O Craque disse e eu anotei - VITAL & ARTUR (Resp. pelo Museu da Portuguesa)
No
mesmo dia que entrevistei o neto do Mário Américo, pude conhecer o
museu da Portuguesa. Quem toma conta dele é o Senhor Vital, que é um
profundo conhecedor da história da Lusa. Conversamos muito sobre as
glórias deste tradicional clube do futebol brasileiro, que também contou
com a participação do Senhor Artur que é diretor do museu. Confiram
também esta matéria.
FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Estou vendo a galeria dos presidentes. Fale deles.
VITAL:
Já vamos destacar um, que é o fundador do maior grupo industrial do
Brasil, a Votorantim, que é o Doutor Antonio Pereira Inácio. Foi campeão
pela liga oficial (APEA) nos anos 30 e é avô do Antonio Ermírio de
Moraes, que é bem parecido com ele.
Uma
prova que a Portuguesa não é só clube de portugueses e descendentes. Me
refiro à Miguel Franchini Netto, descendente de italianos e um grande
presidente da Portuguesa nos anos 40. Foi chefe da Casa Civil do Governo
do Estado de São Paulo.
Teve
também o Doutor Oswaldo Cordeiro e Doutor Mário Augusto Izaías, que
ganhou o Rio-São Paulo de 1952. Luiz Portes Monteiro, grande presidente,
que na sua gestão comprou o Canindé.
E
esse, na minha opinião pessoal, não foi somente o maior presidente da
Portuguesa, mas de todos os clubes do futebol brasileiro, o grande
Oswaldo Teixeira Duarte. Um homem que amava profundamente a Portuguesa,
dava todo o amor na administração deste clube e permanecia aqui todo os
dias das 8 da manhã as 10 horas da noite.
Mauricio Sabará e o sr. Vital tendo ao centro um quadro com o time da Portguesa campeã do Rio-SP 1952
FTT: O
Senhor nasceu em Portugal no ano de 1940, veio pequeno para o Brasil e
desde 1950 acompanha a Portuguesa, pegando justamente a melhor fase que
foi dos anos 50, duas vezes campeã do Rio-São Paulo em 1952 e 1955, três
conquistas da Fita Azul, um verdadeiro esquadrão. O que o Senhor tem a
dizer da Portuguesa desta época?
VITAL:
Tem a equipe que foi campeã do Rio-São Paulo de 1952, onde nós tínhamos
quatro titulares indiscutíveis da Seleção Brasileira, com Djalma
Santos, Brandãozinho, Julinho e Pinga. Haviam seis titulares na Seleção
Paulista de 1953, sendo além destes quatro, o Noronha e o Muca, com mais
três reservas, destacando o Renato, um grande jogador da Portuguesa.
FTT: Era aquele famoso ataque com Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão. Como jogava este time da Portuguesa?
VITAL:
Este time não era somente o melhor do Brasil, mas do mundo. Quando
fizemos a primeira excursão à Europa, os espanhóis estavam melindrados
porque tinham sido derrotados por 6 a 1 na Copa do Mundo de 1950 e
convidaram um clube brasileiro pra tirar a desforra, contratando o juiz e
todas as condições pra eles ganharem. Mas contrataram errado, pois
levaram o maior time do mundo que os derrotou lá por 4 a 3 e ganharam a
Taça San Izidro de 1951, vencendo o Atlético de Madrid, campeão
espanhol.
A sensacional linha de ataque citada pelo sr. Vital - A partir da esq: Julinho Botelho, Renato, Nininho, Pinga e Simão.
FTT: E
aquele famoso 7 a 3 contra o Corinthians? Há pouco nós conversávamos
com o Senhor falando muito bem deste time do Corinthians, campeão
daquele ano.
VITAL:
Oswaldo Brandão era o nosso técnico. Ele criou uma onda que os
jogadores não estavam bem, tinham sido todos internados na Beneficência
Portuguesa e que não iam entrar com um time mais fraco. Mas na hora H
ele colocou realmente o grande time da Portuguesa e nós goleamos o
Corinthians por 7 a 3, um dos resultados entre equipes mais famosos do
futebol brasileiro.
FTT: Fale sobre o Rio-São Paulo de 1952. Como foi esta conquista?
VITAL:
Foi brilhante porque realmente a Portuguesa era o melhor time do Brasil
de 1951 a 1955, antes de acontecer a grande fase do Santos. O time
campeão do Rio-São Paulo de 55 tinha ainda o Djalma Santos, Cabeção (que
tinha vindo do Corinthians), Floriano (que veio do Botafogo), Nena,
Brandãozinho, Zinho, Julinho (ainda estava), Aírton no lugar do Renato, o
excepcional Ipojucan, Edmur, Ortega e Mário Américo. Temos uma
entrevista em nossos arquivos com o Pelé no início de carreira, com o
repórter da Gazeta Esportiva perguntando à ele, como grande jogador que
já mostrava, quem você gostaria de ser. E ele responde: Ipojucan.
Portuguesa campeã do Rio-SP em 1952.
FTT:
Falamos bastante da Portuguesa dos anos 50 e falaremos agora de outras
épocas. Na década de 30 também teve alguns esquadrões, com grandes nomes
como o do goleiro Batatais, teve o Brandão que jogou muitos anos no
Corinthians, além do Machado que formou a zaga com Domingos da Guia em
1938.
VITAL:
O Batatais foi revelado na Portuguesa, defendendo a Seleção no
Campeonato do Mundo de 1938 e Brandão que é até hoje o símbolo da garra
corintiana. Da Seleção de 38 disputou Batatais, Brandão e Machado, que
jogou muitos anos na Portuguesa, indo depois para o Fluminense.
FTT: O Fluminense praticamente contratou toda a Seleção Paulista.
