizado dentro do
campo, procurando explorar o Palmeiras principalmente nos
contra-ataques, fazendo mais desarmes do que construir jogadas nessa
partida. Mas no segundo tempo aconteceu esse lance que você acabou de
detalhar, mandei um chute de fora da área com o Leão defendendo, sendo
que o Careca foi no rebote como de costume ia depois dos meus chutes e
quando ele se virou pra sair de dentro da área pequena o Leão veio por
trás e deu um cocuruto com o cotovelo, sendo que o Careca nem caiu por
ser tão menino e ingênuo, pois se fosse um jogador experiente teria se
estrebuchado no chão e gritado. O Careca somente se abaixou com essa
atitude anti desportiva, marcada com muita precisão pelo juiz Arnaldo
César Coelho, que estava em cima do lance, ficando caracterizada uma
agressão, porque a bola estava em jogo. O Leão foi expulso e dado a
penalidade, eu teria que cobrá-la, pois era o cobrador oficial. A equipe
do Palmeiras já tinha realizado as três substituições, com o falecido
meia Escurinho indo pro gol vestindo a camisa de goleiro e caminhando
pra baixo dos três paus. Meu coração acelerou, pois preferia mil vezes o
Leão lá
embaixo,
pois a responsabilidade triplicou, se não faço aquele gol não estaria
morando hoje em Campinas (risos!) caso o Guarani não conquistasse o
título. O Zé Carlos e todo o mundo me aconselharam pra cobrar do meu
jeito que não tinha erro. Coloquei a bola na marca da cal, caminhei pra
ela, esperei o Escurinho definir o canto, caiu pro lado direito e
coloquei a bola no lado esquerdo, corri pra galera e vibrei com aqueles
10 mil bugrinos que tinham lá no estádio do Morumbi, mas acho que tinham
até mais, com torcedores do São Paulo, Corinthians e Santos que estavam
torcendo pelo Guarani.
Nesse
jogo teve o problema de eu receber o cartão amarelo depois de um lance
com o falecido Toninho Vanusa numa dividida, com o Arnaldo achando que
entrei com muita agressividade, acabou me dando o cartão e não pude
jogar a última partida que, pra mim, já estava praticamente consumada a
vitória no Campeonato Brasileiro, pois podíamos até perder de 1 a 0 em
Campinas e nos sagraríamos campeões. Repetimos a dose, vencendo por 1 a
0, gol de Careca.
Capa da Revista Placar com Zenon comemorando seu gol e o titulo do Guarani
FTT:
Então Campinas virou definitivamente na época a capital do futebol
brasileiro, pois além do Guarani, havia uma equipe também muito boa que
era a Ponte Preta. Comente também sobre o Dicá, outro genial
meia-esquerda.
ZENON: A
Ponte Preta sem dúvida um dos grandes clubes do futebol brasileiro na
década de 70. Era um duelo de gigantes quando acontecia um dérbi em
Campinas. Vou mais além pois se o Brasil necessitasse de uma Seleção,
poderia pegá-la e colocar os 22 jogadores, onze do Guarani e da Ponte
Preta, sendo que eles representariam muito bem o futebol
brasileiro, porque os dois times de Campinas, na época, eram
praticamente imbatíveis, pois time grande vinha aqui pra tomar de pouco e
se conseguisse um empate, saía vibrando, porque não era tarefa simples
encarar esses dois times.
O
Dicá foi um jogador fora do comum, pois se forem escolhidos os vinte
camisas 10 do futebol brasileiro, ele tem que estar no meio.
FTT:
Começa 1979, Guarani, Campinas e Zenon, todos consagrados no futebol
brasileiro. E acontece o que todo o jogador queria, com você sendo
convocado pela primeira à Seleção Brasileira pelo técnico Cláudio
Coutinho. Sua estréia, por sinal, foi contra o Ajax da Holanda, vitória
por 5 a 0, com uma grande apresentação de Sócrates nesse dia. Fale sobre
esse rápido período na Seleção.
