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O Craque disse e eu anotei - AIRTON PAVILHÃO
As entrevistas da FTT até agora foram feitas por Bruno Steinberg
e Mauricio Sabará. Hoje recebemos com grande prazer a materia feita no
Rio Grande do Sul pelo Celso. Começou a colaborar e com o pé direito
pois se trata de um dos maiores zagueiros da historia do futebol
brasileiro e talvez o maior na historia do Grêmio. Estamos falando de
Airton Pavilhão.
Ao
procurar Aírton para esta entrevista, não lidamos com assessores de
imprensa, não precisamos marcar horário na agenda e não esperamos horas
ao telefone para falar com um intermediário. Dirigimo-nos ao estádio
Olímpico numa tarde de sexta-feira e, a alguns poucos metros dele,
batemos palmas em frente a uma casa (não por acaso) azul e, após
passarmos três longas e inesquecíveis horas na companhia de Aírton, o
nosso Aírton, o maior zagueiro da História do Rio Grande do Sul, ainda
fomos convidados para, no dia do próximo jogo do Grêmio, passarmos ali
para conversar um pouco mais. Enquanto isso, deixamos aos leitores o
resultado da conversa daquela tarde.
FUTEBOL
DE TODOS OS TEMPOS - O senhor começou no Força e Luz, um time que era
conhecido por revelar jogadores para a dupla, e ali ficou de 1949 a
1954. Naqueles tempos, o clube chegava a complicar para a dupla Gre-Nal?
AIRTON -
Não chegava a tanto. Quem complicava mesmo era o Cruzeiro, que tinha um
excelente time. Mas o Força e Luz revelava, sim, muitos jogadores
bons, que atraíam a atenção da Dupla. Foi o que aconteceu comigo. Em
1954 eu fui para o Grêmio, em troca de um pavilhão do antigo estádio da
Baixada, mais 50 mil cruzeiros.
FTT - E daí veio o apelido…
AIRTON - Exatamente.
O Grêmio estava tentando montar um time forte para enfrentar o Inter,
que ganhava tudo naquela época e tinha jogadores como Larry, Bodinho,
Chinesinho, Oreco e outros. O nosso treinador na época era o seu
Osvaldo Rolla, o Foguinho, que me tirou da posição de centromédio, onde
eu comecei, e me pôs na de zagueiro. Esse meu período como centromédio
do Força e Luz foi muito bom, porque quem joga nessa posição precisa
desenvolver o passe, o posicionamento e a visão de jogo, e foi o que
aconteceu comigo. Estes fundamentos foram muito úteis quando eu comecei a
jogar de zagueiro. Na época, o titular era o Ênio Rodrigues, e o seu
Rolla, pra eu entrar, pôs ele para o lado do campo.
FTT - Na época, quem eram as principais forças do futebol gaúcho?
AIRTON -
Além de Grêmio e Inter, tínhamos o Renner, Cruzeiro, Aimoré, Pelotas, o
Brasil de Pelotas e vários outros. Naquela época, o Campeonato gaúcho
era muito forte. Se perdesse um ponto, perdia o campeonato. Não podia
perder a linha de jeito nenhum. Para mim, era mais difícil que o
campeonato brasileiro de hoje. Hoje todos os craques vão embora e antes
não era assim, todos ficavam por aqui.
FTT - O senhor cresceu numa época em que o Inter era mais poderoso do que o Grêmio, não?
AIRTON -
Sim, o Inter não perdia para ninguém. Era o time do Tesourinha! Mas eu,
felizmente, nunca joguei contra ele. Quando ele estava no Inter eu
ainda era muito guri, e quando ele veio para o Grêmio eu estava
começando e ele prestes a encerrar a carreira, então nunca nos
enfrentamos.
Airton Pavilhão jogando contra o eterno rival, o Internacional.
FTT - Antigamente, a diferenciação entre as duas torcidas era maior do que hoje, não?
AIRTON - Sim, era mais clara. O Inter era mais povão e o Grêmio era mais elitista.
FTT - Quando começou a disputar jogos contra equipes de fora?
