Na
primeira semana de 2012 entrei em contato com o Edu Bala, um dos
representantes da segunda Academia Palmeirense, explicando sobre o meu
trabalho e ele aceitou de imediato. Trata-se de uma pessoa humilde, que
me deixou muito à vontade nessa matéria realizada na sua residência.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você
começou profissionalmente na Portuguesa de Desportos, mas me contava a
pouco que não jogava como ponta-direita. Qual era a sua função a
princípio?
CARLOS EDUARDO DA SILVA (EDU BALA):
O meu começo de carreira foi na Portuguesa de Desportos em 1963 e
jogando no início como meia-direita. Devido a ter muitos jogadores de
alto nível nessa posição, resolvi ir para a ponta-direita e graças à
Deus fui muito feliz.
FTT:
Por sinal me contava que quem queria que você fosse pra ponta-direita
era o Sérgio Etigo, o jogador que inventou o drible do elástico, tão
utilizado pelo Rivellino anos depois.
EDU BALA: Joguei
na Matarazzo com o Sérgio Etigo. Ele já jogava no Corinthians nos
Juvenis e nas Preliminares com o Rivellino. O Sérgio me deu muitos
conselhos, dizendo pra mim jogar na ponta-direita, pois lá eu seria
muito feliz.
FTT: Quando criança você tinha ídolos no futebol, jogadores dos quais te inpiravam?
EDU BALA:
Teve vários jogadores que gostava, como Garrincha, Jair da Costa,
Servílio, Sílvio, Canhoteiro, Maurinho e Toninho Guerreiro. Haviam
muitos bons jogadores, como se tem até hoje e esperamos que o futebol
brasileiro fique cada vez melhor.
FTT:
Fale da sua passagem pela Portuguesa. Profissionalizou-se em 1967,
jogando em um grande time ao lado de Zé Maria, Ivair Príncipe e
Leivinha.
EDU BALA:
Foi uma oportunidade que o técnico Filpo Nuñes me deu. Primeiro foi o
Aymoré Moreyra numa excursão ao Haiti e quando voltei assinei um
contrato como Profissional. O time da Portuguesa era muito bom e joguei
ao lado de grandes jogadores, como Orlando, Zé Maria, Marinho, Jorge
Augusto (o Edílson tinha ido pro São Paulo). Lorico, Paes, Eu, Leivinha,
Ivair e Caldeira. Equipe muito forte.
FTT:
Em 1969 aconteceu a sua contratação pela Sociedade Esportiva Palmeiras,
sendo que no seu primeiro ano foi campeão do Torneio Roberto Gomes
Pedrosa.
EDU BALA:
Cheguei e já fui campeão. Logo no início estranhei um pouco, pois se
tratava de um time mais de toque, sendo que na Portuguesa era mais leve e
veloz, demorei pra me adaptar, mas, graças a Deus, fui bem melhor a partir do ano seguinte
FTT: Quando
você chegou ao Palmeiras, como ponta-direita, houve muita cobrança pelo
fato de anos antes ter jogado na mesma posição o famoso Julinho
Botelho?
EDU BALA:
Não, porque quando cheguei já tinha o Gildo. O Palmeiras havia
desmanchado a primeira Academia, com o Djalma Santos indo para o
Atlético Paranaense e o Valdir estava praticamente parando. Ficaram o
Luís Pereira, Baldochi, Ademir da Guia, Cabralzinho, Serginho (que era
ponta-esquerda da Portuguesa Santista), Zequinha, Dorval e César. O
clube contratou o Leão, Eurico, Zeca (trocado pelo Tupãzinho), Nei, Pio e
Héctor Silva. Formou uma equipe forte. Tínhamos o técnico Rubens
Minelli, depois veio o Oswaldo Brandão, montamos a segunda Academia e
fomos muito felizes.
FTT:
Por sinal, pouco antes da segunda Academia, mais precisamente em 1971,
aconteceram dois jogos famosos, os 4 a 3 na partida contra o Corinthians
e a final com o São Paulo sendo Bicampeão Paulista, sendo que o gol do
Leivinha foi anulado. Qual é a sua lembrança desses dois grandes jogos?