ZENON:
Pra mim foi um motivo muito especial ser convocado pra Seleção
Brasileira, o sonho de todo o atleta profissional. Vestir a camisa da
Seleção nesse tempo, meu camarada, não era tarefa simples, pois você
tinha que ser muito diferenciado, porque em cada posição tínhamos 5 ou 6
jogadores com a mesma categoria e qualidade, cabendo a preferência do
treinador. O falecido Cláudio Coutinho acabou me convocando, fiz parte
daquele grande elenco que disputou a Copa América de 1979. A minha
estréia, como você bem disse, foi contra o Ajax no Morumbi e pude
presenciar de perto uma das grandes obras-de-arte do Sócrates, com um
gol maravilhoso, driblando dois zagueiros adversários e colocando a bola
no lado esquerdo do goleiro. Tive uma boa participação nessa partida,
tanto é que no próximo jogo fui titular da equipe, entrei jogando contra
a Argentina no Maracanã, vencendo por 2 a 1 na Copa América. Realizei
mais alguns jogos pela Seleção. Não tive sequência, o Cláudio Coutinho
perdeu a vida dois anos depois,
entrando o Telê Santana no seu lugar, que tinha as suas preferências,
fui deixado de lado, não participei daquele grupo de jogadores que
poderia ir pra Copa de 82, atravessava um grande momento, tenho a minha
auto crítica, podia contribuir jogando ou não, mas fazendo parte da equipe e fiquei fora da convocação para o Mundial por preferência do treinador.
FTT: Não foi talvez por jogar na mesma posição o Zico?
ZENON: Não,
de forma alguma, poderíamos jogar juntos, pois tínhamos características
diferentes. Podiam atuar Sócrates, Zico e eu. Sempre fui um segundo
cabeça-de-área, podia jogar com o Falcão, Toninho Cerezo ou Batista,
sendo uma preferência do treinador. Não tive essa oportunidade, mas como
joguei com Sócrates e Zico na época do Cláudio Coutinho, não seria
empecilho nenhum, porque cada um tinha a sua característica. Não fui,
como já disse, por preferência do técnico e nada mais.
FTT: Chega 1980 e você é contratado pelo Al Helal.
ZENON: Al-Ahli. Quem jogou no Helal foi o Rivellino, que a camisa era azul e branca, que nem a sua. A do meu time era verde e branco.
FTT: Como foi essa passagem pela Arábia Saudita e se houve partidas contra o Rivellino?
ZENON:
Houve muitos duelos contra o Rivellino. O Riva foi um grande ídolo na
Arábia Saudita, jogou muita bola e era idolatrado por lá. Foi uma
passagem muito boa e positiva em termos de cultura e experiência de
vida. Futebolisticamente a Arábia estava iniciando, tanto é que fomos
mais para ser um exemplo pra eles. Então a partir de 1980 o futebol
árabe cresceu muito, aparecendo grandes jogadores árabes a partir dessa
chegada de vários brasileiros, não somente o Rivellino e eu, mas também o
Aílton Lira, o lateral Toninho, o centroavante Dé e vários treinadores
do nosso país se faziam presentes nessa temporada. Então os árabes de
certa forma aprenderam alguma coisa.
ZENON É VENDIDO AO CORINTHIANS
FTT: Década de 80 começa, mais precisamente 1981, quando Zenon é contratado pelo Sport Club Corinthians Paulista pelo então presidente Vicente Matheus. Como aconteceu essa contratação e fale da sua estréia contra o Santa Cruz, da qual o Corinthians perdeu por 4 a 1 no Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro, sendo que o último gol que foi seu é um dos poucos da história do clube que a torcida vaiou. Mesmo assim você achava que entraria pra história do Corinthians?
ZENON:
O Corinthians também é um sonho de consumo pra todo atleta
profissional. Jogar lá é diferente, um clube que te marca muito,
positivamente ou negativamente. Você não precisava lembrar-se dessa
minha estréia desastrosa (risos!), mas fui homenageado pelo Dadá
Maravilha, que jogava no Santa Cruz, dizendo que faria gols em homenagem
à volta do Zenon no futebol brasileiro. Se não me engano ele fez três
(Nota da FTT: De acordo com a ficha técnica da partida no Almanaque do
Corinthians de Celso Unzelte, Dario fez apenas o primeiro gol da
partida). Eu acabei fazendo o gol do Corinthians. Senti uma emoção muito
grande vestindo a camisa corintiana, o calor dessa torcida fiel em
todas as facções, pois naquele tempo era bonito demais, havia muita
coreografia da parte dos torcedores e aquilo me encantou.
Não
tivemos um ano muito bom, o time começou a ser reformulado e
modificado, muita gente foi embora e muitos jogadores vieram. Caímos pra
Divisão de Prata do Campeonato Brasileiro, só que como eram casados o
Ouro com a Prata, acabamos ficando na segunda ou terceira colocação da
Série Prata e já passamos para a Ouro. Entramos no grupo que, em minha
opinião, era o de ferro, porque tinha Flamengo, Atlético Mineiro e
Internacional de Porto Alegre. O Corinthians fica em primeiro lugar
nesse grupo e seguindo em frente no Campeonato Brasileiro.