AIRTON -
Quando o Grêmio começou a ganhar títulos estaduais, começamos a jogar
contra o Santos, o Botafogo e outros clubes do centro do país pela
antiga Taça Brasil, que reunia os campeões estaduais. O Grêmio começou a
jogar fora, jogamos no Rio, São Paulo e em outros lugares. Depois,
passamos a fazer excursões, que era uma coisa que os clubes brasileiros
faziam muito na época. Fomos pra Europa e o time começou a plantar uma
sementinha para ser famoso. Ganhamos de todo mundo na Grécia, jogamos na
Rússia, Alemanha…..
FTT - Numa das excursões que o Grêmio fez pela Europa, jogou contra o Real Madrid. Como foi marcar Puskas?
AIRTON -
Quando entrei em campo e eu vi aquele baixinho pegar com o pé esquerdo
de um jeito diferente e eu disse, “bah, esse canhoto é bom”. Não deu
outra: ele acabou com o jogo e perdemos para eles. O Real Madrid naquela
época era quase imbatível. Perdemos também para a seleção da Rússia lá e
eu não me conformei. Solicitei que o Grêmio trouxesse os russos para
cá, para a revanche, e aí ganhamos deles.
Em pé: Orlando, Ênio Rodrigues, Ortunho, Henrique, Élton e Aírton Pavilhão. Agachados: mascote gremista, Marino, Gessy, Juarez, Milton e Vieira.
FTT
- Em 1959, o Grêmio foi o primeiro clube estrangeiro a vencer o Boca em
La Bombonera. O senhor estava lá. Como foi aquele jogo?
AIRTON -
Bom, primeiro é importante falar que o Boca era uma equipe excepcional.
Eles tinham o Rattin, um centromédio espetacular, um dos melhores
jogadores do mundo na época. Na entrada do estádio era uma festa , papel
picado, eles cantando “Boca, Boca”……..era a primeira vez que eu via uma
festa daquelas. Eu saí do jogo surdo, o ouvido ficava zumbindo! Era um
terror. Não estava acostumado com aquilo, porque o jogo aqui no Brasil
era calmo. Quem venceu o jogo para nós foi o Gessi, que tinha passado no
vestibular para odontologia e chegou para o jogo meio “alto” (risos).
Mas ele jogava muito, muito!
FTT - Como se sente sendo reconhecido nas ruas?
AIRTON -
O que me emociona é ver alguém dizer que o pai falava muito de mim, ou
um homem, já adulto, me agradecendo por ter feito o pai dele tão feliz. A
minha auto-estima vai lá em cima. É maravilhoso saber que eu fiz tanta
gente feliz. Esses dias, eu estava sentado e de repente passa um guri de
10 anos e grita “E aí, Pavilhão?” (risos). Um guri de dez anos! Apesar
disso, eu acho que o Rio Grande do Sul é um estado que não tem memória. O
único jogador que entrevistam sou eu. Eu fico louco com isso. Alcindo,
Florindo, Alberto, onde estão? Não dão o devido valor pros jogadores
antigos. Tu paras de jogar e pronto, morreu. O único que lembram sou eu e
isso me faz sentir mal. O Alcindo jogou Copa do Mundo, o Alberto foi
convocado para a seleção….foram tantos. Mas felizmente eu sempre sou
reconhecido, o que gera também situações engraçadas.Às vezes o Grêmio
perde e eles passam ali brabos, e eu estou ali quieto. Eles dizem “tu
também és culpado” e eu digo “Eu? Eu parei há quarenta anos! (risos).
FTT - Como foi enfrentar o Pelé?
AIRTON -
Olha, marcar o “negrão” no mano a mano era brabo. Mas ele nos
respeitava muito. Agora, quando o Inter foi campeão da Libertadores, ele
disse que eles conheciam mais o Grêmio, por causa dos jogos na Taça
Brasil. Uma característica do Pelé é que ele era forte e objetivo, não
era tipo o Ronaldinho que fica driblando para lá e para cá. Ele pega a
bola e partia para cima, não ficava dando driblezinho à toa. O
Ronaldinho….(risos) Eu queria marcar o Ronaldinho!
FTT - Porque?
AIRTON -
Porque ele dribla muito. É muito mais fácil de marcar o Ronaldinho que o
Pelé. Esses dribles para o lado que ele fica fazendo dão oportunidade
do defensor tirar a bola dele. Só toma drible do Ronaldinho quem é bobo.