EDU BALA:
Nós pegamos um Corinthians forte, com uma estréia maravilhosa do
Adãozinho, um grande amigo que infelizmente veio a falecer, o Tião
também estava em uma tarde inspirada fazendo um gol maravilhoso e o
placar reverteu varias vezes. Já no jogo contra o São Paulo, o Leivinha
fez um gol de cabeça com o juiz Armando Marques anulando, dizendo que
foi com a mão, mas era um ano político, do Laudo Natel (risos!),
portanto tinha que ser campeão.
FTT:
Começa 1972 e nesse ano o Palmeiras conquistou praticamente tudo o que
disputou, como me comentou o Ademir da Guia em outra entrevista que fiz.
É isso mesmo, Edu?
EDU BALA: O
Sr. Brandão chegou com uma filosofia diferente dentro do Parque
Antarctica, perguntando aos se queriam ser campeões. Todos disseram que
sim, com certeza. Ele disse que a partir desse dia, tudo que fosse
disputado deveria ser vencido.
FTT: No
caso a equipe básica era formada por Leão, Eurico, Luís Pereira,
Alfredo Mostarda e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu Bala, Leivinha,
César Maluco e Nei. Era mesmo uma Academia?
EDU BALA:
Era sim, pois tínhamos um elenco muito bom, não somente com os onze que
jogavam, mas haviam também os companheiros do lado de fora que nos
apoiavam, como Madurga, Pio, Ronaldo, Jair Gonçalves, Zé Mário e o
falecido Fedato. Na época o Palmeiras tinha uma vantagem muito grande,
como os outros grandes clubes brasileiros, que era trazer muito jogador
do Interior pra compor uma equipe. O clube muito feliz em todas as
contratações que fez. Começamos o ano com o Campeonato Paulista, Ramón
de Carranza, Torneio na Argentina e o Brasileirão.
FTT:
Esses títulos brasileiros (1972/73) eram muito comemorados por ser uma
grande façanha na época, pelo fato do campeonato ter começado em 1971,
pois a Taça Brasil “ainda ‘não era’ considerada” um Brasileirão oficial?
EDU BALA:
Hoje é diferente, pois o clube comemora dois ou três dias, sendo que no
quarto já tem jogo de novo. A maioria dos campeonatos era no final de
ano, jogando até 15 ou 20 de dezembro, tirando umas férias de vinte
dias, não dava tempo de treinar, pois já estava começando um novo
campeonato, o treinador não conseguia formar o que queria e no começo da
competição perdíamos uns três ou quatro jogos. Ficava meio complicado,
mas a partir daí você começava a deslanchar, sentindo-se melhor
fisicamente, sendo que hoje os treinadores não levam muita vantagem
sobre isso.
FTT: Libertadores da América era uma meta na época ou, diferente de hoje, que tantos os clubes buscam conquistas?
EDU BALA:
Buscam hoje porque a condição financeira é maior. Naquele tempo você
era Campeão Brasileiro pra disputar uma Libertadores e seria mais um
currículo para a sua carreira. Atualmente é diferente, pois não adianta
me dizerem que ganhei Campeonatos Brasileiros pra disputar uma
competição. Nos dias atuais é vantagem, pois os times são bem mais
fracos. Na minha época pegávamos Peñarol, Boca Juniors e Nacioanal. Hoje
não, pois ter time chileno, que são muito fracos, tirando a Universidad
do Chile. Tem também equipes da Bolívia, Venezuela e Peru. O único que
faz diferença e o futebol colombiano, que tem um estilo quase igual ao
brasileiro, apesar deles levarem muito na brincadeira, por isso que
dificilmente chegam a uma final de campeonato.
FTT: Houve algum título que você guarda como mais importante?
EDU BALA:
Acho que todos os títulos que disputei pelo Palmeiras são
inesquecíveis, para que hoje quando saio pra rua, sou respeitado como
jogador. Não sou conhecido por ter jogado na Portuguesa e no São Paulo,
já que fiquei quase dez anos no Parque Antarctica
FTT:
Como você jogava na ponta-direita, era veloz, driblava bem e ia até a
linha de fundo, diga quem eram os seus grandes rivais como
laterais-esquerdos.
