brasil1970

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - AMAURI CASTRO


O Doutor Amauri Castro , medico pediatra conceituado em Belo Horizonte, demonstrou toda sua simpatia e simplicidade ao atender me gentilmente em sua residencia para esta entrevista. Liguei em um dia e no dia seguinte sem maiores problemas fizemos esta materia em sua casa  decorada com muito bom gosto 


FTT - FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS - Como foi o seu começo no futebol?

AMAURI CASTRO - Eu comecei nos juvenis do América. Depois fiz cursinho para medicina e como minha familia era toda de médicos resolvi largar e me dedicar aos estudos . Fiquei jogando no Paissandu um time amador de Belo Horizonte. Foi quando o presidente do Sete de Setembro, o Raimundo Sampaio veio me procurar. Eu disse a eles que como eu iria fazer para conciliar meus estudos de medicina com o futebol. Eles me propuseram jogar amadoramente pelo clube, sem receber praticamente nada mas por outro lado quando tivessemos de viajar ou se eu precisasse faltar a algum treino por causa dos estudos eu poderia faze-lo. Nem concentração eu precisava freuentar . Acertei com eles mas eu nunca precisei usar dos direitos que me ofereceram pois fui a todos os treinos e jogos rigorosamente.

FTT - E este seu começo no Sete de Setembro foi quando?

AMAURI CASTRO - 1954.


Amauri ao centro no inicio de carreira jogando pelo Sete de Setembro.


FTT - E como o Cruzeiro despertou interesse em compra-lo?

AMAURI CASTRO - No final do segundo turno do campeonato mineiro de 1956 nós jogamos contra o Cruzeiro no estadio Independencia (Campo do Sete de Setembro). Nós empatamos a partida em 2x2 e eu fiz um gol de cabeça. Fiz uma partida muito boa e a torcida do Cruzeiro ficou brava comigo ,muitos até me xingaram no alambrado pois se o Cruzeiro ganhasse seria campeão direto. Falaram comigo...."o que você ganhou com isto" referindo-se ao meu gol. Oras eu era jogador e visava o melhor para o meu time sempre.
O Cruzeiro tinha um time bom e teve uma hora que o Lazzarotti passou por mim e me falou com aquela voz rouca: "É dificil me marcar né menino". Pois então eu virei para o Murilo Silva, aquele mesmo que jogou no Atletico e Corinthians e falei: Murilo eu vou adiantar um pouco, vou marcar o Guerino lá na frente. O Murilo falou que eu podia ir que ele tambem iria adiantar a marcação. Fizemos isto e anulamos o ataque do Cruzeiro.

FTT - Depois deste jogo então o Cruzeiro te procurou?

Amauri Castro -  Foi. Eles foram  lá em casa e disseram que queriam me contratar. Perguntaram quanto eu queria ganhar. Eu pedi a eles um minuto enquanto fui lá dentro conversar com meu pai .Ele não entendia nada de futebol pois tambem era medico mas me disse: pede o dobro do que você ganha. Pois eu voltei para a sala e disse que queria ganhar o dobro. Eles toparam imediatamente. Porem os diretores do Sete ficaram sabendo e me procuraram. Eu marquei então uma reunião para as duas diretorias se acertarem. Foi no apartamento do diretor do Sete , sr. Americo Tunes. Fala de lá, fala de cá e nada deles se acertarem. Foi quando eu disse o que aconteceu. Falei que o Sete não queria me pagar nada a mais e que o Cruzeiro me propos o dobro do salario e que apesar de não ter assinado nada já tinha apalavrado com eles e queria jogar lá. Foi então que um dirigente do Cruzeiro falou que devia uma grande contratação a torcida cruzeirense e que por sinal tinham diversos torcedores na portaria do predio esperando. E era verdade mesmo. Então os diretores do Sete aceitaram e eu fui para o Cruzeiro.