Eu gostava de jogar com aquele jogador que driblava na minha frente,
pois esse é mais fácil. O complicado é quem é forte e vai direto pro
gol. Esses são os mais dificeis. Já o Garrincha era diferente, era
driblador mas também era objetivo e, diga-se de passagem, muito gente
fina, estive com ele na Seleção.Nunca joguei contra ele, mas era mais
fácil que o Pelé, com certeza. É que nem a cobra e o sapo. A cobra não
ataca. Quem tenta fugir é o sapo. Era isso que eu tentava fazer.
FTT - O senhor estudava seus adversários?
AIRTON -
Sempre que podia, eu assistia a jogos para saber como é que os caras
jogavam. Esse cara do Inter, D´Alessandro, por exemplo, ele é canhoto e
entra pela direta. Se eu assistisse os jogos dele, saberia que o melhor
era esperar ele tocar a bola. Assim, ele nunca passaria por mim.
A classe na hora de dominar a bola. Parece que colava a seus pés. |
FTT - Acha que os zagueiros cometem hoje erros que não cometiam na sua época?
AIRTON - Claro.
Cometem erros bobos. Por exemplo, os gols de cabeça os zagueiros de
hoje tomam a todo momento. E sabe porque? Porque ficam empurrando o
cara. Quem entra pro gol? A bola. Eles não marcam a bola. Eu não quero
saber do jogador, eu quero a bola. E eu fiz sempre isso. O Grêmio, na
minha época, não tomava gol de cabeça. O segredo é olhar para a bola, é
só seguir em direção a ela. Eu falo isso na TV e eles ficam loucos. Eu
queria fazer uma entrevista assim: eu no meio e todos os ‘entendidos’
fazendo perguntas. Não precisa ser jogador para ser treinador, mas é
como o pessoal fala, só manda quem sabe fazer. Se não teve a prática,
não tem como. E eu tive. Sempre quis fazer o melhor e ser diferente dos
outros. Uma vez joguei contra o Pelé e sem querer trombei nele - ou
melhor, ele trombou no meu corpo - e aí quem ganhou fui eu, que era
mais alto e forte. Ele caiu, e eu disse “tudo bem, negrão”?. E ele
“tudo, Airton, não se preocupe porque eu sei que você não precisa
disso”. Quase me arrepio quando lembro disso!
AIRTON PAVILHÃO É O PRIMEIRO EM PÉ A DIREITA NA SELEÇÃO BRASILEIRA. | WWW.FUTEBOLRETRO.NET |
FTT - Que homenagem!
AIRTON -
Uma senhora homenagem. Como eu disse, sempre fiz questão de ser um
jogador diferente dos outros. Os treinadores às vezes me mandavam
bater, mas eu sempre desobedecia. Tu, por exemplo, se fores ser
advogado, não podes ser qualquer um, tens de ser o melhor advogado. Eu
pensava: se eu tenho a chave da porta, porque vou arrombar? Se eu
machucasse algum jogador eu ficava com vergonha, porque significava que
eu não podia com ele. Eu sempre quis fazer o melhor de mim e ser o
melhor de todos, e isso valia para o Grêmio também. Se na minha equipe
um amigo meu errasse eu dizia “sinto muito, gosto de ti, mas tu vai
sair do time” e eu dizia pro treinador, esse aí não dá. Para teres uma
idéia, eu fiz 125 gols na minha carreira. E olha que a gente jogava
quase sempre só no domingo e muito pouco na quarta. Senão ia fazer muito
mais gols. Todo ano eu era o melhor jogador do campeonato. Aí parei de
disputar, porque era sempre o melhor. Aí fui me convencendo que eu era
realmente o melhor. E que era bom mesmo.
FTT - Depois de alguns confrontos com Pelé, chegou a ser pretendido pelo Santos, não é?
AIRTON -
Sim. Joguei 3 meses emprestado para o Santos. Só que acabei querendo
voltar, porque tinha medo de avião e o Santos viajava muito pelo mundo. A
linha deles era Durval, Coutinho, Pelé e Pepe. Não tinha como perder
com esses aí. E ainda tinha o resto do time, que também era excepcional.
FTT
- Sem contar a famosa jogada que o senhor fazia, levando a bola para a
linha de escanteio e, de “Charles”, atrasando-a para o goleiro…
AIRTON -
Sim, e pior é que tinha centroavante que ficava brabo comigo por causa
da jogada, queriam dar em mim! O centroavante Almir Pernambuquinho era
um deles. Por isso, eu queria marcar o Edmundo, Ronaldinho e esses que
são mais debochados. Esses aí, eu levava lá no cantinho e fazia a
jogada! (risos)
FTT - Quem foi o maior treinador que o senhor teve ?