EDU BALA: Tiveram
vários. Na época tinha o Wladimir (Corinthians), Gilberto Sorriso (São
Paulo), Paulo Henrique (Flamengo), Rodrigues Neto (Fluminense), Everaldo
(Grêmio), Vacaria (Internacional-RS), Valtencir e Marinho Chagas (ambos
do Botafogo-RJ). Eram muito bons. O futebol brasileiro tem essa
facilidade de revelar grandes jogadores e laterais. Torcemos para que os
clubes que contratarem novos jogadores de outras equipes, possam se
felizes na equipe grande.
FTT:
Em 1976 você é convocado pela primeira vez à Seleção Brasileira,
disputando seis jogos, ganhando cinco e perdendo apenas um, retrospecto,
por sinal, muito bom. Na ocasião o técnico era o Oswaldo Brandão, sendo
que ganharam a Taça do Atlântico, Copa Roca e Rio Branco. Qual é a sua
passagem tão importante que é jogar na Seleção?
EDU BALA:
Acho que é o objetivo de todos os jogadores, pois só de ser lembrado já
é uma vitória dentro da sua carreira. Ir à uma Copa do Mundo já é outra
história, pois na minha época tinha o Jairzinho, Rogério, Vaguinho,
Natal e Tarciso, todos grandes jogadores. Pra você ir à uma Seleção
tinha que superar à todos eles. Só de ter sido convocado, foi um grande
passo.
Edu Bala chuta e ve o goleiro fazer uma grande defesa espalmando a escanteio.
FTT: Pelo
que soube, você jogava muito bem as partidas pelo Torneio Ramón de
Carranza e nunca aconteceu de ser contratado por um time da Espanha.
Qual foi o motivo disso?
EDU BALA:
Todo o mundo dizia que na Espanha eu seria um jogador totalmente
diferente. No Brasil tínhamos seis jogando num Campeonato Paulista. Lá
eles voltavam de férias, embalados e bem fisicamente. A nossa condição
física era menor que a deles. Tive a oportunidade de jogar nesse país
quando o Leivinha e o Luís Pereira foram para o Atlético de Madrid,
recebi uma proposta pra jogar no Español, mas como o Palmeiras já havia
vendido dois importantes jogadores, a torcida não queria que eu fosse,
sendo que acabei ficando por mais dois anos e fui contratado pelo São Paulo.
EDU VAI PARA O RIVAL SÃO PAULO
FTT: Essa transferência pro São Paulo Futebol Clube, pelo que li, foi à conselho do goleiro Émerson Leão?
EDU BALA:
Praticamente quem me vendeu foi o Leão. Eu tinha uma proposta pra ir
aos Estados Unidos. Também poderia jogar no Londrina. O Guarani tinha
montado um excelente time pra disputar o Campeonato Brasileiro de 1978,
com Zenon, Careca, Renato e Bozó, sendo campeão em cima do Palmeiras. Eu
já tinha ido pro São Paulo e não fui pra Campinas, sendo que o
contratado foi o Capitão. Tive uma passagem maravilhosa no São Paulo e
ganhei o primeiro Campeonato Brasileiro do clube (1977).
FTT: No
São Paulo você formou um trio atacante muito bom, ao lado do
centroavante Serginho Chulapa e do ponta-esquerda Zé Sérgio. Fale dessa
passagem no Morumbi, jogando ao lado desses jogadores se houve ciúmes da
torcida palmeirense por ter ido à um clube rival ou até mesmo dos são
paulinos, que podem ter ficado desconfiados por sua identificação com o
Palmeiras?
EDU BALA:
A verdade é que quando cheguei de Campinas, tinha um telefonema pra me
apresentar no Centro da cidade com o diretor do São Paulo. Chegando lá,
foi dito que havia sido vendido pelo Leão, uma pessoa que tenho um
respeito muito grande, me ajudou em muitas coisas que aprendi ao longo
da vida, como respeitar mais as pessoas e falar melhor nas entrevistas.
Fui muito bem recebido no Morumbi, era um time forte, com Waldir Peres,
Getúlio, Bezerra, Estevão (treinador atualmente), Aírton, Chicão, Neca,
Darío Pereyra, Mirandinha, Zé Sérgio, Zequinha (depois foi pro Grêmio) e
Serginho. O time era muito bom e até hoje mantém essa tradição de ter
boas equipes.