Zenon conduzindo a bola observado por Socrates. Uma dupla inesquecivel no Corinthians
FTT:
Em 1982 acontece aquela história que todo o mundo conhece, que é o
surgimento da Democracia Corintiana, criado principalmente pelos cabeças
da época, que era o Sócrates, Wladimir, Casagrande e Adílio Monteiro
Alves, mas, por ser uma democracia, obviamente envolveu a todos,
inclusive o Zenon. O que dizer da Democracia Corintiana e de Sócrates
Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira?
ZENON: Vamos
por partes. Sócrates foi um gênio, tanto dentro do futebol como fora
dele, uma pessoa com um QI muito elevado, que na minha opinião foi mal
utilizado pós-parada do futebol, acho que poderia se aproveitar mais dos
seus conhecimentos, porque era um cara que conhecia qualquer segmento,
discutindo com propriedade e podendo ser útil em outra função. Dentro de
campo, como te falei, foi um gênio da bola, será eternamente
inesquecível, pois sempre que se falar de futebol, política e Seleção
Brasileira, o Sócrates estará envolvido, pelo seu talento, qualidade
técnica e pelos seus ideais.
E
essa Democracia Corintiana que praticamente foi idealizada por Sócrates
e Adílson Monteiro Alves, veio a ser um negócio diferente dentro
daquele futebol que era muito conservadora. Como vivíamos também um
movimento político de bastante turbulência, muitas pessoas envolvidas em
um processo de redemocratização do país, nós tratamos de abraçar também
essa causa e junto com ela jogávamos futebol, só que dependíamos demais
dos resultados dentro de campo para que pudéssemos nos fortalecer com
esse projeto da Democracia Corintiana.
FTT: Tiveram as grandes finais contra o São Paulo, com o Bicampeonato Paulista de 1982/83. E esses jogos decisivos, Zenon?
ZENON: Foram na realidade três anos extremamente positivos com esse projeto e filosofia de trabalho. Em 1982 fomos Campeões Paulistas.
Já
em 83 fomos novamente, com o Bi, chegando as quartas de final do
Brasileirão, vencemos o Flamengo e dependíamos de um resultado do
Guarani em Campinas para que pudéssemos chegar à uma semifinal do
Campeonato Nacional. Mas o Bugre perdeu em casa para o Goiás por 2 a 1,
nós vencemos o Mengo pelo placar de 4 a 1, fiz dois gols e ficamos de
fora do segmento da Taça de Ouro. Mas o objetivo estava sendo alcançado
fora das quatro linhas, a Democracia Corintiana era decantada em prosas e
versos por artistas, políticos famosos, enfim, estávamos conseguindo
incutir na cabeça do povo o quanto seria interessante votar pra
presidente, como aconteceu nas Diretas Já.
Ficha tecnica - Morumbi - 12/12/1982 - Árbitro- José de Assis Aragão - Público - 66.851
CORINTHIANS: Solito; Alfinete (Zé Maria), Mauro, Daniel Gonzalez e Wladimir; Paulinho, Sócrates e Zenon (Eduardo Amorim); Ataliba, Casagrande e Biro-Biro.
Técnico: Mario Travaglini.
SÃO PAULO: Valdir Peres; Getúlio, Oscar, Darío Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Renato e Éverton; Paulo César, Heriberto (Serginho) e Zé Sérgio.
Técnico: Poy.
CORINTHIANS: Solito; Alfinete (Zé Maria), Mauro, Daniel Gonzalez e Wladimir; Paulinho, Sócrates e Zenon (Eduardo Amorim); Ataliba, Casagrande e Biro-Biro.
Técnico: Mario Travaglini.
SÃO PAULO: Valdir Peres; Getúlio, Oscar, Darío Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Renato e Éverton; Paulo César, Heriberto (Serginho) e Zé Sérgio.
Técnico: Poy.
FTT: Quando o Corinthians ganhou o Bicampeonato Paulista em 1983, o gol do título foi de uma jogada sua de calcanhar para o Sócrates.