AIRTON -
Osvaldo Rolla. Esse sabia de tudo. Ele foi fantástico. Conhecia muito
de tática. O seu Rolla gostava muito do time da Hungria em 1954 e
aplicava o mesmo no Grêmio. Colocou só zagueiro grandão lá atrás e fez
todos participarem do jogo. Mas eu também jogava o meu jogo independente
dos treinadores. Se o treinador me dissesse para fazer isso ou aquilo,
eu ouvia e dizia “sim senhor” – e não fazia. Ia jogar o meu jogo. Se ele
dizia “ Airton , não vai cabecear”, eu dizia “sim senhor”,e eu ia. E s
e fizesse o gol, ele não tinha do que reclamar! (risos)
FTT - Como foi a sua passagem pela seleção?
AIRTON - A primeira foi no Panamericano de 1956, quando fomos campeões. Depois, cheguei a ser convocado para ir à Copa de 62.
FTT - Foi o único jogador de um clube de fora do eixo Rio-São Paulo a ser convocado.
AIRTON -
Sim, isso mesmo. O problema é que, num treino, fiz a jogada de
“Charles” e o Aimoré Moreira, treinador do Brasil naquele ano, ficou com
medo, não gostou e eu fui cortado. Além disso, o jogador gaúcho nunca
conseguia espaço. Muito raramente nos davam chance.
FTT - Acha que se tivesse jogado no centro do país teria tido mais visibilidade?
AIRTON -
Sem duvida. Hoje eu penso que deveria ter ido para fora. Acho que
comigo aconteceu como naquela história do barco, em que o cara está se
afogando, pede ajuda para Deus, passam vários barcos, ele continua
pedindo ajuda e, de repente, ele morre e Deus diz “rapaz, eu te ajudei,
te mandei vários barcos e não aproveitaste nenhum!”. Foi o que aconteceu
comigo. Ele me disse, vai lá para ser o melhor do mundo e eu fiquei no
Rio Grande do Sul. Não por causa do dinheiro. O resto queria me ver e
não me viu. Aí eu não posso culpar Deus, pois eu é que não aproveitei.
Quando eu vejo um jovem me agradecer por eu ter feito o pai dele tão
feliz, eu penso sempre que eu tinha mais coisa para dar. Eu podia ter
dado mais de mim. Eu poderia ter feito mais gente feliz.
FTT - O senhor acha que os centroavantes hoje são muito supervalorizados?
AIRTON -
Acho, pelo menos os que jogam aqui. Antes, todos os bons jogavam aqui.
Hoje, os jogos me enjoam. Assisto meio tempo e me enjoa. Eles só jogam
para o lado, e eu quero jogo para a frente. Viu o jogo do Gremio ontem? O
único que põe o time para a frente é o Rochemback. Eu fazia como ele,
era o homem surpresa. O Grêmio é interessante, joga bem um jogo, joga
mal um mês. Aquele time anos 60 jogava bem quase todo jogo. A gente
quando errava ficava louco. Joãozinho, Volmir, Alcindo, era incrível o
que aquele time fazia. E nós éramos bem balanceados, tínhamos um ataque
muito bom e uma defesa muito bem organizada. É como se diz: um ataque
ganha jogo, mas uma boa defesa ganha campeonato.
O livro em homenagem a Airton Pavilhão |
FTT - As condições eram piores na sua época?
AIRTON -
Muito piores. A bola era mais pesada, o campo era pior, e a torcida
queria te matar. Quando a gente jogava no interior,os torcedores rivais
queriam acabar com a gente! A gente comia pó para chegar em Bagé, porque
não era asfaltado. Tudo era mais difícil.
FTT - Como avalia os zagueiros de hoje?
AIRTON -
Olha, o Lucio é o melhor, mas, como eu disse, os zagueiros de hoje não
têm o mesmo nível da minha época. Hoje todos jogam com líbero, com
volantes, com jogadores fazendo cobertura. Na minha época não era assim.
Zagueiro que é bom para mim, é o bom no mano a mano. É raro encontrar
um assim. Nunca gostei de jogar com libero. Era vergonha para mim. É uma
maneira de eu dizer que eu não tenho condições.