SÃO
PAULO 1978 - Em pé a partir da esq. Waldir Peres, Airton, Getúlio,
Chicão, Marião e Bezerra. Agachados Edu, Teodoro , Serginho, Dario
Pereyra e Ze Sergio
FTT:
Você foi Campeão Paulista em 1980, mas não jogou todo o campeonato
porque nesse mesmo ano foi cedido ao Sport de Recife, vencendo o título
Pernambucano, ou seja, ganhou duas vezes uma competição estadual.
EDU BALA:
O São Paulo tinha comprado o ponta-direita botafoguense Paulo César,
conhecido como capeta. A equipe estava fazendo uma reformulação, sendo
que além de mim, foram embora o Chicão, Estevão e Teodoro. Fui pro
Sport, que montou um time, em minha opinião, de masters, com jogadores
acima de 30 anos, como o País, Antenor, Alex (que era do América do
Rio), Jaime (ex-Flamengo), Homero, Merica, Givanildo, Taborda, Píter,
Jorge Campos e Edson Ratinho (ex-Atlético Mineiro). Tive a felicidade de
ser campeão duas vezes nesse ano.
Mauricio Sabará e Edu Bala com as fotos dos tempos de Sport Recife.
FTT: Década
de 80 começa e Edu Bala é contratado pela Universidad Católica do
Chile. Sendo o único clube que jogou fora do Brasil. Qual foi a sua
experiência jogando no Exterior, Edu Bala?
EDU BALA:
Foi uma época boa, saí do Brasil e indo direto ao Chile, sentindo uma
dificuldade muito grande por causa do frio. O Toninho já estava lá, o
Colo Colo tinha o Vasconcelos e o Liminha jogava no Universidad. Um
período bom nesse país, uma cidade bacana de se viver e tinha um carinho
muito grande pelo povo chileno. Acho que nesse ano que fiquei, me deu
muita experiência, adquiri mais cuidado com a minha carreira que estava
chegando ao fim, fico muito satisfeito por todas as equipes que defendi,
me dei bem em todas elas, sendo campeão várias vezes, agradecendo à
Deus e aos meus pais por me darem essa condição de ser jogador de
futebol.
FTT: Resumindo
então, após a passagem no Chile, jogou no Santa Cruz, Uberaba-MG,
Caldense, São Carlense, sendo Campeão Capixaba pela Desportiva em 1986 e
jogando também no Marcílio Dias e Slatense. Já com 40 anos achou que já
estava na hora de parar?
EDU BALA:
Isso mesmo. Sobre parar, a família já queria isso. Não parei antes,
achava que deveria continuar um pouco mais, pois acho que Deus me deu
esse privilégio de ser um atleta profissional, sempre dei o melhor de
mim, tive um resultado positivo, tendo a família e amigos ao meu lado, sendo que isso não tem preço que pague, ser reconhecido e respeitado.
Edu no Santa Cruz |
Edu Bala atualmente , segurando a foto do seu momento de gloria, o Palmeiras dos anos 70.
FTT: Hoje
é dia 06/01/2012, por sinal a primeira entrevista do ano, estou
estreando uma nova camisa dada pelo meu amigo Lucimar e coincidindo com a
data, perguntarei sobre o goleiro Marcos, que ontem (05/01) anunciou a
sua aposentadoria. O que você tem a dizer sobre esse grande goleiro?
EDU BALA:
Com todo o respeito que tenho pelo Marcos, por ter tido uma carreira
maravilhosa dentro do Palmeiras, recebo a notícia com alegria pelo o que
ele fez e por suas conquistas, mas também com tristeza por ser mais um
ídolo que está parando. Deve isso à força da sua família, da própria
capacidade, educação, pelo homem que sempre foi e espero que nessa nova
etapa seja feliz como foi dentro do futebol.
FTT: Edu
Bala, agradecendo a matéria feita para o Blog Futebol de Todos os
Tempos (FTT), parabenizando-o pela sua carreira, por sua honestidade e
caráter, qualidade como jogador, desejando tudo de bom e que volte a
trabalhar naquilo que gosta (Escolinha de futebol). Muito obrigado!
EDU BALA: Agradeço
à você pela oportunidade pra falar sobre a minha carreira, espero que
seja muito feliz, continuando com esse trabalho e que possa ter a
oportunidade de ser um grande jornalista.
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