ZENON:
Uma jogada que era característica do Sócrates fazer. Eu, como sou bom
aluno, aprendo as coisas, desde os tempos da escola, pois sempre que vi
alguém fazer alguma coisa diferente, tentava imitar. Geralmente
aprendia. Esse gol do Bicampeonato ficou marcado, uma jogada que recebi
uma bola do Eduardo Amorim da esquerda, dei um drible no Gassem, entrei
pra dentro da meia lua, fiquei na frente do zagueiro Oscar, Biro-Biro no
meu lado esquerdo, penteei a bola porque sabia que o Magrão viria me
ajudar, estava mais ou menos uns trinta metros de mim, porque você não
vê ele pelo vídeo, só percebendo a presença dele quando vinha na
corrida, visualizo ele e dou um calcanharzinho curto suficiente para que
ele já conduzisse a bola, encarar o goleiro Waldir Peres e com toda a
sua frieza dar um tapa com a parte interna do pé, no lado esquerdo do
Waldir. Ali conquistamos o Bicampeonato Paulista, levando a galera do
Corinthians à loucura.
FTT: E a final de 1984 contra o Santos?
ZENON:
Uma final que até hoje é contestada pela torcida do Corinthians, porque
com 15 minutos de jogo sofri um pênalti que o juiz Aragão fez vista
grossa. Uma penalidade clamorosa, onde toda a imprensa falou que foi,
todos viram que foi explícito, pois ia pegar de voleio dentro da área,
tomei uma pancada por trás do lateral-esquerdo Toninho Oliveira e recebi
um cartão amarelo por ter tomado a falta. Eu te digo que se fosse
marcado a penalidade e ela fosse convertida em gol, a história daquele
jogo poderia ter sido diferente, com o Corinthians podendo se sagrar
Tricampeão. Mas como o pênalti não foi marcado, o Santos em um
contra-ataque fez o gol com o Serginho Chulapa, vencendo por 1 a 0,
conseguindo o título de 1984, por sinal ficou em boas mãos, porque tinha
um baita time. É isso, às vezes um lance de uma partida pode ser
crucial para a história desse jogo, mas mesmo assim fizemos um belo
campeonato. Antes tínhamos chegado a uma semifinal do Brasileirão contra
o Fluminense e que foi campeão. Foram anos maravilhosos que passei no
Corinthians.
FTT: Porque não deu certo em 1985 com aquele timaço?
ZENON: Aquele
time de 1985 foi formado naquele mesmo ano. E futebol não é feito da
noite pro dia e nem do dia pra noite. Você requer um tempo para que as
peças se ajustem. Talvez se aquele time permanecesse para 86, acho que
colheria bons frutos. Mas não tiveram paciência, deram autonomia para um
técnico que chegou lá, desmanchando o time e considero isso um dos
fatores para que não desse certo. A formação da equipe era fantástica,
formada por jogadores de qualidade técnica invejável, todos praticamente
de seleção. Jogava com Carlos, Édson, Juninho, De León e Wladimir;
Dunga, eu e Arturzinho; Paulo César ou Eduardo Amorim, Serginho Chulapa
ou Casagrande e João Paulo. Faltou tempo para que time pudesse dar
certo.
FTT: Nessa
sua passagem pelo Corinthians foi convocado pela segunda vez pra
Seleção Brasileira. Acho que na ocasião o técnico era o Edu, irmão de
Zico.
ZENON: Isso
aí, Maurício. Fui convocado pelo irmão do Zico, já se preparando pra
Copa do Mundo de 1986. Fizemos alguns amistosos aqui no Brasil, fui
capitão contra a Inglaterra no Maracanã. Depois jogamos com a Argentina
no Morumbi. E enfrentamos o Uruguai em Curitiba. Foi outra passagem
minha, tinha esperança novamente de entrar no grupo da Seleção para o
Mundial, mas infelizmente também não fui convocado. O técnico era
novamente o Telê Santana. Esses jogos que fiz foram mais um privilégio
de voltar à Seleção Brasileira, sendo gratificante demais ser
reconhecido naquele momento pelo Edu, fizemos de tudo para que ele
permanecesse, mas futebol aqui é resultado, pois como conseguimos apenas
uma vitória nesses três amistosos, praticamente time foi desfeito.
ZENON VAI PARA O GALO QUE FORMA UM TIMAÇO
FTT: Em
1986, por sinal, foi quando você foi contratado pelo Atlético Mineiro,
um time do povo e da massa como o Corinthians. Nessa ocasião você jogou
novamente com o Renato “Pé Murcho”, Éder Aleixo, Sérgio Araújo, enfim,
novamente um bom time.