Manchete do Jornal Estado de Minas no dia seguinte ao acerto com o Cruzeiro - Acertada a transferencia do magnifico medio do Sete de Setembro - Passe barato e luvas de 60 mil cruzeiros

FTT - Depois de dois anos no Sete de Setembro chegou a vez de disputar o mineiro pelo Cruzeiro.

Amauri Castro - Foi. Cheguei no Cruzeiro quase no fim de 57 e fui entrando no time. Antes de terminar o campeonato eu já era titular.
Neste ano entretanto, não ganhamos o mineiro pois o America é que venceu.

FTT - Aí você passou a render cada vez mais?

Amauri Castro - Na verdade eu comecei a jogar cada vez melhor mas aí em 58 eu passei no vestibular. Você imagina o que isto representava para uma familia toda de medicos, do meu pai aos meus tios. Ficava muito dividido entre os estudos e o futebol.

FTT - E neste time do Cruzeiro jogava tambem o Abelardo .
Amauri Castro - O Abelardo foi um grande amigo. Ele jogou muito tempo comigo no Sete de Setembro e o Cruzeiro o trouxe de volta em 59 já no final da carreira. Jogamos juntos sim. Ele sempre foi um tremendo gozador. Chegava nos clássicos contra o Atletico e falava pro Murilo que iria enfiar a bola debaixo das pernas dele.

No encontro a tres anos atrás quando o Cruzeiro lançou camisas retros Amauri Castro e Abelardo voltaram a lembrar de casos engraçados. Amizade que perdura até hoje. Na foto Abelardo conta sua histroia enquanto Amauri dá boas risadas.




Eleito na seleção dos melhores do ano recebendo a medalha de prata em 1958.

FTT - É verdade que em 1958 o Zizinho jogou um amistoso pelo Cruzeiro?

Amauri Castro - Jogou sim e eu tenho foto ao lado dele. Jogamos juntos. Foi um jogo contra o Santos no Independencia.

FTT - E o Zizinho era este craque mesmo?

Amauri Castro - Jogava demais. Orientava todos como se fosse jogador veterano do Cruzeiro. "Toca ali, toca aqui"

 - FICHA TECNICA DESTE AMISTOSO -
Data: 23/12/1958
Estadio Independencia
Arbitro: Francisco Moreno (SP)

Gols: Pelé 4; Pelé 13, Nivio 15, Pepe 32, Pelé 37, Amaury 27 do segundo tempo.

Cruzeiro: Rossi, Leston, Massinha, Adelino, Clever, Amauri, Emerson, Pelau, Dirceu Pantera, Zizinho e Nivio - Tec. Gerson dos Santos

Santos: Manga (Laercio) Helvio, Dalmo (Feijó), Getulio, Ramiro, Zito (Urubatão), Dorval, Afonsinho, (Hélio), Pagão, Pelé (Coutinho) e Pepe - Tec. Lula

FTT - Este Nivio era aquele mesmo que fez sucesso no Atlético e Bangu?

Amauri Castro - Ele mesmo, o Nivio Gabrich. Era um excelente pónta esquerda e como jogou muito tempo com o Zizinho no Bangu o convidou para fazer esta partida no Cruzeiro.


FTT - O Cruzeiro então chegou ao tricampeonato começando com o titulo de 59.

Amauri Castro - O time engrenou. O time já tinha o Massinha , Guerino , Vavá , Dirceu Pantera , Raimundinho e o Abelardo.


Cruzeiro campeão mineiro de 1959 - Amaury é o segundo em pé da direita para esquerda.


FTT - Em 60 o bi

Amauri Castro - É, ai o time já ganhou novos reforços. O Procopio começou a ser titular formando zaga com Massinha, o Hilton Oliveira na ponta esquerda, o Rossi que veio do Botafogo. Depois chegou o Geraldino que veio do Siderurgica e foi convocado pra seleção brasileira.

A partir do ultimo: Procopio, Amauri, Emerson, Hilton Oliveira, Nilsinho, Massinha, Clever, Nelsinho, Dirceu, Raimundinho e Genivaldo.