FTT - Dos zagueiros que jogaram em sua época, com quem o senhor gostaria de ter feito dupla?
AIRTON -
Ah, tem vários. No Inter tinha o Florindo, que era um jogador fora de
série. O pessoal da minha época era incrível. Nilton Santos era
incrível, Djalma Santos era melhor ainda. O Bellini era diferente, era
mais durão. Eram vários.
FTT
- O senhor mora em frente ao Olímpico, jogou toda a vida no Grêmio,
tornou-se um símbolo do clube……já pensou em como vai ser quando ele for
destruído?
AIRTON -
Olha, nem quero pensar (risos). Nem sei como vai ser. Vou ficar muito,
mas muito triste. Todos os campos em que eu joguei acabaram. Aquele
campinho do Força e Luz, onde eu comecei, foi desmanchado; o do
Cruzeiro, a mesma coisa; o Eucaliptos, do Inter, onde joguei tantas
vezes, também. O Olimpico era último estádio desses antigos que tinha
sobrado. Todos foram embora. Todos terminaram. O seu Hélio Dourado não
queria que o estádio fosse destruído. Aliás, eu mesmo, nos anos 70,
ajudei o Sr. Dourado e fazer a campanha para buscar tijolo, para a
torcida construir o estádio, porque a verdade é que o Olímpico foi
construído pela torcida do Grêmio. E hoje querem construir um
novo…..tanta coisa por um ou dois jogos da Copa……
FTT - Tinha boa relação com o pessoal do Inter?
AIRTON -
Tinha. E eles tinham uma relação de amor e ódio comigo. Vou lhe contar
uma emoção que eu senti. Era um Grenal , jogo duro, e eu estou lá atrás
como zagueiro e nós estamos atacando lá na frente, na área deles. De
repente, olho para a torcida e eles começam a me vaiar, e eu disse “o
jogo está lá, olhem para o jogo!”. Naquele momento, eu pensei, “deixaram
de ver o jogo para prestar atenção em mim. Eles realmente me amam”.
FTT - A diferença de salário era muito grande do Santos para o Grêmio?
AIRTON -
Ah, pagavam muito mais. O Santos pagava muito melhor. Mas não era pelo
salário que eu quis ir para lá, e sim para me tornar mais conhecido,
para me apresentar para mais gente, para que mais pessoas me vissem. Era
muito difícil se tornar conhecido jogando aqui, naquela época. E o
nosso jogador, aqui do Rio Grande do Sul, para aparecer é brabo.O
Gremio quando é campeão do mundo dizem que foi sem querer, e o Flamengo,
quando ganha, fazem um carnaval. O Everaldo foi para a seleção para ser
reserva. Era melhor que o Marco Antonio. Mas vou dizer: nenhum dos dois
era melhor que o Ortunho.
FTT - A relação que os senhores tinham com o clube antigamente era diferente da que se vê hoje?
AIRTON -
Eu acho que o jogador tem que ter dois amigos para entrar em campo, o
juiz e torcida. Se ela gostar de ti, tudo bem. Hoje é tudo diferente,
porque o salário é outro, os valores são outros……..e, como eu disse, eu
pessoalmente nunca liguei tanto para dinheiro. Sabe do que eu tenho
raiva? De homem velho, político, que quer cada vez mais dinheiro. O que
dá depois? Briga de família. Tenho nojo de político ladrão. Se eu ganhar
5 mil, ganhar um bom carro, boa casa ,um bom emprego, já me chega. Se
eu quiser mais, já me começa a incomodação. Nunca sabe se quem se
aproxima, se aproxima por amizade ou por interesse. Então, eu vejo essa
diferença, os jogadores de hoje ganham milhões e têm uma vida muito
diferente da que a gente tinha, e isso reflete na relação com a torcida.
Mas tem uma coisa que eu noto de diferente na torcida. Hoje as pessoas
saem do jogo e não estão rindo, estão apreensivas, nervosas,
irritadas. Antes, as pessoas saíam rindo do jogo.
Encontros Eternizados - Roberto Dinamite & Erasmo Carlos
Um
dos maiores craques na historia do Vasco e atual presidente do clube
recebe o abraço de Erasmo Carlos, um ilustre torcedor vascaino.
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