ZENON:
Um dos grandes times que joguei, Maurício. Essa equipe de 1986 era
formada por João Leite, Nelinho, Batista, Luizinho e Jorge Valença ou
João Luís; Elzo, eu, Paulo Isidoro (ou Everton); Sérgio Araújo, Nunes e
Edivaldo. O Éder estava saindo. Era um timaço, fomos campeões mineiros
com umas três rodadas de antecedência. Chegamos nas semifinais do
Campeonato Brasileiro contra o Guarani, perdemos em Campinas e saímos da
decisão de 86 pra enfrentar o São Paulo. No ano seguinte não fomos
campeões, chegou o Telê Santana, tive problemas com ele, mas o time foi
novamente à semifinal do Brasileirão, perdendo para o Flamengo e saindo
fora, com o Mengo sendo o campeão.
Atlético
1986 - João Leite, Nelinho, Vandinho, Luizinho, Batista e João Luiz;
Agachados: Sergio Araujo, Everton, Nunes, Zenon e Renato Morungaba
FTT: E os clássicos contra o Cruzeiro? Deu pra sentir bem essa rivalidade?
ZENON: Muito,
Maurício! Um clássico que reúne multidões, estádios cheios, tanto com a
torcida do Cruzeiro como a do Atlético. São dois grandes clubes bem
estruturados, sempre montaram grandes times e os jogos eram bem
disputados, como São Paulo e Palmeiras, Corinthians e Santos, ou seja,
do mesmo jeito. O grande evento futebolístico de Belo Horizonte é quando
ocorre o clássico entre Atlético e Cruzeiro.
Mauricio Sabará e Zenon coma foto dos tempos de Atlético
ZENON NA PORTUGUESA
FTT:
Depois da passagem pelo Atlético Mineiro, retorna ao futebol paulista,
jogando dessa vez na Portuguesa de Desportos. O que dizer da nossa
querida Lusinha?
ZENON:
Eu fiquei apaixonado pela Portuguesa. Adorei jogar por lá. A Lusa
montou um bom time em 1988, tanto é que fomos campeões num Torneio
Internacional realizado na Ilha da Madeira, em Portugal, com quatro
times. Eu fui campeão na Portuguesa. Montamos um baita time naquele ano,
com Catatau, Kita, Henrique, Toninho, Edu Marangon, Jorginho (hoje
treinador), Ica, enfim, grandes jogadores. Fizemos um ótimo Campeonato
Brasileiro e uma passagem muito boa. Depois acabou o meu contrato,
acabei saindo e dei sequência na minha vida.
Zenon segura o quadro com a Portuguesa de Desportos de 1988
FTT: Encerrando a carreira em dois clubes, o Grêmio Maringá e o São Bento de Sorocaba.
ZENON: Isso
mesmo! O São Bento foi o meu último clube, fiquei apenas três meses pra
agitar a cidade de Sorocaba. Eu já estava envolvido com a Seleção de
Másters, pois em 1989 havia ingressado naquele grupo seleto de grandes
jogadores do time do Luciano do Valle. Já estou com 22 anos de futebol
de Másters. Tive 20 anos como profissional de futebol e nos Másters jogo
bola até hoje, com o Corinthians, Seleção Brasileira e Paulista, ou
seja, tudo que é Máster estou no bolo, me divertindo e tendo a alma
feliz.
FTT: Você também é comentarista.
ZENON: Trabalho
desde 1992 em televisão e radio, tenho um programa que vai ao ar todos
os dias das 13 às 14 horas, Século 21 Esporte. Sou comentarista há 20
anos, não somente de futebol, mas do mundo esportivo.
Mauricio Sabará e Zenon tendo ao fundo fotos dos clubes por onde jogou
FTT:
Zenon de Souza Farias, foi uma honra muito grande ter feito essa
entrevista contigo, já sabia da sua inteligência e capacidade pra se
expressar, primeira matéria que faço contigo e faria mais 100 se
pudesse. Parabenizo-o pela pessoa que é, pelo grande jogador que foi ,
passagens maravilhosas por Guarani e Corinthians, podendo ir bem mais
longe na Seleção Brasileira, mas, claro, como você bem disse, foi por
preferência do treinador, jogando em uma época recheada de grandes
jogadores na sua posição. Eu te parabenizo mais uma vez, desejando
felicidades e estamos aí quando puder. Abraço e muito obrigado!
ZENON: Obrigado,
Maurício. Foi um prazer muito grande estar aqui com você, batendo um
papo agradabilíssimo que tenho certeza que quem está aí assistindo
gostou muito. Essa é a minha história como atleta, como homem e posso
dizer a vocês que fui e sou um privilegiado nessa vida porque faço
aquilo que gosto e tenho uma alma feliz.
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