VITAL: Era formada por Batatais, Neves e Machado.
FTT: Tem mais alguma curiosidade de algum time da Portuguesa?
VITAL: Nós
temos no campo esportivo uma curiosidade. Trata-se do primeiro jogador
brasileiro campeão mundial de futebol em 1934, sem o Brasil ter sido.
Ele começou a carreira na Portuguesa e era filho do segundo presidente
da Portuguesa. Foi Amphilóquio Marques, mais conhecido como Filó. Depois
ele foi para o Paulistano, um time muito forte na época, que fez uma
excursão muito famosa na Europa. Jogou também no Corinthians. Foi pra
Itália, o Mussolini lhe deu a cidadania italiana pra jogar lá, porque a
mãe dele era italiana e o pai era português.
Uma foto curiosa que podemos ver é do primeiro estádio da Portuguesa, em 1927, na rua Cesário Ramalho, no Cambuci.
Antigo estadio da Portuguesa no Cambuci.
A Portuguesa também é muito forte nos esportes amadores, como no ciclismo, hóquei sobre patins, futebol de salão e boxe.
O
time Bicampeão Paulista de 1935/36 pela APEA, com o famoso goleiro
Caxambu, que jogou também no São Paulo e participou de sua Direção
Técnica. Foi um time marcante, tinha o Rodigies (ex-goleiro), Duílio que
jogou muitos anos na Portuguesa, Fiorotti, Pascoalno que também jogou
muitos anos, o grande artilheiro Carioca e o notável que diretor de
futebol que se dedicou muito ao clube (Elísio Ferreira).
FTT: Falamos
da Portuguesa dos anos 20, 30, um poucos da década de 40 e bastante dos
anos 50, vamos falar agora da Portuguesa da década de 60, que tinha
como grande craque o Príncipe Ivair.
VITAL:
Pelé era o Rei e Ivair o Príncipe. Nair também foi marcante. Teve o
Félix, que jogou muitos anos na Portuguesa, foi Tricampeão em 70 quando
já era goleiro do Fluminense, mas que saiu da Lusa com mais de 30 anos.
FTT:
Passou os anos 60, começando a década de 70, com a Portuguesa sendo
campeã em 1973 com aquele grande time que tinha o Wilsinho, Badeco,
Basílio e, principalmente, o Enéas.
VITAL: Tinha também o Pescuma, Zecão, Isidoro, Calegari, Xaxá, Cardoso e o grande jogador Cabinho.
FTT: Vamos
falar agora de uma fase mais recente da Portuguesa, como o time da
década de 80, Vice-Campeão Paulista de 1985, contra o São Paulo.
ARTUR: Perdemos por 2 a 1 e foi uma tristeza muito grande.
FTT: Chegou a década de 90, surgindo um dos maiores talentos da história da Portuguesa, que foi o Dener.
ARTUR:
Pra nós, o Enéas foi o maior jogador, que fez 179 gols pela Portuguesa,
sendo 46 no Brasileirão, um craque com muita tradição. Depois dele vem o
Dener, esta jovem promessa. Era um terror das defesas, uma pessoa
sensacional, que nos deixou muito cedo, que foi uma lacuna para o
futebol brasileiro. Passou também pelo Grêmio e Vasco da Gama. Nos deu
muita honra. Foi Campeão Juvenil da Taça São Paulo, ganhando por 5 a 0
do Grêmio no Pacaembu, em 1991. A imprensa o comparava com o Pelé, era o
futuro Reizinho, chegando muito perto à ele que é uma coisa à parte.
Mauricio Sabará com o sr. Artur defronte aos trofeus da Potuguesa.
FTT: Logo depois do Dener tem uma outra fase boa da Portuguesa, que foi o time Vice-Campeão Brasileiro de 1996.
ARTUR:
Jogavam o Zé Roberto, Rodrigo Fabri, Capitão que também honrou muito e o
Caio que voltou à Portuguesa como gerente de futebol. Quem também era
muito importante é o técnico Candinho. Foi um bom time que perdeu a
final para o Grêmio. Perdemos a chance de sermos campeões aqui no
Morumbi, quando ganhamos por 2 a 0. Por muito pouco não fomos campeões
para a alegria de todo o Brasil que torceu pra Portuguesa. Infelizmente
foi no dia do meu aniversario, 14 de dezembro de 1996, mas faz parte da
vida.
No
ano passado a Portuguesa completou 90 anos, faltando nove para o nosso
centenário, com muitas dificuldades, mas também com muita garra. Hoje,
para muitos, não é um time grande. Mas nós consideramos ela como grande.
Eu sou brasileiro, meu pai é português, me ensinou a torcer pra
Portuguesa, morávamos perto do Pacaembu, assisti muitos jogos do
Corinthians, do Santos na época do Pelé, mas nunca deixei de ser
torcedor da Lusa. Ia ver mais o Pelé do que o Santos jogar. Meu filho
Rogério torce pra Portuguesa com 20 anos de idade, tem um site conhecido
como Alma Lusa, tem a mesma garra que tenho por torcer pra Portuguesa, o
endereço do site é www.almalusa.net,
tem toda a história do clube e é um garoto apaixonado que dorme com a
camisa da Portuguesa. Quem quiser conhecer o museu do clube, está aberto
todo o sábado das 11 as 14 horas, não importa pra qual time torça, é
bem vindo, formamos uma legião de amigos e não de torcedores irados uns
contra os outros, nosso negocio é paz nos estádios e a entrada é franca.
Uma
homenagem ao Doutor Eduardo dos Campos Rosmaninho, criador do museu
histórico, na gestão de Oswaldo Teixeira Duarte, nascido em 16/11/1928 e
falecido em 24/11/2009, com recém completados 81 anos de idade.
REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.
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