FTT - E o senhor chegou a ver então o surgimento daquele time que veio substituir esta geração tricampeã.

Amauri Castro - Vi nos juvenis o Pedro Paulo, Dirceu Lopes, Natal, Tostão. Vi esta turma treinando varias vezes. Não cheguei a jogar com eles.

FTT - Nesta época era muito dificil os times mineiros enfrentarem os paulistas e cariocas. O senhor se lembra de algum jogo em especial?

Amauri Castro - Nesta época não tinham estes intercambios entre os estados. Era realmente muito dificil a gente jogar contra os grandes de lá e acabava que ficávamos em desvantagem pois eles estavam sempre se enfrentando. Mas teve um jogo contra o Fluminense que não me esqueço. O Castilho fechou o gol. Nós estavamos ganhando de 1x0 e ele pegando bola de todo jeito. Teve uma que o Hilton Oliveira chutou rasteiro cruzado e ele buscou numa defesa incrivel. O Fluminense era muito forte, tinha o Pinheiro, Tele, Altair, Valdo.
(Este jogo terminou empatado em 1x1 pela Taça Brasil de 60 no Independencia)



Amauri é o segundo em pé a partir da esquerda. Procopio é o ultimo a direita e Hilton Oliveira o ultimo agachado tambem a direita.


FTT - O America nesta epoca estava sempre brigando com Cruzeiro e Atletico pelo titulo.

Amauri Castro - Eles tinham um time muito bom. Bons jogadores e era deles  o melhor estadio da época que era a Alameda.


FTT - Lembre de alguns grandes jogadores do futebol mineiro.

Amauri Castro - O Murilo Silva  foi o maior zagueiro que eu vi. Ele me impressionava pelo jeito de jogar. Quando rebatia a bola não dava chutão de qualquer jeito não. A bola ia certinha pro companheiro. Outro em quem eu me inspirei foi o Zé do Monte que jogou no Atlético. No Cruzeiro teve o Guerino um meia esquerda que jogava muito. Chutava muito bem e era um cruzeirense doente. O Procopio quando chegou , assumiu a vaga na zaga porque era muito bom. Nossa Procopio jogava muito. Teve o Hilton Oliveira que driblava rápido demais e quando jogava a bola na frente ninguem segurava.


FTT - E como eram os jogos contra o Villa Nova e Siderurgica ?

Amauri Castro - Puxa vida, eram durissimos. O Villa Nova até que eu tive sorte porque ganhar deles lá dentro era quase impossivel e eu nunca perdi no Alçapão. O Siderurgica tinha um grande time tambem. Brigava sempre com os grandes.

Amauri Castro aguradando o sorteio da moedinha do arbitro Cidinho Bola Nossa na partida contra o Siderurgica.

FTT - Qual foi seu melhor treinador?

Amauri castro - Niginho sem duvida. Ele tinha dificuldades para falar pois falava pouco e meio italianado mas tinha muita visão e sabia passar o que queria aos jogadores.
(Niginho é até hoje o terceiro tecnico que mais vezes dirigiu o Cruzeiro com otimo aproveitamento - Foram 247 jogos com140 v e 51 d.)

Bruno e o Dr.Amauri Castro

FTT - Afinal qual era a segunda maior torcida  nesta epoca do fim dos anos 50 e inicio dos 60 em Belo Horizonte?

Amauri Castro - A do America ia muito ao estadio porque eles tinham acabado de ganhar um campeonato (57). Eram mais ou menos iguais a deles com a do Cruzeiro. Mas depois ,nos anos 60 o Cruzeiro foi ganhando e a nossa torcida foi crescendo sem parar e ultrapassou em muito.


FTT - E exatamente quando o senhor estava no auge, tricampeão resolveu parar com o futebol?

Amauri Castro - Na verdade eu tinha acabado de me formar e não estava conseguindo conciliar os plantões e as consultas com o futebol. Resolvi que era hora de parar para me dedicar a medicina. Segui então os passos de meu pai.


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